HOMELESS WORLD CUP 2010
17/09/2010 -
FUTEBOL SHOW
COPA DO MUNDO DOS SEM-TETO
English:
http://www.homelessworldcup.org/
Jeitinho brasileiro. PaĂs recebe Copa do Mundo de futebol dos sem-teto e escala atletas que tĂȘm onde viver mas estĂŁo em "situação de exclusĂŁo".
Japoneses de meia-idade, europeus que dormem nas ruas das capitais do velho continente, refugiados palestinos, africanos que moram em contĂȘineres e brasileiros de comunidades carentes.
Com centenas de ""jogadores" vivendo em situação adversa, o Rio vai sediar a partir de domingo a Copa do Mundo de futebol dos sem-teto.
O evento vai reunir na praia de Copacabana 800 estrangeiros de 48 paĂses atĂ© o dia 26. Esta serĂĄ a oitava edição do torneio. O Brasil nunca venceu a competição.
Apesar de ""homeless" (sem-teto) aparecer no nome oficial (Homeless World Cup), o regulamento Ă© vago ao estabelecer quem pode jogar. As entidades que comandam o futebol em cada paĂs estabelecem os critĂ©rios.
Por isso, os jogadores que vĂŁo representar o Brasil nĂŁo moram nas ruas, mas ""vivem em situação de exclusĂŁo", de acordo com Guilherme AraĂșjo, presidente da ONG Futebol Social, que organiza a edição brasileira do Mundial.
""Queremos utilizar o futebol para ajudar as pessoas em situação de risco. O campeonato é uma grande oportunidade para esses jovens e um bom exemplo para todos", declarou ele.
""O conceito foi ampliado no Brasil. Entendemos que sĂŁo pessoas em vulnerabilidade social. O termo homeless [em inglĂȘs] nĂŁo tem tradução. Varia para cada paĂs", prosseguiu AraĂșjo, que pretende dar vagas para Ăndios e moradores de ĂĄreas quilombolas na prĂłxima edição do campeonato.
Para ficar com um time competitivo e dar oportunidades a futuros jogadores, a ONG limitou a idade dos convocados (de 16 a 20 anos) nos times masculino e feminino.
O regulamento permite que qualquer pessoa participe do torneio. O JapĂŁo quase sempre disputa o Mundial com senhores de mais de 50 anos. Apesar de nĂŁo haver limite de idade, uma pessoa sĂł pode jogar uma vez o torneio.
""O lance nĂŁo Ă© o tĂtulo, mas a oportunidade e a experiĂȘncia de vida. O torneio Ă© o final de um circulo virtuoso. Os brasileiros sĂŁo ligados a vĂĄrias entidades e disputam diversas competiçÔes atĂ© chegar aqui. Eles vĂŁo servir de motivação para milhares de crianças envolvidas no projeto", afirmou AraĂșjo.
Fundada pelo empreendedor social inglĂȘs Mel Young, a Homeless World Cup tem o apoio de patrocinadores milionĂĄrios, como a Uefa (entidade que comanda o futebol na Europa), a Nike e a Vodafone Foundation.
A CBF nĂŁo apoia o torneio, cujo embaixador global Ă© o francĂȘs Eric Cantona.
""Tive muitas dificuldades na infĂąncia, mas consegui realizar o meu sonho. Por isso, apoio eventos como esse", disse o lateral LĂ©o Moura, do Flamengo, que cresceu na Vila Kennedy, bairro pobre da zona oeste carioca.
SĂ©rgio Rangel - Fonte: Folha de S.Paulo - 15/09/10.
Todos Detalhes:
http://www.homelessworldcup.org/content/brasil
REGRAS DO MUNDIAL DOS SEM-TETO
TIME
Quatro titulares (um goleiro e trĂȘs jogadores de linha) e quatro reservas
PARTIDA
Duração de 14 minutos: 7 minutos em cada tempo. Hå um minuto de intervalo
PUNIĂĂES
CartĂŁo azul: jogador Ă© expulso e desfalca a equipe por dois minutos; depois, entra um reserva
CartĂŁo vermelho: jogador Ă© expulso e a equipe nĂŁo tem direito a substituĂ-lo, atuando no restante da partida com um a menos
SUBSTITUIĂĂES
Sem limite para o nĂșmero de trocas durante uma partida
QUADRA
Uma arena com duas quadras compÔe o cenårio da competição no Brasil. Cada campo tem 22 m x 16 m
Fonte: Folha de S.Paulo - 15/09/10.
ApĂłs perder pai para o trĂĄfico, jogadora quer dar alegria Ă mĂŁe
Uma jĂĄ morou em abrigo. Outra teve o pai assassinado por traficantes. A maioria mora em comunidades conflituosas de Rio e SĂŁo Paulo.
Selecionadas apenas para a Copa do Mundo dos sem-teto, as jogadoras da seleção feminina de futebol vão usar a competição para tentar virar ""boleiras profissionais".
Caçula da equipe, Juliana Regina, a Ronaldinha, 16, mora numa casa de um cÎmodo na favela do Caramujo, uma das comunidades mais violentas de Niterói.
Ela divide a casa com a mãe, empregada doméstica que recebe R$ 250 mensais. Seu pai foi assassinado quando ela tinha quatro anos. "Ele morreu de bala. Dizem que estava metido com o tråfico", conta.
A garota nĂŁo esconde que vive ""com dificuldade", mas acredita que o futebol vai transformar a vida dela.
""Pessoal me viu jogando futebol e eu fui levada para fazer uns testes na Inglaterra. Minha mĂŁe chorou de alegria. Tenho certeza de que o futebol vai dar muitas outras felicidades para ela", disse Ronaldinha, que nĂŁo teve ĂȘxito em campos ingleses.
A mais experiente do time, Tatiane Moraes Bispo, 20, foi obrigada a viver num abrigo aos 12 anos de idade "por problemas financeiros", mas conta que morou no exterior.
Aos 18 anos, ela foi jogar no futebol suĂço. Pretende continuar lĂĄ fora, mas foi obrigada a retornar ao Brasil por nĂŁo ter visto de trabalho. Voltou a morar em GardĂȘnia Azul, zona oeste do Rio, ĂĄrea comandada por milicianos.
""O futebol jĂĄ me mostrou que a vida pode ser bem diferente. NĂŁo escondo que quero fazer um bom campeonato para conseguir um novo emprego", disse Tatiane. (SR)
Fonte: Folha de S.Paulo - 15/09/10.
Atletas ignoram o significado da competição
As jogadoras da seleção desconheciam a tradução de "homeless". ""Caramba. Não sabia que era sem-teto. Eu tenho casa. à bem simples, mas tenho", disse Tatiane Moraes Bispo.
Ontem, elas treinaram na ComissĂŁo de Desportos da AeronĂĄutica. AmanhĂŁ, vĂŁo se hospedar num hotel em Copacabana. "Vai ser um presente que o futebol vai me dar. Nunca teria dinheiro", contou Tatiane.
Uma atleta foi cortada quando a comissão técnica descobriu que seu pai tinha carro. ""Ela é excelente jogadora, não é rica, mas não cumpria o requisito båsico", disse o técnico Alexandre Mathias.(SR)
Fonte: Folha de S.Paulo - 15/09/10.
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