UM GESTO
21/10/2010 -
MARILENE CAROLINA
UM LEILĂO
English:
http://www.nytimes.com/2010/10/16/sports/16rhoden.html
A notĂcia era perturbadora e ligeiramente inacreditĂĄvel.
Tommie Smith, o norte-americano campeĂŁo olĂmpico, colocou sua medalha de ouro em leilĂŁo. Justo Smith, um homem orgulhoso, disciplinado e de princĂpios.
Mas lĂĄ estava, Ă vista de todos, no site da empresa responsĂĄvel pelo leilĂŁo, a Moments in Time Memorabilia, a famosa foto que mostra Smith, Peter Norman e John Carlos, ouro, prata e bronze nos 200 m na OlimpĂada da Cidade do MĂ©xico, em 1968.
Carlos e Smith, com a cabeça inclinada, erguiam para o céu seus punhos calçados com luvas negras, enquanto a bandeira dos EUA subia ao som do hino nacional.
A imagem continua a ser uma das mais conhecidas demonstraçÔes de protesto e resistĂȘncia na histĂłria do atletismo e serviu como perfeito sĂmbolo para uma geração.
Por que Smith, 66, desejaria vender algo associado a um momento tĂŁo histĂłrico?
Especialmente seu ouro?
Quando a notĂcia surgiu, o primeiro nome que me ocorreu foi o de David Steele, colunista da AOL e coautor de "Silent Gesture", com Smith, projeto que demorou quase dez anos para ser publicado.
Steele disse que estava surpreso, mas recordou que Smith jå havia tentado vender o ouro nove anos atrås. O ex-velocista queria levantar dinheiro para sua fundação.
Por que recolocĂĄ-la Ă venda? SerĂĄ que Smith estĂĄ com problemas financeiros? Steele nĂŁo acha que Ă© o caso.
"Preocupa-me, com a divulgação dessa notĂcia, que todo mundo venha a ter essa impressĂŁo. A menos que alguma coisa tenha mudado nos Ășltimos 12 meses, nĂŁo creio que seja o caso", disse.
Para muitos, o gesto se tornou inspirador sĂmbolo de desafio. Para Smith e Carlos, que sofreram muito por ele, a medalha se tornou o sĂmbolo de um pesadelo. Talvez, caso a venda ocorra, Smith consiga encerrar esse capĂtulo, ainda que na realidade ele e Carlos devam ser sempre definidos por aquele momento.
"Ele jamais passou nem perto de se arrepender, mas tudo o que ocorreu desde então lhe causou muita dor. Ele continua a receber ameaças de morte", afirmou Steele.
"Por outro lado, tem 66 anos. Talvez jĂĄ nĂŁo pense na medalha como objeto ao qual deve se apegar. Ă possĂvel que haja um uso melhor a ser dado a ela", completou.
Gary Zimet, representante da Moments in Time Memorabilia, também estå vendendo as sapatilhas que Smith calçou na noite da conquista.
Ele disse ter contatado Smith um ano atrĂĄs e perguntado se ele ainda tinha a medalha e desejava vendĂȘ-la. "A resposta foi: "De jeito nenhum"."
Mas Zimet persistiu. TrĂȘs semanas atrĂĄs, viajou Ă GeĂłrgia para se encontrar com Smith e fechou o negĂłcio.
"Sei que ele deseja financiar uma iniciativa para a juventude e que boa parte do dinheiro da venda seria destinada a isso", disse Zimet.
Quanto vale a medalha de Smith? Algumas casas de leilÔes de artigos esportivos estimam valor de venda entre US$ 8.000 e US$ 10 mil (entre R$ 13,3 mil e 16,6 mil).
Zimet afirma que o valor mĂnimo para os lances Ă© de US$ 250 mil (R$ 416,5 mil).
O Dr. Walter Evans, proeminente colecionador de arte e proprietårio de uma das maiores coleçÔes mundiais de artefatos da cultura negra dos EUA, disse que, para colecionadores em seu campo, aquela medalha vale muito.
"Smith Ă© uma figura histĂłria. NĂŁo se trata de Martin Luther King ou Malcolm X, mas todas essas coisas combinadas ajudaram a mudar o rumo de nossa histĂłria."
Smith nĂŁo quis comentar sobre a venda, mas sua mulher, Delois, declarou por telefone que, "caso o leilĂŁo nĂŁo propicie a soma que Tommie tem em mente, pode crer a medalha nĂŁo serĂĄ vendida".
Zimet também procurou Carlos, bronze na mesma prova. Enviou um e-mail perguntando se Carlos estaria interessado em vender a medalha. "Não recebi resposta", afirmou Zimet.
E nem deve recebĂȘ-la.
"O cara nem deveria ter me procurado", declarou Carlos, em entrevista por telefone.
"Ficarei com a minha medalha. NĂŁo a venderei, qualquer que seja a proposta. Minha filosofia Ă© a de que ela Ă© o legado que tenho para meus filhos. O que quer que decidam fazer com ela depois que eu me for Ă© problema deles."
Smith e Carlos foram a Orlando, Flórida, na semana passada para admissão à Galeria da Fama do National Consortium for Academics and Sports, organização dirigida pelo sociólogo esportivo Dr. Richard Lapchick.
Carlos contou que Smith nĂŁo mencionou o leilĂŁo.
"NĂŁo me disse uma palavra a respeito", afirmou.
"Ele ganhou a medalha. Ă dele. Tem direito de fazer com ela o que bem entender.
Ele a merece, e a responsabilidade de dispor dela como preferir Ă© sua. Espero que pense bem no que estĂĄ fazendo, mas, ao mesmo tempo, nĂŁo o desrespeito por isso."
Smith deveria pensar com sabedoria sobre a venda.
Sim, a medalha é dele, mas vem sendo apreciada hå geraçÔes por muitas pessoas que recordam o momento e por muitas outras que viram imagens da cena.
O gesto estĂĄ entre os momentos mais decisivos na histĂłria social e polĂtica do esporte nos EUA, em companhia da entrada em campo de Jackie Robinson para pĂŽr fim Ă segregação no beisebol e Ă recusa de Muhammad Ali de servir o ExĂ©rcito.
Smith e Carlos ergueram os punhos, em um gesto silencioso, mas muito forte.
Agora, Smith quer faturar.
Em um mundo ideal, alguém compraria a medalha de Smith e a devolveria como presente.
A integridade nĂŁo deve e nĂŁo pode estar Ă venda.
Smith deveria saber disso.
NĂŁo foi por isso que agiu como agiu?
William C. Rhoden - do "New York Times" - Tradução de Paulo Migliacci - Fonte: Folha de S.Paulo - 19/10/10.
MatĂ©ria original em inglĂȘs:
http://www.nytimes.com/2010/10/16/sports/16rhoden.html
PAPEL DE PAREDE - LEĂO-MARSUPIAL
Thylacoleo carnifex. Predador incomparĂĄvel, o T. carnifex ficava Ă espreita em busca de presas, entre elas provavelmente estavam os recĂ©m-chegados seres humanos. Maior mamĂfero carnĂvoro do continente, chegando a pesar 160 quilos e com altura de 76 centĂmetros atĂ© os ombros - medidas de uma onça-pintada -, este caçador devia ser exĂmio em emboscada. Saltando da vegetação baixa, podia estrangular animais bem maiores ao imobilizĂĄ-los com suas garras nos dedĂ”es e desferir o golpe fatal com os dentes frontais. Foto de Adrie and Alfons Kennis.
Confira: http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/papeis-de-parede/papeis-de-parede-outubro-603624.shtml?foto=2p.
Fonte: National Geographic - Edição 127.
CLEAN CRUISING
www.cleancruising.com.au
Website australiano que reĂșne informaçÔes sobre um grande nĂșmero de cruzeiros em todo o mundo.
O domĂnio permite buscas de cruzeiros por destinos, empresas e data da viagem.
Cada resultado mostra um mapa com o roteiro do navio e portos de parada, alĂ©m de informaçÔes como o nĂșmero de noites e a data da viagem.
Uma ferramenta permite checar mais de 700 portos no mundo via Google Earth.
Fonte: Folha de S.Paulo â 21/10/10.
SEM REI NEM PARLAMENTO
Em 1993, mais de 100 anos depois da proclamação da RepĂșblica, 67 milhĂ”es de brasileiros voltaram Ă s urnas para decidir se gostariam de ter um rei, se queriam um regime presidencialista ou parlamentarista.
VĂdeos com peças de propaganda usadas na campanha do plebiscito:
http://veja.abril.com.br/blog/caca-ao-voto/uncategorized/entre-o-parlamentarismo-e-a-monarquia-o-brasil-resolveu-continuar-presidencialista/.
Kåtia Perin - Fonte: Veja - Edição 2187.
SABEDORIA POLĂTICA
Gosto de citar um personagem de Dickens que condensa grande parte da sabedoria polĂtica de todos os tempos, modos e lugares. Trata-se de Pickwick, espĂ©cie de moralista quixotesco que, sem saber, muitas vezes parecia um cĂnico em disponibilidade.
Tinha discĂpulos que eram quase apĂłstolos, nada faziam sem consultar o mestre. Um dia, perguntaram-lhe o que deveriam fazer quando encontrassem uma multidĂŁo gritando uma causa -qualquer causa. Pickwick respondeu: "Gritem com a multidĂŁo".
Um dos seus seguidores levantou o problema:
"E se houver duas multidÔes, uma gritando a favor, outra gritando contra?". "Gritem com aquela que estiver gritando mais forte", ensinou o mestre.
O conselho Ă© seguido religiosamente por todos os cidadĂŁos que de alguma forma participam da vida polĂtica, quer na condição de aspirantes ao poder, quer na sofrida carne dos eleitores. DaĂ a violĂȘncia das campanhas para os cargos do Executivo ou do Legislativo.
Praticamente todas as regras do convĂvio social sĂŁo abolidas, pessoas civilizadas fazem acusaçÔes sĂłrdidas, nada se respeita e, quando nĂŁo hĂĄ fatos concretos, recorrem a insinuaçÔes sobre o presente, o passado e o futuro dos adversĂĄrios.
Ă necessĂĄrio gritar e gritar mais forte para impressionar a plebe, que muitas vezes nĂŁo tem opiniĂŁo nenhuma -como os discĂpulos de Pickwick-, mas que acaba optando pelo que grita mais alto.
A atual campanha, principalmente a do segundo turno, estĂĄ sendo marcada pela agressividade. Dilma e Serra sĂŁo pessoas educadas, habituadas ao respeito mĂștuo. Os seguidores de um e de outra, em tese, sĂŁo tambĂ©m pessoas de comportamento normal. Contudo, a paixĂŁo e o interesse pessoal estĂŁo dando Ă campanha um gosto prĂłximo ao do sangue.
Carlos Heitor Cony - Fonte: Folha de S.Paulo - 21/10/10.
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