CRIATIVIDADE NO MARKETING VIII
PROPAGANDAS INTELIGENTES VIII - DÉCADA DE 50 - UM EXEMPLO PARA AS MULHERES DE HOJE
Anúncio publicado na revista O Cruzeiro, em 1954. Perceba a felicidade da mulher, de avental, servindo cerveja aos homens. Atualmente, só em Museus...
Note também os detalhes: "Refrigeração mesmo no sertão!" - "A querozene".
Fonte: Almanaque Brasil - Número 99.
PROFESSORA PASQUALINA
DIA INTERNACIONAL DO IDIOMA MÃE - NOSSA LÍNGUA MESTIÇA
A cultura brasileira é craque em incorporar e reprocessar influências. Com a língua não poderia ser diferente. Incontáveis sotaques, palavras, gírias e expressões provenientes dos quatro cantos, temperam nossa salada lingüística. Dia 21/02 se comemorou o Dia Internacional do Idioma Mãe. Trazemos recortes da história desse idioma tão nosso, que, como cantou Noel Rosa, é brasileiro, já passou de português.
Olavo Bilac a chamou de “inculta e bela” no célebre soneto Língua Portuguesa. Que é bela, sabemos. Mas inculta? Séculos antes de Cristo, na região do Lácio, atual território italiano, viviam os latinos, povo simples formado em sua maioria por agricultores. Tornaram-se uma das civilizações mais avançadas que o mundo já viu: o Império Romano. Havia lá dois latins: o culto, da política e dos textos; e o vulgar, falado pela população, em sua maioria analfabeta. Foi essa segunda variante que ganhou o Velho Mundo, levada por soldados e comerciantes. A partir dela, surgiram línguas como o espanhol, o francês e o italiano. O português é a mais recente delas; a “última flor do Lácio”, nas palavras de Bilac. O Império Romano, que dominou quase toda a Europa, chegou ao fim no século 5. Nesse período, a Península Ibérica sofreu invasões germânicas e, a partir do século 8, árabes. Esses últimos permaneceram lá por cerca de 500 anos. O reino portucalense, no território atual de Portugal, expulsou os árabes definitivamente no século 13. Ali, falava-se o galego-português, àquele ponto já marcado por palavras das culturas germânica (coifa, ganso, rico) e árabe (azeite, alfaiate, algarismo). No século 15, Portugal entrou na era das grandes navegações, e o galego-português deu lugar ao português medieval. No apogeu da história lusitana, palavras portuguesas se espalharam pelo mundo, e a língua sofreu ainda mais influências dos idiomas das regiões conquistadas. A língua portuguesa aportou por aqui em 1500, com a esquadra de Cabral. Desde então, nunca mais foi a mesma, cada vez mais brasileira.
QUEM DIRIA? NO COMEÇO, PORTUGUESES ADOTARAM A LÍNGUA DOS ÍNDIOS
Os portugueses encontraram aqui cerca de 1.200 povos indígenas, que falavam nada menos do que mil línguas diferentes. Na costa baiana, travaram contato com os tupis. Fugaz, essa comunicação inicial visava somente facilitar o escambo. A partir de 1530, começaram a chegar expedições de colonização. São Vicente, no litoral paulista, foi a primeira vila, fundada em 1532. Em minoria, os portugueses acabaram adotando o idioma indígena. Com influência lusitana, surgiu uma língua franca, baseada no tupi, conhecida como língua geral paulista. Durou cerca de dois séculos, tendo sido usado na catequização dos índios pelos padres jesuítas e pelos bandeirantes em suas expedições. Em condições semelhantes, surgiu na Amazônia, no século 17, outro idioma franco: a língua geral amazônica, ou nheengatu (língua boa), com base no tupinambá.
PALAVRAS DA LÍNGUA GERAL PAULISTA
ANHEMBI: rio das anhumas; UBERABA: rio brilhante; VOTUVERAVA: morro brilhante; TUCURUVI: gafanhotos verdes.
PALAVRAS DA LÍNGUA GERAL AMAZÔNICA
tapioca; açaí; tatu; jacaré; pororoca; cuia; tipóia; peteca; araponga
MOLEQUE, ANGU, OXALÁ - AFRICANOS DE TODA PARTE ENRIQUECERAM NOSSA LÍNGUA
No século 16, o comércio de açúcar era dos mais lucrativos. Os portugueses passaram a cultivar cana em nossas terras. Como os índios resistiam à escravidão, os colonizadores trouxeram negros da África. A maioria dos que chegaram nesse primeiro período falava línguas bantas, principalmente o quicongo, o quimbundo e o umbundo. Nos séculos 17 e 18, com a descoberta de jazidas de ouro e diamantes, vieram para cá escravos minas-jejes, falantes de línguas ewé-fon. Na última leva de escravos, no século 19, chegaram povos de origem iorubá, também conhecidos como nagôs, para trabalhos domésticos e urbanos na cidade de Salvador e arredores. O resultado: sons de todos os cantos da África encravados na nossa língua.
PALAVRAS BANTAS: bagunça • cachimbo • moleque
PALAVRAS IORUBÁ: Afoxé • Iemanjá • Ogum
PALAVRAS EWÉ-FON: angu • bobó • vodum
NADA DE LÍNGUAS GERAIS - PORTUGUÊS TEVE QUE SER IMPOSTO NA MARRA
Com a descoberta de metais preciosos no Brasil, Portugal resolveu, digamos, reforçar os laços com a Colônia. Em 1758, Marquês de Pombal instituiu o português como idioma oficial daqui e proibiu o uso das línguas gerais. Mas idiomas naturais não são extintos a canetadas. O nheengatu, por exemplo, tem ainda hoje mais de 8 mil falantes. As disputas com a Espanha pelo território no sul do Brasil no século 18 também foram importantes para difundir a língua portuguesa na Colônia. A ameaça espanhola trouxe uma grande leva de colonos lusitanos, que se estabeleceram em locais como a Ilha de Santa Catarina, em 1748, e em Porto Alegre, fundada em 1772.
DIFERENÇAS ENTRE O PORTUGUÊS BRASILEIRO E EUROPEU
Não são só o sotaque e a grafia de algumas palavras que separam o português brasileiro do europeu. No dia-a-dia, nós e os lusitanos usamos palavras diferentes para expressar os mesmos significados. Alguns exemplos curiosos:
PORTUGUÊS BRASILEIRO
carro conversível
concreto
gol
grampeador
maiô
mamadeira
ônibus
salva-vidas
telefone celular
PORTUGUÊS EUROPEU
carro descapotável
betão
golo
agrafador
fato de banho
biberão
autocarro
nadador-salvador
telemóvel
COM A CHEGADA DA FAMÍLIA REAL, FALAR COM SOTAQUE PORTUGUÊS VIROU CHIQUE
Repare: o sotaque carioca muito tem a ver com o lusitano. Basta notar o “s” chiado e as vogais abertas em palavras como “também”, características comuns em ambos. Não é por acaso. Junto com a Família Real, chegou em 1808 uma corte numerosa à Cidade Maravilhosa. O português que se falava no Rio tinha características paulistas, por conta da passagem dos bandeirantes pela região. Mas, com o prestígio da realeza, virou chique falar à moda portuguesa, e houve um fenômeno que especialistas chamam de “relusitanização” da língua.
CASTANHOLA, CAMICASE, LASANHA - IMIGRANTES TEMPERARAM NOSSO CALDEIRÃO
O fim da escravidão e a chegada de imigrantes marcaram a segunda metade do século 19. Entre os intelectuais, era forte a influência exercida pela cultura da França. Muitas palavras francesas foram incorporadas ao nosso vocabulário nessa época, como matinê, abajur e batom. Os imigrantes que aqui se estabeleceram a partir da década de 1870 trouxeram em sua bagagem cultural diferentes sotaques, palavras e expressões. Alemães, italianos, espanhóis, japoneses e árabes se espalharam pelos quatro cantos do Brasil. E dá-lhe palavras e expressões novas: camicase, castanhola, lasanha... Inicialmente restritas às regiões onde os imigrantes se fixaram, muitas dessas contribuições acabaram por ganhar o País. Inspirado pela colônia italiana, o escritor paulista Alexandre Marcondes Machado criou no início do século 20 o personagem Juó Bananére (João Bananeira), que se expressava no dialeto macarrônico, hilária mistura de italiano e português. A revista de humor O Pirralho publicou alguns de seus textos e paródias, reunidos no livro La Divina Increnca, de 1915. Bananére não perdoou nem clássicos de Gonçalves Dias e Olavo Bilac.
DIALETO BANANÉRE
UVI STRELLA
Che scuitá strella, né meia strella!
Você stá maluco! e io ti diró intanto,
Chi p’ra iscuitalas montas veiz livanto,
i vô dá una spiada na gianella
MIGNA TERRA
Migna terra tê parm eras,
Che ganta inzim a o sabiá.
As aves che stó aqui,
Tembê tuttos sabi gorgeá
O texto completo de La Divina Increnca está na internet, em http://bananere.art.br/increnca.html
SERÁ MIÓ OU PIÓ?
O Modernismo chegou em 1922 com bandeiras como a reafirmação da nossa identidade e a antropofagia das culturas estrangeiras. Oswald de Andrade, um dos líderes do movimento, debruçou-se sobre o tema em alguns de seus poemas, como Vício na fala e Pronominais.
OSWALDIANAS
VÍCIO NA FALA
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
PRONOMINAIS
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro
e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
SÉCULO 20 - SONS DOS SERTÃO, DOS STATES E DA TELEVISÃO
A partir dos anos 1930, o País passou a navegar nas ondas do rádio, meio de comunicação de imensa penetração popular. Milhares de brasileiros deixaram o campo e o sertão em direção às grandes cidades, principalmente Rio e São Paulo, onde crescia a indústria e a construção civil. A cultura do interior nordestino marcou profundamente os grandes centros urbanos, transformando em universais expressões regionais como “vixe”, “lascado” e “cabra”. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Brasil de Getúlio alinhou-se aos Estados Unidos. Propagandeando o estilo de vida norte-americano, palavras inglesas bombardearam o País e são até hoje onipresentes. Quando a televisão surgiu, na década de 1950, muitos imaginavam que ela daria cabo às peculiaridades regionais do idioma, uniformizando o português do Oiapoque ao Chuí. Não foi o que aconteceu: os brasileiros parecem capazes de absorver novas influências, cada um à sua maneira.
SAIBA MAIS
PARA VISITAR - Museu da Língua Portuguesa: Estação da Luz - Praça da Luz, s/nº. São Paulo-SP. Na internet: www.estacaodaluz.org.br
PARA NAVEGAR - A história do português brasileiro:
http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/ling03.htm
PARA LER: O Português no Brasil, de Antônio Houaiss (Revan, 1992)
Texto: Rafael Capanema - Fonte: Almanaque Brasil - Número 106.
PROFESSOR X
SALÁRIO DE PROFESSORES AUMENTOU 39%
Estudo do Ministério da Educação mostra que variação de renda na rede pública foi maior que a inflação de 17% entre 2003 a 2006. Tese da FGV-SP revela também que de 1995 a 2006 salários no magistério público cresceram mais do que em outras categorias.
Em muitas análises sobre a piora da qualidade da educação, um argumento usado é o de que sucessivas perdas salariais foram diminuindo a atratividade da carreira do magistério. Duas pesquisas inéditas, no entanto, apontam mudanças positivas nesse quadro.
Uma delas, feita pelo Inep (instituto de pesquisa e avaliação do MEC) a partir da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE), mostra que, de 2003 a 2006, o rendimento médio dos professores do setor público na educação básica aumentou 39%.
O crescimento foi superior aos 17% registrados no índice de inflação oficial, o IPCA, e aos 29% registrados para os demais trabalhadores.
A outra, elaborada por Gabriela Moriconi na Escola de Administração de Empresas da FGV-SP, usa também a Pnad para concluir que, de 1995 a 2006, os ganhos nos rendimentos dos professores da rede pública básica foram superiores aos das escolas particulares e aos de outros trabalhadores do setor público e privado.
Moriconi comparou os salários de um professor da rede pública da educação básica aos de um trabalhador com as mesmas características (escolaridade, cor, sexo, domicílio e outras variáveis) no setor privado e em outras ocupações.
Para profissionais com nível superior, seu trabalho mostra que a distância que separava os professores da rede pública dos demais grupos diminuiu.
O diferencial em favor de outros trabalhadores (não-professores) do setor privado com nível superior caiu de 62% para 17% entre 1995 e 2006. Para ocupados no setor público que não estão no magistério, a redução foi de 60% para 43%.
Quando se compara somente docentes do setor público e privado com diploma, o diferencial cai de 34% em 1995 para insignificativos 2,5% (ainda em favor do setor particular).
O mesmo foi verificado nas comparações de profissionais com formação apenas de nível médio com mesmas características. Nesse caso, os diferenciais, desfavoráveis em 1995, passaram a ser favoráveis aos professores da rede pública.
Pela pesquisa do MEC, o maior crescimento na renda da rede pública foi verificado de 2005 para 2006.
O trabalho de Moriconi destaca igualmente que a melhoria foi mais intensa nos últimos anos, mas, por analisar um período maior -1995 a 2006-, cita também possíveis efeitos do Fundef (fundo de financiamento do ensino fundamental criado em 1996) e uma tendência de melhoria na remuneração em todo o setor público.
Por se tratar de um movimento recente, as razões dessa melhoria salarial ainda foram pouco estudadas.
Para o ministro Fernando Haddad (Educação), a retomada das discussões sobre o estabelecimento de um piso salarial nacional de R$ 850 e uma maior pressão em ano eleitoral (2006) por reajuste ajudaram a melhorar o rendimento dos professores em 2006.
A presidente União Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação, Justina Iva Silva, aponta que muitos municípios só recentemente criaram planos de carreira e remuneração.
Para Roberto Franklin de Leão, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, o crescimento se deve ao pagamento de abonose gratificações. "Não pode ser considerada política salarial perene. O benefício pode ser retirado a qualquer momento e não atinge inativos".
MELHORIA SALARIAL NÃO É SUFICIENTE, DIZ MEC
Para o MEC e secretários de educação, a melhoria dos salários dos professores é um ponto positivo, mas não suficiente para impactar na qualidade.
O ministro Fernando Haddad diz que o governo espera que os salários continuem melhorando por causa do Fundeb (fundo de financiamento da educação básica que substituiu o Fundef) e da aprovação do piso nacional de R$ 850, em tramitação no Congresso. Ele afirma, no entanto, que a melhoria na formação dos professores é fundamental.
Sua avaliação é de que os currículos em cursos de pedagogia são muito voltados para a formação teórica e preparam pouco o professor para sua principal função em sala de aula: ensinar. Para incentivar a mudança, o ministro diz que o próximo Enade -avaliação aplicada aos os formandos- já será adequado a essa nova formação.
Outra estratégia que Haddad cita nesse sentido foi a criação do Conselho Técnico e Científico da Educação Básica, órgão que terá entre suas atribuições orientar políticas públicas para capacitação de professores e ajudar o MEC na avaliação da qualidade dos cursos.
O ministério quer também incentivar que os melhores professores formados em universidades públicas sejam atraídos pelas escolas públicas. "Foi por isso que, ao lançarmos o Pibid [programa que oferecerá bolsas a alunos de cursos de licenciatura e pedagogia de universidades públicas], colocamos como contrapartida o desenvolvimento de projetos de educação em escolas públicas", diz Haddad.
O sociólogo Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE no governo FHC e atual presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, aponta como fundamental para a qualidade da educação a melhoria da formação do professor.
"Bons salários podem atrair melhores talentos, mas aumentar o vencimento de quem já está trabalhando não muda muita coisa. No entanto, para mudar o prestígio da profissão, é preciso também melhorar a qualidade dos cursos de pedagogia e educação, hoje desmoralizados. Uma combinação interessante poderiam ser cursos bem articulados, criados ou supervisionados por secretarias de educação como as de São Paulo ou Minas", diz.
Antônio Gois - Fonte: Folha de S.Paulo - 25/02/08.
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