REFLEXĂO!
09/10/2006 -
PENSE!
O LEGACY E O SENTIMENTO AMERICANO DE SUPERIORIDADE
Terça, 10 de outubro de 2006 - Luiz Gonzaga Belluzzo
Entendo pouco de aviĂ”es, aviĂŽnica ou aviação. Para ser justo, nada. Arrasto dĂșvidas pela vida. Elas crescem na proporção em que a idade me afasta das certezas. Entre outras, indago, sem respostas, se meus medos e inseguranças alcançam a temeridade de viajar nesses aparelhos que comprovam, para o bem e para o mal, o poder desafiador da razĂŁo humana em sua faina de dominar a natureza.
Confessadas as ignorĂąncias, minhas dĂșvidas vacilam em duvidar da constatação das autoridades brasileiras: o Legacy da Embraer trafegava na contramĂŁo. Estava a 37 mil pĂ©s, em rota de colisĂŁo com o Boeing da Gol. Deveria viajar no momento da colisĂŁo - rezam as normas do trĂĄfego aĂ©reo da regiĂŁo - a 36 mil pĂ©s. Com o tal de transponder ligado ou desligado, isto jĂĄ bastaria para lançar presunção de culpa sobre a conduta dos pilotos que comandavam o jato executivo.
As autoridades brasileiras tĂȘm mantido a prudĂȘncia. Evitam definir responsabilidades antes de concluĂdas as investigaçÔes que, diga-se, transcorrem de acordo com as recomendaçÔes de colunistas e editorialistas nativos. Na imediata posteridade da tragĂ©dia, os vigilantes jornalistas alertavam a consciĂȘncia jurĂdica nacional para os riscos, sempre presentes entre os gentios, da contaminação das averiguaçÔes por um vĂrus perigoso: o anti-americanismo.
Mas, as demandas pressurosas de respeito a procedimentos acautelados e justos, foram atalhadas pela voz da boa consciĂȘncia americana. O jornalista que viajava no Legacy jĂĄ havia narrado, no New York Times, com minĂșcias de bom repĂłrter, a saga de John Wayne e Hopallong Cassidy na tentativa de escapar das ciladas tecnolĂłgicas preparadas pelos Ăndios brasileiros. NĂŁo eram bem os Cheyennes ou os Sioux, mas ainda assim, silvĂcolas perfeitamente habilitados no mister de preparar armadilhas para os compatriotas do General Custer.
A culpa foi atirada de volta: o sistema de controle de vÎo da AmazÎnia não funciona e o avião brasileiro apresenta falhas nos aparelhos de detecção e de comunicação. Os meios de comunicação norte-americanos repercutiram ruidosamente a entrevista. Mas, jå disse, minha ignorùncia não tem passaporte para viajar nas alturas da tecnologia aeronåutica.
O ponto é outro. Não se trata de aviÔes, de radares ou de transponders, mas de percepçÔes e convicçÔes que assolam o imaginårio social de uma fração consideråvel do povo do norte e de seus dirigentes. Vou colocar as palavras na boca de um velho e bom representante do conservadorismo americano, aquele que preza as liberdades civis e os direitos fundamentais, Kevin Phillips.
Philips, no livro American Theocracy, cuida de examinar o excepcionalismo americano: "HĂĄ muitos sĂ©culos os americanos se consideram especiais, um povo e uma nação escolhidos por Deus para desempenhar um papel Ășnico e redentor no mundo. As lideranças eleitas tendem a promover e disseminar este excepcionalismo, sem incluir no discurso as necessĂĄrias cautelas histĂłricas." Eisenstadt, um sociĂłlogo de respeito nos Estados Unidos, jĂĄ disse, a propĂłsito, que a maioria silenciosa imagina sua sociedade como a utopia realizada. Neste inĂcio de sĂ©culo, graças ao desempenho de Bush filho e sua tripulação, a coisa se agravou, a ponto do paĂs das liberdades palmilhar os perigosos caminhos que levam Ă derrocada do Estado de Direito.
O ultra-conservador Paul Craig Roberts, ex-assesor de Reagan e autor do livro The Tragedy of Good Intentions, estĂĄ alarmado com as restriçÔes impostas Ă s liberdade civis pela nova legislação de segurança. Entre outras coisas, ela autoriza a prisĂŁo de suspeitos de terrorismo sem comunicação Ă s autoridades judiciais. Roberts escreveu no site "liberal" ConterPunch, a propĂłsito da reação de Bush ao relatĂłrio que atribuĂa o recrudescimento do terrorismo Ă Guerra do Iraque: "Se Bush pode acusar a CIA de 'abraçar a propaganda terrorista', qualquer colunista ou repĂłrter que pretenda relatar os fatos com fidelidade pode ser colocado no campo 'contra nĂłs' e preso por conceder conforto e ajuda ao inimigo".
Se assim é, os bravos rapazes que pilotavam o Legacy em céus estranhos, suspeitos e hostis, não podem, por definição, cometer erros.
Luiz Gonzaga Belluzzo Ă© professor titular aposentado da Unicamp, consultor editorial da revista Carta Capital e vencedor do prĂȘmio Juca Pato em 2005.
(Colaboração: Borges)
NOSSA PF
Reportagem especial - Por dentro da PolĂcia Federal. Como funciona a mĂĄquina de investigar e prender que surpreende o PaĂs pelo arrojo, inteligĂȘncia e sucesso
Por Alan Rodrigues, Hugo Marques e Rodrigo Rangel
"ParabĂ©ns, doutor! Que operação...â
EspontĂąnea, a frase partiu de um homem conhecido como Torturado, codinome de Lucivaldo Laurindo, no momento em que, junto a outros 25 bandidos, foi algemado e deitado sobre o chĂŁo de uma casa em Porto Alegre. Começava ali, sem o disparo de um tiro sequer, a mais espetacular seqĂŒĂȘncia de prisĂ”es entre o crime organizado dos Ășltimos tempos. Na segunda-feira 4, poucos dias depois, em meio Ă captura em flagrante de outros 20 assaltantes de banco em dez Estados do PaĂs, chegou-se a um endereço no Paraguai no qual foi apreendido um dos mais bem fornidos arsenais montados este ano: 222 revĂłlveres, 195 pistolas e 174 escopetas e rifles, prontos para circular no eixo Rio-SĂŁo Paulo. Fulminantes, servindo-se de espionagem e, ao mesmo tempo, alta tecnologia, todas essas açÔes tĂȘm uma marca em comum: a marca da PolĂcia Federal.
O ponto central para o sucesso desta e de outras operaçÔes cinematogrĂĄficas fica no quinto andar do âMorcego negroâ â a sede da corporação, em BrasĂlia. Ă lĂĄ, sob vigilĂąncia permanente de cĂąmaras de vĂdeo e com o acesso protegido por senhas, que funciona a Diretoria de InteligĂȘncia Policial (DIP). Desse andar saem ordens para prisĂ”es de todos os naipes, do ex-governador Paulo Maluf Ă empresĂĄria Eliana Tranchesi, dona da Daslu. E tambĂ©m para operaçÔes, em conjunto com a polĂcia paraguaia, do arsenal na semana passada. A DIP tem cerca de 100 agentes na capital federal. Eles mal se conhecem entre si. Ă famoso no Rio de Janeiro o caso de um agente que se vestiu de mendigo e por cinco dias viveu na porta de um delegado da prĂłpria PF. Ao cabo, deu voz de prisĂŁo ao superior, flagrado ao receber propina. Os agentes do DIP tĂȘm a missĂŁo de esmiuçar o modus operandi dos alvos, nem que para isso tenham que ficar no encalço deles 24 horas por dia. Eles tĂȘm carta branca para viajar para onde for preciso atrĂĄs dos investigados. Quando mulheres, sĂŁo conhecidas como âandorinhasâ. Isso porque muitas vezes se imiscuem entre os bandidos usando as armas do charme e da sensualidade.
TambĂ©m Ă© no quinto andar da sede nacional que fica o GuardiĂŁo. Trata-se do supersistema de computadores que possibilita a administração de centenas de escutas telefĂŽnicas e cruza dados com arquivos policiais nacionais e do mundo. Ă um dos mais modernos aparelhos de inteligĂȘncia policial do planeta, resultado de um movimento em direção Ă renovação da matriz tecnolĂłgica da PF. O primeiro passo nesta direção foi dado no ano 2000. AtĂ© ali, a PF era vista como uma organização repleta de policiais âchuta-portasâ e apodrecida pela corrupção. Nas esferas mais altas, a imagem era ainda pior. Chamavam-na de âapĂȘndiceâ das agĂȘncias policiais dos Estados Unidos. Ao final dos anos 1990, os carros e atĂ© a gasolina da estrutura da PF brasileira eram doaçÔes da AgĂȘncia Central de InteligĂȘncia (CIA). âO dinheiro Ă© o nosso, as regras sĂŁo nossasâ, chegou a declarar, em maio de 1999, o segundo da embaixada americana em BrasĂlia, James Derham. Se hĂĄ males que vĂȘm para bem, esse foi um caso. Enquanto Derham teve de voltar para os EUA, convocado por seu governo, aqui começou uma mexida na velha estrutura. O orçamento ganhou reforço. Saiu de R$ 100 milhĂ”es em 1999 para R$ 200 milhĂ”es no ano seguinte. As promoçÔes passaram a privilegiar competĂȘncia em lugar da antiguidade. Este ano, o orçamento da PF Ă© de R$ 600 milhĂ”es.
Numa palavra, a PF modernizou-se. Exemplo: a prisĂŁo nos Ășltimos dias dos assaltantes de banco começou a ser arquitetada hĂĄ mais de um ano. O ponto de partida foi prosaico. Na busca de pistas em torno do assalto de R$ 164,8 milhĂ”es
do Banco Central em Fortaleza, em agosto do ano passado, um dos agentes federais nĂŁo se esqueceu de colher, em meio Ă lama formada Ă volta do tĂșnel abandonado, um cartĂŁo usado de telefonia prĂ©-pago. Seu nĂșmero se desdobrou na seqĂŒĂȘncia de escutas monitoradas pelo GuardiĂŁo. Sem alarde, completando o trabalho de interceptação de mensagens com espionagem em campo, os federais conseguiram, 390 dias apĂłs a pescaria no barro, ouvir do bandido âTorturadoâ o elogio pela eficiĂȘncia da operação final. A cada dia, depois dessas prisĂ”es, a instituição passou a receber uma mĂ©dia de 100 e-mails de congratulaçÔes. Na parada militar da quinta-feira 7, em BrasĂlia, um pelotĂŁo da PF desfilou. Foi o momento mais aplaudido da cerimĂŽnia.
Hoje, 11 mil policiais federais se revezam em missĂ”es pelo PaĂs. TĂȘm o apoio de cinco helicĂłpteros, nove aviĂ”es, duas dezenas de embarcaçÔes e contadas 2.327 viaturas. Desde 2003, esse aparato realizou 119 mil operaçÔes. AtĂ© as 17 horas da quarta-feira 6, nada menos que 3.728 pessoas haviam sido presas pela PF nos Ășltimos trĂȘs anos. Ao contrĂĄrio dos serviços de informação dos Estados, que, atĂ© hoje, se sustentam na criminosa trĂade tortura, gansos â como os informantes sĂŁo chamados â e grampos ilegais, a PF age em parceria com juĂzes e com discrição crescente. A Federal tambĂ©m cortou na prĂłpria carne. Acusados de corrupção, mais de 60 integrantes da prĂłpria PF foram presos nos Ășltimos tempos. Outra demonstração de que a PF, realmente, busca dar as costas ao atraso Ă© que o quadro de servidores, de 9.289 em 2002, chegarĂĄ aos 15 mil no prĂłximo ano â quatro mil estĂŁo em treinamento. O cargo estĂĄ tĂŁo em alta que no Ășltimo concurso para agente 187 mil candidatos disputaram cinco mil vagas.
AçÔes incertas e segredos fazem parte do cotidiano desses policiais que muitas vezes nĂŁo sabem ao certo o que vĂŁo fazer. Antes das megaoperaçÔes â e foram
284 desse tipo nos Ășltimos trĂȘs anos â, os agentes secretos ficam em total concentração. Passam a noite juntos, confinados. SĂł sĂŁo avisados da tarefa em cima da hora. A partir daĂ, nĂŁo podem mais falar ao telefone. Nos Ășltimos meses,
trĂȘs agentes traĂram essa norma e acabaram presos. Normalmente, para cada
uma dessas operaçÔes, a polĂcia arregimenta agentes de norte a sul do Brasil. Quase sempre, os policiais dos Estados onde a missĂŁo acontecerĂĄ nĂŁo
participam. No mĂĄximo, servem de guias. Novamente, para evitar vazamentos e conflitos de interesse. A mobilização para reunir os policiais Ă© um trabalho Ă
parte. AviĂ”es da prĂłpria PF ou da AeronĂĄutica saem pelas capitais recolhendo os agentes escalados. Da origem ao destino, com tantas escalas, esses vĂŽos podem durar atĂ© 18 horas. A preparação dessas missĂ”es, porĂ©m, Ă© bem mais dinĂąmica. A depender do tamanho e da urgĂȘncia da operação, Ă© possĂvel, num curto espaço de tempo de duas horas, colocar em qualquer cidade do PaĂs um efetivo de 50 homens do destemido Comando de OperaçÔes TĂĄticas, o COT, o grupo de elite da PF, espĂ©cie de Swat brasileira.
Antes, as investigaçÔes ficavam restritas Ă burocracia da saleta do delegado e do escrivĂŁo. Os agentes saĂam Ă s ruas para cumprir diligĂȘncias; na volta entregavam as informaçÔes e o papelĂłrio era despachado, sem que fosse averiguado se aquele crime tinha relação com um outro investigado pelo delegado vizinho. Agora, a polĂcia cruza dados e mergulha mais fundo. Os bandos criminosos sĂŁo investigados como um todo atĂ© se chegar ao tubarĂŁo. SaĂram os âchuta-portasâ e entraram os âpapeleirosâ, como sĂŁo chamados os analistas de informĂĄtica.
A parafernĂĄlia de investigação de que a PF tem lançado mĂŁo ultimamente inclui equipamentos dignos de filmes de espionagem, como botĂ”es de camisa e telefones celulares que, na verdade, sĂŁo cĂąmeras e gravadores de ĂĄudio. Pequenos sensores que emitem sinais de GPS sĂŁo colocados em veĂculos de suspeitos. Isso permite acompanhar a localização dos alvos em tempo real. Em lugares considerados estratĂ©gicos hĂĄ microcĂąmeras funcionando 24 horas por dia. O monitoramento, remoto, pode ser feito de qualquer lugar do PaĂs. No ano passado, 60 policiais foram treinados para infiltraçÔes em quadrilhas, em trĂȘs cursos ministrados aqui por policiais da Alemanha, dos Estados Unidos e da Inglaterra. Nas operaçÔes CanaĂŁ e Overbox, realizadas hĂĄ um ano, ainda durante a fase de investigaçÔes, um policial foi plantado num grupo de agentes da prĂłpria PF e de servidores da Receita Federal, que haviam montado um balcĂŁo de negĂłcios no aeroporto de Guarulhos para vender vistos fraudados e facilitar o contrabando. Resultado: 50 prisĂ”es.
A Operação Anaconda, realizada em 2003, Ă© tida como um marco para o trabalho de inteligĂȘncia da polĂcia. âAtĂ© essa data muitos dos nossos eram sĂłcios do crime organizadoâ, conta um delegado paulista que pede o anonimato. Como entre os alvos estavam juĂzes, integrantes do MinistĂ©rio PĂșblico e tambĂ©m policiais, foi preciso se cercar de cuidados para que toda a investigação nĂŁo ruĂsse. O know-how abriu caminho para outras operaçÔes que, cada vez mais, incluĂram nomes de famosos e poderosos. Ă tambĂ©m o trabalho de inteligĂȘncia que permite aos policiais, muitas vezes, sair e voltar das operaçÔes sem dar um tiro sequer. Conhecendo o inimigo, suas rotinas e seu potencial de reação, fica mais fĂĄcil. Ă por isso que estĂĄ dando certo. O que falta Ă© essa modernização chegar ao Poder JudiciĂĄrio, repositĂĄrio do trabalho policial.
Fonte: Revista Istoé On Line
(Colaboração: A.M.B.)
PASSAGEM
Uma turista foi Ă cidade do Cairo, no Egito, com o objetivo de visitar um famoso sĂĄbio. A turista ficou surpresa ao ver que o sĂĄbio morava num quartinho muito simples e cheio de livros. As Ășnicas peças de mobĂlia eram: uma cama, uma mesa e um banco.
- Onde estĂŁo seus mĂłveis? - perguntou a turista.
E o såbio, bem depressa, perguntou também: - E onde estão os seus?
Os meus? surpreendeu-se a turista. Mas eu estou aqui sĂł de passagem!
Eu também! respondeu o såbio.
A VIDA NA TERRA Ă SOMENTE UMA PASSAGEM, NO ENTANTO, ALGUMAS PESSOAS VIVEM COMO SE FOSSEM FICAR AQUI ETERNAMENTE, E ESQUECEM DE SER FELIZ. "autor desconhecido"
O valor das coisas nĂŁo estĂĄ no tempo em que elas duram, mas na intensidade em que elas acontecem. Por isso existem momentos inesquecĂveis, coisas inexplicĂĄveis e pessoas incomparĂĄveis. (Fernando Pessoa).
(Colaboração: Viana/Serginho)
A VIAGEM
Dia desses, li um livro que comparava a vida a uma viagem de trem. Uma comparação extremamente interessante, quando bem interpretada. Interessante, porque nossa vida é como uma viagem de trem, cheia de embarques e desembarques, de pequenos acidentes pelo caminho, de surpresas agradåveis com alguns embarques e de tristezas com os desembarques...
Quando nascemos, ao embarcarmos nesse trem, encontramos duas pessoas que, acreditamos que farão conosco a viagem até o fim: nossos pais. Não é verdade. Infelizmente, em alguma estação, eles desembarcam, deixando-nos órfãos de seus carinho, proteção, amor e afeto. Mas isso não impede que, durante a viagem, embarquem pessoas interessantes que virão ser especiais para nós: nossos irmãos, amigos e amores.
Muitas pessoas tomam esse trem a passeio. Outras fazem a viagem experimentando somente tristezas. E no trem hå, também, outras que passam de vagão em vagão, prontas para ajudar quem precisa. Muitos descem e deixam saudades eternas. Outros tantos viajam no trem de tal forma que, quando desocupam seus assentos, ninguém sequer percebe.
Curioso Ă© considerar que alguns passageiros que nos sĂŁo tĂŁo caros acomodam-se em vagĂ”es diferentes do nosso. Isso nos obriga a fazer essa viagem separados deles. Mas isso nĂŁo nos impede de, com grande dificuldade, atravessarmos nosso vagĂŁo e chegarmos atĂ© eles. O difĂcil Ă© aceitarmos que nĂŁo podemos sentar ao seu lado, pois outra pessoa estarĂĄ ocupando esse lugar.
Essa viagem Ă© assim: cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, embarques e desembarques. Sabemos que esse trem jamais volta.
Façamos essa viagem da melhor maneira possĂvel, tentando manter um bom relacionamento com todos, procurando em cada um o que tem de melhor, lembrando sempre que, em algum momento do trajeto poderĂŁo fraquejar, e, provavelmente, precisaremos entender isso. NĂłs mesmos fraquejamos algumas vezes. E, certamente, alguĂ©m nos entenderĂĄ. O grande mistĂ©rio Ă© que nĂŁo sabemos em qual parada desceremos.
E fico pensando: quando eu descer desse trem sentirei saudades? Sim. Deixar meus filhos viajando sozinhos serĂĄ muito triste. Separar-me dos amigos que nele fiz, do amor da minha vida, serĂĄ para mim dolorido. Mas me agarro na esperança de que, em algum momento, estarei na estação principal, e terei a emoção de vĂȘ-los chegar com sua bagagem, que nĂŁo tinham quando embarcaram.
E o que me deixarĂĄ feliz Ă© saber que, de alguma forma, eu colaborei para que essa bagagem tenha crescido e se tornado valiosa.
Agora, nesse momento, o trem diminui sua velocidade para que embarquem e desembarquem pessoas. Minha expectativa aumenta, Ă medida que o trem vai diminuindo sua velocidade...
Quem entrarĂĄ? Quem sairĂĄ? Eu gostaria que vocĂȘ pensasse no desembarque do trem, nĂŁo sĂł como a representação da morte, mas, tambĂ©m, como o tĂ©rmino de uma histĂłria, de algo que duas ou mais pessoas construĂram e que, por um motivo Ănfimo, deixaram desmoronar.
Fico feliz em perceber que certas pessoas como nĂłs, tĂȘm a capacidade de reconstruir para recomeçar. Isso Ă© sinal de garra e de luta, Ă© saber viver, Ă© tirar o melhor de "todos os passageiros".
Agradeço muito por vocĂȘ fazer parte da minha viagem, e por mais que nossos assentos nĂŁo estejam lado a lado, com certeza, o vagĂŁo Ă© o mesmo.
(Colaboração: Simone)