CRIATIVIDADE NO MARKETING LXVII
15/04/2009 -
NOSSOS COLUNISTAS
PROPAGANDAS INTELIGENTES LXVII (ADOTAR Ă TUDO DE BOM - PEDIGREE)
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PROFESSOR X
O DESAFIO DE INOVAR NO ENSINO DE CIĂNCIAS
Enquanto a sociedade espera inovaçÔes inteligentes, o desconhecimento do passado frequentemente leva a reinvençÔes deformadas. O vestibular unificado surgiu na Faculdade de Medicina da USP.
O Cescem (Centro de Seleção de Candidatos às Escolas Médicas, Fundação Carlos Chagas) unificou o vestibular para as faculdades de medicinas de São Paulo, logo imitado em Pernambuco e no Rio de Janeiro. Acabamos com a multiplicidade de vestibulares oferecendo as vagas aos alunos com maior chance de, usando o ensino superior fundamentalmente pago pela sociedade, dar o maior retorno.
Para que a classificação fosse precisa, o vestibular ampliou os exames, substituindo dissertaçÔes, impossĂveis de ter um julgamento consistente, por provas de mĂșltipla escolha, que eram avaliadas objetivamente por um sistema de computador.
Essas provas não se destinavam a avaliar o curso secundårio ou seus professores e não se restringiam a perguntas que avaliavam memorização de livros tradicionais defasados, mas exigiam capacidade de discernimento de poder aplicar o que deveriam ter aprendido (não ensinado) para novas situaçÔes.
Esse sistema atendia ao candidato, que declarava cursos e faculdades em ordem de sua preferĂȘncia, e revelou a necessidade de exames regionais, nĂŁo nacionais.
O vestibular não pode apenas aprovar. Ele deve classificar os alunos, distribuindo as vagas existentes. Alunos que, em vez de entrar num curso médico, obtinham uma vaga para veterinåria, desistiam do curso no primeiro ano e voltavam a fazer o vestibular.
Paulistas que ingressaram no ParanĂĄ faziam novo vestibular em SĂŁo Paulo ou, ocupando vagas, terminavam o curso para voltar para exercer sua profissĂŁo nesse Estado. "Pequenos" problemas prĂĄticos que os educadores nĂŁo contemplam ao propor simplesmente o uso do Enem. Antes do Cescem, foi na Faculdade de Medicina que surgiu o Ibecc-Funbec, que inovou o ensino das ciĂȘncias nas escolas secundĂĄrias.
Associou-se Ă US National Science Foundation, Fundação Ford e UniĂŁo Panamericana, recrutando cientistas de alto nĂvel (nĂŁo professores do secundĂĄrio ou pedagogos) para rever metas e conteĂșdo dos novos textos (que no Brasil deu origem Ă editora da UNB), que exigiram livros de apoio e curso para os professores, dando ĂȘnfase ao ensino experimental, criando novos equipamentos de baixo custo e que permitiam aos alunos fazer experiĂȘncias e tirar conclusĂ”es.
O vestibular ganhou outro papel, o de difundir esse novo conteĂșdo e mĂ©todo para aprender ciĂȘncia, trazendo para o secundĂĄrio descobertas fundamentais, como DNA, ecologia e evolução, fundamentos das reaçÔes quĂmicas e da estrutura molecular, conservação da energia, entropia, a dualidade onda-partĂcula e a relatividade. Para isso, os 1.500 candidatos mais bem classificados ainda se submetiam a provas de laboratĂłrio que exigia correlacionar informaçÔes com a realidade fĂsica.
Hoje, o nĂșmero de candidatos nĂŁo permitiria essas provas, mas deve conter quesitos que considerem na avaliação a capacidade de interpretar dados colhidos de experiĂȘncias reais, em vez de medir memĂłria de livros ou da tela do Google, que aceitam tudo.
O plano de ressuscitar os "Kits Cientistas", cuja tiragem foi de mais de 2 milhĂ”es, levarĂĄ para as casas e para as escolas a possibilidade de aprender de experiĂȘncias realizadas, observaçÔes e interpretaçÔes pelos jovens estudantes, que nĂŁo seriam mais refĂ©ns de falsas informaçÔes.
Como a sociedade esquece, somos obrigados a reinventar. O famoso pesquisador Bruce Albert, da Harvard e editor da revista "Science", desafia a comunidade cientĂfica, num editorial publicado em 23/1/09, para um novo ciclo de inovação do ensino de ciĂȘncias e aponta as seguintes metas: preparar os estudantes para gerar e avaliar evidĂȘncias cientĂficas e suas explicaçÔes, entender a natureza e o desenvolvimento do conhecimento cientĂfico e participar de forma produtiva das prĂĄticas cientĂficas.
Um desafio que nĂŁo se resolve mobilizando autores de compĂȘndio, educadores de escrivaninha, donos de cursinho ou alterando regras de admissĂŁo Ă s universidades, admitindo alunos, maiorias ou minorias, que nĂŁo foram preparados para perpetuar mais do que a mediocridade do ensino de ciĂȘncias e seu impacto no desenvolvimento, a formação de uma sociedade que nĂŁo entende o mundo onde vive.
Isaias Raw, 82, professor emĂ©rito da Faculdade de Medicina da USP, Ă© presidente da Fundação Butantan. Foi fundador da Funbec (Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de CiĂȘncias) e da Fundação Carlos Chagas. - Fonte: Folha de S.Paulo - 14/04/09.
Faculdade de Medicina da USP - http://www.fm.usp.br/
Fundação Butantan - http://www.butantan.gov.br/fundacao.htm
Funbec - http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2008/jusp825/pag02.htm
Fundação Carlos Chagas - http://www.fcc.org.br/
PROFESSORA PASQUALINA
16 RESPOSTAS SOBRE O NOVO EXAME
Como funcionarĂĄ o novo sistema de seleção proposto pelo MinistĂ©rio da Educação (MEC) â e que começa a ser adotado por algumas universidades federais e particulares ainda neste ano
1. O que cairĂĄ no novo Enem?
SerĂŁo 200 questĂ”es de mĂșltipla escolha divididas em quatro ĂĄreas do conhecimento (ciĂȘncias naturais e humanas, linguagens e matemĂĄtica), alĂ©m de uma redação. O exame abrangerĂĄ menos assuntos do que o vestibular, mas falta o MEC dizer o que vai ficar de fora.
2. O que deve estudar alguém que vai tentar o ingresso, nos próximos meses, numa universidade que aderir ao modelo?
Na ausĂȘncia de uma definição mais especĂfica sobre o que serĂĄ exigido na nova prova e quais as instituiçÔes que vĂŁo adotĂĄ-la, o ideal Ă© preparar-se tanto para o vestibular quanto para o atual Enem (cujos simulados podem ser encontrados no site do MEC). A velha versĂŁo do exame testa apenas habilidades mais gerais, como a capacidade de interpretar textos e de solucionar problemas da vida real, e muito pouco conteĂșdo especĂfico. Do antigo Enem, a nova prova manterĂĄ a contextualização das questĂ”es â mas elas passarĂŁo a ser 100% calcadas nas disciplinas do ensino mĂ©dio.
3. Os cursinhos vĂŁo preparar os alunos para o novo Enem ainda neste ano?
Sim. Quatro das maiores redes do paĂs afirmaram a VEJA que vĂŁo fazer adaptaçÔes nas aulas e no material didĂĄtico de modo a treinar os alunos para o novo exame.
4. O Enem passarĂĄ a ser o Ășnico critĂ©rio para a seleção nas universidades que o adotarem?
A decisĂŁo caberĂĄ a cada instituição. O MEC propĂ”e dois modelos. No primeiro, as universidades podem usar o resultado da prova como preferirem, inclusive fazendo uma segunda fase prĂłpria. A outra opção Ă© aderir ao Sistema de Seleção Unificado. Neste caso, Ă© necessĂĄrio que o Enem seja a Ășnica etapa do processo seletivo. As vagas ficam disponĂveis em um sistema eletrĂŽnico de inscrição, vĂĄlido para todo o paĂs.
5. Ă possĂvel usar o mesmo Enem para se candidatar a uma vaga em diferentes universidades?
Sim. Este Ă© exatamente o propĂłsito da prova nacional. No entanto, nos casos em que a universidade aderir ao Sistema Unificado haverĂĄ um limite de atĂ© cinco opçÔes por candidato, que devem ser colocadas em ordem de preferĂȘncia. As vagas de um curso serĂŁo oferecidas antes Ă queles estudantes que o tiverem escolhido como primeira opção.
6. Como saber se a nota obtida no exame serĂĄ suficiente para o ingresso num curso?
Esta é uma das principais mudanças do sistema proposto pelo MEC: o aluno receberå sua nota antes de se inscrever nos concursos das faculdades e poderå, ainda, consultar as médias dos demais candidatos à vaga que ele deseja. Isso serå feito por meio do sistema on-line de inscriçÔes, onde tais informaçÔes estarão abertas a consulta. Assim, o candidato passa a ter uma visão muito realista de suas chances no processo seletivo.
7. Pessoas que se formaram na escola hĂĄ mais tempo podem fazer o novo Enem?
Sim. Qualquer pessoa com diploma de conclusĂŁo do ensino mĂ©dio pode se inscrever â nĂŁo importa a idade.
8. Quando serĂĄ divulgada a lista das universidades federais que vĂŁo adotar o novo sistema em 2009?
O prazo-limite é até o fim de abril, uma vez que, caso optem pelo vestibular tradicional, as instituiçÔes precisam ter tempo håbil para formular as provas e organizar o concurso. VEJA ouviu 51 dos 55 reitores de universidades federais. Destes, 25 são favoråveis à mudança neste ano, mas falta submeter a questão aos respectivos conselhos.
9. Faculdades estaduais e particulares também podem aderir?
Sim. Na semana passada, o ministro Fernando Haddad se encontrou com dirigentes de instituiçÔes estaduais e particulares justamente para tentar atraĂ-las. Mais de 500 particulares jĂĄ avisaram que vĂŁo aderir. A USP e a Unicamp, que tĂȘm os dois maiores vestibulares do paĂs, vĂŁo ficar de fora, pelo menos em 2009.
10. Uma nota ruim no Enem pesarĂĄ contra o estudante?
NĂŁo. Ă do aluno a decisĂŁo de apresentar o resultado Ă s universidades â ou simplesmente ignorĂĄ-lo e fazer uma nova prova. NĂŁo hĂĄ limite de vezes para tentar o Enem.
11. Qual serĂĄ a periodicidade do Enem?
Neste ano, haverĂĄ sĂł um, nos dias 3 e 4 de outubro. Em 2010, o MEC pretende aplicar pelo menos dois. A meta Ă© chegar a sete por ano, como o SAT, modelo americano no qual se inspira o novo Enem.
12. Se o aluno quiser tentar a transferĂȘncia de curso ou de faculdade terĂĄ de fazer o Enem?
NĂŁo necessariamente. Hoje, cada universidade tem um sistema prĂłprio para selecionar os alunos que pedem transferĂȘncia. Algumas avaliam o boletim da faculdade, outras aplicam um teste. Se quiserem, poderĂŁo tambĂ©m considerar a nota no novo Enem. Nesse caso, quem nĂŁo tiver realizado o exame precisarĂĄ fazĂȘ-lo.
13. Por quanto tempo a nota da prova serĂĄ vĂĄlida?
O MEC ainda nĂŁo bateu o martelo, mas a tendĂȘncia Ă© que feche o prazo em trĂȘs anos. Nesse perĂodo, o aluno pode apresentar a mesma nota Ă s universidades. Como o Enem Ă© um exame padronizado, ao contrĂĄrio do vestibular, estatisticamente Ă© possĂvel, sim, comparar as mĂ©dias de alunos que realizaram provas em anos diferentes.
14. Quem vai elaborar e corrigir as provas?
O Inep, ĂłrgĂŁo ligado ao MEC que jĂĄ cuida de outras avaliaçÔes oficiais, como o prĂłprio Enem. Uma comissĂŁo de especialistas ajudarĂĄ a estabelecer o conteĂș-do do exame. Uma empresa especializada em aplicação de provas, que serĂĄ definida por licitação, ficarĂĄ encarregada da logĂstica do concurso.
15. Se o candidato fizer o Enem durante o ensino médio, ele poderå guardar a nota para quando se formar?
Não. A nota só serå vålida para aqueles estudantes que jå completaram o ensino médio.
16. Haverå alguma mudança nas universidades que jå adotam cotas?
NĂŁo muda nada. Cotistas e nĂŁo cotistas terĂŁo de fazer a mesma prova.
Fonte: Veja - Edição 2108.
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