CRIATIVIDADE NO MARKETING III
24/01/2008 -
NOSSOS COLUNISTAS
PROPAGANDAS INTELIGENTES III
Essa Ă© pra quem reclama de pagar IPVA...
(Colaboração: Hélio Bob Pai)
PROFESSOR X
EDUCAĂĂO PARA TODOS NA ENCRUZILHADA
No ano 2000, os lĂderes mundiais acordaram um conjunto de metas para estimular avanços visando a concretização, atĂ© 2015, do previsto no tratado Educação para Todos (EFA, na sigla em inglĂȘs, proposto durante o Ășltimo FĂłrum Mundial sobre a Educação promovido pela Unesco).
As metas do EFA sĂŁo: ampliar a educação e a assistĂȘncia Ă primeira infĂąncia; garantir o ensino primĂĄrio gratuito e obrigatĂłrio; promover a aprendizagem e habilidades para a vida; aumentar em 50% a alfabetização de adultos; alcançar a igualdade de gĂȘneros; e assegurar a qualidade em todos os nĂveis de ensino.
Entretanto, pesquisas recentes mostram que, a meio caminho de 2015, os governos ainda estão deixando de atender às crianças e aos adultos analfabetos.
Existem 774 milhÔes de adultos desprovidos do grau mais rudimentar de alfabetização e 72 milhÔes de crianças -mais da metade das quais são meninas- estão fora da escola.
Quase a metade dessas crianças que nĂŁo freqĂŒentam a escola vivem em Estados frĂĄgeis. As crianças de famĂlias pobres nĂŁo tĂȘm meios para pagar mensalidades e taxas ainda prevalecentes em mais de 90 paĂses.
Muitas precisam trabalhar para ajudar a sustentar suas famĂlias, freqĂŒentemente em condiçÔes desesperadoramente perigosas e insalubres: segundo a Organização Mundial do Trabalho, 111 milhĂ”es de crianças trabalham em "atividades de risco". As crianças portadoras de deficiĂȘncia, as que integram comunidades Ă©tnicas minoritĂĄrias e as que sĂŁo doentes de Aids ou soropositivas enfrentam ainda outros obstĂĄculos para chegar Ă escola.
Juntando os dados da ONU e do Banco Mundial a pesquisas alternativas conduzidas pela sociedade civil, a Campanha Global pela Educação (GCE, na sigla em inglĂȘs) divulgou no ano passado o relatĂłrio "No Excuses" ("Sem Desculpas"), em que atribui "notas" de A a F a todos os governos, segundo seu desempenho atĂ© hoje no tocante Ă educação.
Os governos que obtiveram as melhores "notas" incluem os de MaurĂcio, LetĂŽnia e Uruguai, enquanto o fundo da classe Ă© ocupado por Haiti, SomĂĄlia e GuinĂ©-Bissau.
Os paĂses mais ricos tambĂ©m sĂŁo avaliados quanto ao cumprimento da promessa com relação ao EFA: fornecer assistĂȘncia adequada e de longo prazo para que as metas sejam alcançadas. Enquanto Noruega e Holanda ocupam o topo desse ranking, os paĂses do G8 sĂŁo os piores quando se trata de dar o financiamento prometido para a educação, e os EUA sĂŁo o Ășltimo colocado em sua "classe do G8".
Quando sĂŁo avaliados dentro da tabela global, o Reino Unido ocupa o quinto lugar, o CanadĂĄ, o 36Âș, a França, o 91Âș, a Alemanha, o 109Âș, o JapĂŁo, o 124Âș, e a ItĂĄlia e os EUA, na 146ÂȘ posição, ocupam quase os Ășltimos lugares na classe global.
Mas as evidĂȘncias tambĂ©m indicam que muito pode ser realizado quando os governos priorizam a polĂtica educacional. Nos Ășltimos 18 anos, vĂĄrios paĂses em desenvolvimento conseguiram avanços importantes na ampliação do ensino fundamental. Entre eles estĂŁo Costa Rica, Cuba, MĂ©xico, Sri Lanka e TailĂąndia.
E avanços notĂĄveis tĂȘm sido conseguidos em alguns dos contextos mais difĂceis; milhĂ”es de crianças passaram a freqĂŒentar a escola em paĂses como QuĂȘnia, CamarĂ”es, Botsuana e Burundi, nos quais, nos Ășltimos anos, os governos eliminaram as mensalidades escolares.
O Brasil faz parte dos 20 primeiros paĂses do ranking mundial graças aos esforços feitos aqui, sobretudo por meio da pressĂŁo de organizaçÔes sociais e da sociedade civil e, ainda, de experiĂȘncias como o Bolsa FamĂlia.
Com 2015 chegando cada vez mais perto, a GCE leva adiante sua campanha de pressĂŁo global e espera que atores como os movimentos sociais brasileiros e lĂderes como o presidente Lula continuem a dar um bom exemplo e a defender a causa do bem global nessa questĂŁo de importĂąncia tĂŁo vital.
Acreditamos que as histĂłrias de ĂȘxitos vĂŁo inspirar outros lĂderes de paĂses em desenvolvimento a redobrar seus esforços. TambĂ©m estamos convencidos de que mostrar o que pode ser conseguido com a vontade polĂtica certa, respaldada por recursos, pode envergonhar os doadores, levando-os a cumprir suas promessas.
O ano de 2008 tambĂ©m serĂĄ o 60Âș desde a Declaração dos Direitos Humanos da ONU; vamos nos assegurar de que a geração que vai nascer neste ano possa finalmente crescer com a luz e a esperança que a educação traz Ă vida de cada um.
Kailash Satyarthi, indiano formado em engenharia eletrĂŽnica, Ă© o presidente da Campanha Global pela Educação. Foi o fundador da Aliança do Sul da Ăsia contra a EscravidĂŁo das Crianças e da Marcha Global contra o Trabalho Infantil. Em 2006, foi indicado ao PrĂȘmio Nobel da Paz.
Fonte: Folha de S.Paulo - 20/01/08.
PROFESSORA PASQUALINA
O JOVEM POLICIAL
"Se fĂŽssemos um paĂs mais educado, menos policiais morreriam por nĂłs, menos cidadĂŁos seriam assaltados e mortos, menos jovens se tornariam malfeitores, menos força teriam os narcotraficantes"
Eu estava botando gasolina no tanque de meu carro e do meu lado estavam dois carros da Brigada Militar. Dois policiais falavam com alguĂ©m do posto. Um terceiro, bem junto da minha janela, de costas para mim, portava uma arma grande, que na minha ignorĂąncia acho que poderia ser um fuzil ou uma metralhadora. Estava ali, sozinho, e comecei a observĂĄ-lo sem que me notasse. Tenso, alerta, consciente de sua missĂŁo, olhava para os lados empunhando sua arma com o cano voltado para baixo. Seu rosto era jovem, tĂŁo jovem que me comovi. Podia ser meu filho. Mais: podia ser meu neto. Estava tĂŁo concentrado no seu dever, tĂŁo alerta na sua posição, que fiquei imaginando se, ou quando, ele poderia levar um tiro de algum bandido. Poderia ficar lesado gravemente. Poderia morrer. Por mim, por vocĂȘ, por um de nĂłs, em qualquer parte do Brasil, nĂŁo importa que nome se dĂȘ Ă sua corporação nem se Ă© da guarda estadual, municipal, federal. Esses jovens se expĂ”em por nĂłs. Morrem por nĂłs. Tentam, num paĂs tĂŁo confuso, proteger o cidadĂŁo. A gente realmente pensa nisso? Uma vez ao dia, uma vez por semana, uma vez ao mĂȘs?
Tentei imaginar tambĂ©m como eu me sentiria se um de meus netos tivesse essa profissĂŁo. Que suspiro de alĂvio a cada noite, ou a cada manhĂŁ, sabendo que ele estava em casa. Que angĂșstia sempre que se noticiasse uma perseguição, um tiroteio. Quanto ganha para se expor assim um rapaz desses? Esse tinha na mĂŁo esquerda uma fina aliança. Podia ter filhos, com certeza muito pequenos, dada sua pouca idade. Que vida a de milhares de famĂlias, em troca, penso eu, de uma compensação financeira diminuta.
Impressionada com sua seriedade, com a realidade concreta daquela arma enorme, e com quanto de repente me senti em dĂvida com aquele quase menino, teimei em adivinhar: quanto ganharia ele? Tanto quanto uma boa empregada domĂ©stica, que nĂŁo arrisca a vida embora seja importantĂssima numa casa bem organizada onde a valorizam? Tanto quanto uma professora de escola elementar, que vende quinquilharias ou doces feitos em casa para colegas no intervalo das aulas, a fim de se sustentar?
Tanque cheio, saĂ rodando, pensativa: a educação e a segurança sĂŁo o primeiro eixo da vida de um paĂs digno. Elas e outros tantos fatores. Mas eu, naquele dia, quis pensar em educação e segurança. Com elas gastam-se quilĂŽmetros de papel e uma eternidade em falação. Se fĂŽssemos um paĂs mais educado, menos policiais morreriam por nĂłs, com certeza menos cidadĂŁos seriam assaltados, violentados e mortos, menos jovens se tornariam malfeitores, menos força teriam os narcotraficantes. Menos jovens de classe mĂ©dia alta se matariam nas estradas ou venderiam drogas mortais a seus colegas nas escolas ou nos bares.
O problema, o dilema, a tragĂ©dia Ă© saber por onde começar: educação começa em casa. Mas, diz um psicĂłlogo amigo meu, os meninos (e meninas) problemĂĄticos (aqui nĂŁo falo dos saudĂĄveis, que constroem uma vida) em geral nĂŁo tĂȘm pai ou mĂŁe em casa, e tĂȘm poucos modelos bons a seguir. Nas escolas, professores e professoras sĂŁo mal pagos, desestimulados, sobrecarregados e desanimados (nĂŁo todos, portanto nĂŁo me xinguem por isso). Nesse caso, a educação deveria começar pelo alto: pelas autoridades, pelos polĂticos, pelos lĂderes. NĂŁo posso dizer que o Brasil estĂĄ sendo brindado com uma maioria de polĂticos modelares, de lĂderes positivos, de autoridades de atitude impecĂĄvel.
EntĂŁo vivemos um dilema triste: começar por baixo, pela faixa etĂĄria menor, pela educação em casa e nos primeiros anos na escola, ou começar a reformar a mentalidade dos altos escalĂ”es, nos quais alguns lĂderes se destacam pela autoridade moral e elevada postura, mas a maioria, sinto muito, estĂĄ longe disso?
NĂŁo creio que haja resposta. Eu nĂŁo a tenho. Quem a tiver que sugira aos governos, ou aos pais, ou aos colĂ©gios. De momento, parece-me que estamos apenas despertando para essa questĂŁo crucial, sem a qual nada se farĂĄ de importante neste nosso paĂs das utopias.
Lya Luft é escritora - Fonte: Veja - Edição 2044.
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