MEMĂRIA CURTA
25/06/2009 -
EDITORIAL
Diante de todos os acontecimentos recentes no Senado Federal, declaraçÔes inusitadas dos nobres ocupantes do Congresso Nacional, bem como reaçÔes das mais distintas das autoridades brasileiras, incluindo V.Sa. o presidente da RepĂșblica, esse Editorial abre espaço para uma matĂ©ria publicada por Veja hĂĄ mais de 23 anos (14 de maio de 1986):
âEMPREGUISMO â DEBAIXO DO PANO â Trem da alegria pega filha de Sarney. AtĂ© a semana passada, sabia-se que a filha do presidente JosĂ© Sarney, Roseana Sarney Murad, era uma assessora do Senado Federal contratada temporariamente, com prazo delimitado para deixar a função. Na Ășltima sexta-feira, porĂ©m, descobriu-se que Roseana, na verdade, pertence ao quadro dos funcionĂĄrios permanentes da Casa, mesmo sem ter prestado nenhum concurso pĂșblico, como exige a lei. Seu nome figura em um almanaque de funcionĂĄrios do Senado, publicado apenas recentemente, ao lado de outros 59 âassessores tĂ©cnicosâ efetivados como empregados da Casa desde janeiro do ano passado, com salĂĄrios, em mĂ©dia, de 25.000 cruzados. Na cidade de Praia, no Cabo Verde, onde acompanhava o presidente Sarney (veja reportagem Ă pĂĄg. 28), o marido de Roseana e secretĂĄrio particular da PresidĂȘncia, Jorge Murad, reagiu com espanto Ă denĂșncia, publicada pelo jornal Folha de S.Paulo. âNem mesmo a Roseana sabe dissoâ, afirmou Murad.
O âtrem da alegriaâ no qual a filha de Sarney foi embarcada passou pelo Senado no dia 14 de janeiro de 1985. Ăs vĂ©speras da reuniĂŁo do ColĂ©gio Eleitoral que escolheu Tancredo Neves para a PresidĂȘncia da RepĂșblica, o entĂŁo presidente do Senado, Moacyr Dalla, do PDS do EspĂrito Santo, resolveu agradar vĂĄrios de seus colegas e criou, sem concurso, 60 novas vagas, preenchidas muito mais por critĂ©rios genealĂłgicos do que curriculares. AlĂ©m de Roseana, que servia como assessora de Sarney em 1980, foram efetivados AntĂŽnio CĂąndido Furlan, filho do senador Amaral Furlan, do PDS paulista. Magna Lucia Gadelha, mulher do senador Marcondes Gadelha , do PFL da ParaĂba; Murilo Canellas, irmĂŁo do senador Benedito Canellas, do PFL de Mato Grosso; Maria do CĂ©u Jurema Garrido, filha do senador Aderbal Jurema, do PFL de Pernambuco; Neila Yara Michiles, filha da senadora Eunice Michiles, do PFL amazonense; e JoĂŁo Agripino Vasconcelos Maia, primo de JosĂ© Agripino Maia, governador do Rio Grande do Norte; entre outros.
O mais interessante da histĂłria Ă© que o ato de nomeação desses funcionĂĄrios, ao contrĂĄrio do que determina a legislação, nĂŁo foi divulgado na Ă©poca em nenhuma publicação oficial do Senado. O fato sĂł veio a pĂșblico este ano, com a publicação do almanaque de funcionĂĄrios da Casa. âTudo foi feito dentro da legalidadeâ, afirma o senador Raimundo Parente, do PDS do Amazonas, cujo filho, Celso Parente, tambĂ©m entrou no Senado num trem da alegria manobrado por Jarbas Passarinho quando presidia a Casa.
âEssas nomeaçÔes sĂŁo uma tradição do Senadoâ, complementa Milton Cabral, senador pelo PFL paraibano. A tradição Ă© simples: o senhor chega Ă Casa com oito anos de mandato e filhos, noras ou genros com uma vida pela frente. Emprega alguns deles como assessores e explica que se nĂŁo pode confiar nos parentes nĂŁo poderĂĄ confiar em mais ninguĂ©m. O tempo passa e, com a proximidade do fim do mandato, o Senado efetiva os interinos, tornando vitalĂcias as nomeaçÔes. Assim, se o senador em oito anos nĂŁo consegue marcar os anais, seus parentes ficam na Casa marcando a folha de pagamento. Tramita atualmente entre os parlamentares, com aval da ComissĂŁo de Constituição e Justiça, uma resolução que, se aprovada, efetivarĂĄ pelo menos mais 200 secretĂĄrios particulares sem concurso. Envolvido nesse novo trem da alegria que se monta no Senado, o seu presidente, JosĂ© Fragelli, acabou arrumando uma desculpa de Ășltima hora quando perguntado sobre o âtremâ do ano passado. âEu nĂŁo poderia brigar com a filha do presidente da RepĂșblicaâ, explica Fragelli. No dia em que Roseana foi nomeada, porĂ©m, seu pai era apenas o candidato a vice.â
Qualquer semelhança com o momento atual Ă© mera coincidĂȘncia. SĂł comprova que ato secreto no Senado Ă© "coisa do passado". A memĂłria do povo brasileiro continua curta...
Imagem acima - Para acessar a matéria completa vå até http://veja.abril.com.br/acervodigital/ selecione o ano de 1986 e a edição 923. Estå na pågina 31.
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Imagem Capa - Fonte: http://memoriavirtual.net/.
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