FM - Faculdade Mental

NOSSOS COLUNISTAS - 12/10/2013

CRIATIVIDADE NO MARKETING

PROPAGANDAS INTELIGENTES (PRÃŠMIO MARKETING BEST 2013)
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â€œCavalo selado nÃ£o passa duas vezes diante da porta de uma mesma empresaâ€
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PROFESSOR TOM COELHO
www.tomcoelho.com.br
A vida sem celular
* por Tom Coelho

â€œQuando vocÃª perder, nÃ£o perca a liÃ§Ã£o.â€(Dalai Lama)

No dia 28 de outubro de 2012 meu celular foi furtado. Eu terminara de ministrar uma palestra em um evento aberto e atendia a alguns participantes, como de hÃ¡bito, quando alguÃ©m sorrateiramente foi ao palco e subtraiu o aparelho que estava dentro do bolsÃ£o frontal de minha mala executiva. Mais ainda, o meliante, provavelmente com apoio de outra pessoa, tambÃ©m acessou minha carteira, retirou todo o dinheiro e recolocou-a intacta em relaÃ§Ã£o a documentos e cartÃµes.
Fui dar por conta do ocorrido cerca de uma hora depois. E, honestamente, gostaria de encontrar o protagonista para prestar-lhe toda a minha... gratidÃ£o!

LiÃ§Ã£o 1 â€“ Simplicidade
ApÃ³s comunicar a operadora de telefonia celular e bloquear o aparelho, aproveitei que era um domingo e fui a um shopping para adquirir uma nova carteira. A minha nÃ£o fora furtada, mas poderia tÃª-lo sido. E ao analisar seu conteÃºdo, desprovido de dinheiro, topei com diversos cartÃµes bancÃ¡rios e de empresas, alÃ©m de documentos de porte nÃ£o obrigatÃ³rio. Questionei-me: para que carregar tudo isso?
Cheques nÃ£o sÃ£o mais utilizados, tÃtulo de eleitor sÃ³ tem serventia a cada dois anos, cartÃµes de fidelidade podem ser acessados pelo CPF. Assim, era preciso esvaziar aquela carteira que, de tÃ£o magra, precisou ser substituÃda.
Hoje carrego a habilitaÃ§Ã£o, o cartÃ£o do convÃªnio mÃ©dico, um cartÃ£o de crÃ©dito e um de dÃ©bito. Fim! E isso nos conduz a uma importante reflexÃ£o: precisamos resgatar a simplicidade.
Exemplificando, dois ternos e dois pares de sapatos sÃ£o suficientes para qualquer homem, aliados a cinco camisas sociais e, por vaidade, igual nÃºmero de gravatas. Isso me faz lembrar uma cena do filme â€œA moscaâ€, na versÃ£o dirigida por David Cronenberg, quando Jeff Goldblum abre seu guarda-roupas evidenciando apenas ternos pretos e camisas brancas, ao que sentencia: â€œNÃ£o quero perder tempo pensando no que irei vestir pela manhÃ£â€.

LiÃ§Ã£o 2 â€“ Estupidez corporativa
No inÃcio da semana fui atrÃ¡s de repor o aparelho. A tarefa parecia fÃ¡cil, ao menos para mim, pois dentre os inÃºmeros modelos disponÃveis eu sabia exatamente o que desejava: o mais barato, disponÃvel por uma nota de cem reais. PorÃ©m, no momento de fazer a habilitaÃ§Ã£o, um problema: o serviÃ§o estava bloqueado.
Ocorre que quando fiz o plano corporativo, adquiri tambÃ©m um modem para acessar a rede atravÃ©s de meu notebook. Entretanto, o aparelho nÃ£o funcionava. Ao acionar a operadora, insistiam que eu deveria procurar o fabricante do modem! ApÃ³s quase um ano sem soluÃ§Ã£o e pagando por um serviÃ§o que nÃ£o utilizava, cancelei-o. Contudo, a operadora insistiu na cobranÃ§a gerando um dÃ©bito indevido, despropositado e ilegal, que surgiu naquele instante como impeditivo para habilitar um novo aparelho.
Dentro deste contexto, ou eu pagava por um dÃ©bito injusto, ou nÃ£o teria meu nÃºmero de volta. Fiquei com a segunda opÃ§Ã£o, entrando para a restrita famÃlia dos â€œsem celularâ€.
Registre-se, neste momento, a incompetÃªncia da empresa de telefonia. Primeiro, ao nÃ£o reconhecer e buscar solucionar o problema com o tal modem. Segundo, por obstar a habilitaÃ§Ã£o do novo aparelho, perdendo receita â€“ e mais um cliente. Terceiro, por conquistar o direito a uma aÃ§Ã£o judicial. NÃ£o tem jeito: empresas continuam sendo pÃ©ssimas amantes de seus clientes. Lutam para conquistÃ¡-los, mas nÃ£o aprendem a mantÃª-los...
No celular adquirido habilitei um chip prÃ©-pago. Hoje, mantenho o aparelho desligado em meu carro, para utilizaÃ§Ã£o exclusiva em caso de eventual emergÃªncia.

LiÃ§Ã£o 3 â€“ Liberdade
Vamos deixar claro que adoro tecnologia. Quando jovem, era pioneiro em adquirir gadgets. TambÃ©m aprecio demais a praticidade, a ponto de instalar uma fechadura digital sÃ³ para nÃ£o ter que portar chave para entrar em casa. Mas estamos nos tornando escravos cibernÃ©ticos, com uma dependÃªncia patolÃ³gica da tecnologia.
HÃ¡ anos o computador Ã© meu instrumento de trabalho, de modo que jÃ¡ passo tempo acima do aceitÃ¡vel diante dele. Por isso, acho um despropÃ³sito ver como os smartphones tomaram conta do cotidiano, isolando as pessoas do mundo real, virtualizando as relaÃ§Ãµes, minando o diÃ¡logo. E vocÃª sabe disso, pois estÃ¡ cansando de ver â€“ e talvez protagonizar â€“ as corriqueiras cenas de pessoas em volta de uma mesa de bar sem conversar, apenas dedilhando em suas minÃºsculas telas.
Viver sem celular fortaleceu meu instinto de planejamento, pois agendo compromissos, organizo-me para comparecer, saio com antecedÃªncia ou comunico previamente um eventual atraso. Trouxe-me seguranÃ§a e serenidade, pois nÃ£o sou interrompido em reuniÃµes ou quando estou no trÃ¢nsito. Permitiu-me a liberdade de ser dono do meu prÃ³prio tempo e nÃ£o refÃ©m das demandas de outrem. Ademais, proporcionou-me momentos de intimismo, quando fico imerso em meus prÃ³prios pensamentos, ao invÃ©s de â€œaproveitar aqueles intervalos para telefonar ou enviar mensagem a alguÃ©mâ€.
CÃ©ticos de plantÃ£o e profissionais que notadamente dependem da comunicaÃ§Ã£o instantÃ¢nea e em tempo integral dirÃ£o que Ã© balela. E eu lhes direi que, ainda assim, precisam aprender a desligar seus dispositivos mÃ³veis algumas horas por dia para partilharem da companhia de familiares e de amigos â€“ alÃ©m de si mesmos.

* Tom Coelho Ã© educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17 paÃses. Ã‰ autor de â€œSomos Maus Amantes â€“ ReflexÃµes sobre carreira, lideranÃ§a e comportamentoâ€ (Flor de Liz, 2011), â€œSete Vidas â€“ LiÃ§Ãµes para construir seu equilÃbrio pessoal e profissionalâ€ (Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos atravÃ©s do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.