O SHOW DOS "REIS" DA LOGÃSTICA LXXVII...
25/06/2009 -
FORMANDOS & FORMADOS
LOGISTICA INOVADORA (CHANEL FIOLE DESIGN CONCEPT)
English:
http://www.worldcarfans.com/9090326.021/student-design-chanel-fiore-concept-in-video
Hongik University - http://www.hongik.ac.kr/english_neo/
Jinyoung Jo é uma designer da Universidade Hong-ik, na Korea do Sul, e esta é a sua criação: o Chanel Fiole. Assim como o trabalho de Coco Chanel, o design deste carro é centrado na simplicidade das linhas e “o melhor do preto e brancoâ€. Como todo bom conceito ele prima pelo fluxo de ar. Possue apenas 3 lugares, dois na frente e um centralizado na parte traseira.
Leia mais:
http://revistaautoesporte.globo.com/Revista/Autoesporte/0,,EMI66204-10142,00.html
Video e mais fotos:
http://www.worldcarfans.com/9090326.021/student-design-chanel-fiore-concept-in-video
Hongik University - http://www.hongik.ac.kr/english_neo/
NOVO ÔNIBUS LONDRINO
O tradicional ônibus londrino de dois andares vai passar por uma remodelação. Uma competição lançada pelo prefeito da cidade para modernizar a frota terminou com dois projetos vencedores. Um deles foi criado numa parceria entre a montadora Aston Martin e o escritório de arquitetura Foster and Partners, que assina alguns dos projetos mais ousados de Londres. O modelo tem piso rebaixado de madeira reciclada, teto de vidro com painéis solares, baixa emissão de poluentes e bancos de couro reconstituÃdo. Os novos ônibus só deverão rodar a partir de 2011.
Fonte: Fala Mundo - Celso Masson - Época - Edição 579.
Veja fotos:
http://www.fosterandpartners.com/News/363/Default.aspx
CACHORRONETE
O que é: Um patinete puxado pelo seu cachorro.
Qual é o barato: Seu melhor amigo é hiperativo e tem um dono preguiçoso? Vocês vão adorar este patinete: o cachorro fica conectado a ele por uma fita e pode correr à vontade (você controla a direção pelo guidão). O veÃculo tem um sistema de amortecimento para evitar puxões quando você - ou ele - frear.
Dog Scooter - Nos EUA = R$ 1.200.
http://www.dogpoweredscooter.com/
Fonte: Super Interessante - Edição 266 - Junho 2009.
CUIDE DO SEU BOLSO E DO PLANETA JÃ!
Faça o download gratuito no site http://www.redetres.com/.
(COLABORAÇÃO: PROFESSORA ADRIANA FILETO)
JORNALISTA SEM DIPLOMA NÃO TEM FUTURO
Professor de Harvard, o psicólogo Howard Gardner ganhou notoriedade mundial ao disseminar o conceito de inteligências múltiplas -em poucas palavras, a inteligência se manifesta das mais diferentes formas, inclusive na habilidade como se move o corpo num campo de futebol.
Veja a renda mendal de jogadores que desprezaram a escola como Adriano (R$ 300 mil) ou Ronaldo (R$ 1,1 milhão) -agora, compare com salário de um professor doutor da USP, com dedicação integral (R$ 6,7 mil). Imagine quantos times de professores seriam necessários para ganhar o salário dos dois jogadores.
O psicólogo afirma que uma das habilidades fundamentais no mercado de trabalho é a "mente sintetizadora". Por isso, apesar da decisão do Supremo Tribunal Federal, na semana passada, de permitir que até um jovem com ensino médio (ou menos) trabalhe numa Redação, o jornalista não terá futuro sem, no mÃnimo, um diploma. Provavelmente o menos importante desses diplomas seja o de jornalismo.
Mente sintetizadora é a habilidade de extrair o que é essencial do amontoado cada vez maior de informações despejada diariamente pelos mais diferentes meios. Para Gardner, o profissional do futuro deverá ter essa "mente" ou, pelo menos, ser assessorado por alguém que a tenha, do contrário tende a ficar paralisado entre as múltiplas alternativas.
Para nenhuma atividade profissional, o desafio de lidar com o excesso de informação (e, portanto, exercer a capacidade de sÃntese) é tão pesado como para os jornalistas. Afinal, a imprensa é e será o grande filtro, seja no papel, no rádio, nas telas da televisão ou do computador. O jornal "The New York Times" inventou, no mês passado, um novo cargo: editora de "mÃdia social". Sua missão: navegar pelo labirinto das redes de internet como Orkut, Facebook, Twitter, além da floresta de blogs, e descobrir informações e tendências. Quem está acompanhando as manifestações do Irã, vê o papel dessas redes diante da proibição de divulgação de notÃcias.
Não se desenvolve a capacidade de sÃntese sem um longo treino de associação de dados, ideias e conceitos, o que exige uma vivência de ensino superior, com cargas de leitura e dissertações aprofundadas. Desenvolve-se, aÃ, a competência para identificar, relacionar e selecionar, a partir de problemas complexos.
Daà que o aluno que passou a vida decorando para fazer provas tem até a chance de entrar numa boa faculdade, mas corre o risco de quebrar a cara no mercado de trabalho.
O fim da obrigatoriedade do diploma responde a essa demanda dos meios de comunicação: a abertura para profissionais ou acadêmicos das mais diversas áreas, especializados em determinados assuntos, capazes de acompanhar melhor a velocidade do conhecimento. É bem diferente de certos tempos em que se aceitavam, sem maiores problemas, repórteres talentosos para descobrir o futuro, mas incapazes de escrever; havia, na Redação, profissionais pagos para escrever a matéria, chamados "copidesque".
O jornalista de qualidade será obrigado a se reciclar permanentemente, mantendo-se ligado a algum nÃvel de vida acadêmica. É apenas consequência óbvia da era da aprendizagem permanente. Ou seja, um diploma é pouco. O presidente do STF, Gilmar Mendes, ao justificar o fim do diploma, comparou o jornalista ao cozinheiro. Também não acredito que um cozinheiro, no futuro, prospere sem diploma de ensino superior.
Ao contrário do que se pensa, o fim do diploma deve ajudar os cursos de jornalismo. Basta ler um texto universitário para ver a inviabilidade da linguagem acadêmica na mÃdia. Os profissionais que desejarem prosperar numa Redação terão de reciclar sua linguagem e lidar com as técnicas de comunicação; o acadêmico tem a reverência do processo; o comunicador, a do instante.
Minha aposta é que serão criados cursos de curta duração, no estilo sequencial, com foco no mercado de trabalho. Com a decisão do STF, tirando os corporativistas, todos saÃram ganhando a começar do leitor. PS - Minha aposta: os cursos de jornalismo mais procurados serão uma versão um pouco mais ampliada dos treinamentos oferecidos atualmente em jornais e algumas revistas. Ou seja, centrados na prática e no contato com jornalistas em atividade. Fora disso, é para quem procura fazer teses de doutorado (o que, diga-se, é importante).
Ou jogar dinheiro fora. É mais uma pancada contra a praga do corporativismo que, na semana passada, levou mais cutucões, entre os quais a divulgação dos salários dos serviços municipais pela Prefeitura de SP e o anúncio da obrigatoriedade de exames para diretores regionais de ensino e de saúde, além dos diretores dos hospitais da rede pública paulista. Vamos, aos poucos, aprendendo a valorizar o mérito para defender a coletividade, especialmente os mais pobres. Para completar, alunos se mobilizaram contra a greve na USP.
Gilberto Dimenstein (http://www.dimenstein.com.br/) - Fonte: Folha de S.Paulo - 21/06/09.
QUE UNIVERSIDADE É ESSA?
A USP é a melhor universidade da América do Sul. E é a única universidade pública brasileira que não tem eleições diretas para reitor. Esses dois traços estão ligados ou não? Parte da comunidade acredita que ela é a melhor porque não cai na demagogia. Outra parte acha que não ter eleições diretas é sério déficit democrático.
Muito da discussão se deve a uma confusão entre poder e autoridade. Na academia, o que conta é autoridade. Ter autoridade não é mandar. "Auctoritas" é algo difuso. Vem do latim "augere" -crescer, desenvolver, animar, embelezar-, que, por sinal, também dá "augusto". Expressa um sentido moral, um respeito à qualidade. Passa pelo reconhecimento do mérito no pensar, no criar. Na democracia, o poder vem da eleição. Mas nem voto nem nomeação dão autoridade.
Dentro da academia, um poder sem autoridade é vazio. Uma universidade ou um departamento chefiados por quem não tem autoridade acadêmica perde em respeito.
Povo USP
Assim, primeiro ponto: uma universidade deve ter qualidade. Esse é o seu diferencial especÃfico. Deve formar bons alunos, mas, se tiver ambição de liderança, deve formar doutores muito bons e fazer pesquisa entre boa e ótima. Isso a USP faz. Segundo: "democracia", o poder do povo, exige uma pergunta. O que é o povo? Há um "povo USP", composto de seus docentes, funcionários e alunos, que teria o direito ético de eleger a direção da universidade? Não. O povo que existe é o paulista, que sustenta a USP. Os servidores, docentes ou não, que ele paga, e os alunos, que recebem de graça um ensino muito bom, não são um povo.
Ninguém de nós cogitaria que a direção das secretarias de Estado fosse eleita por seus funcionários, ou a dos hospitais pelos seus servidores. Mas, se o reitor da USP fosse nomeado (e demitido) pelo governador como um secretário de Estado, seria um desastre.
A autonomia é necessária -justamente, porque a universidade se distingue por sua qualidade. Sou contra a "meritocracia". Numa democracia, o poder ("kratos") é do povo. Ter poder implica definir metas para o governo. A universidade é um meio excelente para certos fins que nossa sociedade consensuou democraticamente: formação de profissionais (na graduação) e, nas melhores instituições, formação de pesquisadores e avanço na pesquisa.
Sendo um meio, a universidade tem de ser muito boa. Daà que nela deva contar não o poder, mas a autoridade. O governador recebe poder do povo. Já a autonomia da universidade decorre de sua autoridade. Isso a deve afastar dos confrontos partidários -cujo lugar correto está na disputa pelo poder polÃtico. A pesquisa pós-graduada constitui o segredo interno da boa universidade. Ninguém sabe disso fora dela. Quando a imprensa ou os polÃticos se debruçam sobre as universidades, quando discutem vestibular ou cotas, pensam na graduação.
Mas o que distingue uma universidade em segundo grau -isto é, aquela que forma quadros para serem criadas e desenvolvidas outras instituições de ensino superior, fazendo o que chamamos de "nucleação" (isto é, formar núcleos de bons docentes)- é sua pujança na pós-graduação. E isso porque, no Brasil, à diferença dos EUA, quase toda a pesquisa, inclusive parte da tecnológica, se faz nas universidades. Mas quem é o sujeito da autonomia, quem -dentro da universidade- detém legitimidade para, em nome dela ("autos"), dar-lhe suas regras, suas leis (o "nomos")? Aqui está o problema. Neste ano, teremos a sexta eleição para reitor por regras que fazem com que, depois de um primeiro turno em que votam mais de 1.200 membros das congregações e conselhos, o nome se defina num segundo turno restrito aos 256 membros dos conselhos centrais. Das cinco eleições realizadas desde 1989, só numa venceu um candidato de oposição ao reitor. Milhares de docentes doutores nem sequer votam no primeiro turno, e o segundo turno é próximo demais do poder. Isso não é bom. Afasta o reitor da comunidade.
Tal situação favorece a greve de (quase) todo outono e a reivindicação, que não tem apoio da maioria acadêmica, por eleições diretas. Por que digo que não tem apoio? Porque em nenhuma escolha depois de 1985 houve um candidato sequer que fosse à consulta direta. Todos aceitaram as regras do jogo. Mas ficou uma distância entre o reitor e sua comunidade, que o enfraquece.
Outro sistema
Na comunidade acadêmica, muitos não aceitam eleições diretas. Vários bons pesquisadores prefeririam um sistema que funciona bem, fora da América Latina: o do comitê de busca que entrevista os selecionados e, em razão de seu currÃculo e de seus projetos, escolhe o reitor. Mas não creio que esse sistema funcione aqui, porque contraria as tradições construÃdas nas últimas décadas e que tendem à eleição. Nosso sistema foi testado, está superado e defendo sua mudança para o futuro. Mudá-lo a quatro meses das eleições seria ilegÃtimo. Mas ele precisa ser ampliado.
Concluindo: primeiro, toda e qualquer mudança na direção da universidade só terá valor se aumentar, e não diminuir, a qualidade da pesquisa cientÃfica que fazemos. É por isso que muitos se opõem à eleição direta, na qual veem a subordinação da qualidade a questões polÃticas, a redução da autoridade ao poder. Segundo, precisa aumentar sensivelmente o colégio que escolhe o reitor. Pessoalmente, defendo que um colégio mais amplo -que inclua os membros dos conselhos departamentais e das comissões estatutárias nas faculdades- vote no primeiro turno; que o segundo turno também se amplie, talvez com o mesmo colégio; e que se negocie com o governador a substituição da lista trÃplice por uma representação da sociedade no colégio eleitoral, de modo que a eleição do reitor se complete pelo voto.
Há, sem dúvida, outras propostas de ampliação. Mas qualquer mudança na eleição só tem sentido se for para aumentar a legitimidade do reitor -fazê-lo mais representativo, sim, mas lhe dar maior "auctoritas". Na USP, a autoridade foi para os lÃderes de bons grupos de pesquisa. A reitoria precisa recuperar a liderança, mas esta não é questão de poder, e, sim, de qualidade.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia polÃtica na USP e foi diretor de avaliação da Capes entre 2004 e 2008. É autor de "O Afeto Autoritário" (ed. Ateliê). Fonte: Folha de S.Paulo - 21/06/09.
O Afeto Autoritário - http://www.atelie.com.br/loja/pagina.php?pag=detl&cdp=439
USP USP USP COMPARADA
A convite da Folha, Maria Lúcia Pallares-Burke, Leopoldo Bernucci e Katia Mattoso discutem o que diferencia a principal universidade brasileira de suas congêneres em Camdridge, Paris e Califórnia.
Três renomados acadêmicos respondem ao seguinte questionário:
1 - Como avalia a atual greve da USP e os confrontos dela decorrentes (como entre reitoria e grevistas)?
2 - Em que uma greve em universidades estrangeiras difere de uma greve na USP?
3 - Como avalia o sistema universitário brasileiro em comparação aos estrangeiros?
4 - Grevistas argumentam que o cargo do reitor da USP não representa a instituição, pelo fato de a escolha do cargo ser feita pelo Poder Executivo. Quais critérios norteiam a escolha de professores nas universidades em que trabalhou?
5 - Qual é a imagem da universidade pública brasileira junto das instituições acadêmicas estrangeiras? Em sua opinião, ela tem ampliado seu respaldo cientÃfico-institucional no exterior?
Universidade de Cambridge por Maria Lúcia Pallares-Burke
Leia abaixo trechos da entrevista concedida pela historiadora Maria Lúcia Pallares-Burke. (EUCLIDES SANTOS MENDES)
1
É difÃcil, ou mesmo impossÃvel, avaliar de longe a atual greve da USP. Mas confesso que tenho a triste sensação de um "dejà vu".
Tenho recebido comunicados da reitoria dirigidos ao "caro servidor", justificando a presença da PolÃcia Militar no campus como algo que se tornou necessário para a "defesa dos princÃpios democráticos" -devido a ação de "grupos de militantes polÃticos profissionais", que há décadas estariam atuando na universidade.
Por outro lado, também recebo informações de professores e estudantes da USP que apresentam um quadro totalmente diferente, em que o direito democrático para demonstrações [de insatisfação] e greves estaria sendo enfrentado pela direção da universidade com autoritarismo, insensatez e violência.
2
Fala-se hoje no Reino Unido em uma redescoberta do poder da ação direta, da ação das greves, em vários setores, incluindo fábricas e universidades, e envolvendo piquetes como forma de persuasão.
Esse foi o caso da recente greve do metrô de Londres [em 10/ 6], mas sem que isso desencadeiasse violência policial. Neste ano, por exemplo, houve uma onda de greves e de ocupações, muitas com resultados, não só na indústria como nas universidades.
No caso das indústrias, tratava-se, em muitos casos, de reação às medidas tomadas por seus dirigentes diante da crise econômica -como despedir empregados sem aviso prévio e sem pagamento.
No caso das universidades, de janeiro a março deste ano, houve o que tem sido descrito como a "maior onda de ocupações de universidades" desde a década de 1960. Naquela época, o motivo principal era [a manifestação contra] a Guerra do Vietnã [1957-75], enquanto neste ano tem sido a violência contra os palestinos em Gaza.
Em 35 universidades britânicas, estudantes invadiram parte de suas unidades e em muitas delas obtiveram ganhos como, por exemplo, bolsas de estudos para palestinos. As greves de professores no Reino Unido são organizadas nacionalmente pela Associação dos Sindicatos de Professores Universitários e, pelo que sei, foram eles que organizaram as últimas greves de 2006 e 2004 para reivindicar aumento de salário.
A greve consistia na não entrega das notas dos exames finais dos alunos. Essas disputas foram, e têm sido, geralmente resolvidas por negociações, sem nenhuma participação da polÃcia -algo impensável aqui. No caso dos estudantes, apesar de também haver uma associação nacional, as ações são em geral tomadas separadamente em cada universidade.
Normalmente, não fazem greves propriamente, mas o que chamam de "sit-in", ou seja, invasões de prédios do campus, que vão desde salas de aula, teatros e escritórios administrativos até as salas do próprios reitores.
3
Comparando as melhores universidades britânicas com as melhores brasileiras, o que chama a atenção, no caso do Brasil, é a combinação de excelência com falta de recursos.
A quantidade de dinheiro privado e público que, por exemplo, a Universidade de Cambridge recebe para pesquisa -que permite haver um professor para cada dez alunos e riquÃssimas bibliotecas- necessariamente repercute na sua produção.
4
O reitor não é eleito diretamente pela comunidade acadêmica. É anunciado o posto, e um comitê de professores analisa as "applications" [pedidos de candidatura]. O comitê leva em consideração sobretudo a capacidade administrativa dos candidatos.
Aqui os postos universitários têm de ser anunciados publicamente nos jornais e todos os candidatos devem submeter, junto com seus papéis, uma lista de pessoas a quem a instituição pedirá referências. Os candidatos selecionados são entrevistados e fazem, em geral, uma apresentação pública de seu projeto de trabalho ou dão uma aula.
Em geral, após três anos, a pessoa pode ser efetivada. Nesse processo de seleção, as referências são essenciais e privilegiam aqueles que têm o respaldo dos nomes mais eminentes no seu campo. Isso significa que quem fez o doutorado na Inglaterra, e especialmente com um supervisor de renome, tem uma grande vantagem em relação a outros candidatos vindos de instituições de menor prestÃgio ou menos conhecidas.
Há também a questão cultural, pois mesmo uma pessoa de renome de outra cultura dificilmente saberá escrever a carta no tom e nos dizeres que repercutem positivamente entre os examinadores locais. Quanto à avaliação das várias universidades, isso é feito a cada cinco anos, quando os departamentos são examinados por acadêmicos de outras instituições. A verba dada pelo governo a cada instituição depende do resultado desse ExercÃcio de Avaliação de Pesquisa, que data dos anos 1980.
5
Muitas pessoas das universidades inglesas nada sabem sobre a USP e desconhecem o fato de ela ser a melhor universidade da América do Sul, segundo pesquisa de 2008 [realizada pelo Institute of Higher Education da Shanghai Jiao Tong University] sobre as melhores universidades do mundo [a USP subiu da 128ª para a 121ª posição no ranking].
Com certeza há cientistas que conhecem alguns de seus laboratórios e equipes de pesquisa, mas, de modo geral, e especialmente no campo das humanidades, o desconhecimento é generalizado. Haveria, pois, muito a ser feito para difundir no exterior as realizações da USP. E isso tem de partir do Brasil, pois se trata de lutar contra um desinteresse e uma ignorância seculares sobre a cultura brasileira.
Maria Lúcia Pallares-Burke é professora aposentada da USP e pesquisadora associada do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Cambridge. É autora de "Gilberto Freyre - Um Vitoriano dos Trópicos" (ed. Unesp), entre outros livros. Fonte: Folha de S.Paulo - 21/06/09.
"Gilberto Freyre - Um Vitoriano dos Trópicos" (ed. Unesp) - http://www.editoraunesp.com.br/titulo_view.asp?IDT=655
Universidade de Paris por Katia Mattoso
A seguir, leia trechos da entrevista concedida por telefone pela historiadora Katia Mattoso. (ERNANE GUIMARÃES NETO)
1
Sempre se diz que o governo federal atual deve muito ao professorado da USP. Em torno do presidente [Lula], pelo menos nos primeiros anos, havia uma presença muito marcante de docentes, principalmente da USP, das áreas de sociologia, história etc. Não sei se continua assim... Outra coisa é a consciência polÃtica que se tem e as reações diante de problemas que são, na realidade, de sobrevivência.
Mas é um problema em todo o mundo. Eu, por exemplo, ensinei na Sorbonne, uma das mais tradicionais e mais arcaizantes, do ponto de vista polÃtico, universidades de Paris. Nessa universidade, houve uma greve iniciada em fevereiro e que terminou há apenas três semanas [no final de maio, as aulas foram retomadas, mas ainda há protestos].
Nas greves, as lideranças são uma minoria muito bem preparada para mobilizar os alunos. Eles têm técnica, sabem como devem fazer. Na Sorbonne é assim também.
2
No caso da Sorbonne, as reivindicações não eram salariais, mas sim contra o governo, que queria introduzir medidas que não foram aceitas pelos professores, sobre transformação no funcionamento dos departamentos.
Em todos os paÃses que conheço, mesmo na Grécia [onde vive], a greve é uma coisa recorrente, que passou a ser um recurso mesmo para questões que poderiam ser solucionadas muito rapidamente.
Falta boa vontade para o diálogo entre os que fazem reivindicações e os que estão do outro lado. Na Grécia, vi greves durarem seis meses. São apoiadas pelo corpo discente. Na França, essa foi uma greve de protesto pela soberania da universidade em relação ao ministério da Educação, que quis fazer reformas sem se haver entendido com o corpo docente. O acordo foi entre o corpo docente e o corpo discente; formou-se uma resistência muito grande.
É interessante que a adesão foi de todas as partes: da mais extrema esquerda à mais extrema direita. Na Grécia também há consenso entre estudantes e professores. A situação não é como antigamente, quando havia mais greve de estudantes que de professores.
3
As universidades recebem muito mais alunos do que realmente pode. Há uma desproporção entre o corpo docente e o discente. A carga horária de um professor na Sorbonne é de seis horas por semana, no máximo -incluindo seminários. E mesmo assim os franceses acham muito.
4
Na França o reitor é eleito pelo corpo docente e pelo corpo discente, por meio de conselhos. O governo não pode fazer nada, pois as universidades são independentes -a independência data da época medieval: ninguém toca nelas. É o modelo mais apropriado. Que conhecimento tem o governador da realidade de uma universidade para julgar quem seria o mais capaz para ela?
5
Quando fui candidata ao posto de história do Brasil [na Sorbonne], numa das instâncias da universidade que votam pelos novos professores alguém se levantou e objetou a meu nome porque "soube" que eu seria de esquerda. Só porque eu vinha do Brasil, eu teria de ser de esquerda. Nunca fiz polÃtica nenhuma -não sou de direita, tampouco do Partido Comunista...
FOLHA - Os movimentos grevistas na França partem de sindicatos?
MATTOSO - De sindicatos, sim, mas na Sorbonne todos aderiram. Mas não tem nada a ver com as greves da época em que eu morava no Brasil. Após um mês, tudo entrava em ordem; agora, não: há um mal-estar generalizado. Quando eu ensinava no Brasil, as greves duravam muito menos tempo do que agora. Na França os professores irão dar um mês e meio de aula para cobrir um semestre; na Grécia é assim também. Há que perguntar o que é que se aprende num semestre desses. Os professores, apesar de aderirem à greve, no final se sentem culpados, pois os alunos mal veem a matéria.
FOLHA - Apesar dessa preocupação, na greve francesa deste ano os alunos mantiveram piquetes e fecharam instituições...
MATTOSO - Sim, havia inclusive professores que davam aulas fora da universidade, porque estava fechada. O mais interessante é que a greve na Sorbonne começou com gente mais à esquerda, mas todo o corpo docente aderiu -com rarÃssimas exceções.
FOLHA - A Sorbonne representa a mentalidade polÃtica francesa?
MATTOSO - A Sorbonne é conhecida por abrigar professores de direita, mas nos últimos anos tem havido um princÃpio de abertura, com mais pessoas de centro-esquerda. O corpo discente, como de hábito, tem de tudo. Todas as universidades francesas são obrigadas a terem como alunos pessoas advindas de todos os meios sociais.
Katia Mattoso aposentou-se como professora emérita de história do Brasil em Paris 4 e lecionou na Universidade Católica de Salvador e na Universidade Federal da Bahia. É autora de "Ser Escravo no Brasil" (Brasiliense). Fonte: Folha de S.Paulo - 21/06/09.
"Ser Escravo no Brasil" (Brasiliense) - http://www.livrariaresposta.com.br/v2/produto.php?id=2985
Universidade da Califórnia por Leopoldo Bernucci
Leia abaixo a entrevista concedida por e-mail por Leopoldo Bernucci. (ESM)
1
A greve na USP, como em qualquer instituição pública, é um instrumento legÃtimo de reividicações trabalhistas. Mas, da maneira como a "cultura da greve" tem sido desenvolvida e assimilada, modo recorrente nos últimos tempos na USP, temo que ela tenha perdido o seu real significado. De modo geral, uma greve exige negociações entre as partes e pede que estas sejam flexÃveis, práticas e, sobretudo, razoáveis com respeito aos pontos reivindicados.
Portanto, parece-me que tanto a administração da universidade quanto os funcionários deveriam estabelecer um cronograma para as negociações e conduzi-las de modo respeitoso, realista e prático. Prático, porque as negociações não podem ser intermináveis, e a USP não pode continuar paralisada "ad infinitum".
2
Quanto à greve, professores e alunos [da Universidade da Califórnia], nunca nos envolvemos nessas atividades. Os aumentos anuais de salários dos professores -de, no máximo, 2% a 2,5% para todos [na USP, os funcionários e professores em greve pedem reajuste de 16% mais um aumento de R$ 200 fixos] e ainda por mérito, com base em casos individuais- distancia-se do modelo brasileiro.
Além disso, os salários não estão regulados por nenhum sindicato. Quando ocorrem greves de funcionários, algo bastante raro, elas normalmente têm um prazo estabelecido para terminar. As negociações duram poucos dias e se estendem pela noite afora, até que as duas partes cheguem a um acordo.
É impensável ver alunos ou funcionários invadindo ou destruindo as instalações da reitoria ou de outras dependências da administração e, muito menos, a presença do corpo policial no campus. Portanto, é o sentido prático e de coleguismo que leva todos a adotarem uma atitude consensual para que as atividades sejam normalizadas imediatamente e não prejudiquem o bom funcionamento das aulas e dos negócios da máquina administrativa da universidade.
3
O que posso afirmar é que os sistemas norte-americano e brasileiro são muito diferentes. Em primeiro lugar, as universidades públicas dos EUA são todas pagas. Os bons alunos que não possuem meios de pagar a escola recebem bolsas parciais ou integrais dos governos estadual ou federal.
Mas como regra geral todos têm que pagar matrÃcula anual e mensalidades para o sustento adequado da instituição. Como o sistema de universidades públicas vem recebendo menos verbas dos governos nos últimos 20 anos nos EUA, as instituições universitárias, na atualidade, têm que ser mais criativas para manter o seu bom sustento e o padrão de qualidade.
Os alunos têm muita facilidade para obter empréstimos de agências do governo federal. Um dado curioso, e que parece que ainda não foi muito compreendido aqui no Brasil, é a parceria entre a universidade pública e a empresa privada. Daà nascem acordos que beneficiam ambas as partes, sem que se comprometa necessariamente a integridade acadêmica e moral da instituição.
Há um certo mito -no Brasil e em toda a América Latina- segundo o qual essa união descaracteriza a boa imagem da universidade pública, quando, na verdade, produz efeitos muito positivos. Hoje em dia, nenhuma universidade pública dos EUA poderia manter-se sem o auxÃlio de fundos de doações privadas.
4
Na Universidade da Califórnia, a escolha do reitor tem muito pouco a ver com as decisões dos diversos grupos que compõem a instituição. O reitor é escolhido por uma comissão de regentes (Board of Regents) formada por 26 membros. Dezoito são nomeados pelo governador da Califórnia por um perÃodo de 12 anos, um é um estudante nomeado pelos regentes e sete são membros "ex officio".
A comissão leva em consideração a experiência administrativa e a visibilidade acadêmica do candidato a reitor. O processo de contratação dos professores universitários na Universidade da Califórnia segue as mesmas pautas do processo de outras instituições dos EUA, inclusive as privadas. As vagas são anunciadas publicamente, forma-se uma comissão para examinar as solicitações, realiza-se uma triagem no final do processo, e os três finalistas são convidados para entrevistas de dois ou três dias no campus universitário.
Como parte da entrevista, o candidato dá uma conferência aberta ao público. Normalmente, o candidato escolhido assina um contrato de seis anos e, nesse perÃodo, prepara-se para a sua efetivação -que lhe é outorgada somente após passar por duas fases de avaliação das três áreas (ensino, pesquisa e serviço administrativo) e, logicamente, ser aprovado.
Recebendo a sua efetivação ("tenure"), o próximo passo ("full professor") no processo das promoções da carreira universitária se dá entre sete e dez anos mais tarde. Nessa última etapa, há outra avaliação semelhante à já realizada para a efetivação do professor, com duas comissões de parecer, uma interna e outra externa ao departamento do candidato.
5
A USP, em seu conjunto, continua sendo a instituição acadêmica mais prestigiosa do Brasil nos EUA. Como tal, se define como um modelo exemplar de instituição acadêmica que coaduna de forma equilibrada ensino e pesquisa.
Leopoldo Bernucci é professor de estudos latino-americanos na Universidade da Califórnia, em Davis. Foi professor visitante na USP e também lecionou nas universidades Yale, do Colorado e do Texas (EUA). É autor de "A Imitação dos Sentidos" (Edusp), entre outros livros. Fonte: Folha de S.Paulo - 21/06/09.
"A Imitação dos Sentidos" (Edusp) - http://www.edusp.com.br/detlivro.asp?id=41943
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