PERDOAI. ELE NĂO SABE O QUE FAZ
12/03/2009 -
COLUNA DO CANALHA
PERDOAI. ELE NĂO SABE O QUE FAZ
Ele nĂŁo tem mulher, nĂŁo tem filhos, deve estar afastado do ambiente familiar hĂĄ âtrocentos anosâ e, provavelmente (pelo menos deveria), nunca sentiu um amor carnal por ninguĂ©m.
Como Ă© que ele vai entender a dimensĂŁo da dor de ter uma filha de nove anos estuprada pelo padrasto e grĂĄvida de gĂȘmeos?
Ele entende, sim, de padres e freiras pedófilos que normalmente perdem o direito ao sacerdócio por esse motivo. Mas, pessoalmente, não me lembro de saber de nenhum deles terem sido excomungados. Até porque, para a igreja é simples, basta se arrepender e pedir perdão.
A pergunta Ă©, se essa pobre menina de nove anos, que sequer tem condiçÔes fĂsicas para dar a luz a uma criança â imagine gĂȘmeos â nĂŁo tivesse interrompido essa gravidez e morresse no parto, quem iria pedir perdĂŁo de que? E nesse caso, adiantaria perdoar alguma coisa?
A mãe e os médicos foram excomungados por salvar a vida dessa pobre criança. Mas e o padrasto estuprador, que a violentava desde os seis anos de idade, ele foi excomungado?
Se vocĂȘ Ă© catĂłlico, apostĂłlico, romano, me perdoe â ou me excomungue se quiser â mas a igreja nĂŁo sabe o que faz. E nĂŁo vamos dizer que ela nĂŁo sabe das mazelas do mundo, porque sabe, acompanha e arrecada alto em nome de Deus e da manutenção da ignorĂąncia do povo e do seu prĂłprio âstatus quoâ.
Durante sĂ©culos, em nome de Deus (e dos reis poderosos que a garantiam como religiĂŁo soberana) a igreja catĂłlica eliminou inimigos, caçou bruxas, fechou os olhos para genocĂdios como o holocausto, e se estabeleceu como a mais poderosa instituição do mundo.
Agora, sabedora da importĂąncia da religiosidade em locais como o nordeste brasileiro, excomunga uma pobre mĂŁe e um par de mĂ©dicos que, na sua visĂŁo, interromperam duas vidas embrionĂĄrias. Mas nĂŁo se manifesta a respeito da vida interrompida dessa menina de apenas nove anos, nĂŁo excomunga o padrasto estuprador, tudo em nome da manutenção de um pensamento arcaico, medĂocre e de um modelo totalmente inadequado de prĂĄtica e demonstração de religiosidade.
Ă preciso mais do que religiosidade e compaixĂŁo para sentir e entender um drama como esse acontecido no Recife.
à preciso mais do que resignação e capacidade de perdoar para compreender nas entranhas o que significa o estupro de uma menina de nove anos.
Ă preciso ter sentimento humano para compreender um ser humano, e nĂŁo meia dĂșzia de dogmas arcaicos.
Certamente, ele nĂŁo sabe o que faz. Perdoai.
Imagem - capa: Fonte = http://www.vaticanstate.va/IT/homepage.htm.
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