CRISE FINANCEIRA
01/10/2008 -
MANCHETES DA SEMANA
DRAMA HISTĂRICO
Acompanhe as principais manchetes do mundo sobre a crise financeira:
O QUE ESTĂ ACONTENCENDO?
"What's going on?", O que estĂĄ acontecendo?, dizia a Ăąncora da CNN (http://edition.cnn.com/), diante dos nĂșmeros da votação. O pacote havia caĂdo, mas o processo legislativo Ă© uma confusĂŁo. E em instantes jĂĄ começava no canal e na Fox News (http://www.foxnews.com/) o esforço republicano de jogar a culpa na presidente democrata da CĂąmara. E ouviram os dois lados, outros republicanos, John McCain inclusive, e o fato polĂtico virou um grande nada.
Nos sites e nos mesmos canais, por outro lado, os nĂșmeros a seguir passaram a ser outros. Wall Street caĂa 600 pontos, diminuiu para 500, voltou a desabar e fechou em 777. A derrota do plano foi "um momento de drama histĂłrico", destacou o "New York Times" (http://www.nytimes.com/2008/09/30/business/30bailout.html?_r=1&hp&oref=slogin), e levou Ă "pior queda num sĂł dia, em duas dĂ©cadas" (http://www.nytimes.com/2008/09/30/business/30markets.html?hp). TambĂ©m para o "Wall Street Journal" (http://online.wsj.com/article/SB122270285663785991.html) foi uma derrota "histĂłrica". Mas, de Rupert Murdoch como a Fox News, tambĂ©m o site sublinhou que "culpam Nancy Pelosi" (http://blogs.wsj.com/washwire/2008/09/29/house-republicans-blame-pelosis-speech/), na fantasia americana do dia.
"DROP DEAD"
O Market Watch (http://www.marketwatch.com/news/story/story.aspx?guid=%7B6FCA5CAB%2DBFB5%2D41ED%2D8FBB%2DB4005F4169DA%7D&siteid=djm_HAMWRSSFirstH) postou duas anĂĄlises. Na primeira, do chefe do site em Washington, "os republicanos da CĂąmara disseram aos mercados que eles terĂŁo que resolver seus problemas sozinhos". Ou seja, "Da CĂąmara para Wall Street: morra" (drop dead).
No outro, do editor-chefe do site que Ă© referĂȘncia global, o tĂtulo era "Congresso paga para ver o blefe de Wall Street, e nĂłs perdemos" (http://www.marketwatch.com/news/story/how-rejecting-700-billion-bailout/story.aspx?guid=%7B32B3D375%2D5D32%2D4DEA%2DB3F8%2D6DDA3FD54E79%7D). Ou ainda, "como a rejeição de um plano de US$ 700 milhĂ”es vai nos custar US$ 1 trilhĂŁo".
"BANANA REPUBLIC"
No "NYT", o colunista Paul Krugman (http://krugman.blogs.nytimes.com/2008/09/29/ok-we-are-a-banana-republic/) blogou o post "OK, somos uma RepĂșblica de Bananas". Ou seja, "temos um governo nĂŁo-funcional".
PARA O MUNDO
No "Financial Times" (http://www.ft.com/cms/s/a73825e8-8e59-11dd-9b46-0000779fd18c,Authorised=false.html?_i_location=http%3A%2F%2Fwww.ft.com%2Fcms%2Fs%2F1%2Fa73825e8-8e59-11dd-9b46-0000779fd18c.html&_i_referer=http%3A%2F%2Fwww1.folha.uol.com.br%2Ffsp%2Fbrasil%2Ffc3009200814.htm), uma primeira anĂĄlise destacou o efeito sobre o mundo inteiro, com o Ăndice MSCI World "registrando sua maior queda desde a criação em 1970". E agora?, perguntou-se, para responder que o governo tem que bancar o setor financeiro "e rapidamente".
INSTITUIĂĂES EM COLAPSO
Sob o tĂtulo "Um choque", o site da "Economist" (http://www.economist.com/world/unitedstates/displayStory.cfm?story_id=12326538&source=features_box1) reagiu com espanto e enumerou os bancos Washington Mutual, Fortis, Bradford & Bingley e Wachovia para afirmar o quanto o pacote era urgente, "dada a freqĂŒĂȘncia com que as instituiçÔes estĂŁo entrando em colapso"
DE VERMELHO A ROXO
O "NYT" noticiou a compra do Wachovia pelo Citigroup sublinhando que ela "concentra os depĂłsitos bancĂĄrios americanos nas mĂŁos de apenas trĂȘs bancos (http://www.nytimes.com/2008/09/30/business/30bank.html?hp): Bank of American, JP Morgan Chase e Citigroup".
Quanto ao Brasil, o Market Watch (http://www.marketwatch.com/news/story/stocks-plunge-lawmakers-reject-us/story.aspx?guid=%7BDE2F25CB%2DB3C6%2D46C8%2DB00C%2DDBB017F78CEB%7D) deu que a derrubada do pacote "bateu nas açÔes" da Bovespa e dos outros mercados latino-americanos, que tinham a aprovação por certa. Por aqui, "açÔes bancårias escorregaram, lideradas por uma queda de 11% do Unibanco".
Em meio a manchetes na linha "Bolsa desaba", do UOL (http://economia.uol.com.br/cotacoes/ultnot/2008/09/29/ult29u63531.jhtm), atĂ© ArmĂnio Fraga apareceu, na Veja.com (http://vejaonline.abril.com.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=1&pageCode=1286#149821), para dizer que o sinal "agora passou de vermelho a roxo".
Toda MĂdia - Nelson de SĂĄ - Fonte: Folha de S.Paulo - 30/09/08.
A MĂE DE TODAS?
Fim do dia (01/10) e as manchetes on-line de "New York Times" (http://www.nytimes.com/2008/10/02/business/02bailout.html?_r=1&hp=&adxnnl=1&oref=slogin&adxnnlx=1222943034-4TB6uT+AKX0kLK/6ydAViQ), "Washington Post" (http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2008/10/01/AR2008100101530.html?hpid=topnews) e "Wall Street Journal" (http://online.wsj.com/article/SB122286874792094117.html) eram todas para o pacote "revisado", votado e aprovado no Senado dos EUA e em 03/10, talvez, na Cùmara - onde "não hå garantia de aprovação". Logo abaixo, no site do "WP", "Investidores retiram bilhÔes de dólares" (http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2008/10/01/AR2008100100811.html?hpid=topnews) de açÔes e fundos, "em massa".
Toda MĂdia - Nelson de SĂĄ - Fonte: Folha de S.Paulo - 02/10/08.
DEDOS CRUZADOS
"Com os dedos cruzados" Ă© o enunciado da "Economist" (http://www.economist.com/world/americas/displaystory.cfm?story_id=12341669) sobre os latino-americanos diante da crise agora global. Lembra que o "crash" de 29 derrubou 16 governos por aqui, trocados por ditaduras. Mas agora a crise nĂŁo Ă© "made in Latin America" e o temor maior Ă© pelo crĂ©dito e por bancos menores que dependem de financiamento externo. Outro temor, para o "futuro", Ă© pelas contas pĂșblicas que seriam afetadas por uma recessĂŁo global, com impacto sobre as commodities. De todo modo, "os maiores opositores das finanças globalizadas sĂŁo os que mais provavelmente vĂŁo sofrer em suas mĂŁos", quer dizer, Venezuela etc. JĂĄ para o Brasil "as coisas parecem melhores".
Toda MĂdia - Nelson de SĂĄ - Fonte: Folha de S.Paulo - 03/10/08.
FINALMENTE O PLANO PASSA
Plano passa, mas pessimismo persiste. Medida Ă© aprovada na CĂąmara dos EUA e assinada por Bush; apĂłs abrirem em alta, Bolsas fecham o dia em queda. Socorro de US$ 700 bi no mercado financeiro, o maior da histĂłria do paĂs, "era claramente necessĂĄrio", diz o presidente Bush. A lei foi aprovada por 263 votos a favor, ante 171 contra. Foi o fim de uma novela legislativa, em que lĂderes dos dois partidos majoritĂĄrios negociaram ferozmente com suas bases e o governo republicano e foram surpreendidos pelo efeito da reação popular contrĂĄria nos votos.
Fonte: Folha de S.Paulo - 04/10/08.
O DICIONĂRIO DA CRISE
O ABC das finanças. Alguns termos em inglĂȘs, idioma oficial do mundo das finanças, tĂȘm tradução satisfatĂłria para o portuguĂȘs. Outros nem tanto. Para entender a crise, Ă© bom conhecer todos:
Alavancagem â Ă a operação em que bancos de investimento fazem apostas no mercado cujo valor Ă© atĂ© quarenta vezes seu patrimĂŽnio â quando o limite mĂĄximo de segurança recomendado internacionalmente Ă© doze vezes (12:1). A fĂłrmula mais simples de medi-la Ă© L = D / E, em que L Ă© leverage (alavancagem), D Ă© debt (dĂvida) e E Ă© equity (patrimĂŽnio).
Bail-out â Pronuncia-se "beil aut". Ă o socorro financeiro que o governo dĂĄ a empresas falidas ou a setores inteiros da economia â no caso atual, o financeiro. Começou a ser usado em economia nos anos 50. Antes se referia principalmente ao ato de o piloto de caça acionar os foguetes que ejetam seu assento quando o aviĂŁo Ă© abatido â ele se salva, mas Deus sabe onde cairĂŁo os destroços em chamas. O paralelo com o pacote de salvação do governo americano Ă© imediato: os ousados pilotos financeiros vĂŁo se salvar, mas os destroços cairĂŁo na cabeça dos contribuintes mais sensatos e que se recusaram a entrar na ciranda de Wall Street.
Banco comercial â Sua atividade bĂĄsica Ă© captar dinheiro mais barato de quem tem, emprestar mais caro para quem precisa e ainda cobrar uma taxa pela operação. Ă mais seguro, mais controlado e mais tedioso, e paga aos seus ases bĂŽnus anuais muito menores do que os pagos pelos bancos de investimento. Morgan Stanley e Goldman Sachs, os dois mais reputados bancos de investimento dos Estados Unidos, viraram bancos comerciais para tentar escapar da crise.
Banco de investimento â Ă a variedade selvagem do banco comercial. Capta dinheiro de pessoas e empresas, mas ganha dinheiro mesmo fazendo investimentos ousados no mercado. Ă alavancado (veja o verbete alavancagem) e, por isso, mais arriscado. NĂŁo deve sobreviver ao terremoto de Wall Street. Um banqueiro de investimento com quinze anos de casa e salĂĄrio de 300 000 dĂłlares por ano podia ganhar bĂŽnus anuais de 3 milhĂ”es de dĂłlares.
Bankruptcy â Em portuguĂȘs, Ă© falĂȘncia ou bancarrota, e seu significado Ă© o mesmo. Refere-se Ă incapacidade de um banco ou uma empresa de pagar seus credores, o que leva Ă interrupção das atividades. Bankruptcy e bancarrota tĂȘm origem comum nas palavras latinas bancus (banco) e ruptus (quebrado) e se referiam ao hĂĄbito dos comerciantes da Idade MĂ©dia de quebrar a loja do comerciante que dava o cano no mercado.
Credit Default Swap (CDS) â Instrumento financeiro muito arriscado lançado pelos bancos americanos e europeus para se proteger da inadimplĂȘncia. Um banco que emprestou muito dinheiro para uma empresa recorre a outro banco e "troca" (swap, em inglĂȘs) parte do seu direito de receber por uma garantia. O duro Ă© descobrir que essa garantia tambĂ©m se evaporou, como agora nos Estados Unidos.
Chapter 11 â Ă o capĂtulo 11 do CĂłdigo de FalĂȘncia dos Estados Unidos, cujo equivalente no Brasil Ă© a recuperação judicial. Menos grave que a falĂȘncia, permite que a empresa (ou pessoa fĂsica) se recupere e pague os credores. O processo de recuperação Ă© supervisionado por um dos tribunais de falĂȘncias.
DepressĂŁo â Situação de grave crise econĂŽmica, em que o crĂ©dito desaparece, o desemprego explode, as falĂȘncias se multiplicam, o comĂ©rcio internacional e o investimento encolhem e as moedas se desvalorizam por longos perĂodos. Uma depressĂŁo Ă© uma forma grave de recessĂŁo.
Derivativos â Instrumentos financeiros que servem para diluir o risco de um investidor. Ă mais ou menos como pagar alguĂ©m (um especulador) para correr riscos em seu lugar em troca de uma remuneração. Tornaram-se tĂŁo complexos a ponto de ninguĂ©m saber exatamente com quem estĂĄ o risco. DifĂcil mentalizar? Imagine uma famĂlia tĂŁo heterodoxa a ponto de alguĂ©m descobrir que Ă© seu prĂłprio avĂŽ.
Desalavancagem â Ă o processo de diminuir a relação D / E, em geral aumentando o patrimĂŽnio (E), mas tambĂ©m diminuindo a dĂvida (D) â veja o grĂĄfico de um exemplo real, o da Goldman Sachs.
Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) â Seguradora Federal de DepĂłsitos. Ă uma estatal americana encarregada de defender o dinheiro dos pequenos poupadores das peraltices dos banqueiros. Quando um banco quebra, os depĂłsitos atĂ© 250 000 dĂłlares estĂŁo protegidos.
Federal Reserve (Fed) â O Sistema Federal de Reservas (Federal Reserve System, mais conhecido como Fed) Ă© o banco central dos Estados Unidos. Seu dever principal Ă© garantir o valor do dĂłlar controlando a inflação, mas nas duas Ășltimas semanas o Fed concentrou-se em salvar o sistema bancĂĄrio.
Foreclosure â Ă o despejo de um comprador inadimplente de imĂłvel, algo muito mais fĂĄcil nos Estados Unidos que no Brasil. O vendedor encerra unilateralmente o contrato de compra e venda antes do prazo (foreclose) e despeja o morador.
Hedge funds â SĂŁo fundos que diversificam investimentos e fazem pesadas apostas em açÔes, tĂtulos de dĂvida, matĂ©rias-primas bĂĄsicas, as commodities, moedas e atĂ© ouro, jĂłias e obras de arte de modo a ganhar com as oscilaçÔes relativas de preços. O nome Ă© quase uma ironia porque quem busca hedge (proteção, em inglĂȘs) quer segurança, algo que esses fundos tĂȘm estado muito longe de oferecer.
Mortgage â Ă a hipoteca, um emprĂ©stimo garantido por um imĂłvel. As hipotecas foram o principal produtor de riqueza financeira dos Estados Unidos. Com 1 trilhĂŁo de dĂłlares de hipotecas, os bancos criaram, por meio de derivativos e outros instrumentos financeiros, cerca de 10 trilhĂ”es de dĂłlares (mais ou menos dez PIBs do Brasil) por ano.
Panic selling â Ă o movimento irracional de venda que ocorre quando os investidores entram em pĂąnico e acham que as cotaçÔes vĂŁo cair muito. Por isso vendem o que possuem a qualquer preço. Bom momento para os grandes investidores (carinhosamente chamados de "tubarĂ”es") ganharem dinheiro comprando açÔes de boas empresas muito barato. O movimento contrĂĄrio Ă© chamado de panic buying, a compra irracional.
RecessĂŁo â Uma situação em que a atividade econĂŽmica diminui seu ritmo por um perĂodo (para alguns economistas, mais de trĂȘs trimestres consecutivos). Uma recessĂŁo Ă© menos grave do que uma depressĂŁo.
Securitização â EmissĂŁo de tĂtulos garantidos por um fluxo de pagamentos que ainda serĂĄ recebido â.ou seja, uma dĂvida. O emissor desses tĂtulos (em inglĂȘs, securities, daĂ o termo securitization) antecipa os recursos vendendo os papĂ©is para investidores. A crise explodiu quando muitas dĂvidas nĂŁo foram pagas e o sistema se convenceu de que muitas outras tambĂ©m nĂŁo seriam.
Subprime â A atual situação caĂłtica dos mercados serĂĄ conhecida para sempre como a Crise do Subprime. Prime (pronuncia-se "praime" Ă© o tĂtulo emitido por um devedor com vontade e capacidade de pagar sua dĂvida. Subprime Ă© o contrĂĄrio. A malandragem que deu a confusĂŁo toda foi justamente empacotar tĂtulos prime junto com subprime e usĂĄ-los no processo de securitização com ajuda de derivativos â uma versĂŁo de alta tecnologia da venda de gato por lebre.
Tesouro â O Departamento do Tesouro Ă© o ĂłrgĂŁo encarregado de administrar as finanças pĂșblicas dos Estados Unidos, mais ou menos a atribuição do MinistĂ©rio da Fazenda no Brasil. Mais recentemente, virou tambĂ©m o responsĂĄvel por tributar os pobres para ajudar os bancos.
Clåudio Gradilone - Fonte: Veja - Edição 2080.
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