DIREITO AO LUTO
21/03/2008 -
FAZENDO DIREITO
MANIFESTO ANTIGUERRA
English: http://www.dailymail.co.uk/pages/live/articles/news/worldnews.html?in_article_id=539229&in_page_id=1770&ito=1490
Estados Unidos - Manifestantes antiguerra vestem roupas pretas e pintam cara de branco durante protesto intitulado ÂżMarcha da MorteÂż, realizado nas proximidades de cemitĂ©rio em Arlington, Estado da VirgĂnia. O ato marca o quinto aniversĂĄrio da invasĂŁo do Iraque.
Fonte: Terra - 19/03/08.
NĂO APRENDEMOS COM A HISTĂRIA
Passados cinco anos, ainda nĂŁo aprendemos. Cinco anos de catĂĄstrofe no Iraque, e penso em Churchill, que no final classificou a Palestina como um "desastre infernal".
O Iraque estĂĄ se afogando em sangue. Hoje, estamos envolvidos em um debate infrutĂfero. O que houve de errado? Como permitimos que isso acontecesse? E como nĂŁo nos planejamos para o que viria depois? Quando os americanos chegaram ao Iraque, em 2003, eu estava em meu quarto imundo no hotel Palestine, em BagdĂĄ.
Havia levado comigo uma pasta com recortes de jornal, entre eles uma longa diatribe escrita por Pat Buchanan, e continuo deslumbrado diante da presciĂȘncia que o texto exibe: "Com nossa regĂȘncia MacArthur instalada em BagdĂĄ, a "pax americana" chegarĂĄ ao apogeu. Mas a marĂ© terminarĂĄ por recuar, pois a Ășnica empreitada em que os povos muçulmanos se destacam Ă© expelir potĂȘncias imperialistas por meio do terrorismo e da guerrilha".
"Eles expulsaram os britĂąnicos da Palestina, os franceses da ArgĂ©lia, os russos do AfeganistĂŁo, os norte-americanos da SomĂĄlia, os israelenses do LĂbano. A Ășnica lição que a histĂłria nos ensina Ă© que nada aprendemos com a histĂłria." Os homenzinhos que nos conduziram Ă guerra cinco anos atrĂĄs provam nĂŁo ter aprendido nada. Quando os britĂąnicos estavam em retirada por Dunquerque, Churchill anunciou que "os alemĂŁes conseguiram uma profunda penetração e estĂŁo espalhando o alarme e a confusĂŁo na esteira de seus avanços". Por que Bush ou Blair nĂŁo nos disseram coisa semelhante quando os insurgentes iraquianos começaram a atacar as forças de ocupação ocidentais? Bem, estavam ocupados demais nos dizendo que as coisas estavam melhorando e que os rebeldes estavam "em um beco sem saĂda".
NĂŁo hĂĄ um Ășnico lĂder ocidental moderno que tenha experiĂȘncia real em uma guerra real. Quando a invasĂŁo do Iraque começou, o mais proeminente dos oponentes europeus da guerra era Jacques Chirac, que combateu na ArgĂ©lia. Mas ele se foi. Como Colin Powell, veterano do VietnĂŁ, iludido pelo entĂŁo secretĂĄrio da Defesa Donald Rumsfeld e pelas mentiras da CIA a apoiar a invasĂŁo.
Os mais sanguinolentos dos estadistas norte-americanos, Bush, Cheney, Rumsfeld e Wolfowitz, jamais estiveram envolvidos em combates. O mesmo se aplica a Blair e Brown. Hoje, talvez nos seja permitida uma verdadeira sessĂŁo de contato com os fantasmas da Segunda Guerra Mundial. As estatĂsticas servem como mĂ©dium. O nĂșmero de baixas fatais norte-americanas no Iraque (3.978) supera em muito os 3.384 mortos e desaparecidos nos desembarques do Dia D, em 6 de junho de 1944, na Normandia, e Ă© trĂȘs vezes superior Ă s baixas britĂąnicas em Arnhem (1.200), no mesmo ano.
O nĂșmero de britĂąnicos mortos no Iraque, 176, quase equivale ao total de soldados britĂąnicos perdidos na Batalha do BolsĂŁo, em 44 e 45 (pouco mais de 200 mortos). O nĂșmero de feridos norte-americanos no Iraque, 29.395, supera em nove vezes o nĂșmero de feridos dos Estados Unidos em 6 de junho de 1944 (3.184), e representa mais de um quarto do total de feridos da Guerra da CorĂ©ia, de 50 a 53 (103.284).
Mesmo que aceitemos as mais baixas estimativas quanto ao nĂșmero de civis iraquianos mortos, elas variam entre 350 mil e 1 milhĂŁo e superam em muito o total de vĂtimas causadas em Londres pelos ataques alemĂŁes com bombas voadoras em 1944 e 1945 (6.000), bem como o total geral de civis britĂąnicos mortos em ataques aĂ©reos durante a guerra (60.595 mortos e 86.182 feridos graves entre 1940 e 1945).
O total de mortos civis iraquianos desde a nossa invasĂŁo Ă© hoje maior que o total de militares britĂąnicos mortos na Segunda Guerra Mundial, que atingiu espantosos 265 mil soldados, alĂ©m de 277 mil feridos. As estimativas mĂnimas quanto ao nĂșmero de iraquianos mortos significam seis ou sete Dresdens ou -ainda mais terrĂvel- duas Hiroshimas. No entanto, isso sĂł nos distrai da chocante verdade do anĂșncio de Buchanan. Enviamos nossos exĂ©rcitos Ă terra do Iraque. Se hoje existem cerca de 22 vezes mais soldados ocidentais em terras muçulmanas do que havia nas cruzadas dos sĂ©culos 11 e 12, Ă© lĂcito perguntar o que estamos fazendo lĂĄ.
Caso Washington nĂŁo tivesse se deixado distrair pelo Iraque, o Taleban nĂŁo teria se restabelecido. Mas a Al Qaeda e Osama bin Laden nĂŁo se deixaram distrair. E Ă© por isso que eles expandiram suas operaçÔes no Iraque e usaram a experiĂȘncia assim adquirida para atacar o Ocidente no AfeganistĂŁo. Vou arriscar um palpite terrĂvel: o de que tenhamos perdido o AfeganistĂŁo tĂŁo claramente como perdemos o Iraque.
Nossa presença, nosso poder, nossa arrogùncia, nossa recusa em aprender com a história e nosso terror contra o islã estão nos conduzindo ao abismo. E até que aprendamos a deixar em paz os povos muçulmanos, nossa catåstrofe no Oriente Médio apenas se agravarå.
NĂŁo existe conexĂŁo entre islĂŁ e terrorismo. Mas existe conexĂŁo entre nossa ocupação de terras muçulmanas e terrorismo. NĂŁo Ă© uma equação muito complicada. NĂŁo precisamos de um inquĂ©rito pĂșblico para encontrar a resposta correta.
Robert Fisk do "Independent" - Tradução de Paulo Migliacci - Fonte: Folha de S.Paulo - 21/03/08.
TURMA DE DIREITO
http://charges.uol.com.br/2008/01/18/cotidiano-muita-injustica/
Colação de grau - muito boa!
(Colaboração: Robert)
REFORMA PENAL E TOLERĂNCIA ZERO
O furto de um CD player de um carro, quebrando-se o vidro, tem a mesma pena mĂnima do peculato, que Ă© assalto aos cofres pĂșblicos.
HĂĄ anos, em Nova York, implementou-se o programa "TolerĂąncia Zero". Defende-se rigor com a pequena delinqĂŒĂȘncia visando obter a redução dos crimes violentos. No Brasil, hĂĄ quem defenda a "tolerĂąncia menor do que zero", como certo governador (Folha, 8/2).
Ele nĂŁo estĂĄ sozinho. Muitos juĂzes, com apoio de parte do MinistĂ©rio PĂșblico, vĂȘm inflando as cadeias (jĂĄ superlotadas) ao resistir Ă s penas alternativas, ao manter prisĂ”es em flagrante por furto de coisas insignificantes e ao decretar prisĂ”es provisĂłrias de acusados que, se condenados, terĂŁo direito a pena alternativa ou em regime aberto.
O resultado estĂĄ na mĂdia. Em Minas Gerais e SĂŁo Paulo, sĂŁo antigas as denĂșncias de cadeias que lembram o Holocausto. No ParĂĄ, o horror da adolescente presa com homens por tentativa de furto, estuprada por dias.
Em Santa Catarina, uma adolescente e uma mulher ficam por dias acorrentadas a postes de delegacia. Em MaceiĂł, acusado de furto de um queijo passa meses em cela desumana; outro, acorrentado (Folha, 24/2 e 10/2 deste ano, 25/11, 5/12 e 29/12/ 2007).
A maioria dos presos submetidos a essa situação Ă© de acusados por crimes contra a propriedade privada, ainda que praticados sem violĂȘncia.
Outra, de "mulas" do trĂĄfico, sendo raros os grandes traficantes presos. HĂĄ outras formas de violĂȘncia, contudo, que causam males mais graves Ă sociedade, as quais nĂŁo sĂŁo alcançadas pelo nosso sistema repressivo ou, quando o sĂŁo, encontram indisfarçåvel benevolĂȘncia.
Onde estĂŁo os arautos do discurso punitivo ao lembrarmos da violĂȘncia da nossa desigualdade social? Da violĂȘncia da total falta de perspectiva para jovens que estĂŁo a pedir esmolas?
Da violĂȘncia das filas na saĂșde pĂșblica e dos governos que nĂŁo priorizam transformar favelas sem esgoto em bairros dignos? Da violĂȘncia de gastar milhĂ”es para enviar um brasileiro ao espaço em vez de investir em educação? Da violĂȘncia do desvio de dinheiro pĂșblico em obras superfaturadas, sendo, por vezes, atĂ© reeleitos os polĂticos acusados da falcatrua?
Se o direito penal é um instrumento excepcional de proteção de bens como vida digna e liberdade para que todos possam encontrar condiçÔes igualitårias de desenvolvimento, não se pode conceber um sistema penal que priorize a proteção da propriedade privada, servindo à manutenção de um status quo altamente doentio não só em termos de desigualdade social, mas também de desigualdade punitiva.
Tamanha Ă© a proteção da propriedade privada em nosso CĂłdigo Penal que a pena mĂnima do roubo com arma de brinquedo Ă© igual Ă do homicĂdio privilegiado, e a do furto, a mesma da lesĂŁo corporal grave. E mais, o furto de um CD player de um carro, quebrando-se o vidro, tem a mesma pena mĂnima do crime de peculato, que Ă© assalto aos cofres pĂșblicos!
Afora essa absurda inversĂŁo de valores e o nosso vergonhoso sistema carcerĂĄrio, o sistema penal enfrenta outros problemas que tambĂ©m clamam por reformas. Lembramos apenas quatro. O primeiro que a todos perturba Ă© o da morosidade da Justiça, sendo grave o equĂvoco de um projeto do Senado que propĂ”e acabar com a prescrição, em vez de enfrentar a lentidĂŁo.
Se a Justiça jå é lerda, serå pior se não houver prescrição.
Igualmente, o foro privilegiado para deputados estaduais, federais e senadores, além de prefeitos, governadores, ministros etc., que gera gritante impunidade. Afinal, todos deveriam ser iguais perante a lei.
Envergonha o Brasil, tambĂ©m, a tortura e o abuso de prisĂ”es temporĂĄrias para obter confissĂ”es. Quando um juiz admite a utilização de uma confissĂŁo policial para condenar, "desde que corroborada por outras provas", estimula-se, indiretamente, a busca pela confissĂŁo a qualquer custo. Puro resquĂcio ditatorial.
A pouca proteção a testemunhas é também fator que gera enorme entrave à busca da verdade.
A mais urgente reforma, contudo, Ă© a da mentalidade das autoridades, a fim de que se evite essa irracional "tolerĂąncia menor do que zero" para crimes menos graves, acompanhada de hipĂłcrita benevolĂȘncia com outras formas de violĂȘncia que geram males muito maiores Ă sociedade.
Vivenciamos o absurdo. De um lado, as desumanas prisĂ”es tornando as pessoas piores, presas do crime organizado; de outro, a impunidade dos que desviam recursos pĂșblicos, que gera mais desigualdade social, mais injustiça, mais violĂȘncia.
Chegamos à triste constatação de que o atual sistema punitivo, em vez de combater o crime, estå gerando mais criminalidade. O pior é acreditar no sistema sem enxergar o óbvio: estamos enxugando gelo.
Roberto Delmanto Junior, 39, mestre e doutor em direito pela USP, Ă© advogado criminalista. Ă co-autor do livro "CĂłdigo Penal Comentado", entre outras obras. Fonte: Folha de S.Paulo - 19/03/08.
LIVROS JURĂDICOS
Vivendo Plenamente a Lei
ZENON BANKOWSKI
Editora: Campus-Elsevier; Quanto: R$ 79 (328 pĂĄgs.)
Bankowski, professor da Faculdade de Direito de Edimburgo, oferece conclusĂŁo em cada capĂtulo, sistematizando o desenvolvimento dos enunciados. Integra a coleção "Teoria e Filosofia do Direito", dirigida por Ronaldo P. Macedo Jr. ClĂĄudio Michelon Jr. fez a revisĂŁo tĂ©cnica da tradução e o prefĂĄcio da edição brasileira.
Neste, trata do "viver de modo pleno e satisfatĂłrio sob o direito e sob a lei", tema do sexto capĂtulo. Bankowski reconhece que o direito restringe a vontade arbitrĂĄria, pois a democracia busca fazer mais do que apenas limitar e controlar. Em uma coda refere o medo da esperança, ao dar resposta Ă pergunta: "Por que ir alĂ©m?". A tradução Ă© de Lucas D. Bortolozzo, Luiz R. R. Rieffel e Arthur M. Ferreira Neto.
ReflexÔes sobre o Direito à Propriedade
DENIS LERRER ROSENFIELD
Editora: Campus-Elsevier (0/xx/21/ 3970-9300); Quanto: R$ 39 (224 pĂĄgs.)
Assim como a obra de Bankowski, este trabalho de Rosenfield se situa na Ăłrbita da filosofia do direito.
CompĂ”e dicotomias: democracia e democracia totalitĂĄria, propriedade e privilĂ©gio, repĂșblica de proprietĂĄrios, liberdade e igualdade (na qual dĂĄ atenção ao estado de direito), estado burocrĂĄtico-distribuidor, atĂ© evoluir de Rousseau a Marx, em "A tradição socialista". No capĂtulo denominado "Ă guisa de conclusĂŁo" compĂ”e cinco pĂĄginas nas quais reconhece, em sociedades que tudo questionaram, as que se defrontaram com o problema da busca da condição humana. Para terminar, lembra: "A liberdade nĂŁo pode ser sufocada, sob pena de o homem ser escravizado". Ă a sĂșmula da reflexĂŁo justa.
Direito Penal Aplicado
PEDRO F.DE CAMPOS, LUIS M. M. THEODORO, FĂBIO R. BECHARA E ANDRĂ ESTEFAM
Editora: Saraiva (0/xx/11/3613-3344); Quanto: R$ 99 (502 pĂĄgs.)
Obra de definido perfil pedagógico, då atenção minudente à parte especial do Código Penal.
Patentes FarmacĂȘuticas e Acesso a Medicamentos
PATRĂCIA LUCIANE DE CARVALHO
Editora: Atlas (0/xx/11/3357-9144); Quanto: R$ 48 (216 pĂĄgs.)
Pesquisa cuidadosa em dissertação de mestrado (PUC-PR) é leitura essencial para distinguir patente e acesso.
LiçÔes de Direito Constitucional
OBRA COLETIVA
Edit.: Millennium (0/xx/19/3274-1878); Quanto: R$ 39 (224 pĂĄgs.)
Sergio Resende de Barros Ă© homenageado pelos coordenadores Hamilton F. Castardo, Gustavo F. D. Canavezzi e George A. Niaradi e dez autores.
Notas JurĂdicas sobre o ProntuĂĄrio do Paciente
JOSENIR TEIXEIRA
Editora: GT (0/xx/11/4227-5188); Quanto: R$ 35 (168 pĂĄgs.)
Notas pråticas percorrem o direito, esclarecendo o espaço relevante da profissão médica.
O Comércio Internacional
WELBER BARRAL
Editora: Del Rey (0/xx/11/3101-9775); Quanto: R$ 28 (168 pĂĄgs.)
Na coleção "Para entender", coordenada por Leonardo N. Caldeira Brant, estĂŁo os dados bĂĄsicos do tĂtulo.
Execução Provisória Trabalhista depois da Reforma do CPC
ANTĂNIO ĂLVARES DA SILVA
Editora: LTr; Quanto: R$ 30 (144 pĂĄgs.)
O texto transpÔe elementos do novo processo civil para leis trabalhistas e relaçÔes laborais.
A Responsabilidade Civil dos NotĂĄrios e dos Registradores
HENRIQUE BOLZANI
Editora: LTr (0/xx/11/3826-2788); Quanto: R$ 35 (128 pĂĄgs.)
Em monografia em pós-graduação, Bolzani då enfoque teórico e pråtico ao tema da responsabilidade dos agentes mencionados.
Direito dos Contratos
ANDRĂ L. M. AZEVEDO SETTE
Editora: Mandamentos (0/xx/31/3213-2777); Quanto: R$ 35 (166 pĂĄgs.)
O texto dos princĂpios fundamentais do direito contratual vem sob a Ăłtica do CĂłdigo Civil atual.
Fonte: Folha de S.Paulo - 22/03/08.
NĂŁo deixem de enviar suas mensagens atravĂ©s do âFale Conoscoâ do site.
http://www.faculdademental.com.br/fale.php