CRIATIVIDADE NO MARKETING
03/11/2013 -
NOSSOS COLUNISTAS
PROPAGANDAS INTELIGENTES (FONDAZIONE ANT)
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âTumores mudam vida. NĂŁo o seu valor.
A equipe mĂ©dica que trabalha para a ANT cuida de 4.000 pacientes com cĂąncer todos os dias, em suas prĂłprias casas, de graça, mas com padrĂŁo de qualidade igual ao dos hospitais. Isso permite que as pessoas estar no conforto do ambiente familiar. Ao preservar a dignidade das pessoas que sofrem podemos defender o valor da vida.â
Fonte: Coloribus Advertising Archive â 29/10/13.
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PROFESSOR TOM COELHO
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Ensaio sobre a lĂĄgrima
* por Tom Coelho
âChora, Tistu, chora. Ă preciso. As pessoas grandes nĂŁo querem chorar, e fazem mal, porque as lĂĄgrimas gelam dentro delas, e o coração fica duro.â (Maurice Druon, em âO menino do dedo verdeâ)
Sempre apreciei a expressĂŁo âolhos marejadosâ. Ă, para mim, de uma beleza plĂĄstica incrĂvel. Os olhos, as âjanelas da almaâ. E o mar, com seu ir e vir das ondas.
Olhos marejados sĂŁo assim. LĂĄgrimas que pensam em deixar o conforto dos olhos, mas que se retraem como quem diz: âAinda nĂŁo Ă© horaâ ou, entĂŁo: âAinda nĂŁo posso me desnudarâ.
A lĂĄgrima revela tudo. InsĂłlita por natureza, carrega consigo dor, tristeza, alegria, emoção. A lĂĄgrima marejada contĂ©m-se em si mesma. Ela Ă© suficiente para cobrir toda a superfĂcie ocular. Faz os olhos brilharem, refletindo a transparĂȘncia da alma.
Hospitais sĂŁo locais onde se tratam pessoas doentes. ConstruçÔes de paredes sĂłlidas e ĂĄridas, brancas e gĂ©lidas. Uma arquitetura onde o calor naturalmente se dissipa e onde as vozes ecoam assustadoramente â assim como as rodas e rodĂzios das cadeiras e macas que perambulam pelos corredores.
Acho que um dia algum publicitĂĄrio passou por um hospital e percebeu que ali faltava algo. Resolveu, entĂŁo, colorir as paredes das alas de pediatria, instalar uma capela no tĂ©rreo e criar um banco de sangue. Tudo isso para humanizar aquele ambiente â porque o que lhe faltava era vida.
Ao contrĂĄrio do que se faz supor, hospitais, e aqui excluo as maternidades, sĂŁo moradas nĂŁo da saĂșde, mas da doença. A saĂșde reside no sorriso maroto de uma criança, nas ĂĄrvores que florescem na primavera, na conjunção erĂłtica dos amantes. Nos hospitais, habitados pela doença, a morte espreita, vagando livremente, rindo-se com sarcasmo do sofrimento de internos e familiares.
Os profissionais â mĂ©dicos, enfermeiros e assistentes â aprendem a ser herĂłis sem coração. HerĂłis porque lutam contra a engenhosidade ardilosa da doença que busca refĂșgio nos recĂŽnditos da complexidade do corpo humano, procurando dificultar o trabalho de sua descoberta. Ă um jogo de caça, de esconde-esconde, no qual o bem luta para triunfar enquanto o mal, uma vez instalado, dĂĄ-se por vitorioso desde o inĂcio, nada tendo a perder.
Entretanto, por atuarem numa batalha tĂŁo desigual, muitas vezes patrocinada pelo despreparo, pela desqualificação ou pela desestrutura, estes herĂłis aprendem a dominar suas emoçÔes. Afinal, sĂŁo tantos dias, dias apĂłs dias, horas e mais horas, enfrentando as adversidades, testemunhando a amargura velada ou silenciosa de seus pacientes, acompanhando o desespero e, por vezes, o destempero de familiares â que transitam com suas faces avermelhadas e seus Ăłculos escuros, e nĂŁo em decorrĂȘncia do esplendor do sol â, que tudo aquilo se torna rotineiro. Cena do cotidiano.
Quando seu time de futebol vence uma partida, vocĂȘ fica feliz. AtĂ© esfuziante. Cada gol Ă© comemorado como se fosse Ășnico. Mas se a equipe se torna imbatĂvel, as conquistas perdem o sabor, porque se tornam previsĂveis. A felicidade vira alegria. A alegria vira desdĂ©m. Assim ocorre com a maioria dos mĂ©dicos. A sensibilidade se esvai, por hĂĄbito e por dever de ofĂcio. E eu os respeito por isso, porque seria incapaz de fazĂȘ-lo. Por esse motivo tomei como profissĂŁo a mente, e nĂŁo o corpo das pessoas. Fiz de um lĂĄpis, uma caneta ou um teclado meu prĂłprio bisturi.
Em uma manhĂŁ fria e cinzenta de novembro, de um distante, mas sempre prĂłximo ano de 2004, minha mĂŁe nos deixou. Cinco anos depois, foi a vez de meu pai. No combate Ă doença, em ambos os casos, nĂŁo nos faltou empenho, nĂŁo nos faltou solidariedade, nĂŁo nos faltou fĂ©. SĂł nos falta a presença fĂsica deles.
Os olhos jå não estão mais marejados, porque as lågrimas decidiram que era hora de se despir e ganhar o mundo. Tomaram formatos e feiçÔes diversas, algumas discretas como o orvalho da manhã, outras intermitentes como garoa paulistana.
Por coincidĂȘncia ou nĂŁo, os cĂ©us, em sintonia, harmonia e deferĂȘncia, tambĂ©m derramaram suas lĂĄgrimas, por meio da chuva, anunciando a purificação, a renovação e a mensagem de que a vida segue.
* Tom Coelho Ă© educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17 paĂses. Ă autor de âSomos Maus Amantes â ReflexĂ”es sobre carreira, liderança e comportamentoâ (Flor de Liz, 2011), âSete Vidas â LiçÔes para construir seu equilĂbrio pessoal e profissionalâ (Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos atravĂ©s do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.
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