CRIATIVIDADE NO MARKETING
20/07/2013 -
NOSSOS COLUNISTAS
PROPAGANDAS INTELIGENTES (SANTA CATARINA)
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DiversĂŁo para toda a famĂlia bem perto das melhores baladas do mundo...
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PROFESSORA PASQUALINA
FALĂCIAS SOBRE LITERATURA
1. "A ficção melhora a vida das pessoas." -- Duvido que ler CĂ©line ajude um funcionĂĄrio de banco a trabalhar com mais eficiĂȘncia, arrumar uma namorada ou parar de beber.
2. "HĂĄ muita inveja no meio literĂĄrio." -- Sim (dizem), mas com os amigos Ă© o contrĂĄrio. Torcemos para que seus livros sejam bons, porque dilemas Ă©ticos dĂŁo certa preguiça: em algum momento precisaremos decidir se os elogiamos hipocritamente, talvez em pĂșblico, ou deixamos a amizade avinagrar.
3. "Quem lĂȘ best-sellers acaba passando para obras mais complexas." -- SĂł se fizer um esforço que no começo parece inĂștil, o que a maioria nĂŁo estĂĄ disposta a fazer. Por que enfrentar textos que soam ĂĄrduos e/ou incompreensĂveis? SĂł porque alguĂ©m --quase sempre uma pessoa mais velha, solitĂĄria, pobre e sem carisma-- diz que haverĂĄ uma recompensa ao final?
4. "O maior pecado de um escritor Ă© ser chato." -- Contrariando o item anterior, hĂĄ um prazer especĂfico, que pode ser intenso e viciante, em emergir de um monĂłlogo introspectivo de 900 pĂĄginas --Ă s vezes em prosa opaca, sem enredo, humor ou concessĂ”es-- como um sobrevivente.
5. "Tudo jĂĄ foi dito." -- Pegue alguns dos temas que estĂŁo por aĂ --polĂcia moral de Twitter, por exemplo-- e conte quantas boas histĂłrias foram publicadas a respeito.
6. "Todos os modos de dizer jĂĄ foram tentados." -- Assim como cada pessoa tem um timbre de voz, cada autor Ă© capaz de ser bom ou idiota Ă sua maneira.
7. "A linguagem é capaz de tudo." -- Apenas dentro dos próprios limites. Um cheiro só pode ser descrito com metåforas e associaçÔes, que não são e nem mesmo definem o cheiro em si.
8. "O texto ficcional Ă© autĂŽnomo." -- DĂĄ para acreditar nisso, como no Papai Noel da isenção, mas a referĂȘncia de toda escrita Ă© a memĂłria do seu autor, que nĂŁo necessariamente Ă© a memĂłria de coisas vividas. SĂł uso a palavra "casa" porque sei o que Ă© uma casa --jĂĄ morei numa, jĂĄ entrei em outras tantas, jĂĄ vi fotos e filmes e ouvi relatos a respeito--, e isso tambĂ©m Ă© autobiografia.
9. "Não hå muitos livros sobre futebol no Brasil." -- Frase repetida a cada lançamento de obra sobre o tema.
10. "HĂĄ poucos estudos acadĂȘmicos sobre literatura contemporĂąnea." -- Frase repetida a cada notĂcia de estudo do gĂȘnero.
11. "Hå cada vez menos espaço para resenhas." -- Ok se desconsiderarmos a invenção da internet.
12. "Escrever contos exige tanto sacrifĂcio quanto escrever romance." -- Sei que Ă© um gĂȘnero difĂcil e tal, mas estou usando critĂ©rios objetivos: os anos de dedicação e concentração, os casamentos terminados, os remĂ©dios para a lombar.
13. "O escritor Ă© um trabalhador como qualquer outro." -- Diga isso para um cortador de cana.
14. (A falĂĄcia oposta, de que se trata de um habitante das esferas elevadas da compreensĂŁo humana, Ă© ainda pior: no mĂnimo, porque gera metĂĄforas do tipo artista no fio da navalha/no olho do furacĂŁo/Ă beira do abismo.)
15. Frase de Henry James, se nĂŁo me engano, que poderia ser a resposta Ă preferĂȘncia atual --muito apreciada em cursos de escrita criativa-- por concisĂŁo, contenção e exatidĂŁo: "Adjetivos e advĂ©rbios sĂŁo o sal e o açĂșcar da literatura".
16. (DĂĄ para dizer algo parecido contra outras regras da moda: as que vetam personagens escritores, narradores em primeira pessoa, metalinguagem, capĂtulos curtos, romances polĂticos e enredo policial, livros despretensiosos ou que se levam a sĂ©rio, autores que mendigam popularidade fazendo listinhas.)
17. (Queria aproveitar para falar umas verdades sobre a crĂtica, os cadernos de cultura, as polĂticas governamentais de incentivo ao livro, as editoras, os tradutores, os revisores e preparadores, sem contar os leitores e alguns colegas e tambĂ©m meus inimigos e seus familiares, mas o espaço estĂĄ terminando e melhor deixar para outra).
18. Raduan Nassar numa entrevista Ă "Veja", 1997, resumindo a importĂąncia do que foi dito nos parĂĄgrafos acima: "Eu gosto mesmo Ă© de dormir (...). Ă um momento de magia quando vocĂȘ, sĂł cansaço, cansaço da pesada, deita o corpo e a cabeça numa cama e num travesseiro. Ensaio, prosa, poesia, modernidade, tudo isso vai para o brejo quando vocĂȘ escorrega gostosamente da vigĂlia para o sono".
Michel Laub â Fonte: Folha de S.Paulo â 19/07/13.
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