O PODER DO MARKETING X
25/10/2007 -
NOSSOS COLUNISTAS
PROPAGANDAS INTELIGENTES X
Um exercĂcio no ambiente para promover o fast food Eatalica Burgers. Uma placa dizendo: " Cuidado! Piso molhado!", foi colocado perto do anĂșncio da Eatalica. Na placa pode-se ler:
"Desequilibrar-se com sua refeição, dentro de nosso estabelecimento pode causar tombos que conduzem geralmente a um piso molhado. VocĂȘ foi avisado para a sua prĂłpria segurança pela gerĂȘncia do Restaurante Eatalica".
Eatalica Ă© uma franquia de Fast Food Ătalo-Americana em Chennai, Ăndia.
(Colaboração: Hélio Bob Pai)
PROFESSOR X
A PAIXĂO PELO LIVRO
Acho que ele nĂŁo conhecia a minha frase, porque o livro de bronze foi um engano, nĂŁo Ă© mesmo, caro Drummond?
Livro que integra escultura de Drummond e Quintana Ă© furtado em Porto Alegre. Um livro de bronze de trĂȘs quilos que integra uma escultura em homenagem aos poetas MĂĄrio Quintana (1906-1994) e Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) exibida na praça da AlfĂąndega, no centro de Porto Alegre, foi furtado. O crime ocorreu hĂĄ cerca de duas semanas -a PolĂcia Civil nĂŁo sabe a data exata. De autoria dos artistas Xico Stockinger e EloĂsa Tregnago, a peça foi inaugurada em outubro de 2001, por encomenda da CĂąmara Riograndense do Livro. Os poetas sĂŁo representados em tamanho real. O gaĂșcho Quintana estĂĄ sentado e olhando para Drummond, que Ă© representado em pĂ©, com um livro pregado em uma de suas mĂŁos. Foi este o pedaço de escultura levado. O quilo do bronze Ă© vendido por cerca de R$ 5 em lojas e depĂłsitos de sucata de Porto Alegre. Quem furtou o livro teve cuidado, tempo e habilidade para nĂŁo danificar o restante da escultura: as mĂŁos de Drummond permanecem intactas, sem sinais aparentes de que tenham sido forçadas. Cotidiano, 18 de outubro.
- DESCULPE, DRUMMOND , tu sabes que eu sou meio distraĂdo, como os poetas costumam ser, mas, por acaso, ontem, nĂŁo tinhas um livro na mĂŁo?
- Tinha, MĂĄrio, tinha um livro na mĂŁo. SĂł que este livro foi roubado, MĂĄrio.
- Roubado, Drummond? Que coisa. Roubaram um livro da tua mĂŁo. E quem foi que roubou, Drummond?
- Não conheço a pessoa. Mas até que foi gentil. Não me machucou, não me agrediu. Simplesmente levou o livro e se foi.
- Quem sabe Ă© um leitor teu, Drummond. Leitores, Ă s vezes, fazem o possĂvel e o impossĂvel para obter as obras de seus autores preferidos. Claro, o cara podia ter esperado a Feira do Livro, que abre esta semana, mas vai ver tinha pressa em te ler e estava sem dinheiro.
- Pode ser, Mårio. Mas acho que o nosso amigo terå uma decepção. O livro não tinha nada escrito. Era um livro de bronze.
- De bronze, Drummond? Que interessante. Tu sabes que uma vez quiseram me homenagear fazendo o meu busto em bronze. Eu disse que um engano em bronze era um engano eterno. Acho que o leitor nĂŁo conhecia a minha frase, porque o livro de bronze foi para ele um engano, nĂŁo Ă© mesmo, caro Drummond?
- NĂŁo sei, MĂĄrio. NĂŁo sei. VocĂȘ sabe que o quilo do bronze Ă© vendido por cerca de R$ 5 em lojas e depĂłsitos de sucata. Como este livro tinha 3 quilos, o nosso amigo vai faturar R$ 15. Tem muito livro que nĂŁo chega a esse preço. Ou seja: se foi engano, pelo menos foi um engano lucrativo.
- Mas de qualquer maneira terĂĄ uma decepção. Se fosse um livro de verdade, ele, pelo menos, leria um poema teu. AliĂĄs, Drummond, uma curiosidade: se tivessem te pedido um poema, um Ășnico poema, para o livro de bronze, qual seria?
- Não sei. Acho que faria algo inédito. Que tal este, Mårio? "No meio do caminho tinha um livro de bronze/ tinha um livro de bronze no meio do caminho..."
- Muito bom, Drummond. E eu completaria: "Todos esses que aĂ estĂŁo/ atravancando o meu caminho/ eles passarĂŁo..."
- "Eu passarinho", MĂĄrio?
- Ă, Drummond. Eu, passarinho. Voando, voando. E levando comigo um livro de bronze.
Moacyr Scliar - Fonte: Folha de S.Paulo - 22/10/07.
Abraços
Professor X
PROFESSORA PASQUALINA
O MOMENTO "LĂNGUA PORTUGUESA" DO BRASIL
Ao falar, o brasileiro expressa sua identidade, que nunca Ă© uniforme, e o paĂs respira sua diversidade, que insiste em nos unir.
A lĂngua portuguesa Ă© desses assuntos aos quais parecemos dar importĂąncia sĂł em ocasiĂ”es especiais, como com a recente badalação em torno da reforma ortogrĂĄfica prevista para 2009.
A questĂŁo foi tratada com uma urgĂȘncia preguiçosa, de quem poucas vezes pensa no idioma, tĂŁo habitual o seu uso. Por coisa de momentos, o tema saiu das marginais do noticiĂĄrio e esboçou relevo atĂ© ser engolido pelo prĂłximo bombardeio de novidades.
NĂŁo sem razĂŁo. Como reforma, o acordo ortogrĂĄfico dos paĂses lusĂłfonos pouco simplifica. Em alguns casos, como o uso do hĂfen, atĂ© baratina o que jĂĄ era confuso ("anti-semita", por exemplo, perde o sinal, e "microondas" ganha). Houve quem exagerasse e falasse da ortografia como "o" fator de organização da lĂngua; por isso, a reforma ameaçaria "transformar o idioma". Mas, anunciada com temor ou desprezo, ela nem sequer Ă© certeza. Portugal, que vĂȘ nela um "abrasileiramento" do idioma, resiste e pode melar o acordo.
Se vingar, haverå, claro, implicaçÔes no mercado (livros reeditados), no ensino e na mentalidade (esforço, mesmo temporårio, para desaprender grafias, como "idéia" sem acento).
JĂĄ se viveu isso no paĂs e sobrevivemos. Por isso, o assunto, na verdade, chama a atenção para outro aspecto, diria incidental, do portuguĂȘs.
Sem dar pelota para a coisa, o paĂs vive hĂĄ uns dez anos o que se pode chamar de um "momento lĂngua portuguesa". Mesmo que nĂŁo vivamos a inclusĂŁo digital, nunca se escreveu tanto como agora. SĂŁo 500 milhĂ”es de mensagens diĂĄrias sĂł pelo MSN no paĂs. Mais do que hĂĄ dez anos, nunca se viu tanta faculdade no Brasil em razĂŁo da abertura, nĂŁo entremos no mĂ©rito, promovida desde a era FHC: sĂŁo 2.300 instituiçÔes privadas mandando alunos escreverem monografias, trabalhos e dissertaçÔes.
Temos um respeitĂĄvel mercado editorial cujo tema Ă© o idioma (quase 25 milhĂ”es de exemplares de dicionĂĄrios, gramĂĄticas etc. vendidos todo ano) e uma carĂȘncia de informação bĂĄsica que turbinou a procura por consultores de portuguĂȘs com consultĂłrios gramaticais na mĂdia.
Os Ășltimos anos ainda mostraram outro grau da lĂngua nas corporaçÔes.
Ă de imaginar que a retomada do fĂŽlego econĂŽmico do paĂs estimulou o relacionamento de empresas em seu prĂłprio idioma. HĂĄ hoje a intuição de mais negĂłcios mediados por tecnologias que enfatizam a comunicação -mensagens eletrĂŽnicas e apresentaçÔes com projeçÔes em tela, que nĂŁo podem exibir tropeços. E, em reuniĂ”es de trabalho, o desempenho retĂłrico virou chave empresarial.
Quem muito escreve ou fala tem risco maior de expor sua eventual falha de formação. DaĂ pipocarem os cursos de portuguĂȘs para brasileiros, executivos, secretĂĄrias e gerentes.
Em paralelo a essa demanda no mundo do trabalho, mais que antes, temos um circuito de estudos sobre a lĂngua com uma consistĂȘncia, uma pluralidade e um amadurecimento que permitem maior certeza nas afirmaçÔes sobre os fenĂŽmenos do idioma e um debate cada vez mais acalorado entre tendĂȘncias acadĂȘmicas.
A percepção hoje Ă© a de que a lĂngua vai bem, obrigado, nĂŁo estĂĄ ameaçada, nĂŁo precisa de proteção, mas de promoção. Falta um projeto de promoção do idioma a integrar o paĂs, que corrija as distorçÔes de um ensino que virou fĂĄbrica de decorebas. O vale-tudo do idioma estĂĄ nĂŁo tanto no uso cotidiano que o brasileiro faz dele, mas na filosofia de ensino, que nĂŁo Ă© uniforme. Cada regiĂŁo, cidade, escola e professor parecem atirar para um lado.
HĂĄ cinco anos, apesar disso, vivemos uma atmosfera institucional pelo idioma. O preconceito de linguagem nĂŁo foi suficiente para impedir a chegada de Lula Ă PresidĂȘncia; o governo de SĂŁo Paulo e a Fundação Roberto Marinho criaram o Ășnico museu do mundo dedicado ao assunto, que agora virou inspiração para os ingleses; e o governo federal lançou o Instituto Machado de Assis, iniciativa a ser devidamente materializada, para promover o portuguĂȘs no mundo e nas escolas do paĂs.
A lĂngua portuguesa nĂŁo Ă© a coisa chata das piores aulas, pode ser revigorante, ao ser percebida como aquilo que nos faz interagir, namorar melhor, vivenciar o cotidiano. A lĂngua que usamos revela o que somos, e nem nos damos conta. Trai nossos preconceitos, nossas ĂȘnfases e os papĂ©is que adotamos na sociedade.
Ao falar, o brasileiro expressa sua identidade, que nunca Ă© uniforme, e o paĂs respira sua diversidade, que insiste em nos unir.
NĂŁo serĂĄ a badalação temporĂĄria por uma reforma duvidosa o Ășnico fato a nos lembrar disso.
Luiz Costa Pereira Junior, 41, doutorando em filosofia e educação pela USP, Ă© jornalista, editor da revista "LĂngua Portuguesa" (Segmento) e autor de "A Apuração da NotĂcia".
Fonte: Folha de S.Paulo - 22/10/07.
ATENĂĂO: AULAS DE INGLĂS. Aulas de inglĂȘs para pequenos grupos com a Professora Pasqualina e sua parceira Professora PatrĂcia. No Barreiro e no Eldorado. Contato - 33889365.
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