IDĂIAS...
07/04/2007 -
PENSE!
PALAVRA DA SEMANA: TIME
"Somos um time" Ă© uma expressĂŁo muito usada em empresas para fomentar o espĂrito de equipe, A palavra de origem germĂąnica team significa "puxar" e era usada para os bois que puxavam o arado. NO sĂ©culo XVI, o termo foi estendido aos humanos que faziam trabalhos em conjunto. Ă esse segundo sentido, presumivelmente, que as empresas atuais se referem.
Max Gehringer
Fonte: Ăpoca - nĂșmero 464
MENSAGEM SIMPLES
Se vocĂȘ jĂĄ perdeu um dedo, Ă© mais feio do que o permitido, mais baixo do que o mais baixo, nĂŁo tem o suficiente ou tem excesso de insuficiĂȘncias, se espera e nunca alcança, se tudo que reluz nĂŁo Ă© ouro, e a vida nĂŁo estĂĄ ao teu alcance; vocĂȘ ainda estĂĄ vivo.
MillĂŽr.
Fonte: Veja - Edição 2003.
LIDERANĂA COM COERĂNCIA
O tema "liderança" vem sendo debatido e abordado de diversas maneiras nos Ășltimos anos.
Mas o que vem a ser liderança? A palavra liderança deriva do substantivo "lĂder", que significa: a pessoa que vai Ă frente para guiar ou mostrar o caminho ou que precede ou dirige qualquer ação, opiniĂŁo ou movimento. O "ir Ă frente" pode ser visto tambĂ©m como a influĂȘncia exercida por alguĂ©m na tomada de decisĂŁo do outro.
Os dirigentes, em muitos processos de tomada de decisão, impÔem regras e normas que somente são vålidas para os subordinados. Assim, a realidade de convençÔes e regras torna-se delimitada a grupos sociais. Dependendo do lugar em que o funcionårio encontra-se na empresa, a realidade transforma-se em uma verdade modificada, pois o que é vålido para alguns não é para outros.
Aprendemos desde pequenos a ler nas entrelinhas, a compreender aquilo que nĂŁo foi dito e que quis ser falado. Quantas vezes em nossas vidas escutamos o ditado: "Faça o que eu digo, nĂŁo faça o que eu faço"? Esse ditado reflete a hipocrisia defendida por alguns, pois o cultivo de uma vida de aparĂȘncias torna-se elemento importante para garantir a manutenção do poder.
O lĂder coerente Ă© aquele que assume uma postura verdadeiramente exemplar e nĂŁo usa um discurso diferente de suas açÔes. Por exemplo, ele nĂŁo exige pontualidade de seu colaborador se nĂŁo for pontual - e sim faz um banco de horas para resolver esse assunto ou toma alguma outra atitude de acordo com a sua conduta.
A coerĂȘncia nĂŁo Ă© fĂĄcil de ser exercida quando nĂŁo Ă© verdadeira. A tendĂȘncia Ă© escorregar para a coerção, tornando o autoritarismo usual. Esbarramos em eternos dilemas envolvendo esse assunto nas mais diversas empresas.
Quantas vezes ouvimos reclamaçÔes sobre remuneraçÔes a serem pagas para profissionais que consigam ultrapassar as metas estipuladas, sendo essas metas impossĂveis de serem atingidas? Esse Ă© o tipo de atitude tomada por lĂderes que tende a gerar frustração e insatisfação entre os colaboradores.
Ă uma mostra da hipocrisia atuando de novo, jĂĄ que Ă© mais fĂĄcil "fingir" um incentivo, que na verdade Ă© inalcançåvel, do que realmente debater e procurar um objetivo real e concreto que possa vir a descortinar algum tipo de fragilidade desse lĂder.
Ser lĂder dĂĄ trabalho, pois esse Ă© um papel constantemente testado pelo grupo. Significa, freqĂŒentemente, estar no limite entre a autoridade e a aparĂȘncia, dado que a compatibilidade entre seus atos Ă© que irĂĄ garantir sua credibilidade. Para se manter como lĂder a pessoa tem que possuir e demonstrar atitudes coerentes com os seus dogmas, crenças e opiniĂ”es.
De outra maneira, a equipe percebe que as atitudes de quem estĂĄ na liderança nĂŁo sĂŁo verdadeiras e autĂȘnticas. O exemplo e a coerĂȘncia tornam-se importantes. Uma atitude diferenciada do discurso propicia um caminho para o "jeitinho". Constatamos isso todos os dias.
Quem nunca ouviu: "NĂŁo podemos dar desconto a ninguĂ©m, mas para o meu pai Ă© diferente"? Em uma empresa ou organização, muitas vezes podemos observar executivos usando dois pesos, duas medidas. SĂŁo rigorosos com seus subordinados, mas muito flexĂveis com tudo que envolve seus interesses pessoais. Atitudes incoerentes trazem aos membros da equipe um sentimento de desconfiança. O lĂder, antes de mais nada, tem que transmitir segurança ao seu grupo, para assegurar sua credibilidade e manter-se na posição com autoridade.
O lĂder vive em uma vitrine e deve ser sempre um modelo a ser seguido. A liderança deve ser exercida com responsabilidade, com verdade e coerĂȘncia - ainda mais na crise moral que vivenciamos. Os dirigentes das empresas, as efetivas lideranças, precisam se tornar balizadores nas organizaçÔes de posturas morais e Ă©ticas.
Por Ruth Bandeira
Consultora da De Bernt Entschev
(Colaboração: Valéria)
DESPERTA BRASIL!
O CAOS AĂREO que tomou conta do Brasil na Ășltima semana Ă© prova cabal de que os investimentos em infra-estrutura nĂŁo se improvisam.
A inĂ©rcia nesse campo tem um preço altĂssimo. No caso, tive notĂcias de que muitos vĂŽos que sairiam da Europa e da AmĂ©rica do Norte para os paĂses da AmĂ©rica do Sul foram cancelados por uma razĂŁo muito simples: ninguĂ©m de bom senso quer voar sobre o espaço aĂ©reo brasileiro sabendo que nĂŁo pode se comunicar com os postos de controle em terra.
O mundo inteiro ficou sabendo que a morte das 154 pessoas no desastre da Gol de 29 de setembro de 2006 foi devido, em grande parte, à falta de comunicação nas zonas cegas do Brasil central. Gato escaldado tem medo de ågua fria...
NĂŁo bastasse a insegurança em terra devido ao crĂŽnico estado de crime e violĂȘncia, vem agora a insegurança no ar. A imprensa veiculou que, nos Ășltimos seis meses, as agĂȘncias de viagem perderam 40% dos passageiros que haviam programado uma vinda do Brasil a passeio ou a negĂłcios. A imagem do paĂs se deteriora.
No setor da infra-estrutura, optamos pela improvisação. Isso nĂŁo dĂĄ certo. As montadoras produzem mais de 2 milhĂ”es de automĂłveis por ano, mas nĂŁo temos malha viĂĄria urbana ou transporte de massa para acomodar essa invasĂŁo de veĂculos. Os operosos agricultores produzem 60 milhĂ”es de toneladas de soja, mas nĂŁo temos estradas para transportĂĄ-los. O desperdĂcio Ă© enorme. Os industriais fazem um grande esforço para alavancar as exportaçÔes, mas nĂŁo contam com portos adequados. Todos querem que o Brasil cresça ao menos 5% ou 6% ao ano, mas falta energia para passar dos 4%. Tampouco temos mĂŁo-de-obra qualificada para enfrentar um ritmo mais acelerado de desenvolvimento.
Infra-estrutura nĂŁo se improvisa. Nesse setor, as medidas tĂȘm de ser tomadas com muita antecedĂȘncia e com base em uma boa estimativa do crescimento da demanda. As obras sĂŁo demoradas. A formação de pessoal Ă© lenta. No caso dos controladores de vĂŽo, fala-se em um mĂnimo de dois anos, mas os que sĂŁo do ramo dizem que, com menos de cinco anos, ninguĂ©m pode enfrentar a complexidade de controlar o trĂĄfego aĂ©reo em aeroportos de grande movimento como os de Congonhas, Guarulhos, Santos Dumont, Tom Jobim e BrasĂlia.
AlĂ©m de estarmos a pĂ© em matĂ©ria de equipamentos e pessoal, mostramos o nosso despreparo para as horas de crise. Passa-se por cima de "clĂĄusulas pĂ©treas" com a maior facilidade e nĂŁo hĂĄ equipes de reserva para garantir um mĂnimo de segurança. Desse jeito vamos ficar parados nos 3% de crescimento por muito tempo. Ă hora de acordar. Desperta Brasil!
ANTĂNIO ERMĂRIO DE MORAES
Fonte: Folha de S.Paulo - 08/04/2007.
A ERA DO "LIBEROU TOTAL"
NinguĂ©m mais diz para os outros: "O que os outros vĂŁo pensar disso?" Ă primeira vista, cada um se diz capaz de passar ao largo da opiniĂŁo alheia, imaginando-se assim cada vez mais livre. SĂł que a liberdade correu demais, invadiu tudo e virou dever. NĂŁo Ă© politicamente correto confessar que nos abalamos com restos infames de autoritarismo que estĂŁo no olhar alheio. Pondo o outro de escanteio, acreditamos eliminar culpa e vergonha e, assim, ficamos mais "nĂłs mesmos". Contudo, ser livre Ă© tambĂ©m poder transgredir, de preferĂȘncia ser pego em flagrante.
O pecado hoje Ă© nĂŁo ser transparente. Vivemos um "liberou total". Todos se mostram e confessam verdades, e a barreira entre o pĂșblico e o Ăntimo se evaporou. Assim como expomos delitos, as vergonhas, as dores e as fraquezas sĂŁo expostas. Os gordos nĂŁo mais disfarçam seus pneus. A alça do sutiĂŁ nĂŁo Ă© mais escondida e a operação plĂĄstica Ă© matraqueada. NĂŁo se cerzem mais buracos; tudo Ă© mal e mal alinhavado e, quando nĂŁo hĂĄ rasgĂŁo, rasga-se.
Ă assim que chegamos Ă nova liberdade de ser, o que, para mim, que sou gorda, Ă© o mĂĄximo. Camisetas e collants, antes sĂł para magros, hoje vestem quantos quilos forem. HĂĄ pouco tempo, gordas sĂł tiravam a canga na beirada da ĂĄgua e um gordo nĂŁo tirava a camiseta.
Quanto Ă aparĂȘncia fĂsica, libertamo-nos mesmo. Em matĂ©ria de emoção e de desejos, o caminho nĂŁo foi tĂŁo fĂĄcil. Devemos expressar tudo o que sentimos, sem ligar para a dor ou o desconforto que podemos provocar? Na Ăąnsia de sermos verdadeiros, esquecemos o outro. NĂŁo podemos mais usar esconderijos. MĂĄscaras e disfarces sĂŁo malvistos. Exibimos nossos desejos e carĂȘncias, somos impulsivos e excessivos, mostrando o que antes nĂŁo era exibido nem na intimidade. Casais contam qualquer deslize, de fato ou mesmo sĂł de intenção. E dias de angĂșstia se seguem.
A transparĂȘncia Ă© exigĂȘncia da Ă©tica atual. Nem por misericĂłrdia ou piedade salvamos nossos semelhantes das duras verdades. Ă proibido dissimular. SerĂĄ isso liberdade? Temo que venha provocando dor e mĂĄgoa. Como se diz por aĂ, a verdade Ă s vezes pode ser cruel e nem sempre Ă© necessĂĄria.
Ocorreu um terremoto nas relaçÔes de alteridade, em nome de nos libertarmos da desaprovação autoritåria. Mas serå que pensar e negociar, é sempre tão antiético? Para não perder o pique das palavras de ordem que venho usando, aqui vai mais uma: o preço da liberdade é a eterna vigilùncia. Serå que a educação que estamos dando e recebendo nos treina para a necessåria vigilùncia? Espero que sim.
Anna Veronica Mautner, psicanalista da Sociedade Brasileira de PsicanĂĄlise de SĂŁo Paulo, Ă© autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (ed. Ăgora).
(Fonte: Folha de S.Paulo - 12/04/2007)
SOBRE RANKINGS ESCOLARES
Q ual a utilidade de um ranking de escolas? Sejam fundamentadas no nĂșmero de alunos que passam no vestibular ou no resultado obtido no Enem, hoje temos vĂĄrias listas que destacam algumas escolas e jogam lĂĄ para o meio ou para o final da fila tantas outras. Tais listas nĂŁo tĂȘm utilidade alguma e dizem muito pouco sobre o valor de uma escola ou sobre seu modo de funcionar. Mesmo assim, sĂŁo usadas para avaliar a qualidade de ensino praticado.
Uma conseqĂŒĂȘncia dessas listas tem a ver com as prĂłprias escolas. As que se situam no topo acreditam que o resultado Ă© a prova de que estĂŁo no caminho certo e que nĂŁo precisam rever seus mĂ©todos. As demais ficam pressionadas a atingir resultados melhores. Ora, o trabalho que uma escola realiza nĂŁo pode ser reduzido ao ĂȘxito escolar de seus alunos avaliado dessa maneira.
Ă que a instituição escolar nĂŁo funciona como uma empresa, que precisa ser eficiente a qualquer custo. Como estrutura social, ela tem finalidades bem mais preciosas, que sĂł podem ser medidas uma ou duas dĂ©cadas apĂłs o aluno sair de lĂĄ. AlĂ©m da transmissĂŁo do saber, a escola tem de ensinar o exercĂcio da cidadania e promover a construção da autonomia.
Formar o futuro cidadĂŁo Ă© ensinar e praticar valores coletivos e democrĂĄticos, ensinar a conviver com a diversidade, a superar preconceitos e estereĂłtipos e, sobretudo, a usar o saber em benefĂcio de todos, e nĂŁo sĂł prĂłprio ou de poucos. Assim, o fato de sabermos as escolas que freqĂŒentaram os alunos de determinadas faculdades mostra apenas que algumas escolas instruem bem em relação a certas disciplinas do conhecimento e Ă execução de provas de avaliação. Mas e as outras atribuiçÔes?
Queremos saber algo mais sobre uma escola? Vejamos como anda a vida profissional dos alunos que lå se formaram. Serå que trabalham só em busca de uma vida confortåvel ou querem mais do que isso? Mas não nos esqueçamos da liberdade na vida adulta: por melhor que tenha sido a formação escolar båsica de uma pessoa, ao ganhar autonomia ela faz suas próprias escolhas.
O fato Ă© que sĂŁo raras as escolas de ensino fundamental e mĂ©dio que tĂȘm dado conta de suas trĂȘs importantes funçÔes, e nĂŁo hĂĄ ranking algum que consiga ocultar esse fato. Essa questĂŁo Ă© de todos nĂłs, e nĂŁo sĂł de quem tem filhos em idade escolar ou trabalha em escola. Afinal, nosso futuro terĂĄ as marcas desse tipo de formação.
Rosely SayĂŁo Ă© psicĂłloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha).
(Fonte: Folha de S.Paulo - 12/04/2007)