UNIVERSIDADE DE BABĂS
03/06/2010 -
MARILENE CAROLINA
NORLAND COLLEGE
English:
http://www.norland.co.uk/
Os cabelos sĂŁo impecavelmente presos, e o uniforme marrom-claro ganha luvas e chapĂ©u quando vai Ă rua. Os rostos sĂŁo corados, os olhares atentos, os gestos comedidos e os sorrisos generosos. Todas tĂȘm 18 ou 19 anos. E todas desembolsaram 25 mil libras esterlinas (R$ 66 mil) pelo sonho de ser babĂĄ.
NĂŁo Ă© pouco dinheiro para um curso de dois anos -nem no Reino Unido, onde o Norland College foi criado em 1892.
A Universidade de Cambridge, que tem 801 anos e Ă© uma das mais prestigiadas do mundo, cobra 3.290 libras de anuidade, "como 99% das universidades britĂąnicas", segundo seu site (estrangeiros pagam ali em torno de 10 mil libras ao ano). A PUC-SP cobra pelo ano do curso de pedagogia R$ 10.284.
"Sempre soube que queria trabalhar com crianças", diz uma animada Rebecca Esposto, 18. "Descobri que esse lugar existia quando eu tinha uns 10, 11 anos, e fiz tudo na escola jå focando o cuidado infantil."
O Norland atrai alunas (a instituição formou apenas um homem atĂ© hoje) assim: entrou para o imaginĂĄrio local com a reputação de educar as melhores babĂĄs do Reino Unido. E sĂŁo britĂąnicas as grandes babĂĄs do cinema e da literatura, o que dĂĄ a medida da obsessĂŁo do paĂs pelas colegas de Mary Poppins.
Seu bacharelado, embora envolva tambĂ©m atividades como trocas de fraldas, tem carga acadĂȘmica e Ă© validado pela Universidade de Gloucestershire como Estudos da Primeira InfĂąncia.
Foram parar nos braços de meninas formadas ali bebĂȘs reais e rebentos de gente como o roqueiro Mick Jagger e o tenista Roger Federer.
O colĂ©gio, que tem uma agĂȘncia de empregos para suas formandas, nĂŁo revela quem sĂŁo seus clientes. Mas nĂŁo nega a lista estrelada: "Ă claro que as alunas estĂŁo em lugares altos".
PELO MUNDO
Uma babĂĄ do Norland pode ganhar entre 400 e 600 libras por semana em inĂcio de carreira, o que equivale a um salĂĄrio de atĂ© R$ 6.300.
Mas nĂŁo Ă© o dinheiro que atrai essas meninas, a maioria das quais bem educadas em famĂlias de classe mĂ©dia que se desdobram para pagar as anuidades. Ă a possibilidade de rodar o mundo.
Em uma rodinha, Emily Rose, Lucy Leaning, Katy King, 19, e Stephanie Reading, 18, sĂŁo unĂąnimes no que as levou para lĂĄ.
"Quero viajar muito", afirma Emily, cujo interesse pela profissão cresceu quando ela cuidava do irmão mais novo, autista. "E também penso em abrir um berçårio. Quero me especializar em crianças que precisem de atenção especial", diz ela.
A ruiva miĂșda e falante Ă© a mais empreendedora da turma. Suas colegas se contentam apenas com a primeira parte do objetivo, as viagens. Katy quer ser enfermeira de recĂ©m-nascidos, mas reclama da carga excessiva de estudos para tanto.
A perspectiva de empregabilidade, mesmo na crise, Ă© alta. Rebekah Frankcom, encarregada da agĂȘncia de empregos e relaçÔes-pĂșblicas do Norland, diz que a procura pelas supernannies nĂŁo mudou nem com o retrocesso de mais de 3% do Produto Interno Bruto britĂąnico.
"NĂŁo Ă© tĂŁo caro quanto parece. Eu que sou mĂŁe de gĂȘmeos, se precisar mandar os dois para a creche, provavelmente gastarei mais do que se contratar alguĂ©m em casa", afirma. A busca pelo colĂ©gio tampouco caiu. As turmas continuam cheias, com 40 a 45 alunas.
Ă MODA ANTIGA
O tom retrĂŽ do Norland nĂŁo se limita ao visual das meninas, que se divertem com a singularidade e o respeito que os uniformes lhes conferem.
O colĂ©gio hoje instalado em uma casa ampla erguida pelo duque de York na cidade histĂłrica de Bath (a 180 km de Londres) exibe em seu salĂŁo central cartas de nobres -inclusive uma da rainha Maria, mulher do rei George 5Âș (1865-1936)- endossando o trabalho de suas formandas.
E se vangloria de ensinå-las a usar com as crianças técnicas antigas. Nada de eletrÎnicos, TVs e videogames. Em uma das salas, a reportagem encontrou um livro de tecido trabalhosamente confeccionado por uma das alunas. Em outro canto, um tapete de jogos.
As babĂĄs ali sĂŁo treinadas para estimular a imaginação da criança, com fantoches, brincadeiras ao ar livre e teatrinhos, por exemplo. Aprendem desde tĂ©cnicas pedagĂłgicas atĂ© noçÔes de saĂșde infantil, recebendo o preparo bĂĄsico de uma enfermeira.
Mas elas tambĂ©m fazem aulas prĂĄticas -de cada duas semanas, uma Ă© passada dentro da sala de aula, e a outra em creches, enfermarias, casas de famĂlia ou escolinhas- e muitas vezes focam obviedades.
A aula acompanhada pela Folha, sobre acidentes domésticos, limitava-se a listar locais da casa onde as crianças correm risco.
As babĂĄs aprendem a cozinhar para os bebĂȘs e as crianças e a estar sempre muito presentes e muito prĂłximas. Por isso, talvez, o que elas tenham em comum seja uma quase devoção.
Em um berçårio onde bonecas fazem as vezes dos bebĂȘs para que se ensine a manejar, por exemplo, casos de morte sĂșbita do recĂ©m-nascido, duas alunas instadas pela reportagem a mostrar o que aprendem ali pegam os brinquedos nos braços, fazem contato visual e falam com ele mesmo sem saber que estĂŁo sendo observadas pela professora.
"O mais difĂcil", diz em outra sala Lisa Arnold, 19, "Ă© explicar aos amigos porque escolhemos vir para cĂĄ", diz. "Muita gente acha que Ă© algo que se aprende tentando. Mas sĂŁo, sim, precisos dois anos para vocĂȘ entender todo o processo pelo qual passa a criança e poder apoiĂĄ-la de fato no inĂcio da vida."
Luciana Coelho - Fonte: Folha de S.Paulo - 30/05/10.
O site:
http://www.norland.co.uk/
PLANTĂO MĂDICO - OS TURISTAS DA SAĂDE
No dia 18 de junho, a Associação Paulista de Medicina promove o 1Âș FĂłrum de DiscussĂŁo de "Medical Travel".
Em agosto, também em São Paulo, acontece a "Medical Travel Meeting Brazil" (http://medicaltravelmeetingbrazil.com/pt/index.html), organizada por uma empresa brasileira especializada em turismo médico.
Os turistas da saĂșde sĂŁo pacientes que viajam para fazer tratamento mĂ©dico.
Antigamente, pela excelĂȘncia da atenção mĂ©dica, os Estados Unidos eram procurados para a resolução de doenças clĂnicas e cirĂșrgicas.
Hoje, excelĂȘncia Ă© encontrada em muitos paĂses. Brasil inclusive, o que o transforma em destino desse turismo.
Dentro disso, levam-se em conta nĂŁo sĂł os bons resultados dos tratamentos, mas os custos menores para pacientes e convĂȘnios do exterior.
JĂĄ sĂŁo consideradas alternativas internacionais para o "medical travel" ao Brasil as ĂĄreas da cirurgia cardĂaca e da cirurgia plĂĄstica.
A vinda de pacientes, entretanto, envolve questÔes éticas e problemas técnicos que serão abordados nas reuniÔes de junho e de agosto.
Entre eles, eventuais problemas no pĂłs-operatĂłrio.
Podem surgir dificuldades para encontrar um cirurgião que cuide das complicaçÔes de uma operação realizada por outro médico no exterior.
Julio Abramczyk - Fonte: Folha de S.Paulo - 30/05/10.
SAĂDE PARA O BRASIL
Completadas duas dĂ©cadas do Sistema Ănico de SaĂșde (SUS), criado pela Constituição de 1988, o Brasil ainda estĂĄ longe de dar resposta adequada ao problema.
Hå progressos evidentes, como a queda de 60% na mortalidade infantil, de 47,1 para 19,3 óbitos até 1 ano de idade por mil nascidos vivos. Prosseguem as filas e humilhaçÔes, contudo, para um quarto da população brasileira, que depende exclusivamente do SUS para ter acesso a tratamentos.
O paĂs gasta pouco e mal com saĂșde. A despesa nacional estĂĄ em torno de R$ 250 bilhĂ”es anuais, dos quais cerca de 60% sĂŁo desembolsados pelo setor privado (famĂlias e empresas). O restante -menos de R$ 100 bilhĂ”es- fica com o setor pĂșblico (UniĂŁo, Estados e municĂpios).
O dispĂȘndio representa algo entre 7,5% e 8% do PIB, menos que a mĂ©dia mundial de 8,7%. O Reino Unido, nação desenvolvida com serviço de saĂșde universal como o SUS, investe 8,5% do PIB, mas 85% da despesa Ă© estatal.
A exemplo das metas adotadas para a educação, que abocanha 13% dos orçamentos estatais, a saĂșde, com 12% da despesa pĂșblica, deveria adotar objetivos precisos e mensurĂĄveis para uma data simbĂłlica como o ano 2022, bicentenĂĄrio da IndependĂȘncia. Esta Folha toma aqui a iniciativa de propor oito metas para discussĂŁo.
Entre especialistas em saĂșde pĂșblica de variados matizes ideolĂłgicos, Ă© consensual a ideia de aumentar o gasto e tambĂ©m a parcela despendida pelo Estado.
Os prĂ©-candidatos Ă PresidĂȘncia da RepĂșblica Dilma Rousseff (PT) e JosĂ© Serra (PSDB) convergem na identificação da prioridade imediata: regulamentar a emenda constitucional nÂș 29, que fixa percentuais mĂnimos de gastos com saĂșde. Assumiram o compromisso na quinta-feira, em debate no Rio Grande do Sul.
A regulamentação Ă© indispensĂĄvel para tapar as brechas empregadas por Estados e municĂpios para descumprir os percentuais de 12% e 15%, respectivamente. Definido em lei o que pode ser considerado despesa com saĂșde, ficarĂŁo impedidos de lançar nessa conta itens como restaurantes populares ou aposentadorias. Calcula-se que a evasĂŁo subtraia R$ 2 bilhĂ”es anuais da ĂĄrea.
Um gasto de 10% do PIB seria mais condizente com o sistema universal preconizado na Constituição. A parcela do gasto pĂșblico, por seu turno, deveria elevar-se na prĂłxima dĂ©cada para 70%, a mĂ©dia em paĂses da OCDE.
Tal salto nos prepararia melhor, tambĂ©m, para a transição demogrĂĄfica por que passa o paĂs. A população envelhece e, com isso, cresce a demanda por tratamentos complexos e caros para doenças crĂŽnicas, como as cardiovasculares e os cĂąnceres.
Sobrevivem as velhas doenças infectocontagiosas do Brasil pobre e atrasado -dengue, malĂĄria, tuberculose, leishmaniose, hansenĂase. Num caso e no outro, urge adotar metas para reduzir a incidĂȘncia e a letalidade das duas classes de molĂ©stias.
Seria um erro, porĂ©m, reincidir na criação de impostos para alcançar tais objetivos. Mais racional seria eliminar subsĂdios para que os mais favorecidos se associem a planos de saĂșde privados, como o desconto de despesas mĂ©dicas no Imposto de Renda.
Estimam-se R$ 14 bilhĂ”es anuais de renĂșncia fiscal e subsĂdios, recursos pĂșblicos que deveriam servir para tornar o SUS de fato universal, integral e de qualidade. Entende-se que fujam dele, em sua precariedade atual, aqueles que podem pagar. Que o façam, entĂŁo, sĂł com recursos prĂłprios, sem ressarcimento pelo erĂĄrio. Uma diminuição progressiva do incentivo facilitaria a travessia, atĂ© cair a zero em 2022.
O subfinanciamento nĂŁo representa o Ășnico percalço do SUS. TĂŁo ou mais graves sĂŁo os problemas de gestĂŁo, que resultam no desperdĂcio de recursos preciosos. O sistema carece de uma revolução nessa ĂĄrea, com adoção de padrĂ”es e metas mĂnimos de atendimento e desempenho, que possam ser aferidos por autoridades e cobrados pelo pĂșblico.
Muitos no Brasil parecem jĂĄ ter despertado para a importĂąncia da educação no desenvolvimento do paĂs. Para que os brasileiros se qualifiquem e se preparem para as exigĂȘncias da economia do conhecimento, porĂ©m, precisam gozar de boa saĂșde. Ă um direito seu -e uma obrigação de todos.
Editoriais - Fonte: Folha de S.Paulo - 30/05/10.
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