"HERROS" COMPORTAMENTAIS
19/06/2009 -
A JENTE HERRAMOS
QUE NOTAS SÃO ESSAS???
Como o comportamento dos pais, em relação à educação de seus filhos, mudou ao longo dos tempos...
(Colaboração: Professora Pasqualina)
PAÃS É O QUE MAIS DESPERDIÇA AULA COM BRONCA
Docentes de escolas no Brasil gastam 18% do tempo das classes para manter disciplina; pesquisa abrangeu 23 paÃses. Bulgária é o paÃs onde os professores conseguem aproveitar melhor o tempo das aulas, seguido por Estônia e Hungria.
Os professores brasileiros são os que mais desperdiçam com outras atividades o tempo que deveria ser dedicado ao ensino. No perÃodo em que deveriam estar dando aula, eles cumprem tarefas administrativas (como lista de chamada e reuniões) ou tentam manter a disciplina em sala de aula (em consequência do mau comportamento dos alunos).
A conclusão é de um dos mais detalhados estudos comparativos sobre as condições de trabalho de professores de 5ª a 8ª séries de 23 paÃses, divulgado ontem pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). A pesquisa foi feita em 2007 e 2008.
O resultado não surpreendeu Roberto de Leão, presidente da Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação.
"Não li a pesquisa, mas é fato que muito do tempo do professor é roubado por tarefas que não deveriam ser dele. Ele precisa muitas vezes fazer a função de psicólogo, pai ou assistente social, já que todos os problemas sociais acabam convergindo para a escola."
Mozart Neves Ramos, presidente-executivo do movimento Todos Pela Educação, conta que, quando foi secretário de Educação em Pernambuco, vivenciou isso na prática.
"Fizemos uma pesquisa com o Banco Mundial que mostrou que boa parte do tempo do professor era para resolver questões que deveriam ser de responsabilidade de outros profissionais. Mas também detectamos que se perdia tempo com o professor falando de outros assuntos, em vez de tratar do conteúdo daquela disciplina."
O relatório da OCDE mostra que a maioria (71%, maior percentual registrado) dos professores brasileiros começou a dar aulas sem ter passado por um processo de adaptação ou monitoria. A média dos paÃses nesse quesito é de 25%.
Os brasileiros também são dos que mais afirmam (84%) que gostariam de participar de cursos de desenvolvimento profissional. Esse percentual só é maior no México (85%).
As informações foram colhidas em questionários respondidos por diretores e professores de escolas (públicas e privadas) selecionadas por amostra. No Brasil, 5.687 professores responderam ao questionário, aplicado em 2007 e 2008.
Leão e Ramos concordam com o diagnóstico de que poucos professores passam por um processo de adaptação.
"Muitas vezes, o secretário tem que preencher logo as vagas após um concurso para não deixar alunos sem aula. É como trocar o pneu do carro em movimento, quando o ideal seria ter um tempo para preparar melhor o profissional que começará a dar aulas", diz Ramos.
Esse problema se agrava com a constatação na pesquisa de que os professores brasileiros trabalham com turmas com número de alunos (32) acima da média (24). Apenas no México, na Malásia e na Coreia do Sul essa relação é maior.
Eles também têm menos experiência em sala de aula do que a média - só 19% dão aula há mais de 20 anos; a média de todas as nações comparadas é 36%. Estão abaixo da média (89,6%) ainda no nÃvel de satisfação com o trabalho: 84,7%, o quarto menor Ãndice.
Diretores
A pesquisa investigou a visão dos diretores sobre problemas que afetam o aprendizado. O Brasil fica acima da média em questões como absenteÃsmo de docentes, atrasos e falta de formação pedagógica adequada.
Também foram listados problemas relacionados a alunos, como vandalismo, agressões ou trapaças no momento da prova.
A indisciplina se mostrou um problema mundial. Na média dos paÃses, 60% dos diretores afirmaram ter, em alguma medida, distúrbios em sala de aula provocados pelo problema.
O México tem o maior percentual (72%); o Brasil tem exatamente o Ãndice da média.
Diretores brasileiros foram dos que mais relataram ter pouca ou nenhuma autonomia para contratar, demitir ou promover professores por seu desempenho em sala de aula. No Brasil, só 27% disseram que podem escolher os professores. A média dos paÃses é de 68%.
Antônio Gois - Fonte: Folha de S.Paulo - 17/06/09.
OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) - http://www.cgu.gov.br/ocde/sobre/index.asp
Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação - http://www.cnte.org.br/
Todos Pela Educação – http://www.todospelaeducacao.org.br/
EM ESCOLA PÚBLICA, PROFESSOR PERDE 20 MIN POR AULA
Trabalhos diários que valem nota, diálogo, gritos - cada professor adota sua própria estratégia para conter a indisciplina diária numa das piores escolas no ranking do Enem na capital paulista, na zona sul. As advertências adotadas pelo colégio como única forma de "punir" os alunos bagunceiros, na prática, não surtem efeito.
Seja qual for a tática adotada, para organizar os 36 alunos por turma, em média, e poder começar a matéria do dia, os educadores perdem de 15 a 20 minutos - a aula dura 50.
A Folha conversou com dois professores da escola, que pediram anonimato. Para eles, há três razões para isso: 1) alto número de alunos por turma; 2) ausência de perspectiva de ascensão social dos alunos por meio do estudo; e 3) falta de acompanhamento, pelos pais, do desempenho dos filhos.
Para um deles, o primeiro passo é educar os pais dos adolescentes. "Se as mães choram dizendo não saber o que fazer com seus filhos, o que esperar desses jovens?"
A participação da famÃlia é considerada importante para o outro professor. Em outra escola estadual onde trabalha, os alunos o esperam na sala após o toque do sinal, prestam atenção e se esforçam. "Os pais e a comunidade participam ativamente do cotidiano da escola, e o resultado positivo é visÃvel."
Juliana Cariello - Fonte: Folha de S.Paulo - 17/06/09.
O BÊ DISTANTE DO BÃ
De lápis na mão e olhar atento à cartilha, Eutália de Andrade, de 65 anos, auxilia a colega de sala Luzia Pereira, de 74, na correção de uma sÃlaba trocada na palavra “macacoâ€. Nascida em Canudos, interior da Bahia, ela está eufórica. Nunca sentou num banco escolar durante a infância e, desde que se matriculou no Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos do Butantã, na capital paulista, não perde uma aula. “Tenho oito irmãos analfabetos. Meu pai dizia que caneta de pobre é cabo de enxada. Queria estudar. Não tive chance.â€
As amigas sabem assinar o próprio nome e já não passam mais vergonha no ponto de ônibus, implorando ajuda de estranhos para pegar a condução correta. Mas ainda têm dificuldade para articular as sÃlabas e transcrevê-las. Precisarão de mais algum esforço para sair da legião de mais de 14 milhões de analfabetos brasileiros, 10% do total da população do Brasil com 15 anos ou mais, segundo o IBGE. Dentro deste universo iletrado, no entanto, elas fazem parte de uma minoria privilegiada.
Rodrigo Martins - Fonte: Carta Capital - Edição 551.
PALESTINA TEM DINHEIRO E ALUNOS, NÃO
Na mesma reunião em que aprovou um projeto que doa R$ 25 milhões para a reconstrução da Faixa de Gaza, a Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados rejeitou um projeto que estende o transporte escolar rural gratuito a alunos do ensino público residentes em áreas urbanas. Segundo o relator da primeira proposta, Pepe Vargas (PT-RS), “a medida não representará aumento dos gastos públicos porque os recursos virão de cortes no orçamento do Ministério das Relações Exterioresâ€. Já o relator do segundo texto, João Magalhães (PMDB-MG), argumentou que há dotação orçamentária suficiente para implementar o projeto.
Aparte - Fonte: O Tempo - 17/06/09.
Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados – http://www2.camara.gov.br/comissoes/cft
Ministério das Relações Exteriores - http://www.mre.gov.br/
PRIVATARIA DO PT
A melhora dos serviços públicos de energia e comunicação foi a joia da coroa da privataria tucana. Na teoria, as empresas comprariam o patrimônio da Viúva e seriam submetidas à fiscalização das agências reguladoras. Passou o tempo e veio a privataria das agências petistas. Em São Paulo, a Telefônica tornou-se um exemplo de excesso de oferta de panes e escassez de explicações. Quanto ao fornecimento de eletricidade, os apagões da Eletropaulo já criaram um mercado de geradores a gás para prédios da região da avenida Paulista.
Elio Gaspari (http://www.submarino.com.br/portal/Artista/80141/+elio+gaspari) - Fonte: Folha de S.Paulo - 14/06/09.
LOBISTAS COM CLT
O filósofo Tim Maia já dizia que o Brasil é o único paÃs do mundo em que traficante se vicia, cafetão se apaixona e prostituta tem orgasmo. Aqui, por falta de profissionalismo, as pessoas estabelecem vÃnculos onde jamais deveriam. Agora, já é possÃvel acrescentar um quarto componente no axioma de Tim Maia. No Brasil, há lobistas que exigem carteira assinada de trabalho mesmo quando realizam os trabalhos mais sujos e heterodoxos. E, graças a isso, hoje é possÃvel fazer a anatomia de um "escândalo", que quase redundou numa CPI, apoiada pelo PT e por vários partidos de esquerda, contra o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.
A história gira em torno das merendas escolares, que movimentam R$ 2 bilhões por ano no Brasil. Antes de Kassab, a Prefeitura de São Paulo seguia um modelo conhecido como autogestão, comprando todos os ingredientes, como arroz, feijão, leite, biscoitos, carne e salsichas. Planejando reduzir custos, Kassab decidiu terceirizar o serviço e os fornecedores contratados passaram a entregar refeições - e não mais itens isolados. Foi então que dez empresas - entre elas nomes conhecidos como Sadia e Mabel - se uniram e formaram um consórcio para bombardear o novo sistema. Mas em vez de agir publicamente, mostrando a cara, contrataram um atirador profissional. Seu nome: Sidney Melchiades de Queiroz.
Advogado, Sidney entrou com dezenas de ações populares não só na capital paulista, mas em todo o PaÃs, contra o sistema de terceirização, dizendo agir em nome do interesse público. A tal ponto que ficou conhecido como "Dr. Merenda". Não satisfeito, serviu de fonte para várias reportagens que visavam escandalizar o tema. Além disso, tentou manipular o Ministério Público de São Paulo, que entrou fundo nessa guerra comercial.
Seria apenas mais um escândalo fabricado em laboratório, se o lobista Melchiades não decidisse tomar uma medida tão fora de padrão no seu meio. Dias atrás, ele entrou com uma ação trabalhista contra as dez empresas que o bancaram ao longo de dois anos, exigindo férias, décimo terceiro e FGTS. Juntou recibos e até os e-mails trocados pelos membros do consórcio, tratando da tentativa de manipulação de procuradores graduados do MP paulista.
O que essa inacreditável história ensina é bastante simples. Se o escritor Nelson Rodrigues já dizia desconfiar de todo moralista, a partir de agora será também preciso duvidar de todo ativista profissional. Por trás de uma ação popular ou de um escândalo, quase sempre há um patrocinador privado sem coragem de mostrar a própria face.
Leonardo Attuch - Fonte: Isto É - Edição 2066.
FRASES ÉPICAS
Em discurso de 33 minutos, dia 16 de junho no Senado Federal, Sarney sintetizou sua estratégia de defesa com as frases: "A crise do Senado não é minha; a crise é do Senado. É esta instituição que devemos preservar, tanto quanto qualquer um aqui. Ninguém tem mais interesse nisso do que eu, até porque aceitei ser presidente".
"É injustiça do paÃs julgar um homem como eu, com tantos anos de vida pública, com a correção que tenho de famÃlia austera, de famÃlia bem composta, que tem prezado a sua vida para a dignidade da sua conduta."
Fonte: Folha de S.Paulo - 17/06/09.
MELHOR DIZENDO
A expressão "atos não publicados", que José Sarney (PMDB-AP) e aliados tentam emplacar no lugar de "atos secretos", está sendo comparada na praça a "recursos não contabilizados", que os petistas cunharam no mensalão.
Painel - Renata Lo Prete - Fonte: Folha de S.Paulo - 19/06/09.
QUE VERGONHA!
Em 2002, a revista "Veja" estimou o patrimônio da famÃlia Sarney em R$ 125 milhões. Hoje, está maior. Mas, vá lá, tomemos os valores defasados: se a fortuna dos Sarney fosse aplicada em poupança, renderia uns R$ 875 mil por mês. Dinheiro de sobra para manter a famÃlia em padrões nababescos. Mesmo assim, o patriarca José Sarney botou irmão, neto e até a irmã do genro em empregos no Senado, recebendo mesadas para não fazerem nada. Podre de rico e tirando lasquinhas do dinheiro público. É vergonhoso demais.
Raquel Faria - Fonte: O Tempo - 19/06/09.
A GRANDE IMPERTINÃCIA
No último dia de José Sarney na Presidência da República, em 1990, Millôr Fernandes publicou num jornal do Rio a charge definitiva sobre a longa, quase interminável, passagem do homem dos "Maribondos de Fogo" pelo Planalto. O desenho mostrava um grotesco Sarney bebê, bigodes e tudo, sentado num peniquinho. E a legenda dizia: "Mamãe! Acabei!".
A charge de Millôr foi reproduzida em toda parte, xeroxes passaram de mão em mão naquele dia e ela acabou imortalizada em antologias. Seria perfeita não fosse por um detalhe: ao contrário do que Millôr e todos nós pensávamos, Sarney ainda não tinha acabado.
Em vez de pendurar o jaquetão e se dedicar à literatura, preferiu continuar nas lides. Melhor para a literatura, mas pior para as lides. Agora, quase 20 anos depois, como tri-presidente do Senado, Sarney está tendo de se explicar por um festival de contratações, aumentos e gratificações de parentes dele próprio e de seus subordinados, colegas e cupinchas, e tudo tão às escondidas que nem ele "sabia de nada".
Em 1988, quando presidente, Sarney, num discurso, patinou e pronunciou a palavra "impertinácia", que não existe. Talvez quisesse dizer "pertinácia", talvez "impertinência". CaÃram-lhe em cima pela batatada, e eu próprio, na época, arrisquei uma definição para a palavra: "Impertinácia. S.f. 1. Qualidade, caráter ou ação do impertinaz. "Ele caracteriza-se pela impertinácia" (José Sarney, discurso, em solenidade). 2. Teimosia descabida, obstinação insolente, pervicácia inoportuna".
Nesta semana, ao ser acusado de conivente com a farra do Senado, o empavonado Sarney protestou: "É injustiça do paÃs julgar um homem com tantos anos de vida pública". Nada define tão bem a impertinácia desta frase quanto a palavra que ele mesmo criou.
Ruy Castro (http://www.objetiva.com.br/objetiva/cs/?q=node/240) - Fonte: Folha de S.Paulo - 20/06/09.
POR QUE ATOS SECRETOS NO SENADO?
Um labirinto de decisões questionáveis (que ninguém sabe, ninguém viu), tomadas na calada de boletins reservados, armou-se no Parlamento. Essencialmente definido como a casa do povo, comandado por aqueles democraticamente eleitos pelo voto direto - e que deveriam, antes de tudo, zelar pela transparência absoluta de suas decisões -, o Senado brasileiro revisita as entranhas e mostra mau funcionamento.
O Senado hoje vive de discutir a si próprio e deixou de lado as tarefas inerentes à sua operação, qual seja: votar projetos de relevância nacional, acelerar a pauta de questões essenciais ao PaÃs e legislar em nome dos cidadãos. O Senado se perde ao priorizar seus próprios interesses, em prejuÃzo daqueles voltados à Nação. Nos atos secretos somaramse mais de 650 determinações, muitas das quais são hoje alvo de crÃticas abertas por configurarem práticas deploráveis de apadrinhamento, nepotismo e outras mazelas tão lamentavelmente usuais por esses dias naquela casa. O presidente José Sarney, no olho do furacão, questionado por ser ele próprio protagonista de alguns desses atos, grita que a crise não é dele, mas do Senado como um todo.
A questão essencial é o porquê de tantos atos secretos. Como eles nasceram e movidos por quais objetivos? É tamanho o número de confusões nas quais o Senado se meteu que seu prestÃgio desce ladeira abaixo dia a dia. Até que ponto? Sarney pediu, da tribuna, sugestões. Uma avalanche delas foi colocada em suas mãos apenas um dia depois. Muitas das quais, caso adotadas, extremamente relevantes para uma mudança de conduta na direção de um Parlamento mais moderno e em sintonia com os anseios dos eleitores. Há de se caminhar com esse objetivo.
O padrão de polÃtica esperado não se resume a uma mera troca de chumbo partidária ou a uma lavagem de roupa suja sem fim. Muitos dos chamados polÃticos éticos tiveram sua fama maculada, seja pelo pecado da omissão, seja pelo flagrante da violação de decoro. A eles não cabem defesas generalistas como a lançada pelo presidente Lula, que, em mais um devaneio verborrágico, disse que o senador José Sarney "não pode ser tratado como uma pessoa comum". Aos olhos da lei, a igualdade no julgamento é um princÃpio inexorável.
Carlos José Marques, diretor editorial - Fonte: Isto É - Edição 2067.
ASSIM É O SENADO FEDERAL
A farra é deles. A conta é nossa. O Senado foi dominado por uma máquina que trabalha continuamente para burlar as leis em benefÃcio próprio. O resultado é uma estrutura perdulária e improdutiva.
Salário médio de 18 000 reais/mês; horário de trabalho flexÃvel, que permite dar expediente em casa ou em qualquer outro lugar do paÃs; plano de saúde com reembolso integral de despesas; pagamento de horas extras nas férias; gratificações por tempo de serviço; gratificações por funções exercidas; gratificações por funções não exercidas; possibilidade de ascensão na carreira por mérito; possibilidade de ascensão na carreira por demérito; aposentadoria integral sem ter contribuÃdo em valores atuarialmente calculados para isso, que exigiria um desconto mÃnimo de 65% no salário; pensão familiar vitalÃcia em caso de morte; estabilidade no emprego. É imenso o rol de possibilidades de 7 000 servidores do Senado Federal, em BrasÃlia. Nos últimos meses, revelou-se que a parte mais nobre do Parlamento funciona nos moldes de um sultanato, em que tudo pode – inclusive infringir leis, desde que em benefÃcio dos senadores e dos próprios funcionários. Nepotismo é proibido. No Senado, há parentes de servidores espalhados em várias repartições. O maior salário da República, 24 500 reais, deve ser obrigatoriamente o de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Há pelo menos 700 pessoas no Senado, segundo levantamentos oficiais, recebendo acima desse limite. Sem fiscalização e funcionando de maneira autônoma, o Senado é administrado como se fosse uma confraria – uma confraria com o meu, o seu, o nosso dinheiro.
FANTASMA: O senador Mão Santa tem um diretor do Senado lotado em seu gabinete, mas ele mora no Piauà e recebe sem trabalhar.
Em uma década, o orçamento do Senado saltou de 882 milhões de reais para 2,7 bilhões neste ano, um aumento de 206%!!! É, disparado, a casa parlamentar mais cara do mundo para os brasileiros. Cada um dos 81 senadores consome 33,8 milhões de reais por ano. É cinco vezes o custo de um deputado federal. Nada menos que 2,2 bilhões de reais, ou 80% de seu orçamento anual, são gastos com pagamento de salários. No total, o Senado tem 9 677 servidores, entre ativos, aposentados e pensionistas. Há ainda os servidores terceirizados, cujo número exato o próprio Senado até hoje alega desconhecer, mas que pode passar de 2 000. Muito dinheiro, pouca luz e uma boa dose de desapego moral criam o substrato perfeito para todo tipo de malandragem. E ela tem eclodido como praga. Há casos de senador usando funcionários e a estrutura da Casa para fins pessoais e de funcionário usando apartamento de senador para abrigar parente. Casos de nepotismo, irregularidade em contratos, existência de servidores fantasmas. Histórias que deixam evidente a simbiose entre parlamentares e o corpo administrativo do Senado para o simples bem-estar de ambos. E não há santos. O senador Mão Santa, do PMDB do PiauÃ, tem um servidor lotado em seu gabinete, Aricelso Lopes, que exerce função de "coordenador de atividade policial" do Senado. Com direito a broche azul de "autoridade", uma relÃquia que dá acesso a várias benesses, o diretor deveria cuidar da segurança dos parlamentares, entre outras coisas. Mas ele nunca foi visto nem no gabinete de Mão Santa, onde é lotado, nem na PolÃcia Legislativa, em que ocupa a prestigiosa função de diretor. Na semana passada, VEJA visitou a sala dos seguranças e perguntou pelo tal chefe. "Ari o quê?", indagou o primeiro funcionário. "Acho que ele está no PiauÃ", disse um segundo. O terceiro reconheceu: "Faz no mÃnimo dois anos que ele não aparece aqui", informou Rauf de Andrade, chefe de gabinete da polÃcia do Senado. Aricelso, ao que tudo indica, é um fantasma. O gabinete de Mão Santa disse que ele foi contratado para capturar um pistoleiro que ameaçava o senador.
MUITO FEIO: O senador Wellington Salgado emprega um dirigente da CBF no Senado. O "assessor" só trabalha de vez em quando. O senador nem se importa: "Ele é muito feio".
O diretor caçador de bandido é um bom exemplo de como funciona a irmandade de interesses entre senadores e funcionários. Em 1995, havia no Senado sete secretarias e trinta subsecretarias, órgãos cujos titulares têm status de diretor, acumulando aos salários gratificações que variam de 3 200 a 4 800 reais. Em catorze anos, o número cresceu para 181. Para atender aos reclames financeiros dos servidores, os parlamentares autorizaram uma série de nomeações esdrúxulas, como diretores de check-in, de garagem e de clipping. A moda pegou e diretorias passaram a ser criadas para toda sorte de necessidades e interesses. Em 2001, um senador foi flagrado pela esposa em seu gabinete com uma funcionária do Senado, casada com outro servidor da Casa. Confusão pesada. Para evitar um escândalo, a mulher foi afastada do Senado. Para o marido traÃdo foi então criada uma diretoria. Tempos depois, com os ânimos já aplacados, a própria servidora retornou ao Senado, desta vez premiada pelo "amigo" parlamentar com um cargo de diretora. Na semana passada, Heráclito Fortes, primeiro-secretário do Senado, anunciou a demissão de cinquenta dos 181 diretores. As demissões ainda não foram efetivadas. Uma das diretoras na lista da degola é Paula Canto. Ela era diretora de controle interno quando notou irregularidades em contratos de terceirização de mão de obra e compra de equipamentos. Foi afastada por ter cumprido suas tarefas. Para evitar que ela levasse adiante as denúncias, nomearam-na diretora-geral adjunta. A única condição imposta: ficar em casa sem trabalhar.
O CRIADOR DE CARGOS: Desde o inÃcio da era Sarney, em 1995, foram criadas 4.000 vagas.
O personagem mais exemplar da confraria em que o Senado se transformou é Agaciel Maia, o ex-diretor-geral, demitido depois de sonegar informações sobre a propriedade de uma mansão avaliada em 5 milhões de reais. Ex-datilógrafo, Agaciel era diretor da gráfica do Senado quando se soube que os parlamentares usavam o local para imprimir material de campanha polÃtica, o que é ilegal. Na ocasião, uma das investigadas era a então deputada Roseana Sarney. Foram encontrados no Maranhão cadernos supostamente impressos em BrasÃlia, mas as provas do crime desapareceram da gráfica. Quando assumiu a presidência do Congresso, em 1995, o senador José Sarney fez de Agaciel diretor-geral. A gestão de Agaciel provocou um inchaço assombroso na Casa. Nos últimos catorze anos, foram criadas 4 000 vagas. Dessas, pouco mais de 150 foram preenchidas por concurso público. As demais foram ocupadas por nomeações polÃticas. Hoje, existem quase 10 000 funcionários para atender 81 congressistas. Vale ressaltar que, embora oficiais, esses números são estimados. A máquina administrativa se fecha para os próprios senadores. Presidente do Senado entre dezembro de 2007 e fevereiro deste ano, Garibaldi Alves (PMDB-RN) jamais conseguiu que lhe entregassem a lista dos 85 cargos de confiança do gabinete da presidência. "Diziam que tinha muito fantasma aqui, mas não pude descobrir", reclama o ex-presidente. O senador poderia perguntar ao colega Wellington Salgado se fantasma existe. Um gradua-do assessor de Salgado, Weber Magalhães, recebe religiosamente seu salário, mas nunca aparece para trabalhar. Diretor da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ele justifica: "Acompanho projetos para o senador". "Ele é muito feio. Melhor não aparecer por aqui", ironiza o parlamentar.
OS EXEMPLOS DA MORDOMIA: Fila de servidores para assinar o ponto e receber horas extras na Câmara, garagem exclusiva para diretores e apadrinhados dos senadores repleta de carros de luxo e sessão de fisioterapia no serviço médico do Senado: benefÃcios em série se espalham por todo o Legislativo.
Com a abertura da caixa-preta, os senadores demonstraram espanto. Sem razão, pois todos os aumentos salariais, nomeações e autorizações para obras são votados em plenário. "Aqui não tem culpados ou inocentes, só omissos. Não tem senador com uma semana de mandato; os mais novos já estão aqui há dois anos. Já deu para saber como as coisas funcionam", bradou Roseana Sarney (PMDB-MA) na última reunião de lÃderes, quando os senadores começaram a debitar a execração pública do Senado apenas na conta de Sarney. Para tentar reverter o desgaste de seu terceiro mandato na presidência, Sarney tomou duas medidas. A primeira foi criar uma comissão para analisar contratos de compra e terceirização. A outra foi assinar convênio com a Fundação Getulio Vargas (FGV), que fará um novo modelo de gestão da Casa. Em 1995, ao assumir a presidência do Senado pela primeira vez, Sarney tomou duas medidas: criou uma comissão para analisar contratos e assinou um convênio com a mesma FGV. Após um mês de trabalho, ao custo de 882 000 reais, a fundação constatou que o Senado "gasta muito mal e tem excesso de órgãos e pessoal" e propôs uma "reengenharia profunda, com redução de cargos". Como se vê, a reengenharia foi outra.
PRESIDENTE DOMINADO: Garibaldi Alves presidiu o Senado por mais de um ano e não conseguiu sequer ver a lista de funcionários lotados na sala da presidência do Senado.
O primeiro passo para sanar as distorções do Parlamento está sendo dado com a abertura da caixa-preta. O segundo conjunto de propostas é mais complexo e, de acordo com especialistas, envolve uma reforma profunda na estrutura administrativa. Hoje, os senadores elegem um primeiro-secretário, que fica encarregado de tocar o dia a dia da burocracia, como um sÃndico. Essa gerência polÃtica, como acontece em outras repartições públicas, tornou-se um foco sistêmico de fisiologismo e corrupção – afinal, trata-se de um orçamento de quase 3 bilhões de reais. O ideal é que essas tarefas burocráticas fiquem sob responsabilidade de servidores concursados, com mandato limitado a poucos anos. Uma terceira medida é promover uma lipoaspiração geral na burocracia, cortando funcionários terceirizados, extinguindo gratificações e acabando com mordomias. Sob a condição de permanecer anônimo, do alto de seus vencimentos mensais de 17 000 reais lÃquidos, trabalhando três dias por semana, recebendo horas extras e gratificações, um servidor do Senado explica por que acredita ter um dos melhores empregos do mundo: "O Senado é igual ao Céu. A diferença é que aqui você ainda chega vivo".
Não é o Brasil que queremos...
Infelizmente é o que temos!
(Colaboração: A.M.B.)
E NÓIS QUE PENSAVA QUE NUNCA ERRAVA!
CONTINUAMOS ERRANDO PROPOSITALMENTE...! HERRAR É UMANO!
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