CALAMIDADE DO ENSINO NO PAĂS
05/12/2006 -
FAZENDO DIREITO
CALAMIDADE DO ENSINO NO PAĂS
** ââSe analisarmos o atual cenĂĄrio universitĂĄrio brasileiro, encontraremos um quadro deveras decepcionante, no qual prevalecem os propĂłsitos empresariais de lucro sobre os valores culturais, com a nociva criação de cursos superiores, cujos professores em geral sabem apenas uma aula a mais do que os alunosââ.
A maior crĂtica que faço ao MinistĂ©rio da Educação e ao Conselho Nacional de Educação Ă© a criação inexplicĂĄvel de precĂĄrios estabelecimentos de ensino superior e de universidades fajutas nestes Ășltimos anos, elevando-se para 544 o nĂșmero dessas entidades entre novembro de 2001 e julho de 2003.
Trata-se predominantemente de instituiçÔes privadas constituĂdas tĂŁo somente pela atração do lucro fĂĄcil que a implantação do ensino universitĂĄrio tem propiciado, muito embora seja previsĂvel o esgotamento dessa rendosa aplicação empresarial, tal o nĂșmero de vagas ociosas que jĂĄ ocorre nessa corrida postiça no mundo da cultura.
Se o MinistĂ©rio da Educação e o Conselho Nacional de Educação houvessem sabido estancar esse malĂ©fico fluxo educacional, teriam prestado o maior benefĂcio Ă coletividade, abrindo campo para o desenvolvimento tĂŁo necessĂĄrio dos ensinos fundamental e mĂ©dio, dos quais o Brasil anda assustadoramente carecedor.
Deu-se entre nĂłs uma inversĂŁo cultural, cujos perniciosos efeitos dera dificĂlimo corrigir, a começar pela acabrunhadora deficiĂȘncia do ensino fundamental, que, a meu ver, deveria ter como base essencial o MunicĂpio. Nesse sentido, para atender Ă s reais situaçÔes financeiras de nossas comunas, o magistĂ©rio de 1Âș grau devia ser reduzido a cinco anos, tempo mais do que suficiente, nĂŁo digo para a mera alfabetização, mas sim para a formação intelectual e cĂvica de nossas crianças. Para tanto, seria necessĂĄria a revisĂŁo de seu currĂculo, destinado a estabelecer as bases reais da cidadania, desde efetiva aprendizagem da lĂngua atĂ© os conhecimentos genĂ©ricos da ciĂȘncia das artes.
Aos Estados competiria a criação e manutenção das escolas pĂșblicas para o ensino mĂ©dio, sendo obrigatĂłria a freqĂŒĂȘncia nos trĂȘs primeiros anos do ginĂĄsio, o qual jĂĄ exige corpo docente especializado, que a grandĂssima maioria de nossos municĂpios nĂŁo estĂĄ em condiçÔes de selecionar e remunerar condignamente. Seguir-se-iam mais trĂȘs anos de colĂ©gio ou liceu, cuja finalidade jĂĄ Ă© atender as exigĂȘncias profissionais, bem como ao preparo para a vida universitĂĄria. A atual organização do ensino fundamental em oito anos, copiada apressadamente de outras naçÔes, torna-o de difĂcil implantação.
O 3Âș grau representaria, nessa estrutura piramidal do ensino, a realização superior das ciĂȘncias e das tĂ©cnicas, bem como a formação de uma cultura humanĂstica Ă luz de ensinamentos sociolĂłgicos e histĂłricos. A responsabilidade por tal ordem de estudos competiria Ă UniĂŁo e aos Estados dotados de maiores disponibilidades e recursos.
Se focalizo em novos termos a reestruturação geral do ensino no PaĂs Ă© para situar, no seu devido espaço, o ensino superior, que nĂŁo poderĂĄ deixar de ser atribuĂdo tambĂ©m aos particulares, que t6em por sinal demonstrado capacidade para atender a esse desideratum.
O que nĂŁo compreendo Ă© a extrema liberdade concedida Ă iniciativa privada para fundar instituiçÔes de ensino superior, as quais exigem pressupostos especiais, quais sejam corpo docente altamente preparado, com os tĂtulos de mestre e doutor outorgados por universidades Ă altura dessa responsabilidade; estrutura material correspondente Ă s necessidades do aperfeiçoamento cientĂfico e tĂ©cnico, que implicam a existĂȘncia de bibliotecas especializadas, assim como dos laboratĂłrios reclamados pelas pesquisas do mais elevado grau; e finalmente, capacidade de prestação de serviços Ă comunidade, tanto no sentido da sabedoria como no da assistĂȘncia social.
**...resultado nĂŁo poderia ser mais ruinoso, pois a sociedade contemporĂąnea exige universidades tecnicamente constituĂdas, com o mais variado e efetivo preparo profissional como condição de emprego.
Ademais hĂĄ o grave problema da gratuidade do ensino superior oficial, cujo acesso Ă© aberto de preferĂȘncia aos estudantes mais abonados, adrede mais preparados pelas melhores escolas particulares e pelos especializados âcursinhos de vestibularâ, o que obriga os economicamente mais dĂ©beis a se sujeitarem ao ensino pago, cobrado por estabelecimentos privados da pior categoria.
O resultado nĂŁo poderia ser pior, tendo sido cogitados os mais diversos expedientes para contornar a apontada barreira do concurso vestibular, um dos quais seria a destinação de certo nĂșmero de vagas nas unidades pĂșblicas a candidatos formados em escolas oficiais por ministrarem preparo deficiente. Essa solução Ă© a mais desastrada, porque a cultura nĂŁo pode prescindir da classificação em razĂŁo do mĂ©rito. A reserva de cotas para os alunos negros, considerados vĂtimas de revoltante exclusĂŁo social, nĂŁo deveria prevalecer, sendo preferĂvel o sistema de bolsas de ensino a fim de evitar criação de prejudicial precedente.
Ă imprescindĂvel salientar que a medida justa seria o aperfeiçoamento do ensino mĂ©dio oficial, destinando- se- lhe adequados recursos, com mestres bem remunerados, pois Ă© nele que se encontra a verdadeira raiz da crise existente em nosso sistema educacional.
JĂĄ agora, como existe pletora de vagas nos cursos superiores irregularmente autorizados, Ă© previsĂvel ruinosa concorrĂȘncia entre eles, tendo como conseqĂŒĂȘncia a expedição de diplomas que, na realidade, nĂŁo corresponderĂŁo Ă s exigĂȘncias do atual mercado de trabalho.
Como se vĂȘ, o nosso desastrado processo de ensino culmina em grave dano de ordem econĂŽmica.
(Miguel Reale foi jurista, membro da Academia Brasileira de letras e foi reitor da USP- in memorian)
(Colaboração: Camila)
O REINO DO BRASIL
Tem gente que acha que o Brasil Ă© uma democracia. Tem gente que acha que o Brasil Ă© uma ditadura. Na verdade, o Brasil nĂŁo Ă© nenhum dos dois.
O Brasil Ă© um sistema feudal. Temos Rei, Nobres, PovĂŁo e Bobos da Corte.
Os moradores do Brasil:
Nobreza - Quem sĂŁo? PolĂticos, altos funcionĂĄrios pĂșblicos, juĂzes aposentados, fiscais e outros. O que fazem? Consomem muito mais riqueza do que produzem;
Bobos da Corte - Quem sĂŁo? EmpresĂĄrios, Executivos, Profissionais liberais, trabalhadores com carteira assinada e outros. O que fazem? Produzem muito mais riqueza do que consomem;
PovĂŁo - Quem sĂŁo? MiserĂĄveis, aposentados pela iniciativa privada, trabalhadores informais e outros. O que fazem? Produzem e consomem pouca riqueza.
Tudo começa com os bobos da corte. Digamos que a sua empresa te pague R$ 5.000 por mĂȘs. Somando os diversos tipos de imposto, vocĂȘ pagarĂĄ em mĂ©dia 35% do total direto Ă nobreza. Sobrando por enquanto R$ 3.250. Com esse dinheiro, vocĂȘ comprarĂĄ produtos e serviços, como arroz, gasolina e manicure. SĂł que nesse produtos e serviços, estĂŁo embutidos cerca de 40% de impostos, que vĂŁo direto para a nobreza... AtĂ© agora, dos R$ 5.000,00 que vocĂȘ suou a camisa para ganhar, sobraram apenas R$ 1.950. Em um PaĂs normal, em troca dos 60% do seu salĂĄrio que vocĂȘ jĂĄ entregou, vocĂȘ deveria receber ensino, saĂșde e aposentadoria gratuitos e de qualidade. Mas no Brasil nada disso presta, portanto vocĂȘ precisa pagar tudo de novo. VocĂȘ gasta mais R$ 1.200 entre escola particular, plano de saĂșde e previdĂȘncia privada. SĂŁo serviços que vocĂȘ deveria receber de graça em troca do dinheiro previamente saqueado pela nobreza. Sobrou R$ 750! Resumo: VocĂȘ produziu R$ 5.000, VocĂȘ consumiu R$ 750 e Foi para a nobreza R$ 4.250.
O equilĂbrio do sistema: 1) Bobos da corte entregam a maior parte da sua riqueza para os nobres; 2) Nobreza joga migalhas para o povĂŁo, como bolsa famĂlia, bolsa creche, auxĂlio enchente...; 3) PovĂŁo devolve votos para a nobreza.
Situação final:
Povão - Continua ignorante, continua miseråvel, continua feliz desde que haja cachaça e futebol;
Nobreza - Continua trabalhando pouco, continua levando uma vida de luxo, continua aumentando gastos e impostos;
Bobos da corte - Concluem que produzir no Brasil Ă© um mau negĂłcio. Ficam olhando os paĂses mais sĂ©rios decolarem Ă frente do Brasil. Os mais brilhantes e capazes se mudam para paĂses onde sĂŁo mais valorizados.
(Colaboração: Cleide)