7ÂȘ BIENAL DO MERCOSUL
22/10/2009 -
MANCHETES DA SEMANA
BIENAL DO MERCOSUL - GRITO E ESCUTA
English (click English): http://www.bienalmercosul.art.br/
Bienal do Mercosul acerta na radicalidade. Em Porto Alegre, mostra traz boas surpresas ao colocar artistas na curadoria. "Absurdo", organizada por Laura Lima, é destaque da sétima edição, que sublinha o poder da junção de arte e vida na produção atual.
JĂĄ em seu inĂcio, em 1997, a Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, com curadoria de Frederico Morais, era marcada por um carĂĄter experimental. Naquela Ă©poca, sua pretensĂŁo foi reescrever a histĂłria da arte a partir de uma visĂŁo nĂŁo-hegemĂŽnica, ou seja, fora do eixo europeu e norte-americano.
Agora, em sua sétima edição, esse caråter experimental alcança sua maior radicalidade, ao colocar o artista e seu processo criativo -e não mais a figura do curador- como o centro de organização.
Ă uma das mostras mais inovadoras dentro do confuso universo das bienais, que costuma transitar entre o apelo fĂĄcil para o pĂșblico e o discurso direcionado a especialistas.
"Grito e Escuta" foi concebida pela curadora argentina Victoria Noorthoorn e pelo artista chileno Camilo Yåñez, ao lado de outros oito artistas cocuradores -uns responsĂĄveis por ĂĄreas especĂficas, como o projeto pedagĂłgico, a cargo da argentina Marina de Caro, outros por segmentos expositivos, como a brasileira Laura Lima.
O resultado é um trabalho efetivamente polifÎnico, que apresenta exposiçÔes surpreendentes e muito distintas umas das outras.
Curiosamente, as mais tradicionais sĂŁo as organizadas por Noorthoorn: "FicçÔes do InvisĂvel", no Cais do Porto, e "Desenho das Ideias", no Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Isso nĂŁo significa que sejam menos impactantes.
A primeira, com uma cenografia elegante (de ilhas marcadas por tecidos negros), Ă© uma constelação que tem no teatro e na dança seu começo e seu fim: começa com "Breath" (Respiração), uma peça de 67 segundos de Samuel Beckett encenada por Daniela Thomas, e termina com o coreĂłgrafo francĂȘs JĂ©rĂŽme Bel em um vĂdeo metalinguĂstico.
JĂĄ "Desenho das Ideias" reĂșne um grupo mais histĂłrico que trabalha com desenho, mas nĂŁo sĂł, buscando revelar o processo criativo de artistas como Anna Maria Maiolino, Cildo Meireles, Paulo Bruscky, FlĂĄvio de Carvalho e LeĂłn Ferrari.
Curadorias dos artistas
O trabalho mais impactante, contudo, Ă© de Iran do EspĂrito Santo, uma parede que parece um buraco negro, para onde Ă© difĂcil deixar de olhar. Lenora de Barros, curadora da Radiovisual, alocou nesse segmento algumas obras, provocando interessantes fricçÔes.
Contudo, são as curadorias dos artistas as grandes surpresas. A começar pela mostra "Absurdo", de Laura Lima, num dos armazéns do Cais do Porto, com o piso recoberto por nada menos do que 20 caminhÔes de areia.
Paisagem lunar, num contraponto brilhante com o rio GuaĂba, que se vĂȘ por grandes portas, ela reĂșne obras projetadas em telas, como o lindo vĂdeo de Marcellvs L., ou mesmo na areia, como MĂĄrcia Xavier, ou entĂŁo numa pequena casa, como o surreal vĂdeo "Lucia", assinado pelos chilenos Niles Atallah, Joaquin Cociña e CristĂłbal LĂ©on. Esse Ă© um dos trabalhos mais incrĂveis da mostra, uma mistura de William Kentridge e Stanley Kubrick.
Esse pavilhĂŁo Ă© das experiĂȘncias mais vibrantes que se pode ter em arte contemporĂąnea.
Finalmente, o armazĂ©m que reĂșne as mostras "Texto PĂșblico", organizada por Artur Lescher, e "Biografias Coletivas", a cargo de Camilo Yåñez, Ă© outro destaque. Nesses dois segmentos, fortalece-se uma tese que Ă© desenvolvida ao longo de toda a Bienal: a junção arte e vida, princĂpios que nortearam os anos 1960 e 70, Ă© hoje o cerne do pensamento mais intrigante na cena contemporĂąnea.
7ÂȘ BIENAL DO MERCOSUL
Quando: de ter. a dom., das 9h às 21h; até 29/11
Onde: Armazéns do Cais do Porto, Santander Cultural e Museu de Arte do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre; tel. 0/ xx/51/3433-7686
Quanto: entrada franca
Cotação: ótimo
Fabio Cypriano â Fonte: Folha de S.Paulo â 19/10/09.
Mais detalhes:
http://www.bienalmercosul.art.br/
ENFOQUE EM PROCESSOS DE CRIAĂĂO
Bienal grita, escuta e se faz escutar. Tudo indica que a intensa movimentação que, desde julho, jĂĄ se sente em Porto Alegre continuarĂĄ apĂłs a abertura oficial da Bienal do Mercosul. Todo o barulho gerado pela presença de artistas residentes vindos de diversos paĂses e Estados brasileiros serĂĄ amplificado pelo tema desta 7ÂȘ edição do evento, "Grito e Escuta", e farĂĄ jus ao eixo central da exposição: a ĂȘnfase nos processos de criação. Com curadoria-geral da argentina Victoria Noorthoorn e do chileno Camilo Yañez, a mostra conta com a participação de mais de 200 artistas e se estrutura em sete exposiçÔes, uma rĂĄdio, um programa editorial e um projeto pedagĂłgico.
Nove artistas foram chamados para participar da formatação da mostra. Saem os teóricos, entra "gente que faz". O resultado é uma equipe formada basicamente por curadores-artistas, em uma mostra marcada por programas que se entrecruzam, se confundem e se contradizem. Positivamente. Essa "dança das cadeiras", como a curadora Laura Lima define a troca de papéis entre artistas e curadores, tem o intuito de romper hierarquias e apresentar novos modelos de exposiçÔes. Laura faz a curadoria de "Absurdo", exposição em que 12 artistas são convidados a instalar seus trabalhos em um armazém cheio de terra.
Outra proposta que se destaca Ă© "A Ărvore MagnĂ©tica", em que os trabalhos sĂŁo programados para serem modificados dez vezes ao longo da exibição. Ao ser convidada para apresentar uma obra que se transformasse, a videoensaĂsta chilena Ingrid Wildi optou por conjugar, em diferentes telas, filmes realizados na Ășltima dĂ©cada e as referĂȘncias teĂłricas e diagramas de suas pesquisas. A obra Ă© o making of de um laborioso processo criativo e a afirmação de que, muitas vezes, um artista realiza muitas obras em uma sĂł.
A diversidade de propostas nĂŁo esconde um sentido comum a toda mostra: pensar os limites formais das exposiçÔes de arte. Esse Ă© o intuito da exposição "Texto PĂșblico", em que a cidade, suas vias pĂșblicas e meios de comunicação sĂŁo a matĂ©ria prima das obras (leia quadro) e do programa de residĂȘncias, que deu a 14 artistas a possibilidade de se misturar com a população, desenvolvendo atividades em Porto Alegre e em nove regiĂ”es do Estado.
Um desses artistas-residentes, o francĂȘs Nicolas Floc'h, realizou junto a trĂȘs comunidades "A Grande Troca - Um Projeto para Desejos Coletivos". Sua proposta foi produzir, com os moradores, objetos que representassem desejos de consumo. Camisetas, latas de tinta, instrumentos musicais e atĂ© um microĂŽnibus confeccionado em madeira, em escala real, materializam um trabalho que começou a ser feito muito antes de a Bienal inaugurar e se estenderĂĄ por tempo indeterminado. Realizadas coletivamente por artistas anĂŽnimos, essas obras de arte estĂŁo expostas a quem queira trocĂĄ-las por objetos reais.
"O projeto só se conclui quando a troca acontece", afirma Floc'h. Bastante representativa da proposta da Bienal, essa obra permanece aberta e inacabada. Como toda Bienal, em constante transformação.
Gabriela Motta, de Porto Alegre (RS)
DiĂĄlogo entre arte e jornalismo
O ensaio fotogrĂĄfico da seção de artes visuais desta semana integra o projeto "Fotojornalismo", de Mauro Restiffe. Artista convidado da 7ÂȘ Bienal do Mercosul, Restiffe procurou Is toĂ© e se ofereceu como fotĂłgrafo para cobrir pautas jornalĂsticas definidas pela revista. Proposta aceita, ele foi pautado para cobrir a montagem da prĂłpria Bienal.
O projeto exigiu de ambas as partes uma negociação: o artista se submeteu Ă s regras do jornalismo - foi pautado e se enquadrou em uma estrutura de prazos rigorosos - e a redação se adequou Ă regra do jogo do artista, aceitando trabalhar com imagens em P&B, produzidas por um equipamento analĂłgico que hĂĄ muitos anos jĂĄ nĂŁo faz parte dos procedimentos da imprensa. Feliz resultado de uma troca de gentilezas e de restriçÔes, o presente ensaio dĂĄ continuidade Ă sĂ©rie realizada pelo artista para o jornal "Zero Hora", em exibição na exposição "Texto PĂșblico", no Cais do Porto (foto). Esta Ă© uma das sete exposiçÔes da Bienal, que, segundo o curador Artur Lescher, apresentam trabalhos que ocupam os espaços sonoros, as vias pĂșblicas e os meios de comunicação.
Paula Alzugaray - Fonte: Isto à - Edição 2084.
ARTE E LITERATURA REINVENTAM PORTO ALEGRE
DE OLHO: Capital gaĂșcha se transforma em polo de cultura com a 7ÂȘ edição da Bienal do Mercosul e a 55ÂȘ Feira do Livro.
A partir da prĂłxima semana, Porto Alegre se consolida como capital cultural do paĂs, ao menos durante o mĂȘs de novembro. AlĂ©m da sĂ©tima edição da Bienal do Mercosul, jĂĄ inaugurada, ocupando trĂȘs grandes espaços da cidade e algumas intervençÔes pontuais, a capital gaĂșcha Ă© sede ainda da 55ÂȘ Feira do Livro de Porto Alegre.
Até o dia 15 de novembro, a praça da Alfùndega, no centro da cidade, irå reunir 170 editoras e livreiros, promovendo nada menos que 700 sessÔes de autógrafos, evento que movimenta centenas de pessoas em torno da literatura.
JĂĄ a Bienal do Mercosul reĂșne mais de 250 artistas, cerca de 120 nos espaços expositivos e os demais participantes da Radiovisual, que diariamente transmite um programa na radio FM Cultura, em Porto Alegre, mas tambĂ©m estĂĄ Ă disposição no site do evento.
Em sua sĂ©tima edição, a Bienal do Mercosul, denominada "Grito e Escuta", com curadoria da argentina Victoria Noorthoorn e do artista chileno Camilo Yåñez, Ă© uma das mais radicais experiĂȘncias em arte contemporĂąnea.
Experimental
Enquanto no Museu de Arte do Rio Grande do Sul a mostra "Desenho das Ideias" é concebida de forma elegante e tradicional, com trabalhos nas paredes, quatro armazéns do Cais do Porto dão o toque experimental ao evento. Em um deles, o armazém 3, mais de cem toneladas de areia constróem uma cenografia arrebatadora, concebida pela artista Laura Lima, que selecionou os oito artistas desse segmento denominado "Absurdo".
HĂĄ quem ache exagerado, mas para uma artista que trabalha com performance, como Laura, o percurso irregular e desafiador nĂŁo deixa de ser coerente. No armazĂ©m 5, hĂĄ duas mostras mescladas: "Texto PĂșblico", organizada por Artur Lescher, e "Biografias Coletivas", de Yåñez. Na primeira, com 18 artistas, dez realizaram intervençÔes na cidade e no espaço expositivo estĂŁo registros dessas obras. Uma das mais comentadas Ă© a obra de Henrique Oliveira, numa antiga casa com protuberĂąncias que parecem imensos tumores de madeira, criados pelo artista nas portas e janelas. Localizada na rua da Praia, 400, prĂłxima Ă praça da AlfĂąndega, serĂĄ passagem para muitos que visitarĂŁo a feira do livro, num interessante diĂĄlogo entre os dois eventos.
7ÂȘ BIENAL DO MERCOSUL
De ter. a dom., das 9h às 21h; até 29/11; nos armazéns do Cais do Porto, Santander Cultural e Museu de Arte do Rio Grande do Sul; tel. 0/ xx/51/3433-7686; entrada franca
http://www.bienalmercosul.art.br/
55ÂȘ FEIRA DO LIVRO DE PORTO ALEGRE
De 30/10 a 15/11; para informaçÔes sobre horårios e locais, ligue para 0/xx/51/3225-5096 ou consulte
http://www.feiradolivro-poa.com.br/
Fabio Cypriano - Fonte: Folha de S.Paulo â 22/10/09.
NĂŁo deixem de enviar suas mensagens atravĂ©s do âFale Conoscoâ do site.
http://www.faculdademental.com.br/fale.php