âHERROSâ SANGUINĂRIOS
20/09/2012 -
A JENTE HERRAMOS
MARFIM DE SANGUE
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Garamba National Park, RepĂșblica DemocrĂĄtica do Congo.
Em 30 anos combatendo caçadores ilegais, Paul Onyango nunca tinha visto nada assim. Vinte e dois elefantes mortos juntos no meio da savana, muitos abatidos com uma Ășnica bala na parte superior da cabeça.
Não havia rastros que se afastavam dos elefantes, nem qualquer sinal de que os caçadores tivessem rastreado os animais em terra. As presas tinham sido cortadas fora, mas a carne dos animais continuava intacta.
VĂĄrios dias depois, no inĂcio de abril, guardas do Parque Nacional de Garamba viram um helicĂłptero militar de Uganda sobrevoando o parque em altitude muito baixa, num vĂŽo nĂŁo autorizado, mas disseram que, ao ser detectado, o helicĂłptero virou abruptamente e foi embora. FuncionĂĄrios do parque, cientistas e as autoridades congolesas agora acreditam que foram militares ugandenses que mataram os 22 elefantes, desde um helicĂłptero, e levaram embora marfim no valor de mais de US$ 1 milhĂŁo.
"Os disparos foram feitos com precisão", disse Onyango, chefe dos guardas-florestais de Garamba. "Eles atiraram até nos filhotes. Por que? à como se tivessem vindo para cå para destruir tudo."
A Ăfrica estĂĄ passando por uma matança Ă©pica de elefantes. Grupos conservacionistas dizem que os caçadores ilegais estĂŁo exterminando dezenas de milhares de elefantes por ano, mais que em qualquer momento das duas dĂ©cadas passadas, e o comĂ©rcio ilegal de marfim estĂĄ se militarizando.
O marfim, ao que tudo indica, Ă© o mais recente recurso natural africano envolvido em conflitos. Alguns dos mais notĂłrios grupos armados do continente, incluindo o ExĂ©rcito de ResistĂȘncia do Senhor, o Shabab e os "janjaweeds" de Darfur, vĂȘm caçando elefantes e usando suas presas para comprar armas e levar adiante sua violĂȘncia e caos. Quadrilhas organizadas estĂŁo formando ligaçÔes com eles para transportar o marfim pelo mundo afora, aproveitando a existĂȘncia de Estados turbulentos, fronteiras porosas e autoridades corruptas da Ăfrica subsaariana atĂ© a China, dizem autoridades policiais.
Mas não são apenas agentes fora da lei que lucram. Membros de alguns dos Exércitos africanos que o governo americano treina e apoia -em Uganda, no Congo e no Sudão do Sul- estão envolvidos na caça ilegal de elefantes e no tråfico internacional de marfim.
Segundo especialistas, atĂ© 70% do marfim ilegal estĂĄ indo para a China, e, embora os chineses cobicem o marfim hĂĄ sĂ©culos, nunca antes tantos chineses tĂȘm tido os meios de possuĂ-lo. O boom econĂŽmico chinĂȘs criou uma classe mĂ©dia enorme, fato que empurrou o preço do marfim para o preço estratosfĂ©rico de US$ 500 por quilo nas ruas de Pequim.
Mais de 150 cidadĂŁos chineses foram presos em toda a Ăfrica no ano passado, do QuĂȘnia Ă NigĂ©ria, por contrabando de marfim. E hĂĄ indicaçÔes crescentes de que a caça ilegal de elefantes aumenta em ĂĄreas onde os animais estĂŁo presentes e em que operĂĄrios chineses estĂŁo construindo estradas.
"A China estĂĄ no epicentro da demanda", disse um funcionĂĄrio sĂȘnior do Departamento de Estado dos EUA, Robert Hormat. "Sem a demanda chinesa, este comĂ©rcio praticamente deixaria de existir."
Com frequĂȘncia, soldados congoleses sĂŁo presos por caça ilegal e trĂĄfico de marfim. As forças armadas do SudĂŁo do Sul com frequĂȘncia entram em choque com guardas-florestais.
A Interpol estå ajudando a investigar as matanças em massa no parque de Garamba, procurando comparar amostras de DNA dos crùnios dos elefantes com um grande carregamento de presas apreendido recentemente num aeroporto de Uganda em caixas rotuladas "artigos domésticos".
As presas de um elefante adulto podem valer mais de dez vezes a renda anual mĂ©dia dos habitantes de muitos paĂses africanos. Na TanzĂąnia, camponeses miserĂĄveis vĂȘm envenenando abĂłboras e colocando-as nas estradas para que os elefantes as comam.
No ano passado, o volume de marfim ilegal apreendido em todo o mundo marcou um recorde, com 38,8 toneladas (o equivalente Ă s presas de mais de 4.000 elefantes mortos). A polĂcia vĂȘ esse fato como indĂcio claro de que o crime organizado penetrou no submundo do marfim, porque apenas uma mĂĄquina criminal experiente seria capaz de transportar centenas de quilos de presas por distĂąncias de milhares de quilĂŽmetros.
Os traficantes sĂŁo " parte de organizaçÔes criminosas que operam na Ăfrica e sĂŁo comandadas desde a Ăsia", diz Tom Milliken, diretor do Sistema de InformaçÔes sobre o ComĂ©rcio de Elefantes, projeto internacional de monitoramento do marfim.
Richard Ruggiero, do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA, comentou: "Estamos passando pela maior perda percentual de elefantes na história".
Para alguns especialistas, a prĂłpria sobrevivĂȘncia da espĂ©cie estĂĄ em risco. "As enormes populaçÔes de elefantes da Ăfrica Ocidental jĂĄ desapareceram e os elefantes do centro e leste do continente estĂŁo sumindo em ritmo acelerado", disse o ecologista Andrew Dobson, da Universidade Princeton, de Nova Jersey. "A questĂŁo Ă©: queremos ver nossos filhos crescerem num mundo sem elefantes?"
'Atiramos primeiro'
Garamba Ă© considerado um dos parques naturais mais impressionantes da Ăfrica. Hoje, porĂ©m, Ă© um verdadeiro campo de batalha. Todas as manhĂŁs, os 140 guardas-florestais do parque se equipam com fuzis, metralhadoras e granadas impelidas por foguetes.
"NĂŁo negociamos, nĂŁo damos qualquer aviso -atiramos primeiro", contou Onyango.
Em junho, ele ouviu uma rajada de disparos. Seus homens passaram horas arrastando-se de barriga pelo capim alto, até verem caçadores ilegais talhando vårios elefantes. No instante em que eles atiraram contra os caçadores ilegais, a årea toda pareceu ganhar vida, com disparos por todo lado.
"A maioria dos caçadores ilegais economiza munição, mas esses caras estavam disparando como se estivessem no Iraque. De repente nos vimos em desvantagem", disse ele.
Naquele dia, as duas metralhadoras velhas usadas pelos guardas-florestais emperraram e eles escaparam com vida por pouco. Onze guardas-florestais foram mortos desde 2008 e alguns guardas tiveram seus filhos sequestrados. Uma investigação posterior indicou que os caçadores ilegais eram integrantes do ExĂ©rcito de ResistĂȘncia do Senhor, um grupo rebelde brutal que circula pela Ăfrica central, matando camponeses e escravizando crianças. Acredita-se que o lĂder do grupo, o foragido Joseph Kony, esteja escondido num canto remoto da RepĂșblica Centro-Africana.
O marfim talvez seja a nova fonte de recursos que esteja garantindo a sobrevivĂȘncia de Kony. VĂĄrias pessoas que escaparam do grupo disseram que Kony ordenou a seus combatentes matarem o maior nĂșmero possĂvel de elefantes e lhe enviarem as presas.
VĂĄrios comerciantes sudaneses de marfim disseram que o marfim do Congo e da RepĂșblica Centro-Africana atravessa a grande regiĂŁo sudanesa desĂ©rtica de Darfur e, de lĂĄ, vai para Omdurman, ao norte, com a ajuda de autoridades sudanesas corruptas.
Na costa oriental da Ăfrica, o porto queniano de Mombaça Ă© um importante centro de traslado do marfim. Uma porcentagem relativamente pequena dos contĂȘineres que passam pelo porto Ă© inspecionada e o marfim jĂĄ foi transportado escondido em carregamentos de abacates ou anchovas.
VĂĄrios comerciantes sudaneses de marfim e representantes ocidentais disseram que as infames milĂcias janjaweed, de Darfur, tambĂ©m praticam a caça ilegal em grande escala. Hoje, suspeita-se que centenas de milicianos janjaweeds tenham viajado a cavalo mais de 950 km, vindos do SudĂŁo, e abatido pelo menos 300 elefantes no Parque Nacional de Bouba Ndjida, nos CamarĂ”es, em janeiro.
Dinheiro para militantes
Em 2010, soldados ugandenses que estavam Ă procura de Joseph Kony nas florestas da RepĂșblica Centro-Africana toparam com uma caravana de janjaweeds transportando marfim. "Havia 400 homens, mulas de carga, um grande acampamento, armas em grande quantidade", disse um diplomata ocidental. Seguiu-se uma batalha e mais de dez ugandenses foram mortos.
VĂĄrios lĂderes somalis disseram que o grupo militante islĂąmico Shabab, que jurou fidelidade Ă Al Qaeda, começou recentemente a treinar combatentes para infiltrar o vizinho QuĂȘnia, matar elefantes e extrair seu marfim, para levantar recursos para o grupo.
Um antigo aliado do Shabab disse que o grupo vem prometendo "facilitar a venda" do marfim e que incentivou camponeses na fronteira entre o QuĂȘnia e a SomĂĄlia e lhes levar presas de elefantes, que em seguida vĂŁo para o porto de Kismayo, conhecido centro de contrabando e Ășltima cidade importante que ainda se encontra sob controle do Shabab.
"à um negócio de alto risco, mas que traz lucros excepcionais", comentou Hassan Majengo, morador de Kismayo que acompanha o comércio de marfim.
Em Garamba, os guardas-florestais jĂĄ prenderam muitos soldados do governo congolĂȘs, alguns dos quais foram detidos com presas, pedaços de carne de elefante, e vestindo as boinas vermelhas usadas por membros da guarda presidencial de elite.
Um promotor militar congolĂȘs, o major Jean-Pierre Mulaku, reconheceu: "Alguns elementos de nosso ExĂ©rcito estĂŁo envolvidos. Ă dinheiro fĂĄcil."
Segundo o cientista americano John Hart, um dos principais pesquisadores sobre elefantes no Congo, "militares congoleses estão envolvidos em quase todas as atividades de caça ilegal de elefantes", fazendo das forças armadas "as maiores envolvidas na matança ilegal de elefantes na RDC".
Os guardas-florestais de Garamba e um funcionĂĄrio de inteligĂȘncia do governo congolĂȘs dizem que tambĂ©m combatem rotineiramente soldados do ExĂ©rcito de Libertação do Povo do SudĂŁo, o ExĂ©rcito do SudĂŁo do Sul.
Mas a suposta caça ilegal feita com helicĂłpteros Ă© novidade. A organização de conservação African Parks, com sede na Ăfrica do Sul e que administra o parque de Garamba, tem fotos de um helicĂłptero Mi-17 de transporte militar sobrevoando o parque em baixa altitude em abril e disse que, pelo nĂșmero de registro, identificou o aparelho como sendo das Forças Armadas de Uganda.
Ninguém sabe quantos elefantes estão sendo exterminados todos os anos, mas muitos conservacionistas concordam que são "dezenas de milhares" e que 2012 provavelmente serå pior que 2011.
Alguns dos elefantes abatidos recentemente tinham sido sexualmente mutilados, com seus mamilos ou genitĂĄlia cortados, possivelmente para serem vendidos. Ă algo que os pesquisadores dizem que nĂŁo tinham encontrado antes.
Garamba enfrenta desafios aparentemente infinitos, muitos deles ligados Ă falĂȘncia completa do prĂłprio Congo. Alguns dos guardas-florestais sĂŁo caçadores ilegais, eles prĂłprios, matando os animais que sĂŁo encarregados de proteger. Dizem que seus salĂĄrios sĂŁo muito baixos para possibilitar sua sobrevivĂȘncia.
Houve Ă©poca em que o Parque Nacional de Garamba tinha mais de 20 mil elefantes. No ano passado, havia cerca de 2.800. Neste ano, hĂĄ possĂveis 2.400.
"Ă como a guerra das drogas", disse Luis Arranz, o administrador do parque. "Enquanto as pessoas continuam a comprar e pagar pelo marfim, Ă© impossĂvel acabar com o trĂĄfico."
Por Jeffrey Genttleman â Fonte: Folha de S.Paulo â 17/09/12.
Isma'il Kushkush colaborou com reportagem de Omdurman, SudĂŁo; Mia Li de Pequim; e um jornalista somali de Mogadishu, na SomĂĄlia.
Reportagem original em inglĂȘs do âThe New York Timesâ:
http://www.nytimes.com/2012/09/04/world/africa/africas-elephants-are-being-slaughtered-in-poaching-frenzy.html?pagewanted=all
Mais detalhes:
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http://www.iucn.org/
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CAĂA DIZIMOU ELEFANTES SELVAGENS NO VIETNĂ
Enquanto na Ăfrica dezenas de milhares de elefantes continuam sendo mortos por ano por causa do seu marfim, no VietnĂŁ os caçadores jĂĄ tornaram isso impossĂvel.
Junto com empreendedores imobiliĂĄrios, madeireiros, moradores de aldeias e burocratas negligentes, eles reduziram a poucas dĂșzias a população de elefantes selvagens do paĂs.
Os elefantes estĂŁo criticamente ameaçados em toda a Ăsia, especialmente na Ăndia e na TailĂąndia, mas no VietnĂŁ a situação Ă© tĂŁo sombria que os grupos de conservação ambiental praticamente jĂĄ desistiram.
Um minĂșsculo e mal financiado Centro de Conservação do Elefante, num parque nacional no centro-sul vietnamita, protege 29 animais.
Mas no mĂȘs passado, dois elefantes do grupo foram achados mortos numa floresta, inclusive o Ășltimo macho da manada, que teve cabeça, tronco e presas decepados.
Sem um adulto macho, disseram as autoridades florestais, a manada não é mais "sustentåvel". O diretor interino do parque disse que a caça se tornou "desenfreada", com seis machos da manada mortos neste ano.
Especialistas preveem que uma manada de 15 elefantes no sul do VietnĂŁ em breve serĂĄ extinta. Em fevereiro, aventurando-se fora da floresta "protegida" na provĂncia de Dong Nai, elefantes famintos destruĂram milharais, canaviais e lavouras de batata-doce. Os agricultores fugiram apavorados.
Os elefantes saqueadores pisoteiam pessoas e atacam casas rurais, principalmente buscando sal e cinzas de bambu dos fogareiros.
Os moradores, por sua vez, montam armadilhas para matar os elefantes, ou usam lança-chamas e armas caseiras para espantå-los.
Uma geração atrĂĄs, milhares de elefantes vagavam pelas florestas do paĂs. Mas o VietnĂŁ pĂłs-guerra abriu sua economia, e grandes arrozais, cafezais e seringais foram abertos; o paĂs se urbanizou e industrializou.
Os madeireiros tambĂ©m fizeram a sua parte, destruindo antigas matas de mogno, teca e outras madeiras. A população do paĂs disparou, chegando a 92 milhĂ”es, maior que a da Alemanha.
Frank Momberg, gerente do programa de Vietnã da ONG conservacionista britùnica Fauna e Flora Internacional, me disse em 1999 que "as autoridades locais estão tomando decisÔes sobre o desenvolvimento sem qualquer preocupação ambiental".
"Os elefantes estão enfrentando a extinção no Vietnã", disse ele, que no entanto ainda tinha esperança de uma intervenção governamental.
Um chamado "plano de ação urgente" para a proteção dos elefantes foi adotado pelo governo em 2006, mas ainda não recebeu verbas.
Nem elefantes domesticados estĂŁo a salvo. Em abril de 2011, autoridades locais indiciaram o dono de um elefante usado em passeios turĂsticos, acusando-o de conspirar para matar o animal por suas presas, que estariam avaliadas em US$ 24 mil.
"O elefante foi achado morto numa floresta", disse o jornal "Tuoi Tre". "Estava amarrado a uma ĂĄrvore, e os ligamentos das suas pernas traseiras haviam sido arrancados."
Mark McDonald â Fonte: Folha de S.Paulo â 17/09/12.
Mais detalhes:
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E NĂIS QUE PENSAVA QUE NUNCA ERRAVA!
CONTINUAMOS ERRANDO PROPOSITALMENTE...! HERRAR Ă UMANO!
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