FALANDO NO HAITI
30/07/2012 -
FALOU NO FM? TĂ FALADO!
TV Ă DISTRAĂĂO PARA POBRES
English: 'Regards Croisés' Offers Haiti Needed Comic Relief on TV ...
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Dois anos e meio depois do terremoto que devastou o Haiti, a vida neste paĂs pode ser uma luta.
"Nem pude comprar um presente decente de Dia das Mães para minha mãe", queixou-se Soraya. "Acabei gastando minha mesada e comprando para ela uma passagem para Paris. Não é nada de especial, mas o que vale é a intenção, certo?"
Soraya Ă© uma das personagens de um programa de humor da TV, "Regards CroisĂ©s". Ela Ă© uma caricatura de uma "zuzu", ou garota rica e fĂștil da elite. As zuzus sĂŁo muito comuns em Miami e em Paris, mas difĂceis de encontrar nos morros de Porto PrĂncipe, onde fazem compras, vĂŁo Ă academia e a festas apenas atrĂĄs de muros altos com arame farpado e primaveras em flor. Elas se comunicam no "dialeto das zuzus" -um misto de crioulo, francĂȘs e inglĂȘs, falado em voz aguda e afetada. Todo sĂĄbado Ă noite, os haitianos se divertem, rindo da afetação de Soraya.
"Regards CroisĂ©s" ("Pontos de Vista") estĂĄ no ar hĂĄ pouco mais de um ano e faz sucesso com os haitianos pobres e de classe mĂ©dia que vivem "morro abaixo", como dizem as pessoas aqui. Os esquetes improvisados do programa, com seus tipos muito conhecidos -o professor pouco treinado, o cĂŽnsul volĂșvel- ironizam o cotidiano haitiano, as divisĂ”es de classe e as dificuldades enormes.
O Haiti Ă© um paĂs pobre, dependente de ajuda externa, rico em instabilidade polĂtica, corrupção e desastre. Numa paisagem televisiva ĂĄrida, dominada por telenovelas mexicanas dubladas em francĂȘs e vĂdeos de rap cantados em crioulo, o programa permite aos haitianos rir de seus problemas e deles mesmos.
Mas sua popularidade revela muito sobre as divisĂ”es sociais do paĂs. Produzido com baixo orçamento, o programa Ă© em grande medida ignorado ou desconhecido pela pequena elite haitiana. FuncionĂĄrios humanitĂĄrios estrangeiros e executivos haitianos da mĂdia local dizem que a população precisa de programas feitos no Haiti, para haitianos. Mas jĂĄ existe um programa desse tipo no ar.
Em um episódio, Sophia Baudin faz a consulesa Sophia, chefe da embaixada americana que encontra razÔes totalmente arbitrårias -por exemplo, cabelo feio- para negar vistos a haitianos. Todos os candidatos a vistos de entrada nos EUA são rejeitados até que aparece um homem bonito, de pele clara. "Não preciso ver seus papéis", diz a consulesa Sophia. E då um visto a ele.
Como os outros atores de "Regards Croisés", Baudin costuma ser reconhecida quando anda na rua. "As pessoas gritam 'foi essa mulher que me negou um visto'", contou. "Muita gente me odeia."
O personagem encontra eco entre as pessoas que fazem fila para pedir vistos na embaixada americana, que exige exames de DNA para verificar se elas de fato tĂȘm parentesco com as pessoas nos Estados Unidos que afirmam ser seus familiares.
"à humilhante", comentou a assistente social Jessie Paulemon, 36. "Conheço muita gente bem-sucedida que jå foi rejeitada vårias vezes sem critérios."
"Regards CroisĂ©s" Ă© transmitido pelo canal estatal TĂ©lĂ©vision Nationale d'HaĂŻti. A fama do programa cresceu com vĂdeos no YouTube e pĂĄginas de fĂŁs na internet. Os haitianos assistem ao programa na rua, em barbearias, em bancas de cerveja. Os moradores de favelas e acampamentos assistem Ă TV usando gatos improvisados na rede elĂ©trica.
O apresentador e produtor Georges BĂ©leck Ă© um dramaturgo que em 1992 fundou um grupo de teatro, ComĂ©dia Haitiana Sem Fronteiras. "Antes eu fazia dramas, mas depois do terremoto passei para o humor", contou. "As pessoas jĂĄ estavam chorando tanto na vida real -por que fazĂȘ-las chorar tambĂ©m no teatro?"
Na primeira hora do programa, que tem 90 minutos, BĂ©leck entrevista escritores, cantores e polĂticos. Jennifer Septimus, 23, conta que "Regards CroisĂ©s" lhe ajuda a se distrair das preocupaçÔes. "Quando hĂĄ eletricidade e a gente consegue sintonizar a TV, eu nunca perco o show", disse.
Alessandra Stanley â Fonte: Folha de S.Paulo â 23/07/12.
Reportagem original em inglĂȘs do âThe New York Timesâ: 'Regards CroisĂ©s' Offers Haiti Needed Comic Relief on TV ...
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LULA, DIRCEU E A âFARSAâ
A CPI havia confirmado as denĂșncias feitas Ă Folha semanas antes por Roberto Jefferson quando, em agosto de 2005, Lula entrou em rede nacional de TV e disse que o governo e o PT tinham de "pedir desculpas": "Eu me sinto traĂdo por prĂĄticas inaceitĂĄveis, das quais nĂŁo tive conhecimento".
Em entrevista na virada daquele ano, o presidente reiterou que havia levado uma "facada nas costas". O partido cometera "um erro de gravidade incomensurĂĄvel" e precisaria "sangrar muito para poder se colocar diante da sociedade outra vez com credibilidade".
Ăquela altura, o PT jĂĄ tinha sido submetido a uma temporada de purgação. Associada ao esquema ilegal de financiamento, sua direção caĂra inteira. Interessado em se desgarrar do escĂąndalo, Lula estimulou o ato pĂșblico de contrição.
O mensalĂŁo sĂł passou a ser "desconstruĂdo" depois que a imprensa desmontou a versĂŁo do presidente, revelando que ele, se nĂŁo tinha pessoalmente autorizado as reinaçÔes do tesoureiro DelĂșbio Soares, havia sido alertado sobre elas muito antes da entrevista-bomba de Jefferson. Virou "farsa" e "tentativa de golpe" apenas quando Lula conseguiu reagrupar apoio polĂtico.
Em 2010, quando, em resposta ao MinistĂ©rio PĂșblico, ele finalmente abandonou o discurso do "eu nĂŁo sabia", a mĂĄquina federal jĂĄ rodava forte para blindar o presidente.
A PF tinha pisado no freio. Os saques nas contas do PT irrigadas pelo valerioduto nĂŁo foram rastreados. O inquĂ©rito que comprovou o desvio de dinheiro pĂșblico mal andava. SĂł seria concluĂdo no ano seguinte, Ă revelia, custando uma "geladeira" ao delegado responsĂĄvel -advertido, curiosamente, pelo ministro da Justiça, JosĂ© Eduardo Cardozo, que, na Ă©poca de deputado, adorava criticar o PT mensaleiro.
Réu mais célebre do mensalão, o ex-ministro José Dirceu em boa medida paga o pato pelo ex-chefe.
Melchiades Filho â Fonte: Folha de S.Paulo â 30/07/12.
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