FALANDO EM SOLIDARIEDADE
04/12/2008 -
FALOU NO FM? TĂ FALADO!
VAMOS AJUDAR SC!
Saiba como ajudar as vĂtimas dos temporais em Santa Catarina. A Defesa Civil de Santa Catarina abriu contas bancĂĄrias para receber doaçÔes em dinheiro para ajudar vĂtimas da chuva.
São aceitas doaçÔes de qualquer quantia nas seguintes contas:
Banco do Brasil
AgĂȘncia: 3582-3
Conta corrente: 80.000-7
Besc
AgĂȘncia: 068-0
Conta Corrente: 80.000-0
Bradesco S/A
AgĂȘncia: 0348-4
Conta Corrente: 160.000-1
Titular das contas (pessoa jurĂdica): Fundo Estadual de Defesa Civil
CNPJ: 04.426.883/0001-57
DoaçÔes de alimentos e roupas
Segundo as autoridades de Santa Catarina, hĂĄ necessidade principalmente de alimentos nĂŁo-perecĂveis, produtos de limpeza, colchĂ”es, cobertores e travesseiros em bom estado.
Quem quiser doar deve procurar as prefeituras dos municĂpios prejudicados pelas cheias e deslizamentos. Entidades pĂșblicas e privadas tambĂ©m estĂŁo promovendo campanhas e recolhendo material em vĂĄrios estados.
A Defesa Civil recomenda cuidados para quem pretende fazer as doaçÔes:
- Os alimentos devem estar dentro do prazo de validade e com a embalagem intacta;
- ColchÔes e roupas de cama devem estar em bom estado de conservação, limpos e prontos para utilização;
- Roupas e calçados também devem estar limpos e em condiçÔes de uso. Sapatos devem estar amarrados entre si (pé direito com esquerdo) e a numeração deve ser marcada do lado externo com caneta;
- UtensĂlios domĂ©sticos devem estar funcionando e bem conservados.
Informe-se sobre postos de coleta na Defesa Civil do seu estado:
DEDC/SC - Diretoria Estadual de Defesa Civil de Santa Catarina
http://www.defesacivil.sc.gov.br/ (http://www.desastre.sc.gov.br/)
Fone: (48) 4009 9816
CEDEC/RS - Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Rio Grande do Sul
http://www.defesacivil.rs.gov.br/
Fone: (51) 3210 4219
CEDEC/PR - Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do ParanĂĄ
http://www.defesacivil.pr.gov.br/
SEDEC/RJ - Secretaria de Estado da Defesa Civil do Rio de Janeiro
http://www.cbmerj.rj.gov.br/
CEDEC/SP - Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de SĂŁo Paulo
http://www.defesacivil.sp.gov.br/
Fone: (11) 2193-8888
CEDEC/MG - Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais
http://www.defesacivil.mg.gov.br/
Fone: (31) 3236-2111
CEDEC/ES - Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do EspĂrito Santo
http://www.defesacivil.es.gov.br/
Fone: (27) 3137-4441
SIDEC/DF - Sistema de Defesa Civil do Distrito Federal
http://www.defesacivil.df.gov.br/
CEDEC/MS - Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Mato Grosso do Sul
http://www.defesacivil.ms.gov.br/
Fone: (67) 3318.1078
DEFESA CIVIL BRASIL
http://www.defesacivil.gov.br/links/index.asp
Fonte: http://www.brazilmodal.com.br/2008/
MENSAGENS DE NOSSOS LEITORES E COLABORADORES
"Penso que esses textos e este artigo sejam interessantes para serem exibidos no site da F.M. Por isto estou mandando pra vocĂȘs. Obrigada. Beijos. Com muitas saudades." (Colaboração: Elna - FlorianĂłpolis). FM: Com certeza. EstĂŁo disponibilizados logo abaixo. Beijos com muitas saudades tambĂ©m para vocĂȘ.
"NĂŁo devemos esquecer nunca: DEUS PERDOA SEMPRE; O HOMEM PERDOA AS VEZES, MAS A NATUREZA NĂO PERDOA NUNCA. O homem deve aprender desta tragĂ©dia a nĂŁo agredir a natureza." (Pe.Paulo).
"Este assunto deve nos fazer perguntar: o que queremos para nossas vidas? Em todos os aspectos. NĂŁo podemos culpar somente governantes. Estive em Blumenau em julho, depois de 15 anos, e fiquei impressionada como esta cidade inchou. AliĂĄs, nĂŁo sĂł ela, vĂĄrias "cidades" Ă margem da BR101 e da BR116. Hipermercados, shoppings, tudo muito grande. E o rio sujo. Muito asfalto, muito carro. E aĂ,pergunto: AlguĂ©m estĂĄ a fim de andar de ĂŽnibus? Dividir com colegas de trabalho, caronas? Ir no armazĂ©m da esquina ou na loja ao lado ao invĂ©s de ir ao shopping ou ao hipermercado? E a sacola plĂĄstica, alguĂ©m deixaria de usĂĄ-la? E fazer um suco em casa, que alĂ©m de ser mais saudĂĄvel, economiza uma garrafa plĂĄstica ou uma tetrapak? Acho que a questĂŁo Ă© mais profunda. Assimilamos a idĂ©ia de que progresso Ă© sinĂŽnimo de modernidade, que combina com facilidade, que baseia-se no consumo desmedido e doentio. Acho sim que a nossa histĂłria polĂtica Ă© baseada na falta de comprometimento, no egoĂsmo, no egocentrismo, na ganĂąncia, ... Mas, infelizmente, estas caracterĂsticas nĂŁo sĂŁo exclusividade desta classe ou de outras. NĂłs estamos doentes, contaminados por estas e outras doenças. Enfim, o que queremos??? Como deixamos aparecer na Tv uma propoganda onde uma mĂŁe mostra mais apreço a um filho porque este lhe deu um celular, em plena Ă©poca de Natal? NĂŁo deverĂamos parar tudo e fazer uma manifestação pĂșblica? AliĂĄs, o que comemora-se no Natal mesmo????????????? Quem nĂŁo estĂĄ se organizando para ir ao shopping, jĂĄ imaginando o grande stress, briga para estacionar, para comprar (nĂŁo se sabe bem o que , mas tem que comprar)? E porque? Porque Ă© Natal!?!?!?!?!?! PodĂamos aproveitar esta Ă©poca do ano para refletirmos, olharmos para dentro de nĂłs, ..." (Daniela).
"AlĂ©m de se mover em uma ação de solidariedade para oferecer alguma forma de amparo para as milhares de vĂtimas da tragĂ©dia que se abate sobre Santa Catarina, a coordenação do Sintufsc faz uma manifestação buscando refletir sobre as responsabilidades e as irresponsabilidades que contribuem para este fenĂŽmeno que nĂŁo Ă© puramente "natural" como alguns querem fazer crer. A geĂłloga e pesquisadora do grupo de estudos de Desastres Ambientais da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Maria LĂșcia de Paula Hermman, por exemplo, Ă© uma das vozes que se levanta para dizer, em entrevista Ă imprensa, que as caracterĂsticas do solo e do relevo e as condiçÔes climĂĄticas anĂŽmalas nĂŁo sĂŁo capazes de, sozinhas, explicar a tragĂ©dia ocorrida em Santa Catarina. Segundo a professora, mais do que os fenĂŽmenos naturais, o descaso do poder pĂșblico ao longo das Ășltimas dĂ©cadas foi a principal razĂŁo do elevado nĂșmero de mortos, desabrigados e desalojados em decorrĂȘncia das chuvas que atingiram o Estado no mĂȘs de novembro.
Segue o texto da manifestação dos coordenadores do Sintufsc..."
PARA ALĂM DAS CHUVAS
O caos de cidades inteiras embaixo d'ĂĄgua e o drama das famĂlias trabalhadoras que perdem de uma sĂł vez quase tudo o que tĂȘm, quando nĂŁo a prĂłpria vida, sĂŁo a face mais terrĂvel e visĂvel de um desastre que atinge pelo menos 1,5 milhĂŁo de catarinenses.
Os nĂșmeros malditos nĂŁo param de aumentar: mais de 78.000 desabrigados e desalojados, pelo menos uma centena de mortos, dezenas de desaparecidos. Fora o que ainda nĂŁo se "contabilizou" nas estatĂsticas fatais que depois, em geral, nĂŁo revertem em açÔes concretas de prevenção para evitar os desastres ou reduzir o impacto do que nĂŁo se pode prevenir.
Esta tragĂ©dia poderia ser evitada? Essa Ă© a pergunta que nĂŁo pĂĄra de gritar em dezenas de vozes que se levantam paĂs afora.
Santa Catarina jĂĄ passou por situaçÔes semelhantes, particularmente nas enchentes de 1983 e1984. Aspectos climĂĄticos e geolĂłgicos favorecem a ocorrĂȘncia deste tipo de fenĂŽmeno no litoral de nosso estado, particularmente na regiĂŁo do Vale do ItajaĂ.
Exatamente por isso, caberia ao poder pĂșblico criar as condiçÔes para prevenir novos desastres, diminuindo os efeitos potenciais das chuvas. Ă mais do que evidente que isso nĂŁo foi feito. Como tambĂ©m, a depender dos governos que aĂ estĂŁo, novas tragĂ©dias como esta infelizmente tenderĂŁo a se repetir.
Os projetos de engenharia necessĂĄrios Ă prevenção de novos desastres na regiĂŁo de Blumenau sĂŁo velhos conhecidos que nunca saĂram do papel. AlĂ©m disso, o desmatamento segue, deixando as terras mais propĂcias a deslizamentos. Com dinheiro na mĂŁo, qualquer empresĂĄrio compra licenças ambientais para seus empreendimentos especulativos na regiĂŁo litorĂąnea. E investigaçÔes abertas para averiguar operaçÔes do tipo da malfadada Moeda Verde acabam fazendo ĂĄgua para todos os lados. Ou, quando muito, punem os mais de baixo. Os de cima sĂŁo inclusive premiados e reeleitos para cargos pĂșblicos.
Agora, para piorar, Luiz Henrique quer aprovar a toque de caixa um novo CĂłdigo Ambiental (PL 0238.0/2008), que autoriza a total destruição dos ecossistemas em Santa Catarina. Maior destruição ambiental, maior aquecimento global, terreno fĂ©rtil para a ocorrĂȘncia das chamadas "catĂĄstrofes naturais" contemporĂąneas.
Diversos prefeitos vĂȘm passando uma frĂĄgil camada de asfalto nas ruas â vendidos em propagandas enganosas que falam das maravilhas do "tapete preto" para a vida da comunidade. Essas "cascas" mal feitas e caras, sem o devido sistema de escoamento, executadas de forma irresponsĂĄvel e eleitoreira sĂł podem acentuar um resultado. Enchentes!
E o que dizer do saneamento bĂĄsico? Santa Catarina tem um dos piores Ăndices nessa ĂĄrea frente Ă s demais regiĂ”es do Brasil, que tambĂ©m nĂŁo sĂŁo exemplo para ninguĂ©m. Com as chuvas, os rios carregados de dejetos se mesclam Ă s ĂĄguas das chuvas, invadem as ruas e residĂȘncias, e multiplicam os problemas de saĂșde pĂșblica.
O crescimento dos latifĂșndios frente Ă ausĂȘncia de uma reforma agrĂĄria sĂ©ria hĂĄ dĂ©cadas vem empurrando as famĂlias de camponeses para as cidades grandes. Como faltam oportunidades dignas de trabalho, essa gente se une Ă periferia local. SĂŁo milhĂ”es de pessoas vivendo nas encostas, em moradias improvisadas. AĂ estĂŁo as vĂtimas mais sofridas dos atuais deslizamentos de terra â principal causa das mortes atĂ© o momento. Os programas de moradia popular nĂŁo passam de peças publicitĂĄrias em campanhas eleitorais.
O sistema de saĂșde para socorrer as vĂtimas Ă© precarizado, graças a uma polĂtica consciente de desmonte do SUS, o Sistema Ănico da SaĂșde. E para piorar, agora a crise econĂŽmica estĂĄ sendo a desculpa para cortar ainda mais as jĂĄ minguadas verbas para as ĂĄreas sociais.
Nos cem dias de chuva praticamente ininterrupta que antecederam o caos atual, nenhum esquema de emergĂȘncia foi preparado para lidar com a situação que se avizinhava. Agora, os mesmos governantes responsĂĄveis pelo absurdo em que chegamos se transfiguram nos "herĂłis da salvação" frente Ă s cĂąmeras.
Mas basta uma anålise comparativa para perceber que nem a gravidade da situação atual serve para inverter a lógica até aqui colocada. As verbas do governo federal para combater as enchentes equivalem a 1% dos R$ 160 bilhÔes que foram recentemente entregues aos banqueiros pelo mesmo governo de uma só vez. Os equipamentos e o pessoal das Forças Armadas deslocadas para Santa Catarina nem se comparam à maquinaria de guerra e aos 1.200 homens do exército brasileiro enviados para manter a sangrenta ocupação do Haiti.
Portanto, diferentemente do que faz parecer a grande imprensa, as atuais enchentes nĂŁo sĂŁo uma mera fatalidade com origem em fenĂŽmenos climĂĄticos. Trata-se de mais um triste capĂtulo da crise social, econĂŽmica, moral e ambiental que nos assola enquanto humanidade. Seus responsĂĄveis estĂŁo sequinhos, em suas mansĂ”es e PalĂĄcios, calculando os prĂłximos lucros que terĂŁo com a misĂ©ria alheia.
A comoção frente a esta terrĂvel tragĂ©dia causa uma forte onda de solidariedade, com milhares de trabalhadores voluntĂĄrios e doaçÔes vindas de diversas partes do paĂs. NĂłs, do Sindicato dos Trabalhadores da UFSC, nos juntamos a essa corrente. Doamos cestas bĂĄsicas e chamamos toda a sociedade civil a doar alimentos nĂŁo perecĂveis, roupas, cobertores, utensĂlios domĂ©sticos, medicamentos e materiais mĂ©dicos, etc. Faremos o que estĂĄ ao nosso alcance para ajudar as vĂtimas do flagelo.
PorĂ©m, nĂŁo podemos nos eximir de uma manifestação polĂtica centrada nos princĂpios Ă©ticos que nos sustentam. E, para que nĂŁo se repitam tragĂ©dias como esta, nosso trabalho serĂĄ ainda maior, e permanente: a luta pela transformação social profunda, socialista, pelo fim da exploração do homem pelo homem. Os sucessivos espetĂĄculos de horror com que nos deparamos a cada dia sĂŁo a prova definitiva da falĂȘncia do modelo social capitalista para resolver os dilemas profundos e atĂ© as questĂ”es mais bĂĄsicas da humanidade.
Coordenação do Sintufsc â Sindicato de Luta
Sintufsc - http://www.sintufsc.ufsc.br/
ONG INGLESA FAZ LEVANTAMENTO PARA AJUDAR VĂTIMAS EM SC
Representantes da ONG Shelter Box, que jĂĄ atuou em grandes catĂĄstrofes, como o tsunami na Ăsia, em 2004, e o furacĂŁo Katrina em Nova Orleans (EUA), em 2005, dizem que a situação em Santa Catarina Ă© "bastante crĂtica".
Mas, segundo eles, como as famĂlias desabrigadas conseguiram acesso imediato a abrigos provisĂłrios, elas estĂŁo conseguindo viver com um mĂnimo de "dignidade". Dois membros da entidade chegaram a SC no fim de semana para ajudar nos trabalhos de socorro.
Ontem, o nĂșmero de mortos por causa da chuva no Estado era de 116 e 31 estavam desaparecidos. Mais de 78 mil pessoas tiveram de deixar suas casas e 14 cidades decretaram estado de calamidade pĂșblica.
"Ă um desastre terrĂvel. Os serviços de emergĂȘncia estĂŁo lidando com muitas ocorrĂȘncias [ao mesmo tempo], principalmente deslizamentos", diz Shaun Halbert, 55, cirurgiĂŁo veterinĂĄrio e integrante da ONG. "A situação Ă© bastante crĂtica. Ă preciso continuar monitorando nos prĂłximos dias e semanas."
A ONG inglesa estå fazendo um levantamento sobre as enchentes na região e analisando o melhor modo de prestar apoio aos flagelados. A organização tem um projeto de fornecer "caixa-abrigo" ("shelter box") a atingidos por desastres.
Cada caixa entregue atende dez pessoas. Dentro delas, hĂĄ um kit com uma barraca, utensĂlios domĂ©sticos, como panelas, ferramentas e cobertores. Segundo eles, a resposta das autoridades em Santa Catarina foi "dada a tempo" e talvez nĂŁo seja preciso enviar as caixas.
A ONG, porĂ©m, bancarĂĄ o transporte do material para o Brasil, se necessĂĄrio. Halbert e o voluntĂĄrio da ONG Peter Leach, 26, vieram ao Brasil para estudar possĂvel apoio Ă s vĂtimas no Vale do ItajaĂ.
Dimitri do Valle - Fonte: Folha de S.Paulo - 02/12/08.
ONG Shelter Box - http://www.shelterbox.org/
STA.CATARINA E O PLANO
Em 1967 - Rio de Janeiro e serra das Araras; em 1979 - Minas; em 1997 - mais uma vez Minas. Muitas vezes PetrĂłpolis, Caraguatatuba, Santos. Santa Catarina sofreu outras vezes. PredomĂnio dos eventos na serra do Mar; repetição sinistra nos anos terminados em sete e nove. O complexo geolĂłgico senso lato da serra do Mar, de VitĂłria a Santa Catarina, ompreende substrato e condiçÔes meteorolĂłgicas (e climĂĄticas) que geram espesso solo residual. Altas declividades completam com os anteriores quadro de fatores capaz de propiciar deslizamentos catastrĂłficos. Os pontĂ”es e lajedos freqĂŒentes em vĂĄrios pontos sĂŁo como os nĂșcleos encobertos por solo e, onde preservadas, por densas florestas.
Alguns estranham ter visto massas florestais despenhando-se como se isso indicasse resposta da Terra ao desrespeito do homem em suas açÔes cotidianas. Ele nĂŁo Ă© inocente, mas nada mais terrivelmente equivocado, por causa das conseqĂŒĂȘncias do diagnĂłstico simplista, de efeito devastador. De fato, Ă© raro vermos deslizamentos de massas arbĂłreas porque ocupam ĂĄreas muito pequenas com o desmatamento generalizado que aĂ ocorreu, e a parvoĂce nĂŁo deixa os curiosos perceberem que as massas arbĂłreas preservadas ficaram exatamente nas ĂĄreas mais Ăngremes, onde a implantação de agropecuĂĄria nĂŁo fazia sentido! JĂĄ aĂ dois fatos a explicarem o deslizamento de mata que eu tambĂ©m presenciei. Mas hĂĄ um terceiro, este menos evidente que os anteriores: as massas arbĂłreas na biodiversidade tĂpica da Mata AtlĂąntica, com os diversos estratos, constituem sistema muito eficaz de reter ĂĄguas pluviais e de proporcionar-lhes tempo para a infiltração. Com 60 dias de chuvas contĂnuas, a saturação total do solo, rarĂssima em ladeiras bem drenadas, acaba vindo. Nada de grave ocorre nas ĂĄreas de declividade suave, mas nas Ăngremes a saturação pode ser fatal. Para comparação lembre-se o leitor de que um certo teor de ĂĄgua mantĂ©m a areia da praia e o solo da montanha firmes. A secura total solta a areia da praia e o solo da montanha; a saturação total faz o mesmo com os dois.
Leio em O TEMPO de 2.12 que o "governo lança plano ambiental para evitar futuras catĂĄstrofes". No texto vĂȘ-se que os responsĂĄveis citados nĂŁo sabem o que ocorre porque nĂŁo fizeram leitura consistente do fato. O fato e o processo geolĂłgicos sĂŁo evidentes no caso, e independentes do aquecimento global. Anunciar combate ao efeito estufa como se ele fosse culpado de tudo Ă© a maneira mais prĂĄtica de evitar o confronto direto e responsĂĄvel com o verdadeiro problema, como ele Ă© e sempre foi â a humanidade estar despreparada para a evolução natural do planeta.
A nação nĂŁo sabe, porque conhece do fato e do processo geolĂłgicos o que eu conheço de computadores, que precisamos de um programa de reabilitação territorial de trĂȘs nĂveis de governo, incluindo responsabilidades de agĂȘncias territoriais como as responsĂĄveis por hidrelĂ©tricas e vias terrestres.
Edézio Teixeira de Carvalho - Engenheiro Geólogo - Fonte: O Tempo - 04/12/08.
DEZ POR UM
O ser humano não falha, diz uma amiga minha. Uma tragédia como a das chuvas em Santa Catarina traz à tona mais do que cadåveres de pessoas ou de animais, desperta reaçÔes tão graves quanto doenças ou epidemias e destrói mais do que propriedades. Quase sempre, revela também o que hå de pior nesse ser humano.
HĂĄ os que se aproveitam da desgraça para saquear supermercados, bares e farmĂĄcias. Na pilhagem, entram artigos essenciais, mas tambĂ©m cachaça, cigarros, remĂ©dios controlados ou o que estiver boiando. HĂĄ os que nĂŁo poupam nem os desalojados e invadem suas casas para se apoderar do que restou. E hĂĄ os que desviam donativos em benefĂcio prĂłprio ou os interceptam para vender para os desesperados.
O que choca, no caso, nĂŁo Ă© sĂł o prejuĂzo material, mas o rombo moral que se instala na humanidade, ao se ver formada por pessoas tĂŁo sem respeito ou amor por seus semelhantes. Quando se diz que o ser humano nĂŁo falha Ă© porque Ă© isso que se espera dele -e ele nĂŁo nos decepciona.
Ao mesmo tempo, a enchente de Santa Catarina atraiu também legiÔes de voluntårios às zonas atingidas: médicos, enfermeiras, bombeiros, policiais, pescadores, cozinheiros, radialistas, estudantes, assistentes sociais -gente que, muito além de suas obrigaçÔes, e correndo risco de vida, estava ali para mitigar, socorrer e salvar.
Quero crer que, para cada canalha que se locupletou, acorreram pelo menos dez pessoas empenhadas em ajudar. Quero crer, nĂŁo. Tenho certeza -porque, logo nos primeiros dias, quando ainda nem se sabia a extensĂŁo do problema, vi a Banda de Ipanema numa esquina, tocando por Santa Catarina, ao lado de um caminhĂŁo jĂĄ abarrotado de donativos. Era um dia de semana, de tarde. O ser humano, Ă s vezes, falha -para o bem.
Ruy Castro - Fonte: Folha de S.Paulo - 06/12/08.
NĂŁo deixem de enviar suas mensagens atravĂ©s do âFale Conoscoâ do site.
http://www.faculdademental.com.br/fale.php