CRIATIVIDADE NO MARKETING V
PROPAGANDAS INTELIGENTES V
Dizem que "o" do bêbado não tem dono. Veja idéia de propaganda de uma cerveja sem alcool. Saiba mais sobre as pérolas da propaganda que não chegam nem ao atendimento em http://www.desencannes.com.br/
(Colaboração: Hélio Bob Pai)
PROFESSOR X
RESPONSABILIDADE EMPREENDEDORA
Agir de forma socialmente responsável é uma prática consolidada no mundo empresarial. Porém o desafio que hoje se apresenta é o de avançar nessa prática em todos os relacionamentos de uma empresa, visando maior desenvolvimento sustentável e inclusão social. Para tanto, não basta apenas realizar ações filantrópicas, focadas na maioria das vezes no apoio às comunidades da empresa. Necessitamos ir além.
A construção de uma atuação social mais empreendedora passa por um novo modelo de gestão, que internalize o tema em todos os processos de uma organização, permitindo que ela avance em novas oportunidades de negócio e em uma maior participação no desenvolvimento da sociedade. O resultado é um ciclo virtuoso gerador de crescimento, sempre tendo como base o compromisso com o desenvolvimento sustentável.
Para exemplificar, destaco iniciativas na área de microcrédito como sendo uma maneira eficaz de fornecer recursos a pessoas carentes que, de outra forma, não poderiam obter um financiamento.
Um dos pioneiros nessa área foi o economista Muhammad Yunus, que criou em Bangladesh o Grameen Bank, em 1976. O objetivo era oferecer crédito barato à população -na época, o PIB per capita era de US$ 370. Em dezembro de 2007, o banco somava 7,4 milhões de clientes e cobria mais de 94% do território do país. O Grameen Bank ajudou a combater a pobreza no país e colaborou com a implantação de um sistema sustentável de aumento da demanda. Ao final de 2007, o PIB per capita do país chegou a US$ 1.700. Não por acaso, Yunus recebeu o prêmio Nobel da Paz em 2006.
No Brasil, embora já existam programas de microcrédito, o potencial é ainda pouco explorado. Apenas 3,6% dos microempresários que poderiam utilizar esse tipo de financiamento o fazem atualmente. Dados da Fundação Getulio Vargas mostram que os benefícios do sistema são claros: os empreendimentos que tiveram acesso ao microcrédito cresceram 101% no lucro líquido num período de 24 meses; já aqueles fora do sistema registraram aumento de cerca de 30%.
Ainda um outro exemplo, agora na integração da responsabilidade social com os funcionários, são os importantes resultados que o trabalho voluntário organizado traz para os indivíduos e toda a sociedade.
Iniciativas como essas demonstram que a responsabilidade social corporativa pode e deve ser empreendedora. É importante que cada empresário, ao avaliar o alcance de seus negócios, reflita, especialmente, sobre a sua cadeia produtora, tanto na área de suprimentos como na área de vendas, e encontre possibilidades de crescimento de mercado com uma visão de inclusão. Essa atitude é positiva para todos, pois amplia as chances de expansão do negócio e inclui no circuito econômico pessoas que não faziam parte das cadeias de valor. Com medidas dessa natureza construiremos um sistema mais justo e sustentável.
Jorge Gerdau Johannpeter, 71, é presidente do conselho de administração do grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial.
Fonte: Folha de S.Paulo - 03/02/08.
PROFESSORA PASQUALINA
PARA OUVIR OS SERMÕES
Depois que estudantes portugueses de Coimbra que defendiam a reinstalação da Inquisição queimaram uma efígie que o representava, o padre Antônio Vieira -que conseguira do papa a suspensão das atividades do Santo Ofício- ironizou em carta datada de 1682: "Não merecia Antônio Vieira aos portugueses, depois de ter padecido tanto por amor da sua pátria e arriscado tantas vezes a vida por ela, que lhe antecipassem as cinzas e lhe fizessem tão honradas exéquias".
No quarto centenário de seu nascimento, completado em 06/02/2008, Vieira teria que trocar o sarcasmo pelo agradecimento: seus compatriotas, agora, celebram não só a efígie como a vida e a obra, dedicando-lhe um ano de comemorações, o Ano Vieirino, cujo ponto alto será o lançamento da edição crítica dos três primeiros dos 15 volumes dos "Sermões". A publicação sairá pela Imprensa Nacional/ Casa da Moeda de Portugal, a princípio sem previsão de chegar ao Brasil.
A obra resgata o português da época e traz um aparato crítico notável. Pela primeira vez desde as primeiras edições, será possível ler os "Sermões" da forma como foram escritos e corrigidos pelo padre.
"Desde lá o texto de Vieira foi sendo modificado de acordo com as mudanças da língua portuguesa, além de muitas traduções erradas do latim. Nossa proposta é publicar o texto autêntico, e fizemos as correções que foram indicadas pelo padre na errata que consta na segunda edição", explica o professor Arnaldo do Espírito Santo, que coordena a equipe de dois professores, Cristina Pimentel e Ana Paula Banza, que recupera a obra original e constrói o aparato crítico. Também há um grupo de professores de outras disciplinas (literatura, história e filosofia) que fazem uma consultoria.
Comemoração: O primeiro dos 15 volumes previstos, lançado nesta semana, inaugurando o "Ano Vieirino", homenagem que se estenderá até o dia 6 de fevereiro de 2009. Nesse período estão programados eventos para destacar a obra de um dos maiores estilistas do idioma.
Os volumes 2 e 3 serão lançados em novembro, durante o Congresso Internacional Ver, Ouvir, Falar. O evento acontecerá na Universidade Católica Portuguesa e na Universidade de Lisboa, que, juntamente com a Província Portuguesa da Companhia de Jesus, organizam a comemoração.
Haverá ainda seminários, apresentação de peças teatrais, espetáculos de música e exibição de filmes.
A Universidade de Aveiro também festeja a efeméride. Também em novembro, realizará o Congresso Internacional Língua, Identidade, Cidadania e o Festival Internacional de Culturas em Língua Portuguesa. Atualmente, financia o Cruzeiro Histórico Identidade e Cidadania, que vem visitando os lugares percorridos pelo padre entre Portugal e o Brasil.
Um veleiro com uma equipe coordenada pelo professor Abreu Freire iniciou a viagem, partindo de Aveiro, em 17 de março do ano passado. Passou por Cabo Verde, Fernando de Noronha, Salvador, Recife, Ceará, São Luís do Maranhão, Belém do Pará e começou a regressar em 30 de outubro. Durante a maior parte do mês de janeiro, a embarcação ficou parada em Hamilton, nas Bermudas, depois de ter sido tombada por uma tempestade tropical.
A expedição está sendo contada em um diário virtual (http://wsl.cemed.ua.pt/diariobordo). A chegada a Aveiro será em dezembro e a viagem virará um documentário para a TV portuguesa.
Os 15 volumes dos "Sermões" serão publicados, segundo o cronograma, até 2010. Está previsto também um 16º volume com as introduções, índices e textos do "Índice das Coisas Mais Notáveis", uma visão sistemática da obra escrita pelo padre no fim de cada volume.
Os sermões foram editados entre 1679 e 1748. Na reedição do primeiro volume, o Padre Vieira inseriu uma errata que foi reproduzida nas edições seguintes, mas sem que o texto fosse corrigido. A edição crítica inseriu as correções e retirou mudanças no idioma feitas ao longo do tempo.
Modernização: "As diferenças entre as primeiras edições e as seguintes não foram feitas pelo Padre Vieira, mas por editores que, além de cometerem erros de tradução, modernizaram o português de Vieira", diz Espírito Santo. "As edições posteriores à morte dele trazem as viradas do idioma e mostram como o português de Portugal ficou mais erudito."
Também integrante da equipe, a professora Cristina Pimentel diz que o português de Vieira é o que se falava em Portugal no século 17. "É o que se fala no Brasil até hoje. Palavras como sutil, que depois virou subtil, por exemplo, e no Brasil se manteve sutil."
Essas mudanças foram inseridas e explicadas no aparato crítico. Um glossário no final do volume revela palavras que receberam nova forma ou novo significado: padar (paladar); encontrar (contrariar); defender (proibir); correr à posta (ir depressa); ganância (ganho).
Outro aspecto importante alterado ao longo das edições dos "Sermões", segundo Pimentel, foi o uso da pontuação e das letras maiúsculas. O Padre Vieira, explicou, usava a pontuação para dar o aspecto de oratória, dos discursos falados. O professor Espírito Santo lembra que as alterações transformaram os sermões num texto para ser lido, e não falado, como era originalmente. "E as letras maiúsculas, usadas para realçar certas palavras, foram transformadas em minúsculas."
O trabalho de construção da edição crítica foi desenvolvido numa sala da Universidade Católica Portuguesa, que é depositária de uma parte da Biblioteca da Sociedade Científica de Göerres, com sede na Alemanha. "Pudemos consultar edições semelhantes às que o Padre Vieira usou na época para escrever seus textos", disse o estudioso. "Foi nosso trunfo."
Versões: O autor dos "Sermões", que consultou bibliotecas de Lisboa, Coimbra e Roma, usou várias versões e traduções da Bíblia reunidas em compilações como a "Bibliorum Sacrorum", editada em Londres em 1653.
O livro trazia traduções da Bíblia para o grego, latim e outras línguas. Cada página continha um trecho bíblico. "Essa obra nos permitiu entender como Vieira fazia referências a diferentes edições e versões da Bíblia e conhecer mais o seu perfil intelectual, suas leituras e preferências."
Manuel Cândido Pimentel, professor e presidente da comissão organizadora do Ano Vieirino, diz que a obra será a primeira edição crítica portuguesa dos "Sermões".
Nas universidades, diz Pimentel, o interesse por Vieira continua por causa dos campos múltiplos de análise: retórica, hermenêutica, poética, iconografia, filosofia, teologia, diplomacia, história. A obra desperta ainda tanto interesse, segundo o secretário do Ano Vieirino, Luís Loia, por causa da universalidade de temas.
Mais dois projetos pretendem estimular o estudo e divulgação da obra do autor dos "Sermões": a criação de uma rede internacional de universidades e a publicação, provavelmente no início de 2009, dos textos diplomáticos do Padre Vieira, disse Pimentel.
Bruno Garschagen - Fonte: Folha de S.Paulo - 03/02/08.
A FALA SINFÔNICA
Há pelo menos duas razões urgentes para conhecer a obra do padre Antônio Vieira e, em particular, seus sermões, que são a melhor parte dela. A primeira é seu domínio extraordinário da língua portuguesa. Fernando Pessoa o celebrava como um "gênio de perfeição lingüística". Deu o nome do jesuíta a um dos "avisos" de "Mensagem": "O céu strella o azul e tem grandeza./ Este, que teve a fama e à glória tem,/ Imperador da língua portuguesa,/ Foi-nos um céu tambem".
A frase mais célebre de Pessoa ("Minha pátria é a língua portuguesa") fecha um excurso sobre o impacto ao lê-lo pela primeira vez: "Fui lendo, até o fim, trémulo, confuso: depois rompi em lágrimas, felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das idéias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais -tudo isso me toldou de instinto como grande emoção política. E, disse, chorei: hoje relembrando, ainda choro. Não é a saudade da infância de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfônica".
E, para que tais declarações não passem apenas por idiossincrasia, copio aqui um dedo do "Sermão do Espírito Santo", de 1657: "Dizei-me: qual é mais poderosa, a graça ou a natureza? A graça ou a arte? Pois o que faz a natureza e a arte, por que havemos de desconfiar que o faça a graça de Deus acompanhada da vossa indústria? Concedo-vos que esse índio bárbaro e rude seja uma pedra: vede o que faz em uma pedra a arte.
Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe e, depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão e começa a formar um homem, primeiro membro a membro e depois feição por feição, até a mais miúda: ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos; aqui desprega, ali arruga, acolá recama: e fica um homem perfeito, e talvez um santo, que se pode pôr no altar".
O trecho é colorido, copioso e próprio, preciso e rigoroso. Cada uma das várias ações ali relacionadas vem descrita por um verbo talhado para seu objeto. Ocorre, de um golpe, abundância e economia: um jogo extremo com a língua que Vieira faz, não uma vez ou outra, mas o tempo todo.
Política e história: A segunda razão de interesse pela obra do jesuíta é o repertório dos temas históricos e políticos. Vieira é dos que não acham modo de falar de Deus sem provar um bocado do mundo, tão estragado pelos pecados da ocasião quanto sacramentado pela graça divina. Todo texto de Vieira é político, como bem exige a concepção jesuítica de caridade cristã. Eis aí: não são só "temas". Quando Vieira prega, quer agir.
Nunca há diletantismo ou beletrismo no espetáculo dos sermões, mas atuação política direta. O monsieur de Guénégaud, embaixador da França em Lisboa, em 1675, escreveu a Luís 14, dando conta da situação dos negócios na corte portuguesa: "O Padre Vieira é conhecido em Portugal, e pela rainha, como um homem perigoso e hábil, que, após ter gozado de prestígio grande nos negócios do falecido rei, não pode disfarçar a irritação por ter sido excluído deste ministério... Retornou para cá trazendo uma inquietude reforçada por muita irritação e ambição, que fê-lo um dos homens mais perigosos do mundo".
Aí está o trunfo da obra de Vieira: a plasticidade de sua palavra nunca é inofensiva. Quanto mais perfeita a "lábia", maior o risco insinuado do efeito de suas palavras. No período em que escreve o embaixador, Vieira retornava a Lisboa, após cinco anos em Roma, onde fora buscar isenção em relação ao tribunal português da Inquisição.
Enquanto esperava ser admitido como valido de dom Pedro, como o fora de dom João 4º, seu pai, cada palavra sua vinha associada a "maquinações" -como está rotulado num dos códices sobre ele. Rumores davam conta, por exemplo, de que Vieira entabulava negociações com Castela a fim de obter uma possível reunificação das coroas da península e a transferência da família real portuguesa para o Brasil.
O mais intrigante e sedutor na leitura de Vieira está nisto: descobrir o ponto em que a sua palavra se ajusta com o poder que diz. Como se o discurso fosse a atualização de uma soberania efetiva, não importa que fosse ele apenas um jesuíta dos quintos do Brasil, aspirante a privado do rei na corte provinciana de Portugal -não tendo, portanto, nada de seu. Mas, ainda nada tendo, conquistar apenas o império da língua que lhe reconheceu Pessoa seguramente não lhe bastaria: junto deveria vir o mundo reduzido a seu rei e a sua igreja.
Alcir Pécora é professor de teoria literária da Universidade Estadual de Campinas e autor de "Máquina de Gêneros" (Edusp).
Fonte: Folha de S.Paulo - 03/02/08.
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