EDUCAĂĂO EM ERUPĂĂO...
12/01/2008 -
MARILENE CAROLINA
VULCĂO TUNGURAHUA
Imagem mostra vulcão Tungurahua, em Baños, cerca de 130 quilÎmetros ao sudeste de Quito (Equador), em erupção.
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Fonte: Folha Online - 10/01/08.
ESTRATĂGIA EDUCACIONAL BRASILEIRA
Com a criação da USP, em 1934, nascia um pensamento cientĂfico com vocação ao poder polĂtico. Essa vocação do mundo universitĂĄrio cresceu, atingiu cargos de elaboração governamental, gerou referĂȘncias para a esquerda. Mas, nos anos 90, houve uma acelerada e radical inversĂŁo da realidade universitĂĄria.
Ao redor de 80% das vagas se concentraram em faculdades particulares, dado o "boom" de abertura de universidades privadas no interior do paĂs. Houve avanços: as vagas noturnas das particulares interiorizaram o estudo universitĂĄrio e abriram oportunidades a mulheres e trabalhadores. Mas o crescimento foi desordenado e provocou a queda da qualidade.
A "Geografia da Educação" (MEC) revelou que as faculdades particulares do paĂs possuem o dobro de alunos por sala que as pĂșblicas, menos doutores e um Ănfimo nĂșmero de docentes com dedicação exclusiva. HĂĄ uma impressĂŁo generalizada de que houve muita ingerĂȘncia polĂtica na abertura de cursos.
Marilena Chaui, num dos encontros da Anped (maior encontro nacional de educação), lamentava a transformação da universidade brasileira de instituição em organização. Explicava que uma instituição se volta para a sociedade, e a organização, para si mesma, voltada para sua sobrevivĂȘncia e seu crescimento.
Agora, ficamos sabendo pelo censo da educação superior que o nĂșmero de formados em universidades pĂșblicas caiu 9,5% nos Ășltimos dois anos. O problema Ă© mais grave na medida em que se sabe que as faculdades do interior brasileiro enfrentam grandes dificuldades desde 2005.
A inadimplĂȘncia chega Ă mĂ©dia de 40% (caso de SĂŁo Paulo, Estado mais rico do paĂs). A concorrĂȘncia entre pequenas faculdades chega Ă s raias do desespero. O ataque ao ensino mĂ©dio Ă© cada vez maior e, muitas vezes, obriga uma faculdade a se conveniar com uma rede de ensino mĂ©dio para obter a fidelização do futuro universitĂĄrio.
Caem as matrĂculas no ensino mĂ©dio (1,5% entre 2004 e 2005 e 1,4% entre 2005 e 2006) e aumenta a procura pela modalidade EJA-mĂ©dio (educação de jovens e adultos-ensino mĂ©dio) em 10% entre 2005 e 2006, motivada pela oferta de postos de trabalho. Projeta-se para 2008 a criação de 2,5 milhĂ”es de novos empregos.
Assim, parece ser a hora de repensarmos toda a porta de saĂda do ensino regular e o ingresso no mundo do trabalho. O Brasil possui uma cultura de valorização do tĂtulo universitĂĄrio para ingresso e evolução no mercado de trabalho. Mas a proliferação de vagas nas faculdades particulares banalizou o ensino acadĂȘmico.
à de questionar, portanto, os motivos para não transformarmos o ensino médio e a EJA em modalidades próprias, e não "ritos de passagem".
No caso do ensino médio regular, trata-se de passagem para o mundo universitårio. No caso da EJA, de certificação para postos de trabalho, normalmente semiqualificados.
Qual seria o motivo para nĂŁo transformar, como ocorre na Europa (sul da Alemanha, em especial), o ensino mĂ©dio e a EJA em modalidades especĂficas, de alto padrĂŁo de qualidade, para formação de quadros tĂ©cnicos totalmente direcionados para a vocação regional do mercado de trabalho?
HaverĂĄ, possivelmente, nos prĂłximos anos, um movimento de oligopolização do ensino universitĂĄrio privado do paĂs. Em alguns casos, grupos econĂŽmicos mais agressivos e com menor vocação educacional avançarĂŁo o sinal para fazer um bom negĂłcio a partir da crise cada vez mais profunda de pequenas instituiçÔes acadĂȘmicas. A luta pela sobrevivĂȘncia serĂĄ mais aguda e Ă© necessĂĄrio redirecionĂĄ-la para que nĂŁo se torne selvagem.
Um acordo nacional estratĂ©gico da educação brasileira precisa ser firmado para definir as identidades de cada segmento do ensino brasileiro, sua vocação e seu foco de atuação, assim como os vasos comunicantes entre eles, por meio de programas de extensĂŁo definidos nĂŁo como marketing institucional, mas como projeto de desenvolvimento do paĂs.
Afinal, continuaremos com os velhos rituais de passagem, que limitam o ensino médio e a EJA às técnicas de memorização de fatos e informaçÔes a serem descarregados nos exames de seleção à universidade ou reproduzidos em atividades repetitivas de postos de trabalho constantemente ameaçados pelas novas tecnologias ou subemprego?
Um dia, Florestan Fernandes perguntou-se a respeito do objetivo do ensino universitĂĄrio, seu papel social para o paĂs. O mundo acadĂȘmico se limitou a tal ponto que nĂŁo temos mais nenhum acadĂȘmico que se faça a mesma pergunta.
Ruda Ricci, 45, sociĂłlogo, mestre em ciĂȘncias polĂticas e doutor em ciĂȘncias sociais, Ă© membro da Executiva Nacional do FĂłrum Brasil de Orçamento e do ObservatĂłrio Internacional da Democracia Participativa. Ă autor, entre outras obras, de "Terra de NinguĂ©m".
Fonte: Folha de S.Paulo - 09/01/08.
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