NELSON MANDELA
06/12/2013 -
MANCHETES DA SEMANA
UM DISCURSO QUE MUDOU O MUNDO...
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Nelson Mandela Memorial Meeting â
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Antes de ser preso por ser considerado uma ameaça nacional, o lĂder revolucionĂĄrio sul-africano Nelson Mandela declamou, em 20 de abril de 1964, um discurso pĂșblico em que expĂŽs Ă população todas as polĂticas de segregação praticadas pelo regime do apartheid. Durante o discurso, Mandela chegou a afirmar que morreria pela causa democrĂĄtica. Nelson Mandela nĂŁo morreu, mas passou pelo sacrifĂcio de aturar 27 anos de prisĂŁo em condiçÔes insalubres. O discurso de Nelson Mandela foi determinante na luta pelos direitos iguais entre negros e brancos na Ăfrica do Sul e no mundo.
âĂ um ideal pelo qual estou preparado para morrerâ
Homenagem a Mandela, seu discurso no julgamento de Rivonia.
Leia trecho do discurso que o lĂder sul-africano fez no julgamento de Rivonia, de onde saiu condenado Ă prisĂŁo perpĂ©tua. Sua defesa foi realizada em 20 de abril de 1964, uma segunda-feira, na Suprema Corte de PretĂłria, na Ăfrica do Sul. Leia a Ăntegra, em inglĂȘs: http://brazilafrica.com/en/noticias/it-is-an-ideal-for-which-i-am-prepared-to-die/.
âEu sou o primeiro acusado.
Tenho um diploma de Bacharel em Artes e prĂĄtica de anos como advogado em Joanesburgo, em parceria com Oliver Tambo. Eu sou um prisioneiro condenado a cinco anos por sair do paĂs sem permissĂŁo e por incitar as pessoas a entrar em greve no final de Maio de 1961.
No inĂcio, eu quero dizer que a sugestĂŁo feita pelo Estado que a luta na Ăfrica do Sul estĂĄ sob a influĂȘncia de estrangeiros ou comunistas Ă© totalmente incorreta. Eu fiz o que eu fiz, tanto como pessoa quanto como lĂder do meu povo, pela minha experiĂȘncia na Ăfrica do Sul e por meu profundo orgulho de ser africano, e nĂŁo por conta do que qualquer forasteiro possa ter dito.
Devo tratar de imediato com a questĂŁo da violĂȘncia. Algumas das coisas que disse atĂ© agora ao Tribunal sĂŁo verdadeiras e algumas sĂŁo falsas. Eu nĂŁo vou, porĂ©m, negar que eu planejei sabotagem. Eu nĂŁo planejei isso com um espĂrito de irresponsabilidade, nem porque eu tenho amor Ă violĂȘncia. Eu planejei isso como resultado de uma calma e sĂłbria avaliação da situação polĂtica que surgiu apĂłs muitos anos de tirania, de exploração e de opressĂŁo do meu povo pelos brancos.
Eu admito que fui uma das pessoas que ajudou a formar Umkhonto we Sizwe (braço militar do Congresso Nacional Africano), e que desempenhou um papel proeminente nas suas relaçÔes até eu ser preso em agosto de 1962.
Na declaração que estou prestes a fazer vou corrigir falsas impressĂ”es que foram criadas por testemunhas do Estado. Eu nego que Umkhonto foi responsĂĄvel por uma sĂ©rie de atos que claramente saiu da polĂtica da organização, e que tem sido utilizado na acusação contra nĂłs.
(âŠ)
Nossa luta Ă© contra uma opressĂŁo real, nĂŁo imaginĂĄria; ou, para usar as palavras do famoso Procurador do Estado, âa chamada opressĂŁoâ. NĂłs lutamos contra duas caracterĂsticas que determinam o padrĂŁo de vida dos africanos na Ăfrica do Sul, e que sĂŁo mantidas pela legislação que nĂłs procuramos repelir. Essas caracterĂsticas sĂŁo a pobreza e a falta de dignidade humana, e nĂłs nĂŁo precisamos de comunistas, ou dos vulgos âagitadoresâ, para nos ensinar isso.
Os brancos desfrutam do que pode bem ser o mais alto padrão de vida do mundo, enquanto os africanos vivem na pobreza e na miséria. Quarenta por cento dos africanos moram em reservas que são desesperadamente superlotadas, e muitas vezes são reservas arrasadas pela seca, onde a erosão e o abuso do solo não permitem que eles consigam viver da terra.
Trinta por cento dos africanos ou sĂŁo lavradores, lavradores inquilinos, ou posseiros de terras possuĂdas pelos brancos; e trabalham e vivem sob condiçÔes semelhantes Ă s dos servos da Idade MĂ©dia. Os outros trinta por cento restantes moram em cidades onde eles desenvolveram hĂĄbitos econĂŽmicos e sociais que os aproximam dos padrĂ”es dos brancos. Contudo, quarenta e seis por cento das famĂlias africanas em Joanesburgo nĂŁo ganham o suficiente para se manterem.
O que os africanos reclamam, porém, não é somente o fato de que eles são pobres e os brancos ricos, mas sim o fato de que as leis feitas pelos brancos são talhadas para preservar essa situação. Hå duas maneiras de superar a pobreza. A primeira é via uma educação formal, e a segunda é pela aquisição de técnicas especializadas pelos trabalhadores que, consequentemente, ganharão melhores salårios.
No que diz respeito aos africanos, ambas as vias estĂŁo deliberadamente obstruĂdas pela legislação atual. O governo sempre procurou dificultar aos africanos a sua busca pela educação. Existe educação compulsĂłria para todas as crianças brancas a um custo praticamente nulo para seus pais, sejam eles ricos ou pobres. Tais facilidades nĂŁo estĂŁo disponĂveis Ă s crianças africanas.
De 1960 a 1961, o gasto per capita do governo para com estudantes africanos em escolas subsidiadas pelo Estado era aproximadamente R 12,46 (rand, moeda sul-africana). No mesmo ano, o gasto per capita com crianças brancas na ProvĂncia do Cabo (e estes eram os Ășnicos dados que me foram disponibilizados) era de R 144,57. O atual Primeiro-Ministro disse, durante o debate sobre o Decreto da Educação Bantu, em 1953: âQuando eu tiver controle sobre a educação dos nativos, farei com que eles sejam ensinados desde a infĂąncia que igualdade aos europeus nĂŁo Ă© para eles. Pessoas que acreditam na igualdade nĂŁo serĂŁo professores desejĂĄveis aos nativos. Quando o meu Departamento controlar a educação dos nativos, nĂłs saberemos para que classe de ensino superior cada nativo serĂĄ adequado, e se ele terĂĄ ou nĂŁo uma chance na vida de fazer uso do seu conhecimento.â
Outro grande obstĂĄculo no avanço econĂŽmico dos africanos Ă© a barragem pela cor, onde todos os melhores cargos das indĂșstrias sĂŁo reservados somente para brancos. AlĂ©m disso, os africanos nĂŁo tĂȘm permissĂŁo para formar sindicatos, que sejam reconhecidos pelo Ato de Conciliação Industrial. O governo geralmente responde a suas crĂticas dizendo que os africanos da Ăfrica do Sul sĂŁo economicamente superiores aos habitantes de outros paĂses da Ăfrica. Nosso protesto nĂŁo Ă© sobre sermos pobres em comparação Ă s pessoas de outros paĂses, mas sobre sermos pobres em comparação Ă s pessoas brancas do nosso prĂłprio paĂs, e a legislação nos impede de alterar essa desigualdade.
A cada ano, centenas, milhares de africanos sĂŁo levados Ă prisĂŁo por causa das leis de passe (documento que os negros precisavam portar e indicava os locais que os negros poderiam frequentar). Pior do que isso Ă© o fato de que as leis de passe mantĂȘm maridos e mulheres afastados, levando Ă desagregação da vida familiar.
A desagregação da vida familiar e a pobreza tĂȘm efeitos secundĂĄrios. As crianças vagueiam pelas ruas das townships (periferia das cidades reservadas aos negros) porque elas nĂŁo tĂȘm nem escolas para irem, nem dinheiro que as capacitem irem Ă escola, tampouco tĂȘm seus pais em casa para assegurar que elas frequentem a escola; porque ambos os pais, se Ă© que hĂĄ dois, tĂȘm que trabalhar para manter a famĂlia viva. Isso leva Ă desintegração dos padrĂ”es morais, a um crescimento alarmante da ilegitimidade e a uma crescente violĂȘncia, que surge, nĂŁo sĂł politicamente, mas em todos os lugares. A vida nas townships Ă© perigosa; nĂŁo passa um dia sem que alguĂ©m seja esfaqueado ou atacado. A violĂȘncia sai das townships e atinge as ĂĄreas onde vivem os brancos. As pessoas tĂȘm medo de andar sozinhas pelas ruas quando escurece. HĂĄ aumento nos furtos a residĂȘncias e no nĂșmero de ladrĂ”es, apesar de agora a sentença de morte poder ser imposta a tais ofensas. Sentenças de morte nĂŁo podem curar essa ferida virulenta. A Ășnica cura Ă© a mudança das condiçÔes nas quais os africanos sĂŁo obrigados a viver e atender a suas afliçÔes legĂtimas.
NĂłs queremos fazer parte da população geral; nĂŁo queremos ser confinados a viver em nossos guetos. Os homens africanos querem morar junto com suas mulheres e filhos, perto de onde eles trabalham; nĂŁo querem ser forçados a uma existĂȘncia desnatural nos albergues dos homens. Nossas mulheres querem ficar com seus companheiros; nĂŁo querem ser deixadas permanentemente viĂșvas nas Reservas. NĂłs queremos ter o direito de sair depois das 11 da noite, e nĂŁo ser confinados aos nossos quartos como criancinhas. NĂłs queremos ter o direito de viajar no nosso prĂłprio paĂs e procurar trabalho onde nĂłs quisermos, e nĂŁo onde o EscritĂłrio do Trabalho nos manda. NĂłs queremos uma parte justa da Ăfrica do Sul; nĂłs queremos segurança e uma voz na sociedade.
Acima de tudo, Sua ExcelĂȘncia, nĂłs queremos direitos polĂticos iguais, porque sem isso nossa impotĂȘncia serĂĄ permanente. Eu sei que isso soa revolucionĂĄrio aos brancos deste paĂs, porque a maioria dos eleitores serĂĄ composta por africanos. Isso faz com que o homem branco tema a democracia. Mas nĂŁo se pode permitir que esse medo impeça a Ășnica solução que irĂĄ garantir a harmonia racial e a liberdade para todos. NĂŁo Ă© verdade que a libertação de todos resultarĂĄ em dominação racial. A divisĂŁo polĂtica baseada na cor Ă© inteiramente artificial, e, quando ela desaparecer, sumirĂĄ tambĂ©m o domĂnio de um grupo racial pelo outro. O CNA passou meio sĂ©culo lutando contra o racismo. Quando ele triunfar, como ele certamente deve, ele nĂŁo mudarĂĄ essa regra.
Isso, entĂŁo, Ă© o que o CNA combate. Nossa batalha Ă© essencialmente nacional. Ă uma batalha do povo africano, inspirada pelo nosso sofrimento e pela nossa prĂłpria experiĂȘncia. Ă uma batalha pelo direito Ă vida.
Ao longo da minha existĂȘncia, dediquei a minha vida Ă batalha do povo africano. Lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Acolhi o ideal de uma sociedade livre e democrĂĄtica, onde todas as pessoas vivem juntas em harmonia e com igualdade de oportunidades. Ă um ideal pelo qual espero viver e vĂȘ-lo realizado. Mas, Sua ExcelĂȘncia, se for necessĂĄrio, Ă© um ideal pelo qual estou preparado para morrer.â
Fonte: Portal Brazil Africa.
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