DIREITO AO CONHECIMENTO
06/01/2012 -
FAZENDO DIREITO
A "ENCYCLOPEDIA IRANICA"
English:
http://www.nytimes.com/2011/08/13/books/ehsan-yarshaters-encyclopedia-of-iranian-history.html
Ehsan Yarshater diz que obra vai servir como a fonte mais completa de informaçÔes sobre o paĂs.
Iraniano escreve enciclopédia hå 38 anos e quer bom sucessor.
Meta do autor Ă© encontrar a melhor pessoa para falar de cada assunto.
Ralph Ellison escreveu durante 40 anos e nunca terminou seu romance. Antoni GaudĂ trabalhou por 43 anos na BasĂlica da Sagrada FamĂlia em Barcelona, na Espanha, e a construção ainda continua. Nos livros sagrados das grandes sagas, Ehsan Yarshater tambĂ©m merece um capĂtulo proeminente.
Aos 53 anos, ele embarcou em seu "magnus opus", uma enciclopédia definitiva da história e da cultura do Irã. Aos 75, ele começou a procurar um sucessor. Como não encontrou alguém capaz de continuar o serviço, preferiu permanecer no cargo. Hoje, com 91 anos, chegou na letra K da ordem alfabética.
Ele sabe que nĂŁo serĂĄ capaz de completar a tarefa pessoalmente, principalmente porque o conhecimento continua expandindo, na medida em que o progresso se desenrola.
HĂĄ assuntos que precisam ser acrescentados, e temas que precisam ser atualizados. Por isso, Yarshater tem tentado garantir que seu trabalho serĂĄ continuado apĂłs sua morte. Acabou estabelecendo uma fundação privada que jĂĄ recebeu 12 milhĂ”es em doaçÔes e, finalmente, conseguiu escolher trĂȘs acadĂȘmicos para se encarregarem de substitui-lo no posto de editor geral.
A ambição cuidadosamente tecida de Yarshater Ă© impressionante. Com dinheiro do Instituto Nacional de doaçÔes a Humanidades, nos Estados Unidos, ele trabalhou para criar a coleção mais inteligĂvel e mais completa de milhares de anos da histĂłria iraniana, da lĂngua e da cultura no Oriente MĂ©dio, do subcontinente Indiano e na Ăsia central.
"Não hå nada sequer parecido com esse material em termos de qualidade", afirma Ali Banuazizi, professor da Boston College e ex- presidente da Associação de Estudos do Oriente Médio da América do Norte.
Diferentemente de uma enciclopédia convencional, que brevemente resume o conhecimento existente, o trabalho de Yarshater, chamado "Encyclopedia Iranica", estå produzindo conhecimento, em vez de simplesmente resumi-lo.
"A maioria dos artigos requer muita pesquisa", afirma Banuazizi, porque são assuntos que ninguém ainda chegou a estudar profundamente.
Yarshater elevou o valor das apostas. "Nossa meta Ă© encontrar a melhor pessoa no mundo para falar de cada tema", disse. Por isso, o pesquisador jĂĄ busca, hĂĄ dois anos, uma pessoa que possa falar sobre Sirjan e Rafsanjan, distritos que ficam ao sul do IrĂŁ.
O professor nĂŁo visita o IrĂŁ hĂĄ 32 anos, desde que o AiatolĂĄ Khomeini depĂŽs o XĂĄ do IrĂŁ e estabeleceu a repĂșblica IslĂąmica em 1979. "A imparcialidade da enciclopĂ©dia nĂŁo agrada o atual governo persa", conta o professor, com a voz bem baixinha, quase em um suspiro.
Um tremor que gera certo incÎmodo e que se manifestou em suas mãos hå alguns anos agora se espalhou para os joelhos e as cordas vocais, deixando seus movimentos mais lentos e forçando-o a aceitar um assistente de pesquisa. Fora isso, ele se sente saudåvel. "Meu sistema imunológico estå ótimo", comenta.
12 HORAS: JORNADAS DE ESTUDO SĂO LONGAS
Durante anos, a rotina do professor Ehsan Yarshater foi de longas horas de trabalho, voltando para casa somente quando sua esposa andava até o Centro de Pesquisas Iranianas para buscå-lo. "Não sei quantas esposas poderiam tolerar esse comportamento", comenta, apreciando a esposa. Ela faleceu em 1999.
Yarshater espera que as outras pessoas disponham do mesmo entusiasmo que ele pelo trabalho. O professor levou 17 anos para escolher seus substitutos, rejeitando um acadĂȘmico ao concluir que o homem estava "muito mais preocupado com quantos feriados ele teria no ano e quantas horas teria que trabalhar do que com o trabalho em si".
Atualmente, o acadĂȘmico trabalha apenas atĂ© as 21h, ficando longas horas no escritĂłrio apĂłs todas as demais luzes jĂĄ terem sido apagadas. Quando volta para a casa, se envolve com seu mais novo hobby, aprender a lĂngua russa.
Conhecido por uma sĂ©rie de conquistas, foi o editor geral de uma tradução de 40 volumes do "Al-Tabari HistĂłria do Mundo do DĂ©cimo SĂ©culo", editor de livros da Universidade de Cambridge sobre a histĂłria do IrĂŁ, e editor- fundador de uma coleção clĂĄssica sobre a lĂngua persa e a sua histĂłria.
Em meados da dĂ©cada de 90, ele se preocupava com o fato de que a poesia persa â segundo ele, a maior contribuição persa Ă literatura mundial â estava sendo ignorada. EntĂŁo, iniciou um projeto de 20 volumes de literatura persa. "Foi assim que descobri minha doença ", brinca o professor. "Sempre que algo nĂŁo estĂĄ sendo feito, tenho a sensação de que devo começar a fazĂȘ-lo", explica o acadĂȘmico.
Carreira de projetos pioneiros
Nova York. Os 1.480 colaboradores ao redor do mundo, que, atĂ© hoje, jĂĄ construĂram 6.500 tĂłpicos da enciclopĂ©dia, conhecem muito bem a implacabilidade de Yarshater.
AtĂ© recentemente, ele meticulosamente conferia e revisava todos os tĂłpicos. Como a enciclopĂ©dia Ă©, primeiramente, uma ferramenta acadĂȘmica, todos os faros precisam ter vĂĄrias fontes.
Antes de Yarshater embarcar na jornada de elaboração da enciclopĂ©dia, viajou pelo IrĂŁ, estudando dialetos obscuros, e escreveu um trabalho inovador em linguĂstica. Na dĂ©cada de 50, levou literaturas clĂĄssicas do ocidente a comunidades remotas, estabelecendo um instituto de publicaçÔes no IrĂŁ.
Em 1961, Yarshater foi nomeado professor titular de estudos Iranianos na Universidade de ColĂșmbia - o primeiro professor titular de Persa em uma universidade norte-americana, desde a Segunda Guerra Mundial.
Traduzido por Luiza Andrade. Patricia Cohen - The New York Times - Fonte: O Tempo - 02/01/12.
Reportagem original em inglĂȘs:
http://www.nytimes.com/2011/08/13/books/ehsan-yarshaters-encyclopedia-of-iranian-history.html
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