FALANDO EM SUSTENTABILIDADE
21/06/2012 -
FALOU NO FM? TĂ FALADO!
IRI â ĂNDICE DE RIQUEZA INCLUSIVA
English:
http://www.sciencedaily.com/releases/2012/06/120617142546.htm
Site:
http://www.ihdp.unu.edu/article/iwr
ONU cria outra forma de medir riqueza. EspĂ©cie de 'PIB verde', mĂ©trica inclui uso dos recursos naturais no cĂĄlculo do crescimento econĂŽmico dos paĂses. Brasil ocupa 5ÂȘ posição no IRI (Ăndice de Riqueza Inclusiva); Ăndice compara 20 paĂses em 18 anos.
A ONU lançou na Rio+20 uma nova forma para avaliar o desempenho econĂŽmico dos paĂses. A diferença para os Ăndices existentes, como PIB (Produto Interno Bruto) e IDH (Ăndice de Desenvolvimento Humano) Ă© que nesse os recursos naturais entram na conta.
A mĂ©trica, batizada de IRI (Ăndice de Riqueza Inclusiva), inclui, no cĂĄlculo do crescimento econĂŽmico dos paĂses, recursos como ĂĄreas agrĂcolas, florestas, combustĂveis fĂłsseis e reservas minerais.
Eles compÔem o indicador de recursos naturais, um dos quatro analisados pelo IRI (veja infogråfico).
O objetivo, dizem os criadores da fĂłrmula, Ă© analisar o desempenho da economia e abater da conta a quantidade de patrimĂŽnio natural que os paĂses perdem, Ă medida que o PIB cresce.
"HĂĄ paĂses que tiveram um crescimento recente do PIB explorando seus recursos naturais. Mas essas fontes sĂŁo esgotĂĄveis", explica Anantha Duraiappah, diretor executivo do Programa Internacional de DimensĂ”es Humanas da Universidade das NaçÔes Unidas, que criou o Ăndice.
A equipe da ONU analisou, no perĂodo de 1990 a 2008, o desempenho do IRI em 20 paĂses dos cinco continentes - incluindo o Brasil. Esses paĂses somam 56% da população e 72% do PIB mundial.
POSIĂĂO BRASILEIRA
O Brasil estĂĄ em 5Âș lugar na mĂ©dia de crescimento do IRI per capita no perĂodo avaliado (com crescimento de 0,9%), empatado com JapĂŁo, Reino Unido e Ăndia. Trocando em miĂșdos: o Brasil obteve o 5Âș melhor crescimento econĂŽmico com sustentabilidade no perĂodo.
Mas isso nĂŁo Ă© exatamente uma boa notĂcia. De acordo com a ONU, o Brasil perdeu 25% dos seus recursos naturais de 1990 a 2008. Isso significa que o IRI do Brasil pode cair no futuro.
Dos 20 paĂses, 14 estĂŁo crescendo no IRI, ou seja, estĂŁo conseguindo progredir ao mesmo tempo em que preservam suas riquezas naturais.
O melhor Ăndice foi o da China, com 2,1% de crescimento no perĂodo. JĂĄ a NigĂ©ria, paĂs com pior desempenho, teve uma queda de 1,8%, mas seu PIB per capita aumentou de 2,5% no mesmo recorte temporal.
"Isso mostra que analisar o PIB per capita nĂŁo Ă© suficiente para avaliar se a economia de um paĂs Ă© sustentĂĄvel", explica Duraiappah.
COMPETIĂĂO
A ideia do IRI, dizem seus criadores, nĂŁo Ă© "concorrer" com o PIB ou com o IDH, mas sim possibilitar novas formas para analisar o desempenho dos paĂses, principalmente a longo prazo.
"SĂŁo mĂ©tricas complementares", afirmou Pablo Muñoz, diretor cientĂfico do UNU-IHDP. O indicador Ă© uma resposta da ONU Ă s crĂticas de que o PIB, principal mĂ©trica econĂŽmica vigente, estĂĄ desatualizado. "O PIB Ă© um pouco defasado, pois foi criado no pĂłs-guerra, em outro contexto histĂłrico", disse.
O IRI nĂŁo concorre com alternativas como o FIB (Felicidade Interna Bruta), adotado no ButĂŁo, que considera o bem-estar das pessoas. "O FIB avalia as pessoas e nĂŁo a situação macroeconĂŽmica do paĂs. SĂŁo objetivos diferentes", diz Duraiappah.
Sabine Righetti â Fonte: Folha de S.Paulo â 18/06/12.
O site:
http://www.ihdp.unu.edu/article/iwr
O relatĂłrio:
http://www.ihdp.unu.edu/file/download/9927.pdf
MENSAGENS DE NOSSOS LEITORES E COLABORADORES
RIO+20: Ă ODA
O idioma praticado na ONU é feito de siglas misteriosas, expressÔes gigantescas e palavras inventadas.
Se vocĂȘ estiver numa das salas geladas do Riocentro onde o documento final da Rio+20 estĂĄ sendo negociado, lembre-se de nunca dizer "economia verde".
Diga "economia verde no contexto do desenvolvimento sustentåvel e da erradicação da pobreza", mesmo se a repetição da frase inteira retardar ainda mais a redação final do texto.
A expressĂŁo foi acordada pelos 193 integrantes das NaçÔes Unidas no inĂcio de um processo negociador em que todas as decisĂ”es tĂȘm que ser adotadas por consenso.
Ă esse ajuste para chegar ao mĂnimo denominador comum de interesses que vĂŁo dos da continental RĂșssia aos do insular Tuvalu, do paupĂ©rrimo Mali Ă ultra desenvolvida Noruega, que explica a lerdeza da negociação. Ambiciosamente chamado de "O Futuro que NĂłs Queremos", o texto da Rio+20 jĂĄ recebeu o apelido de "o passado que sempre tivemos".
A demora Ă© uma dos traços definidores da ONU, onde sĂł no Conselho de Segurança as decisĂ”es sĂŁo tomadas pelo voto da maioria (e cinco potĂȘncias tĂȘm poder de veto).
Os outros dois traços são a linguagem bizantina falada pelos negociadores, cheia de siglas e neologismos, e os colchetes, sinal gråfico que denota desacordo num texto.
Dentro de cada colchete, em negrito, Ă© identificado o paĂs ou o grupo de paĂses que sugeriu a frase ou a palavra em questĂŁo e qual era a posição dos demais: "manter", "apagar" ou "voltar Ă redação original".
Sentar-se em uma das salas de negociação para ver como os diplomatas semeiam e colhem colchetes Ă© tanto uma aula de geopolĂtica quanto um exercĂcio de paciĂȘncia.
Anteontem, por exemplo, o grupo que negociava o chamado quadro institucional para o desenvolvimento sustentåvel (IFSD) abriu a sessão às 10h30 da manhã com sua presidente avisando que ninguém teria almoço naquele dia e que o texto precisava ser "limpo" de colchetes.
Iniciou-se uma discussĂŁo sobre um dos parĂĄgrafos. A SuĂça, num gesto de boa vontade, resolveu derrubar uma objeção que fizera na vĂ©spera. Um colchete a menos. Antes que alguĂ©m pudesse comemorar, os EUA acrescentaram mais duas mudanças na redação. Em retaliação, a UniĂŁo Europeia acrescentou mais uma: sugeriu trocar "Pnuma" (Programa das NaçÔes Unidas para o Meio Ambiente) por "corpo principal da ONU para o ambiente", refletindo sua posição de querer transformar o Pnuma numa nova agĂȘncia.
RĂșssia, CanadĂĄ e EUA objetaram. E, assim, em meia hora de debate sobre um Ășnico tĂłpico, saiu um colchete e entraram quatro.
Para entender como os negociadores no Riocentro definem o futuro da humanidade, nĂŁo basta entender as cinco lĂnguas oficiais das NaçÔes Unidas: Ă© preciso ser versado na novilĂngua da diplomacia ambiental, o legado mais tĂłxico da Eco-92.
Assim, o Juscanz afirma ao G-77 que nĂŁo quer saber de dar dinheiro para o MOI porque afinal jĂĄ contribui com ODA, que vai quase toda para os LDCs.
O G-77, por sua vez, alega as CBDR e reclama dos SCP.
Não entendeu? Pois saiba que os dois parågrafos acima tratam da discussão mais quente da Rio+20: a dos chamados "meios de implementação" (MOI), que querem dizer simplesmente "dinheiro".
Essa discussĂŁo passa pelo compromisso de paĂses ricos, como os do Juscanz (JapĂŁo, EUA, CanadĂĄ, AustrĂĄlia e Nova ZelĂąndia), de aumentar a assistĂȘncia ao desenvolvimento (ODA), que vai para os paĂses mais pobres (LDCs). A promessa, feita em 1992, nunca foi cumprida.
Para os paĂses em desenvolvimento (G-77), a questĂŁo do dinheiro estĂĄ diretamente atrelada ao CBDR, o princĂpio das "responsabilidades comuns, mas diferenciadas". Assumido em 1992, ele joga a conta do desenvolvimento sustentĂĄvel para os mais ricos. Afinal, se esses tivessem padrĂ”es sustentĂĄveis de produção e consumo (SCP), o mundo nĂŁo estaria numa emergĂȘncia ambiental.
Com um processo tĂŁo barroco, a expressĂŁo mĂĄgica "agreed ad ref" (acordado por todos) torna-se rara.
Ăs vezes, por mais que a ONU se ufane de sua natureza "democrĂĄtica", sĂł com pequenos golpes Ă© possĂvel destravar uma reuniĂŁo do porte da Rio+20.
Na conferĂȘncia de Kyoto, em 1997, o embaixador argentino RaĂșl Estrada se preparava para declarar fechado o acordo do clima quando o delegado da ArĂĄbia Saudita levantou a mĂŁo, furioso, gritando que nĂŁo havia consenso. "Consenso nĂŁo significa unanimidade", sentenciou Estrada. E bateu o martelo.
Claudio Angelo / Claudia Antunes â Fonte: Folha de S.Paulo â 17/06/12.
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