PENSANDO NAS MENINAS
12/10/2013 -
PENSE!
A CULPA Ă SUA???
English/video:
Huffingtonpost.com/your-fault
All India Bakchod â
http://www.allindiabakchod.com/
https://www.facebook.com/IndiaBakchod
VĂdeo de grupo de humor na Ăndia vira hit com sĂĄtira a quem responsabiliza mulheres por onda de estupros.
"Estudos sugerem que mulheres usando saias sĂŁo a principal causa de estupro", diz a moça sorridente, de saia curtinha, num cenĂĄrio neutro e de mĂșsica suave. "Vamos encarar, meninas: Estupro? A culpa Ă© sua!"
A frase dita pela atriz Kalki Koechlin, famosa por papĂ©is no cinema indiano, abre o vĂdeo que se transformou num hit no YouTube, com 2,3 milhĂ”es de acessos, no momento em que a Ăndia debate as causas dos altos Ăndices de violĂȘncia contra mulheres.
Koechlin e a tambĂ©m celebridade indiana Juhi Pande passam pouco mais de trĂȘs minutos desfiando todo os lugares comuns sexistas que atribuem Ă s mulheres a responsabilidade pela violĂȘncia sexual sofrida.
A cena inicial segue com uma didĂĄtica lista de roupas "provocativas" que devem ser evitadas: saia, shortinho, burca, traje espacial. "NĂŁo importa, homens tĂȘm olhos", responde a atriz. E, em caso de estupro, jĂĄ se sabe de quem Ă© a culpa...
O vĂdeo, que na versĂŁo com legendas em portuguĂȘs tem mais de 16 mil acessos, Ă© uma produção do grupo All India Bakchod (Os charlatĂ”es da Ăndia, em tradução livre), espĂ©cie de versĂŁo indiana do coletivo de humor brasileiro "Porta dos Fundos".
Um motivo para tanta repercussĂŁo no paĂs Ă© que os argumentos satĂricos das moças --que podem reverberar em maior ou menor grau dependendo da regiĂŁo do mundo-- sĂŁo assustadoramente comuns na discussĂŁo local sobre estupro e violĂȘncia contra a mulher dentro e fora do casamento.
A cada 20 minutos, uma mulher Ă© estuprada no paĂs. Mas sĂł uma de cada 50 vĂtimas tem coragem de dar queixa na polĂcia porque, na maioria das vezes, a polĂcia culpa a prĂłpria mulher.
O assunto tambĂ©m estĂĄ no vĂdeo. "Se vocĂȘ estĂĄ cansada de ser humilhada por ser estuprada, vocĂȘ sempre pode procurar os policiais e ser humilhada por eles!".
Ajudou a repercussão a produção ter surgido dias depois da condenação de quatro homens à morte pelo estupro coletivo de uma estudante em dezembro --ela morreu.
Mesmo no caso, que comoveu o paĂs, houve quem achasse que ao menos parte da culpa foi da estudante. O popular guru indiano Asaram Bapu, por exemplo, disse que a vĂtima teve algo de culpa, jĂĄ que em vez de resistir "devia ter rezado para Deus e pedido aos estupradores, chamando-os de Bhaya' (irmĂŁo), que a deixassem em paz".
No vĂdeo, elas tentam o truque, enquanto sĂŁo atacadas.
"Isso Ă© o tipo de coisa que eu ouvi a minha vida toda crescendo na Ăndia. Mulheres de todas as idades ouviram", disse a atriz Koechlin ao canal indiano NDTV.
Veja o vĂdeo:
https://www.youtube.com/watch?v=jOG7gUeHJBU.
Fonte: Folha de S.Paulo â 10/10/13.
All India Bakchod â
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O VOTO
Voto obrigatĂłrio â Quando os bons defendem causas ruins, Ă© sinal de que tudo pode ser pior
Ă lamentĂĄvel, mas Ă© assim. A ComissĂŁo de Constituição e Justiça do Senado rejeitou, por 17 votos a 6, uma PEC de autoria do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), com voto favorĂĄvel do relator, Pedro Taques (PDT-MT), que instituĂa o voto facultativo no Brasil. Como vocĂȘs sabem, no Brasil, votar Ă© chamado de um âdireitoâ que o cidadĂŁo Ă© obrigado a exercitar. Se nĂŁo o fizer e nĂŁo se justificar, ele Ă© severamente punido. O Brasil tem dessas delicadezas. Com alguma frequĂȘncia, chama-se, por aqui, imposto de âcontribuiçãoâ, e o âdireitoâ se transforma numa imposição. E mais triste ainda Ă© quando o erro recebe o endosso dos bons.
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) votou contra. E deu uma justificativa lastimĂĄvel, informa Gabriel Castro, na VEJA.com: âAs democracias avançadas e consolidadas tĂȘm uma sociedade civil muito forteâ. Como assim? Estaria, entĂŁo, a sociedade brasileira num processo de formação? SerĂĄ que o Brasil Ă©, digamos assim, infantil para poder lidar com coisas sĂ©rias como⊠voto facultativo? O senador certamente Ă© capaz de explicação melhor do que essa. NĂŁo conheço nenhuma, mas ele pode tentar.
Nos Ășltimos 40 anos, os EUA , por exemplo, foram governados por quatro republicanos â Nixon-Ford (1973-1976); Reagan (1981-1988); Bush pai (1989-1992) e Bush Filho (2001 a 2008). SĂŁo seis mandatos do partido. Ao todo, 24 anos. Tiveram trĂȘs democratas (o quarto estĂĄ em curso): Carter (1977-1980); Bill Clinton (1993-2000) e Barack Obama (2009-2012) â um total de 16 anos. Ao fim de 2016, com o Obama II, serĂŁo 20. O quase empate se verifica caso de estenda o levantamento ao sĂ©culo passado. Por lĂĄ, o voto Ă© facultativo â como Ă© na Venezuela, onde sucessivos golpes no processo eleitoral tĂȘm impedido a alternĂąncia no poder. NicolĂĄs Maduro sĂł Ă© presidente porque houve, nesta ordem: a) um golpe legal, b) fraude eleitoral.
Assim, nĂŁo Ă© o voto obrigatĂłrio ou facultativo que faz a qualidade da democracia. Eu atĂ© tendo a achar, contra as minhas convicçÔes mais gerais, que o voto facultativo contribui para submeter o processo polĂtico a uma torção Ă esquerda porque as esquerdas sĂŁo sempre mais organizadas do que os conservadores. Mas e daĂ? HĂĄ, independentemente da questĂŁo ideolĂłgica, um fator de princĂpio: direito nĂŁo Ă© obrigação nem mesmo quando uma eventual imposição contribui para proteger o indivĂduo da prĂłpria negligĂȘncia. O uso de cinto de segurança, por exemplo, Ă© uma imposição â ainda que faça bem ao usuĂĄrio. Mas continua a nĂŁo ser um direito.
Pedro Simon (PMDB-RS) se saiu com outro argumento de impressionante fragilidade. Segundo ele, em cidades com eleitorado pequeno, poderia haver manipulação e tal. Ă mesmo, Ă©? Digamos que um coronel local pudesse dar uma grande churrascada para que pessoas deixassem de votar. Isso Ă© diferente de, por exemplo, oferecer transporte gratuito para que votem? Ora⊠Taques disse a coisa certa: âOu nĂłs chegamos Ă conclusĂŁo de que o cidadĂŁo brasileiro estĂĄ preparado para fazer opçÔes ou vamos continuar numa atitude paternalista de que o cidadĂŁo precisa ser tutelado por aquele que Ă© mais inteligenteâ.
LamentĂĄvel a decisĂŁo da CCJ e mais lamentĂĄveis ainda os argumentos dos bons em favor de uma causa ruim.
Por Reinaldo Azevedo - http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/ - 02/10/13.
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