Editorial
06/04/2006 -
EDITORIAL
VOCĂ Ă UMA PESSOA DE ETIQUETA?
Fui a uma palestra na semana passada. O nome que dĂŁo pra enfeitar o pavĂŁo Ă© workshop, mas Ă© palestra mesmo. Uma senhora simpĂĄtica, com voz firme, boa postura, boa de microfone, boa de powerpoint, falava sobre etiqueta. Eu nem sabia o tema quando entrei. Mas se alguĂ©m me dissesse que aquela dona era treinadora de prĂncipe e princesa, eu acreditava. E ainda mudava a frase de âaquela donaâ pra âaquela damaâ. E aĂ eu caĂ na real. Perguntei pra confirmar minha suspeita. O famigerado workshop era sobre etiqueta.
Entre tentar entender o que uma palestra sobre etiqueta pode contribuir profundamente na formação acadĂȘmica de um administrador e tentar prestar atenção no que aquela senhora tinha pra dizer, eu percebi que eu tinha caĂdo de pĂĄra-quedas no mundo. AliĂĄs, fiquei na dĂșvida atĂ© se tava caindo mesmo, pois aquele papo todo foi uma viagem. A boa educação Ă© sempre bem vinda. Mas etiqueta? Naquele momento eu descobri que existe algo mais chato do que ouvir partida de xadrez pelo rĂĄdio: palestra sobre etiqueta com powerpoint. Uma das aulas de machismo mais profundas que eu jĂĄ assisti. Uma sĂ©rie de dicas comportamentais que reacendem posturas machistas e que, exceto pela cultura semi-inĂștil, nĂŁo agregam aos ouvintes o valor que deveria agregar uma disciplina.
A dificuldade nĂŁo estĂĄ na qualidade das palestras ou dos palestrantes. Todos atĂ© agora, sem exceção, sĂŁo profissionais gabaritados, conhecedores e defensores de suas atividades, que falam com entusiasmo sobre seus assuntos de domĂnio. A verdadeira dificuldade estĂĄ na falta de capacidade de observação do interesse da platĂ©ia.
Assim como o momento de interação, as palestras promovidas pela FNH carecem de atratividade. NĂŁo Ă© âo que eu quero dizer sobre o assuntoâ. Ă âcomo as pessoas querem ouvir sobre o assuntoâ. Participação compulsĂłria causa desgaste, falta de credibilidade, prevenção, desinteresse e atĂ© falta de etiqueta com os palestrantes convidados - que nĂŁo tem nada a ver com o pato, mas acabam pagando atravĂ©s do excesso de conversa, do entra e sai permanente de pessoas no auditĂłrio, dos inĂșmeros cochilos espalhados pelas poltronas. Informação e comunicação sĂŁo coisas diferentes. Assessoria de comunicação nĂŁo Ă© assessoria de marketing e vice-versa. NĂŁo sai nem uma coisa, nem outra. AlĂ©m de tudo, tem que deixar o pessoal trabalhar, ser criativo, ser interativo.
Um bom trabalho de comunicação e marketing carece de confiança, incentivo, motivação. Fala-se muito sobre essas coisas no curso de administração. NĂłs, alunos queremos perceber a diferença que vai alĂ©m da qualidade, pois qualidade, todos nĂłs sabemos que tem. Falta por essa qualidade em prĂĄtica na arte de se relacionar com seu pĂșblico interno. Palestras como a linha verde (interessante, mas altamente polĂtica) como o Yoga, o AssĂ©dio Sexual e Moral (pessoalmente acho que nĂŁo foi dos piores), a Administração do Tempo (vĂĄlido) e Etiqueta (?), nĂŁo falam a lĂngua que as pessoas estĂŁo querendo escutar. Agora a melhor notĂcia de todas. AmanhĂŁ a moça da etiqueta vai dar a segunda parte de seu workshop.