PROTESTAR, REFLETIR E PENSAR...
03/12/2007 -
PENSE!
PROTESTO PELO CLIMA
Indonésia - Ativista vestido de urso polar protesta em frente a encontro sobre a mudança do clima organizado pela ONU. Ele pretende chamar a atenção para o aquecimento global.
Fonte: Terra - 06/12/07.
PALAVRA DA SEMANA: FURIBUNDO
AlguĂ©m que faz uma comunicação num tom exageradamente feroz e agressivo. Por exemplo, "Quem nĂŁo cumprir os objetivos estĂĄ morto!". A palavra veio de "fĂșria". E, ao contrĂĄrio do que alguns imaginam, em latim bundus era apenas "em estado de" - o "meditabundo" Ă© alguĂ©m "em estado pensativo".
Max Gheringer - Fonte: Ăpoca - 498.
URGENTE!
NĂŁo Ă© urgente que esta crĂŽnica seja lida, mas Ă© urgente que haja uma conscientização sobre a urgĂȘncia, que tem a capacidade de mudar muitas coisas, Ă s vezes atĂ© irreversivelmente. O urgente virou moda nos dias atuais e parece que as pessoas jĂĄ nĂŁo conseguem mais viver sem ele. Tudo Ă© urgente! Mas, um momento! Alguma coisa tem de ser nĂŁo urgente, caso contrĂĄrio, pela lĂłgica algo deixarĂĄ de ser urgente imediatamente apĂłs a outra coisa haver sido. Portanto tudo pode ser urgente, desde que um por vez. Ultimamente temos a impressĂŁo de que os dias passam muito mais rĂĄpido que antes, e por causa da urgĂȘncia a sensação de aceleração tende a aumentar cada vez mais. Cada vez levantamos mais cedo e conseqĂŒentemente dormimos menos e procuramos um caminho mais curto para o trabalho porque alguma atividade urgente deve ser desenvolvida lĂĄ. E outras chegam seguidamente e jĂĄ Ă© final de semana. EntĂŁo vamos dormir mais um pouco, certo? Errado! Vamos levantar cedo para fazer urgentemente um monte de coisas que gostarĂamos de ter feito durante a semana, mas que por causa de outras urgĂȘncias nĂŁo puderam ser feitas. EntĂŁo fazemos uma, duas, uma parte da terceira e jĂĄ Ă© domingo. O que restou fica automaticamente incorporado Ă s outras urgĂȘncias do prĂłximo final de semana. HĂĄ os que realmente dormem mais um tempo, pois era urgente jĂĄ a necessidade de um pouco mais de cama, jĂĄ que a saĂșde Ă© urgente. E aĂ estĂĄ um detalhe que este sim Ă© urgente e precisa ser encarado assim. A saĂșde Ă© urgente! Por causa da urgĂȘncia, dormimos mal, comemos âfast foodâ, que em outras palavras Ă© a comida urgente, e nos comunicamos atravĂ©s de bites e megas de computadores que precisam cada vez ser mais rĂĄpidos em seus RAMâs, porque nĂŁo podemos esperar mais do que trĂȘs segundos para baixar alguma coisa urgente, que servirĂĄ para levantar outras.
Isso nĂŁo Ă© saudosismo. Ă claro que em nosso mundo capitalista, muita coisa pode ser resolvida rapidamente, economizando dinheiro de um lado e ganhando de outro, mas hĂĄ de se considerar um limite. O âfoodâ pode ser âfastâ, mas o organismo tem o seu ritmo de digestĂŁo. Os âbitesâ podem ser âmegaâ, âteraâ ou atĂ© âyottaâ, mas a vida pode ser muito mais rĂĄpida, e cada pessoa Ă© um ser Ășnico. Cada pessoa Ă© um ser Ășnico, que deve ser respeitado como tal! AtĂ© onde vale a pena correr tanto e fazer tudo com urgĂȘncia? Chega-se ao ponto de sentir culpa ao sentar-se num banco, por exemplo, e por alguns minutos admirar as formigas no seu trabalho, sem urgĂȘncia, ou como cada planta reage quando o vento bate ou uma gota de chuva cai. â Nossa! Estou âperdendoâ tempo aqui. â E o desespero que dĂĄ quando por algum motivo o computador sai do ar e nĂŁo nos permite fazer todas aquelas coisas urgentes? â Meu Deus, e agora, como farei para enviar aquele e-mail urgente ou fazer aquela planilha do pedido X cujo material Ă© urgente? â Telefone mudo? Fim do mundo! Nem o fax que por tĂŁo pouco tempo reinou como uma incrĂvel novidade, cabe mais no mundo urgente. â O papel demora muito tempo pra passar. Mande por e-mail! Ă mais rĂĄpido e a resposta Ă© âon lineâ. â Pois Ă©, tudo tem de ser âon lineâ, mas mesmo assim as urgĂȘncias devem vir uma de cada vez. Afinal por trĂĄs do teclado âon lineâ do computador cheio de âbitesâ ou do prato âfast foodâ do restaurante vazio de cadeiras, existe um ser que Ă© humano e tem urgĂȘncia de manter a saĂșde e curtir uma vida, que Ă© Ășnica. E nĂŁo hĂĄ urgĂȘncia que a faça voltar, se ela resolve partir.
Eribaldo Bezerra dos Santos (Eddy)
SĂŁo Paulo, 30 de novembro de 2007.
O DIA DOS DIREITOS HUMANOS E A POBREZA
A ligação entre a pobreza e a privação de direitos continua Ă margem dos debates de polĂticas e da criação de estratĂ©gias.
No dia 10 de dezembro, serĂĄ lançada uma campanha de um ano de duração em comemoração aos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A campanha oferece aos paĂses e a todos os atores sociais a oportunidade de participar, com vigor renovado, da luta contra a pobreza -ainda um dos maiores desafios para todos.
Eleanor Roosevelt, que liderou o processo de criação da declaração, observou que "nenhuma liberdade pessoal pode existir se nĂŁo houver segurança econĂŽmica e independĂȘncia". Pessoas que enfrentam necessidades nĂŁo sĂŁo livres.
A pobreza Ă© tanto causa como conseqĂŒĂȘncia de violaçÔes de direitos humanos. Mas a ligação entre a pobreza e a privação de direitos continua Ă margem dos debates de polĂticas e do desenvolvimento de estratĂ©gias. Isso apesar do fato de que jĂĄ existem bases e plataformas legais que guiam as açÔes dos paĂses nesse sentido.
Todos os paĂses jĂĄ ratificaram pelo menos 1 dos 9 tratados de direitos humanos e 80% ratificaram pelo menos quatro. AlĂ©m disso, a comunidade mundial endossou os Objetivos de Desenvolvimento do MilĂȘnio (ODMs), que definem metas concretas em relação aos esforços internacionais para acabar com a pobreza e a marginalização atĂ© 2015.
PorĂ©m, como conseqĂŒĂȘncia da falta de vontade polĂtica e, em alguns casos, de recursos -bem como a ausĂȘncia de melhor compreensĂŁo da relação entre pobreza e abuso-, o quadro global que emergiu neste ano estĂĄ, talvez previsivelmente, longe de ser reconfortante.
O progresso em algumas ĂĄreas do mundo nĂŁo significa que os governos estejam honrando os compromissos que assumiram anteriormente. Assim, direitos humanos fundamentais continuam sendo desrespeitados. De fato, uma visĂŁo amplamente apoiada sustenta que os direitos humanos nĂŁo sĂŁo prioridade para quem luta, dia-a-dia, para sobreviver. Esses direitos seriam um luxo que somente os mais ricos poderiam se permitir.
Contudo, uma coisa Ă© certa: todos os direitos humanos -o direito a expressĂŁo, ao voto, assim como os direitos Ă alimentação, ao trabalho, Ă saĂșde e Ă habitação- sĂŁo importantes para os mais pobres porque a destituição e a exclusĂŁo estĂŁo mescladas Ă discriminação, ao acesso desigual a recursos e oportunidades e ao estigma social e cultural. Isso torna mais difĂcil sua participação no mercado de trabalho e o acesso a recursos e serviços bĂĄsicos.
Em muitas sociedades, os mais pobres nĂŁo podem usufruir dos direitos Ă educação, Ă saĂșde e Ă habitação simplesmente porque nĂŁo podem se permitir isso. Tal fato acaba dificultando sua participação na vida pĂșblica e sua capacidade de influenciar as polĂticas.
Para resumir, a pobreza significa nĂŁo somente salĂĄrios e bens insuficientes mas tambĂ©m falta de oportunidades e de segurança que minam a dignidade e aumentam a vulnerabilidade dos mais pobres. A pobreza Ă© tambĂ©m uma questĂŁo de poder: quem o detĂ©m e quem nĂŁo o detĂ©m. Entretanto, a pobreza Ă© normalmente percebida como uma condição lamentĂĄvel, mas acidental, ou como conseqĂŒĂȘncia inevitĂĄvel de decisĂ”es e eventos ocorridos em outro lugar -ou, ainda, como responsabilidade daqueles que sofrem com ela.
Uma aproximação mais compreensiva dos direitos humanos nĂŁo irĂĄ sĂł discutir impressĂ”es equivocadas e mitos que rodeiam os mais pobres, irĂĄ tambĂ©m ajudar a achar meios sustentĂĄveis e justos para o fim da pobreza. Reconhecendo as obrigaçÔes explĂcitas dos Estados de proteger suas populaçÔes contra a pobreza e a exclusĂŁo, essa visĂŁo enfatiza a responsabilidade em direção a um ambiente de bem-estar pĂșblico. Isso permite que os mais pobres ajudem a dar forma Ă s polĂticas de concretização de seus direitos e procurem corrigir abusos.
Independentemente de problemas econĂŽmicos, os paĂses podem tomar medidas imediatas para lutar contra a pobreza. Atacando a discriminação, por exemplo, removem-se barreiras da participação no mercado de trabalho e dĂĄ-se Ă s mulheres e Ă s minorias maior acesso a empregos.
Programas como os adotados no Brasil, o Bolsa FamĂlia e o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar, representam importantes exemplos de como polĂticas corretas podem agir em favor dos mais pobres. Vencer a pobreza Ă© um compromisso de longo prazo, no Brasil como nos outros paĂses. Isso requererĂĄ juntar os esforços dos governos, assim como os da sociedade civil e do setor privado.
Enquanto 1 em cada 7 pessoas do mundo continuar sofrendo com a fome todos os dias, proteger e dar poder aos mais pobres deve se tornar um motivo urgente para honrar o espĂrito e a promessa de dignidade para todos contida na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Louise Arbour, 60, formada em direito na Universidade de Montreal (Canadå), doutora honoris causa de 27 universidades, é a alta comissåria para os Direitos Humanos da ONU (Organização das NaçÔes Unidas).
TendĂȘncias/Debates - Fonte: Folha de S.Paulo - 02/12/07.
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