MAIS CARNAVAL PELO MUNDO...
30/01/2008 -
MARILENE CAROLINA
AS MĂSCARAS DE VENEZA
Centenas de pessoas vestidas com fantasias participam de desfile de Carnaval na praça San Marco, em Veneza, na Itålia.
Fonte: Folha Online - 27/01/08.
ARTIMANHAS DO CALENDĂRIO - PORQUE A DATA DO CARNAVAL MUDA TODO ANO
Uma pergunta que sempre me fazem: por que a data do Carnaval Ă© alterada todo ano e quais os critĂ©rios? No ano passado o domingo de Carnaval caiu em 18 de fevereiro; agora em 2008, dia 3 do mesmo mĂȘs. Mudam tambĂ©m as datas da Semana Santa, de Corpus Christi de outras efemĂ©rides litĂșrgicas.
Nosso calendĂĄrio gregoriano Ă© solar, ou seja, regido pela translação da Terra em torno da estrela que nos ilumina. O calendĂĄrio litĂșrgico Ă© lunar, espelha-se nas fases da Lua.
A PĂĄscoa Ă© festa central da liturgia, tanto judaica (os hebreus libertos da escravidĂŁo no Egito) quanto cristĂŁ (a ressurreição de Jesus). PĂĄscoa significa âpassagemâ (da opressĂŁo Ă libertação ou da morte Ă vida plena).
Ă sempre comemorada pelos judeus na primeira lua cheia do mĂȘs de Nisan. Este mĂȘs do calendĂĄrio judaico corresponde ao perĂodo entre 22 de março e 25 de abril.
Para evitar confusão com a festa judaica de mesmo nome, a Igreja adotou o domingo seguinte ao da Påscoa judaica como o da celebração da ressurreição de Jesus. Para nós que vivemos no hemisfério Sul, o domingo de Påscoa é, portanto, aquele que se segue à primeira lua cheia do outono. Neste ano, 23 de março.
E como se determina a data do Carnaval? Esta Ă© uma festa originariamente religiosa. Carnaval significa âfesta da carneâ, ou seja, perĂodo prĂ©vio Ă Quaresma - que se inicia na Quarta-Feira de Cinzas -, e no qual os cristĂŁos se fartavam de carne, jĂĄ que, outrora, a Igreja exigia-lhes dela se abster no decorrer dos quarenta dias seguintes.
O domingo de Carnaval Ă© sempre o sĂ©timo antes da PĂĄscoa cristĂŁ. A quinta-feira de Corpus Christi Ă© sempre a primeira depois do domingo da SantĂssima Trindade, comemorado 57 dias depois da PĂĄscoa.
Assim, o domingo da PĂĄscoa Ă© a data de referĂȘncia das demais festas litĂșrgicas chamadas mĂłveis, pois hĂĄ as imĂłveis, como o Natal, comemorado invariavelmente a 25 de dezembro, nĂŁo importa o dia da semana em que caia.
A polĂtica nĂŁo Ă© tudo, mas em tudo hĂĄ polĂtica. Disso o calendĂĄrio Ă© um bom exemplo. Outrora o mĂȘs de julho era chamado de quintilis, quinto mĂȘs do calendĂĄrio romano, que se iniciava em março. Agosto era o sextilis, o sexto. Os nomes dos meses seguintes ainda guardam ressonĂąncia daquele calendĂĄrio: setembro (sĂ©timo), outubro (oito), novembro (nove) e dezembro (dez).
O imperador JĂșlio CĂ©sar (100 a.C.- 44 a.C.) decidiu batizar o mĂȘs de seu nascimento, quintilis, com o prĂłprio nome: Julho. Sucedido no trono pelo imperador Caio JĂșlio CĂ©sar Octaviano Augusto (63 a.C â 14 d.C.), este achou por bem merecer honra equivalente a de seu antecessor e, assim, trocou o nome de sextilis para agosto.
Havia, porĂ©m, uma pequena diferença: julho possui 31 dias e, agosto, na Ă©poca, apenas 30, conforme a alternĂąncia dos meses. Como vontade de rei Ă© lei, arrancou-se um dia de fevereiro, de modo a tornar agosto igual a julho em nĂșmero de dias. Se JĂșlio CĂ©sar nasceu a 13 de julho, OtĂĄvio Augusto, por coincidĂȘncia, morreu a 19 de agosto.
Todos os povos que seguem um calendĂĄrio anual celebram a chegada do ano-novo, denominada, entre nĂłs, rĂ©veillon, do verbo francĂȘs rĂ©veiller, que significa âdespertarâ. Foi o imperador JĂșlio CĂ©sar que, no ano 46 a.C., decretou o 1Âș de janeiro como primeiro dia do ano-novo. Celebrava-se na data a festa de Jano, deus dos portĂ”es, dotado de duas faces, uma virada para frente, outra para trĂĄs. De Jano se originou janeiro.
Os nomes dos dias da semana se originam, em portuguĂȘs, da classificação de Martinho de Dume, bispo de Braga, Portugal, no sĂ©culo VI. Ele denominou, em latim, os dias da Semana Santa como aqueles nos quais nĂŁo se devia trabalhar: feria secunda (segundo dia de feriado ou fĂ©rias), feria tertia etc. Feria resultou na corruptela feira.
O imperador Constantino (280-337), convertido ao cristianismo, jĂĄ havia denominado Dies Dominica, âdia do Senhorâ, domingo, o primeiro dia da semana. No sĂ©timo dia foi mantido o nome judaico, sĂĄbado, que vem do hebreu shabbat.
Outros idiomas latinos conservam os nomes pagĂŁos dos dias, concernentes aos planetas, como Ă© o caso do francĂȘs, do italiano e do espanhol. Na lĂngua de Cervantes segunda-feira Ă© lunes, de Lua; terça, martes, de Marte etc.
Todas essas convençÔes e denominaçÔes estĂŁo calcadas em dois fenĂŽmenos inelutĂĄveis: em sua dança cabrocha em torno do mestre-sala, o Sol, a Terra conhece quatro estaçÔes, e nĂŁo apenas a Estação Primeira de Mangueira: verĂŁo, outono, inverno e primavera. E nĂłs, a infĂąncia, a adolescĂȘncia, a juventude, as idades adulta e idosa, ainda que, hoje, muitos insistam em perpetuar a terceira fase e encarem a velhice como vergonhosa fatalidade da qual tentam escapar camuflando-a sob os recursos da bioplastia. Ignoram que juventude Ă© estado de espĂrito, e nada mais feio do que, num corpo esbelto, uma alma enrugada.
Feliz Ano-Novo, queridos leitores e leitoras!
Frei Betto Ă© escritor, autor de âA arte de semear estrelasâ (Rocco), entre outros livros.
http://www.vidaacademica.net/V1/content.asp?id_conteudo=436
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