A MĂO AMERICANA DA JUSTIĂA IRAQUIANA
13/11/2006 -
FAZENDO DIREITO
ADVOGADOS!
Cliente: Posso lhe fazer duas perguntas, doutor?
Advogado: Qual Ă© a segunda???
(Colaboração: H.P.)
TERCEIRIZAĂĂO
"O que estĂĄ ocorrendo Ă© uma verdadeira terceirização da execução das polĂticas pĂșblicas para organizaçÔes da sociedade civil, daĂ descambando para toda sorte de ilĂcitos administrativos".
Trecho de auditoria do TCU - Tribunal de Contas da União, em que se afirma que faltam mecanismos de controle para regular a relação entre Estado e ONGs.
Fonte: Folha de S.Paulo - 13/11/2006
MILTON FRIEDMAN - O filĂłsofo da liberdade
"NinguĂ©m gasta o dinheiro dos outros com tanto cuidado como gasta o seu prĂłprio. Se quisermos eficiĂȘncia e eficĂĄcia, se quisermos que o conhecimento seja bem usado, isso precisa ser feito por meio da iniciativa privada".
Milton Friedman (1912-2006)
O economista americano Milton Friedman, morto na quinta-feira passada, aos 94 anos, sempre negou ter sido o autor da frase "NĂŁo existe almoço grĂĄtis". Ao ouvi-la, aconselhava Ă s pessoas mais atenção a outro aforismo, esse sim 100% seu: "NinguĂ©m gasta o dinheiro dos outros com o mesmo cuidado com que gasta o seu prĂłprio". Pensador econĂŽmico mais influente dos Ășltimos sessenta anos, Friedman, filho de imigrantes do Leste Europeu nascido no bairro do Brooklyn, em Nova York, foi campeĂŁo das liberdades individuais em um perĂodo em que o centralismo, o estatismo e as razĂ”es de Estado eram endeusados. Para Friedman, a liberdade econĂŽmica, a liberdade polĂtica e a liberdade pessoal eram manifestaçÔes de um mesmo princĂpio, o invencĂvel poder do indivĂduo e suas escolhas. Ele colocou sua capacidade neuronial e seu inesperado charme pessoal para pregar tanto as virtudes do livre-mercado quanto para defender causas como o fim do serviço militar obrigatĂłrio ("soldados profissionais escolhem lutar e o fazem melhor do que quem Ă© obrigado a vestir uniforme") e a descriminalização das drogas ("as polĂticas antidrogas sĂŁo apenas um subsĂdio dado ao crime organizado"). Isso ampliou seu escopo de ação e fez dele um nome popular, mas principalmente deu a seu modelo de pensamento os contornos de uma original e poderosa filosofia da liberdade.
Embora seu nome seja sinÎnimo de "economista conservador", Friedman se distanciava dos conservadores em muitos pontos. Defendeu, por exemplo, a correção monetåria, coqueluche brasileira dos anos 60. Ele sustentava que a indexação de contratos e impostos era maneira eficiente de impedir que a inflação punisse em demasia o bolso das pessoas. Nunca ofereceu, porém, uma solução para o corolårio inescapåvel da indexação de contratos: a perpetuação da inflação pela inércia em mudar um sistema que parecia autocorrigir seus defeitos.
Friedman pregava apaixonadamente, desde a juventude, que as pessoas deveriam ser livres para fazer o que quisessem com seu suado dinheiro e com sua vida. Essas idĂ©ias parecem hoje apenas o senso comum. Foram revolucionĂĄrias em um tempo em que o comunismo era tido como uma alternativa viĂĄvel ao capitalismo. Foram um jorro de luz sobre a concepção obscurantista de que sĂł governos fortes podiam resolver os problemas econĂŽmicos e sociais das naçÔes. Seus ensinamentos começaram a ser valorizados no fim dos anos 50, quando as polĂticas intervencionistas e gastadoras começaram a se esgotar nos paĂses centrais do capitalismo, resultando mais tarde em surtos inflacionĂĄrios e atĂ© estagflação (preços em alta com crescimento em baixa). Friedman apontou a saĂda. Suas receitas passaram a ser adotadas, enquanto se aposentavam as do inglĂȘs John Maynard Keynes (1883-1946). Friedman foi inspirador de algumas polĂticas econĂŽmicas do presidente americano Ronald Reagan e conselheiro pessoal da ex-primeira-ministra da Inglaterra Margaret Thatcher. Reagan foi um discĂpulo rebelde. Thatcher, uma aluna exemplar. Juntos, com a bandeira do individualismo e da eficiĂȘncia econĂŽmica dos mercados, eles infligiram o nocaute moral e econĂŽmico que derrubou a UniĂŁo SoviĂ©tica. O punho invisĂvel de Friedman pode ser sentido em todo o processo.
Iconoclasta e incansĂĄvel opositor do modelo econĂŽmico predominante no pĂłs-II Guerra Mundial, Friedman teve o raro privilĂ©gio de ver os fatos confirmarem suas teses. "O keynesianismo nĂŁo tinha uma teoria para a inflação, nĂŁo trazia uma explicação para o aumento de preços", afirma o economista JosĂ© JĂșlio Senna, que prepara atualmente um livro sobre a histĂłria da polĂtica monetĂĄria. Completa ele: "Keynes foi o grande revolucionĂĄrio do sĂ©culo passado, mas Friedman foi o grande contra-revolucionĂĄrio". Para combater a inflação, dizia Friedman, os governantes deveriam em primeiro lugar controlar a emissĂŁo de dinheiro, algo desprezado atĂ© entĂŁo. Surgiu daĂ a chamada corrente monetarista, predominante hoje nos bancos centrais de todo o planeta. Essa escola ficou associada Ă Universidade de Chicago, na qual Friedman lecionou de 1946 a 1976 e onde deixou discĂpulos. Em 1957, publicou a Teoria da Função Consumo, um de seus trabalhos mais citados. Nele demostrou que o consumo nĂŁo cresce de maneira duradoura e sustentĂĄvel a partir de estĂmulos pontuais, como imaginava Keynes, mas somente se houver um ganho permanente na renda das pessoas. Seu trabalho mais influente foi HistĂłria MonetĂĄria dos Estados Unidos, de 1963, escrito em parceria com Anna Schwartz. Foi nesse estudo que ele estabeleceu as bases do monetarismo.
A reação Ă morte de Friedman Ă© termĂŽmetro de sua estatura intelectual. Thatcher o saudou como o economista que reatou o vĂnculo entre a economia e a liberdade quando ele havia sido quebrado: "Ele foi um guerreiro intelectual da liberdade". O ex-presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) Alan Greenspan afirmou ter sido influenciado diretamente por Friedman durante cinco dĂ©cadas: "Meu mundo nĂŁo seria o mesmo sem ele". Henrique Meirelles, presidente do Banco Central brasileiro, lembra que todos correram para os ensinamentos de Friedman quando a inflação mundial saiu de controle e começou a devorar riquezas. Em uma entrevista concedida durante a crise cambial brasileira de 1999, Friedman disse: "O Brasil tem de pĂŽr sua casa fiscal em ordem: ou corta fortemente os gastos governamentais, ou aumenta fortemente a receita. NĂŁo hĂĄ outro caminho. Tem outra saĂda: imprimir dinheiro. Mas isso leva inevitavelmente Ă inflação". SĂł a parte que fala em aumento de receita foi seguida.
Fonte: Veja - Edição 1.983.