DIA MUNDIAL...
21/09/2011 -
COLUNA DO CANALHA
...SEM CARRO
English:
http://www.worldcarfree.net/
Pegando carona no futuro
Engenheiro formado pela Poli (USP) e especializado em transportes, Marcio Nigro anuncia nesta semana uma experiĂȘncia para gerar dinheiro e, ao mesmo tempo, deixar as cidades menos congestionadas e poluĂdas.
Objetivo: transformar cada dono de automóvel num pequeno empresårio, capaz de assegurar uma renda extra mensalmente. "Estou experimentando um jeito de estimular as pessoas a colaborar em questÔes ambientais e ainda colocar dinheiro no bolso", afirma.
HĂĄ algum tempo, ele montou um projeto, chamado Caronetas, de estĂmulo ao compartilhamento de automĂłveis entre funcionĂĄrios das empresas; na cidade de SĂŁo Paulo, jĂĄ hĂĄ 700 empresas cadastradas.
Desenvolveu, entĂŁo, um sistema, patenteado na SuĂça, de milhagens para quem compartilha seu veĂculo, oferecendo pontos para a aquisição de produtos (de passagem de aviĂŁo a gasolina, passando por comida).
Quem vai de carona deposita um valor no sistema de milhagens. Pela tela do computador, sĂŁo conhecidos os trajetos dos motoristas. Ă possĂvel ver a lista, por exemplo, das pessoas que vĂŁo ao aeroporto em determinado horĂĄrio.
Pega? Na resposta a essa pergunta, estå o futuro das cidades e do nosso modo de viver nelas, pondo em discussão decisÔes, como a realizada na semana passada pelo governo brasileiro, de estimular a produção de automóveis.
O engenheiro espera anunciar sua experiĂȘncia na quinta-feira, dia 22 de Setembro, durante um seminĂĄrio sobre mobilidade urbana, quando se comemora o Dia Mundial sem Carro, um dia que, em SĂŁo Paulo, Ă© comemorado de muitos modos, menos com a diminuição do nĂșmero de carros nas ruas. HĂĄ, porĂ©m, um sĂ©rio risco de o projeto derrapar na primeira esquina, em colisĂŁo com a cultura individualista ou com a insegurança dos motoristas, que temem dar carona a desconhecidos, mesmo com o incĂŽmodo da superlotação do metrĂŽ. A tendĂȘncia mundial, sem dĂșvida, Ă© a limitação cada vez maior do espaço do automĂłvel. IndivĂduos como MĂĄrcio estĂŁo aprendendo a ganhar dinheiro com isso. Em alguns casos, muito dinheiro.
Na semana passada, uma empresa ganhou o direito de implantar 600 estaçÔes de compartilhamento de bicicletas. Ă uma tendĂȘncia que jĂĄ se espalhou por 300 cidades do mundo, inclusive em paĂses como a China, a Ăndia ou o MĂ©xico. O apelo da ideia Ă©, em poucas palavras, combinar a consciĂȘncia ambiental -um problema coletivo- com o interesse individual, ou seja, ganhar dinheiro.
Diversas prefeituras americanas perceberam que economizariam dinheiro -alĂ©m de combater o congestionamento- reduzindo sua frota. Preferem entrar no sistema de compartilhamento de carros, alugando-os por hora. Foi o que fizeram, por exemplo, prefeituras grandes como a de Nova York, a de Chicago e a de Washington. Empresas que alugam carros por hora, espalhando-os por vĂĄrios pontos, estĂŁo enriquecendo porque perceberam que uma parcela razoĂĄvel dos consumidores prefere nĂŁo ter automĂłvel, pois sĂł precisa dele algumas horas por semana. A tendĂȘncia estĂĄ prosperando tanto que fabricantes de automĂłveis como a BMW estĂŁo experimentando nĂŁo vender, mas apenas alugar seus modelos. Um laboratĂłrio do MIT produz um modelo de carro pĂșblico ideal para pequenas distĂąncias, que ocupa o mĂnimo espaço possĂvel (o carro encolhe quando estacionado) e que serĂĄ usado no mesmo sistema do compartilhamento de bicicletas.
Justamente aà progrediu também o compartilhamento de automóveis entre vizinhos, com sites promovendo a intermediação e, para diminuir a insegurança, oferecendo seguro. Novas tecnologias de informação facilitaram o sistema de localização e pagamento. Estão pipocando depoimentos de pessoas felizes com a descoberta de que podem ganhar uma renda extra ao se transformarem em locadores. Até garagens privadas estão sendo compartilhadas.
EstĂŁo em discussĂŁo nĂŁo apenas o carro e as cidades mas como serĂĄ o consumo no futuro. Compartilhar serĂĄ tĂŁo importante como ter.
PS- Na lĂłgica do consumo colaborativo, a Amazon quer montar um sistema de aluguel como o que o Netflix desenvolveu para filmes. Coloquei uma lista de experiĂȘncias sobre compartilhamento dos mais variados tipos de produto no http://www.catracalivre.com.br/. Coloquei tambĂ©m detalhes do carro pĂșblico desenvolvido no laboratĂłrio do MIT.
Gilberto Dimenstein (www.dimenstein.com.br) - Fonte: Folha de S.Paulo - 18/09/11.
Detalhes:
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