A GLOBALIZAĂĂO DOS MUSEUS
10/04/2008 -
MARILENE CAROLINA
O TRĂNSITO DAS OBRAS DE ARTE
English: http://www.msnbc.msn.com/id/17482641/
Foto: Maquete do Louvre Abu Dhabi, projetado pelo arquiteto francĂȘs Jean Nouvel.
MOBILIDADE DE MUSEUS
O crescente trĂąnsito das obras de arte e a demanda pela globalização dos acervos nacionais despertam os museus europeus para uma maior mobilidade. Uma tendĂȘncia que nĂŁo deixa de gerar conflitos.
A galeria de pintura europĂ©ia de Dresden â GemĂ€ldegalerie Alter Meister â Ă© a primeira coleção de arte deste porte que se dispĂŽs a ser clonada na internet. O portal Second Life incorporou este museu Ă sua paisagem virtual, permitindo ao usuĂĄrio percorrer todas as salas de exposição e apreciar as 750 obras do acervo permanente. AlĂ©m de se entreter com jogos e erotismo, algo dominante na paisagem do SL, os avatares que circulam por este mundo paralelo jĂĄ tĂȘm acesso Ă arte como forma alternativa de diversĂŁo.
Apesar da dinùmica circulação de imagens via internet, os museus ainda protegem seus acervos da incontrolåvel reprodutibilidade. Mas mesmo que se todas as obras de arte pudessem ser vistas em um grande museu virtual, isso certamente não diminuiria o interesse em ver de perto a imagem original.
Preciosidade do que estĂĄ longe: Isso Ă© o que indica, por exemplo, a imensa atratividade de exposiçÔes com obras emprestadas de museus estrangeiros. Os Franceses Mais Bonitos vĂȘm de Nova York Ă© o tĂtulo da exposição recĂ©m-inaugurada na Neue Nationalgalerie de Berlim, com pinturas francesas do sĂ©culo 19 pertencentes ao acervo do Metropolitan Museum. E por mais que o visitante passe mais tempo na fila para entrar na exposição do que passaria num vĂŽo barato da Easyjet para ir de Berlim a Paris ver o MusĂ©e d'Orsay, a mostra dos belos franceses jĂĄ atraiu massas de interessados em torno do edifĂcio de Mies van der Rohe no Kulturforum de Berlim, mesmo antes da inauguração.
Em 2004, uma exposição com obras emprestadas do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) levou à Neue Nationalgalerie 1 milhão e 200 mil de pessoas em sete meses. Interessante seria saber quantos dos visitantes jå estiveram na GemÀldegalerie berlinense, um dos acervos de pintura mais importantes da Europa, a cinco minutos a pé dali.
Louvre fora de Paris: O trĂąnsito de obras de arte pelo mundo estĂĄ gerando novos moldes institucionais de intercĂąmbio. O projeto de criar uma espĂ©cie de filial do Louvre em Abu Dhabi, capital dos Emirados Ărabes, gerou grande polĂȘmica na França recentemente. O Louvre Abu Dhabi, a ser inaugurado em 2012, deverĂĄ organizar exposiçÔes temporĂĄrias com emprĂ©stimos da "matriz" em Paris e de diversos outros museus franceses, entre os quais o Centro Georges Pompidou â um projeto programado para durar 20 anos.
Os defensores se entusiasmam com uma nova era da cooperação cultural e consideram o projeto uma iniciativa pioneira na globalização dos acervos de arte. Os crĂticos reclamam da "liquidação" da cultura francesa, da comercialização dos museus e da destruição de uma rede estĂĄvel de emprĂ©stimos recĂprocos entre as instituiçÔes. Afinal, as 200 ou 300 obras a serem expostas em Abu Dhabi num sistema de rotação nĂŁo poderĂŁo mais ser emprestadas por outros museus durante o perĂodo em questĂŁo.
"A Bela Chegou" nem vai partir: Se levada Ă s Ășltimas conseqĂŒĂȘncias, a circulação dos acervos mundiais poderia transformar a obra de arte em bem mĂłvel de fato. E possivelmente resolver muitos dilemas sobre a posse de patrimĂŽnios culturais deslocados de um paĂs para o outro ao longo da histĂłria, talvez atĂ© apaziguando a reivindicação de que os museus arqueolĂłgicos europeus, por exemplo, devolvam definitivamente suas peças aos paĂses de onde foram retiradas.
No entanto, a recente disputa pelo famoso busto da rainha egĂpcia Nefertiti, encontrado pelo arqueĂłlogo alemĂŁo Ludwig Borchardt em Amarna, em 1912, e transferido para Berlim no ano seguinte, mostra que as coisas nĂŁo sĂŁo tĂŁo simples assim. A recusa das autoridades alemĂŁs em emprestar o busto de Nefertiti ao Egito por trĂȘs meses, por ocasiĂŁo da inauguração de um novo museu antigo prĂłximo Ă s pirĂąmides, em 2012, gerou uma discussĂŁo internacional.
O Museu EgĂpcio de Berlim justificou que, alĂ©m do risco de a peça ser danificada no transporte, as instabilidades de ordem polĂtica na regiĂŁo proibiriam definitivamente o emprĂ©stimo do busto. Fato, no entanto, Ă© que o Egito jĂĄ exigiu reiteradas vezes o retorno da peça ao paĂs e as instituiçÔes alemĂŁs temem que a breve visita de Nefertiti (um nome que significa "a bela chegou") ao seu paĂs de origem possa se transformar numa viagem sem retorno.
O crescente interesse pela mobilidade das obras de arte ainda deverĂĄ gerar muitos conflitos semelhantes, levando a se pensar no forte vĂnculo cultural e afetivo com patrimĂŽnios artĂsticos.
Simone de Mello - Fonte:
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,2577636,00.html?maca=bra-rss-br-cul-1033-rdf
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