VAMOS FAZER SILĂNCIO? NĂO VAMOS QUEIMAR ETAPAS! NĂO TĂ CONSEGUINDO OUVIR!
30/10/2006 -
FORMANDOS & FORMADOS
QUERO SILĂNCIO
"Com a barulheira que nos rodeia, tornamo-nos surdos de nĂłs mesmos. Parece que o lema atual Ă©: evitar o silĂȘncio Ă© o dever de todos. Deseduquem-se os outros. SilĂȘncio Ă© necessĂĄrio para que se possa manter os homens como seres pensantes, criativos, dotados de memĂłria e livres do excesso de estresse.
NĂŁo quero que o silĂȘncio sĂł exista na calada da noite, no alto das montanhas, no ermo das matas. Quero-o no contato com as pessoas queridas, ricas e coloridas - meus semelhantes. NĂŁo quero ser misantropa, quero ruĂdo normal que me permita falar, sentir e pensar."
Anna Veronica Mautner - psicanalista da Sociedade Brasileira de PsicanĂĄlise de SĂŁo Paulo.
Fonte: Folha de SĂŁo Paulo - 02/11/2006.
(Colaboração: F.P.)
NĂO SE PODE QUEIMAR ETAPAS
18/10/06 - Por Glauco A. Melo de Carvalho.
Sem trem ou navio, o progresso Ă© mais lento e penoso. Por aviĂŁo e caminhĂŁo, o transporte de mercadorias Ă© mais rĂĄpido, porĂ©m mais caro. Vejam o mapa mĂșndi (o esquema nĂŁo mudou muito sob o ponto de vista da estratĂ©gia de dominação) e verifiquem: os paĂses mais ricos sĂŁo os que construĂram respeitĂĄveis malhas ferroviĂĄrias e dispĂ”em (ou fretam a terceiros) de grandes frotas marĂtimas, de cabotagem ou longo curso, e fluviais.
Lembrem-se de que foi devido Ă imensa malha ferroviĂĄria construĂda no tempo dos czares que Stalin conseguiu transportar, em tempo hĂĄbil, para trĂĄs dos Urais, cerca de mil e seiscentas indĂșstrias pesadas (olhem sĂł "pesadas" - siderĂșrgicas, mecĂąnicas, navais, etc.), salvando-as dos bombardeios alemĂŁes.
E foi tambĂ©m devido ao desenvolvimento de seu transporte aquĂĄtico e ferroviĂĄrio que Estados Unidos, GrĂŁ-Bretanha, Alemanha, França, JapĂŁo e quejandos puderam tornar-se grandes potĂȘncias econĂŽmicas. JĂĄ nos acostumamos a ver nos filmes de faroeste o surgimento de cidades sempre Ă margem de ferrovias. Primeiro chegava o trem sobre os trilhos que estavam sendo feitos aos poucos desde o inĂcio da linha fĂ©rrea projetada desde o marco inicial. Em seguida, vinham as pessoas e as casas, as fazendas (de terras doadas normalmente pela UniĂŁo/Estado rumo ao Oceano PacĂfico) e o gado e implementos agrĂcolas. O trem simplifica de uma forma mais rĂĄpida e de relação custo/ benefĂcio o ir e vir. Um sĂł comboio pode carregar mercadorias que demandariam o uso de muitos caminhĂ”es a mais do que seriam utilizados a mesma tarefa. E tudo em cima de dois trilhos assentados sobre dormentes de madeira, de fĂĄcil manutenção, matĂ©ria-prima abundante e custo irrisĂłrio. AlĂ©m disso, o trem Ă© um meio de transporte segurĂssimo, de raros acidentes e baixo consumo de energia, elĂ©trica ou diesel.
Coisa tĂŁo boa assim, com todo esse cabedal de eficiĂȘncia sĂł poderia, no Brasil (sil, sil!), ser desprezado. Vingou a mentalidade rodoviarista.
Quem foi mesmo o presidente que disse "governar Ă© abrir estrados" (era o presidente Washington Luiz?). Mas o mineiro Juscelino Kubitschek era um entusiasta do asfalto. Sabe como Ă©: na nossa Ăndole autoristarista, manda quem pode e obedece quem tem juĂzo. No final das contas, salvo alguns casos isolados, de empresas estatais, paraestatais ou privadas, que construĂram ferrovias prĂłprias para usufruir de custos baixos ou subsĂdios (dinheiro pĂșblico), o emprego significativo de trens resumiu-se ao trĂĄfego de subĂșrbio, de passageiros. E, mesmo assim, atropeladamente.
A história da navegação não é muito diferente. Uma costa dessas, com a população concentrada à sua margem ou perto dela, e as mercadorias chegando por dentro, por estradas, a custos exorbitantes. Cabotagem acabou não dando o lucro que as empresas esperavam e as companhias sobreviventes passaram a interessar-se pela associação com o longo curso; isto é, as que conseguiram negociar. Bem, é no dia-a-dia que se forjam as civilizaçÔes. Não se pode queimar etapas.
Glauco A. Melo de Carvalho Ă© jornalista e membro do conselho editorial da Gazeta Mercantil
Fonte: Gazeta Mercantil
(Colaboração: Brazil&Modal)