"HERRAR É UMANO", MAS COM A POLÃCIA???
22/02/2008 -
A JENTE HERRAMOS
A SINCERIDADE QUE CUSTOU CARO!!!
Esse vai ter tratamento especial!
(Colaboração: Gustavo)
REPORTAGEM DO JORNAL ESTADO DE MINAS – 17/02/2008
Sufoco do crédito fácil: Oferta de empréstimos em condições que o tomador não suporta gera dÃvidas impagáveis. A expansão do crédito, que tem ajudado a impulsionar a economia brasileira, também é fonte de dor de cabeça para muita gente. A facilidade para levantar o dinheiro em bancos e financeiras, em condições que o tomador muitas vezes não tem como arcar, pode virar uma bola de neve, gerando dÃvidas impagáveis. Foi o que ocorreu com o gari de BH Wanderlei Antônio Coelho, que pegou emprestados R$ 1 mil e hoje deve R$ 15 mil. O salário é de apenas R$ 539, mas, mesmo assim, ele ainda tem linhas de financiamento à disposição que somam R$ 8,9 mil e cartão internacional. Segundo o Banco Central, de dezembro de 2006 a dezembro de 2007, o volume de crédito livre (que pode ser emprestado livremente pelos bancos) pulou de R$ 498 bilhões para R$ 659 bilhões. Mas a inadimplência cresceu junto. O calote no crédito pessoal (sem contar o consignado) já é de 14,4%. No cheque especial chegou a 9,6%. E no cartão de crédito, a 23,3%.
CADERNO ECONOMIA
DÃvidas impagáveis (Karla Mendes)
As únicas cidades que Wanderlei Antônio Coelho conhece são Belo Horizonte e Sabará. Gari há 16 anos e recebendo menos de dois salários mÃnimos por mês para sustentar uma famÃlia de cinco pessoas, ele nunca pôde levar suas filhas à praia. Viajar para fora do paÃs, muito menos. Mas Wanderlei tem cartão de crédito internacional do Banco do Brasil, instituição financeira em que ele recebe o salário de R$ 539. “Disseram que, se eu for lá para os Estados Unidos, posso tirar dinheiro. Se eu nunca fui à praia, como que eu vou para lá?â€, questiona. O extrato do banco também revela situações completamente fora da realidade do gari: crédito para abertura de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e financiamento de material de construção, computador e automóvel, só para citar algumas linhas, que somam nada menos que R$ 8,9 mil, mais de 16 vezes o valor de seu salário. A história de Wanderlei é apenas uma entre inúmeros consumidores contemplados com pacotes dos bancos com diversas modalidades de crédito: cheque especial, cartão, empréstimos e outros, com pagamento das prestações debitadas automaticamente na conta corrente em que os trabalhadores recebem os salários – prática condenada pelos órgãos de defesa do consumidor. Com o valor do salário desfalcado pela prestação do empréstimo, o dinheiro não é suficiente para pagar as contas do mês – e os trabalhadores têm que pegar novos empréstimos para suprir suas necessidades básicas. Nos meses seguintes, a situação se agrava. Com prestações de financiamentos cada vez mais altas, o salário torna-se cada dia menor. Chega-se ao ponto de todos os proventos do mês serem retidos para pagamento de empréstimos, nada sobrando para a subsistência. É a bola de neve que atormenta a vida de milhares de brasileiros de baixa renda, provocada pela concessão de crédito sem limites, que cria dÃvidas impagáveis.
TÃTULO E SEGURO: Foi exatamente isso que aconteceu com Wanderlei quando ele recebia pelo Banco Itaú. Em 2004, pegou um empréstimo de R$ 1 mil para comprar material escolar, uniforme e sapatos para suas filhas. Quando faltavam R$ 300 para saldar a dÃvida, o banco ofereceu um cartão de crédito e o gari teve que pegar outro empréstimo para cobrir o débito anterior e complementar o salário. Para isso, Wanderlei foi obrigado a contratar um tÃtulo de capitalização e um seguro residencial.
Limite máximo deve ser de 5% (Karla Mendes)
Trabalhadores de baixa renda só devem comprometer 5% de seu salário com empréstimos. A conclusão é da economista Adriana Fileto, que elaborou estudo com base na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE), que mostra que famÃlias que ganham até dois salários mÃnimos gastam 94,6% de sua renda apenas para custear despesas básicas. “É inadmissÃvel que uma famÃlia de baixa renda comprometa mais de 5% do orçamento para pagamentos de empréstimos e financiamentosâ€, afirma. Além disso, segundo o IBGE, 95,06% das famÃlias de baixa renda apresentam entre muita dificuldade e alguma dificuldade para chegar ao fim do mês com dois salários mÃnimos. Adriana põe em xeque, inclusive, a margem consignável de 30% para qualquer pessoa, sem distinção de faixa de renda, estipulada pelo próprio INSS para o desconto em folha, percentual que acabou sendo adotado pelas instituições financeiras para concessão de empréstimos em geral. Para a economista, as regras do consignado tratam os desiguais como iguais, já que, pela POF, só quem ganha acima de 30 salários mÃnimos teria condições de comprometer 30% da renda com empréstimos. “A grande massa do volume de crédito é para pessoas de baixÃssima renda. Tanto que 62% do volume de crédito consignado já emprestado até hoje foi destinado para quem ganha até dois salários mÃnimos, sendo que 46% desse percentual recebem até um mÃnimo, segundo o próprio INSSâ€, revela. Um agravante para esse cenário é o baixo nÃvel de escolaridade dos brasileiros, que impede que o consumidor tenha real noção do que está contratando. “Pesquisa do Ibope e Unesco constata que apenas 23% da população brasileira têm alfabetização matemática plena, e o paÃs é um dos piores do mundo em matemáticaâ€, alerta Adriana. Com base nesses indicadores, a economista defende que as instituições financeiras reduzam a oferta de crédito à s famÃlias de baixa renda, porque, fatalmente, elas não conseguirão pagar e sobreviver com dignidade. E ressalta que a retenção ou confisco de salário, embora seja uma prática corriqueira dos bancos na cobrança de dÃvidas, não tem amparo legal. “Esses empréstimos se constituem em verdadeiras armadilhas para os consumidores, pois os bancos praticam a retenção do salário na conta corrente como forma de realizar as cobranças. Dessa forma, o consumidor não tem como sequer escolher quais dÃvidas pagar primeiro, já que o banco o faz por eleâ€, ressalta.
AÇÕES Foi a partir desses estudos que a advogada Lillian Salgado interpôs uma série de ações para consumidores de baixa renda, entre os quais os garis de Belo Horizonte – que estavam tendo todo o salário retido pelo banco para pagamento de dÃvidas –, pedindo a revisão do cálculo dos débitos para 36 prestações correspondentes a 5% do valor do salário. “Como o banco foi irresponsável na concessão do crédito, ele terá que assumir o ônus depois desse perÃodoâ€, ressalta. “E a retenção compulsória de salário é considerada crime pela Constituição Federalâ€, revela. Um dos casos mais graves é o da gari Mônica Ferreira (veja entrevista nesta página). Com renda lÃquida de R$690, a dÃvida total da consumidora com o banco era de R$1.285,19. Desde 2006 o nome da gari já constava no SPC. “Em 28 de dezembro, eu gastei uma tarde com a Mônica no banco, tentando uma renegociação das dÃvidas, mas a gerente disse que, para que fossem cancelados cheque especial e cartão de crédito, primeiro seria necessário o pagamento das dÃvidas em atraso. Na prática, o que banco está fazendo é induzindo a consumidora ao superendividamentoâ€, garante.
Crédito sem obstáculo
Mesmo dispondo de recursos para análise de crédito, muitos bancos fornecem empréstimos acima da capacidade de pagamento do consumidor. Tem gente que, mesmo com o nome inscrito como inadimplente no SPC, consegue obter crédito com muita facilidade. O técnico em eletrônica Carlos Eduardo de Freitas Souza, de 28 anos, está com o nome no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) por causa de uma dÃvida com o Banco Itaú e entrou na Justiça. “Aparece na tela crédito pré-aprovado de R$ 4 mil, mesmo eu devendo o banco. Antes, era de R$ 7 milâ€, revela. Tudo começou quando Carlos pegou um empréstimo de R$ 1 mil e outro de R$ 800 com o Itaú e, depois de um descontrole na conta, seu salário de R$ 700 chegou a ser retido totalmente para o pagamento das dÃvidas. “Os cheques foram caindo e o banco foi cobrindo, em vez de devolver e me avisar. Também aumentaram meu limite de cheque especial, de R$ 1 mil para R$ 2 mil. Achei um absurdoâ€, afirma. Depois de uma ação no Juizado Especial das Relações de Consumo, o desconto no salário foi limitado a 30%. “Devo sim. Pago como puder, pois preciso do meu salário para viverâ€, ressalta. O Itaú não se pronunciou. A pergunta é: por que os bancos fazem isso? Para o economista Alex Agostini, consultor da Austin Rating, cabe ao consumidor ter responsabilidade na hora de liberar empréstimos. “O cenário de crédito farto é recente e as pessoas ainda não o compreendem. O banco está fazendo o papel dele, que é vender dinheiro, assim como o supermercado vende comidaâ€, ressalta. Mas, para o promotor de Justiça Marcos Tofani Baer Bahia, tem que haver critérios para a concessão de crédito. “Em um paÃs onde a população tem baixo nÃvel de escolaridade, tem que haver uma legislação que impeça que os bancos dêem limites de crédito bem acima da rendaâ€, diz. O afogamento em dÃvidas, muitas vezes, traz transtornos psicológicos sérios. “As pessoas chegam aqui com o estado psicológico completamente alteradoâ€, afirma Ana Cristina Moya Azevedo, coordenadora do Departamento JurÃdico da Associação Mineira de Defesa do Consumidor contra o Sistema Financeiro Nacional (Adicom). A enfermeira aposentada A.M., de 36, faz tratamento psiquiátrico há dois anos. Causa: dÃvidas bancárias. “Sofro de transtorno bipolar e tenho compulsão por compras. O banco me deu R$ 4,3 mil de limite de cartão de crédito. Tive que pegar um empréstimo de R$ 5 mil e outro de R$ 3 mil e R$ 4 mil de cheque especial para tentar pagar a dÃvida do cartão, mas virou uma bola de neveâ€, revela. Já a professora Z.B.N.S., de 62, teve que mudar de cidade para continuar trabalhando e livrar-se dos telefonemas diários do gerente do banco. Tudo começou quando ela recebeu, sem pedir, dois cartões de crédito da financeira Cetelem, que somam limite de R$ 20 mil. Ela ganha R$ 2 mil e gastou R$ 8 mil no cartão de crédito. Com os juros, a dÃvida atingiu R$ 30 mil. Hoje, ela está na Justiça. A Cetelem informou que o cartão Leroy Merlin Aura concedeu à cliente o limite de R$ 5 mil para o crédito rotativo e de R$ 15 mil para o crediário simplificado, desde a adesão em 2004. Em 2005, houve interrupção da parceria com a Leroy Merlin e, ainda assim, foi mantido o limite do crediário simplificado no crédito rotativo. (KM)
Depoimento: Sandra Kiefer
Apesar da barriga de oito meses de gravidez, a varredora de rua Mônica Vicente Ferreira, de 31 anos, trabalha oito horas por dia para sustentar os outros quatro filhos. “Faço uma sopa de macarrão para as crianças, que já comem merenda na escola. No domingo, acrescento um pezinho de frango. Não sinto fome. Quando tem alguma sobra, eu comoâ€, diz. Para comprar leite e fraldas, é obrigada a catar latinhas de alumÃnio para complementar o salário, que já está comprometido em dÃvidas com cartão de crédito, cheque especial, empréstimos de vizinhos e agiotas. “Quando oferecem mais dinheiro, é impossÃvel não pegar. Eu vivo de prestaçãoâ€, completa a gari, querendo dizer que vive de empréstimos.
De quanto é sua dÃvida?
Está beirando R$ 1,5 mil. Estou devendo para todo lado, até a alma. Estou devendo cheque especial, uma prestação de R$ 268 de cartão de crédito ou de débito, não sei bem qual. Não entendo nada disso, pois não cheguei a completar a quarta série. Vou na tentação do empréstimo.
Como assim?
Quando me oferecem dinheiro, eu vou pegando porque preciso dele. A tentaçaõ é demais quando você vê um valor lá na conta. Entrei na loucura de fazer dois empréstimos de R$ 301 no Itaú e outro de R$ 1 mil no Banco do Brasil. Tenho ainda dois empréstimos que eu peguei por fora com agiota, em que pago prestação de R$ 38 e R$ 70. Fora o que vou pegando emprestado com vizinho ou compro alguma coisa fiado. Somando tudo o que você disse, ultrapassa R$ 1,5 mil. Dão exatos R$ 1.677. Pois é. Eles vão descontando no meu salário. No fim do mês, sobra uns R$ 300 e tenho de pagar R$ 220 de aluguel. Eu morava com a minha irmã na Pedreira Prado Lopes, mas tive que mudar de lá.
Sobram R$ 80 por mês?
Mais ou menos isso. Este mês, apanhei R$ 25 em latas. Separei R$ 15 para comprar fralda e leite para os pequenos. Os outros R$ 10 estou juntando para acertar o aluguel atrasado. Já tenho R$ 180. Como você faz para comprar roupas para os filhos? Vivo de ‘ganhação’. Mas até hoje não comprei os uniformes. Estou pensando como vou fazer porque tem de ser completo. Meu menino está indo para a aula com um caderno e um lápis que o meu cunhado deu. A escola é boa porque os dois pequenos já vêm ‘jantados’ da creche.
E os outros?
Eles largam a escola à tarde e à noite eu faço uma sopa de macarrão ou de miojo. Domingo, eu faço arroz com ovo ou um pezinho de galinha. Eles não são muito de comer e eu também não sou muito de comida. Como alguma coisa quando sobra, até porque não tenho geladeira para guardar.
EDITORIAL: Crediário responsável - Expansão do crédito exige cuidados para evitar crise parecida com a dos EUA
A espetacular expansão do crédito no Brasil nos últimos dois anos é algo a ser comemorado. Mas, até para manter seus efeitos benéficos sobre a economia, é indispensável que haja um monitoramento responsável para evitar que os excessos não o convertam num perigoso atoleiro. O descontrole começa por lançar no precipÃcio os mais pobres e, não havendo responsabilidade, até mesmo os grandes bancos podem comprometer seus ativos mais do que podem suportar. Em 2007, foi o crédito o principal motor do crescimento da economia brasileira. O PIB teve expansão estimada em mais de 5% empurrado pelo aumento do consumo das famÃlias. O crediário permitiu acesso a bens de consumo duráveis, assim como roupas, viagens e outros confortos. Camadas mais pobres da população foram, afinal, inseridas no mercado, o que é bom.
O crédito é, de fato, o combustÃvel que mais aquece as economias ocidentais. E, no Brasil, o sistema financeiro despejou mais de R$ 900 bilhões em créditos na economia, no ano passado. O crédito que nunca tinha passado de 24% do Produto Interno Bruto (PIB) saltou para 34%. É ainda pouco, perto das economias mais desenvolvidas. Mas é um avanço apreciável. Daquele total, R$ 658 bilhões foram recursos que inflaram o crédito não vinculado a outras operações e, portanto, livres para serem empregados no financiamento ao consumo, um crescimento de 32% sobre 2006. Mas, o resultado de toda essa expansão não está só no aumento do PIB . Turbinou também o lucro dos bancos, que já comemoram novos recordes de causar inveja em outros mercados.
Mas nem tudo é festa. Foi o entusiasmo com os lucros obtidos no crédito imobiliário que fez a maioria do sistema bancário dos Estados Unidos e várias instituições européias que lá operam perderem a cabeça. A crise que desde agosto vem arrastando os mercados financeiros ocidentais para um mar de prejuÃzos e incertezas começou exatamente com os excessos na concessão do crédito a tomadores de baixa liquidez. No Brasil, o atrativo do lucro já anda fazendo financeiras incomodarem transeuntes para empurrar empréstimos a qualquer custo. Milhares de brasileiros de baixa renda e elevado desejo de consumo já estão atolados em dÃvidas impagáveis, como demonstra a reportagem do Estado de Minas. Os dramas individuais são enormes e a inadimplência média do sistema, embora ainda não seja alarmante, dá sinais que não devem ser desprezados. Manter o crédito em nÃvel saudável é um dever das autoridades, não importa a impulsividade dos bancos. Afinal, o que está em jogo é muito mais que a fugaz alegria do presente.
(Colaboração: Adriana/Fátima)
E NÓIS QUE PENSAVA QUE NUNCA ERRAVA!
CONTINUAMOS ERRANDO PROPOSITALMENTE...! HERRAR É UMANO!
Se você vir alguma coisa errada, mande um e-mail pelo FALE CONOSCO que "a ajente correge". Clique aqui e envie: http://www.faculdademental.com.br/fale.php