PENSANDO NA ARTE
S[EDITION]
English:
http://www.theartnewspaper.com/articles/How-to-buy-a-Damien-Hirst-for-%C2%A37.50/25100
The site:
http://www.seditionart.com/
Site cria escassez artificial para dar mais valor Ă s obras. Para se contrapor Ă reprodutibilidade da era digital, arquivos tĂȘm tiragem limitada e controle antipirataria. Obras ficam guardadas em 'cofre virtual', sĂŁo numeradas, assinadas pelos artistas e podem ser revendidas depois.
Enquanto sites que vendem obras de arte on-line proliferam jĂĄ hĂĄ alguns anos, o S[edition] tenta inovar com a ideia de trabalhos que nĂŁo existem de forma fĂsica criados para plataformas digitais.
Com preços que vão de US$ 8 a US$ 800 (de R$ 15 a R$ 1.500), cada obra tem edição limitada -de 2.000 a 10 mil exemplares, no måximo.
Ă uma novidade que vai na contramĂŁo da reprodutibilidade infinita de conteĂșdos que virou realidade na era digital. Usando mecanismos de controle, o site cria uma escassez artificial para valorizar obras, da mesma forma que ocorre no mercado real.
"Quando vocĂȘ compra um trabalho, ele fica armazenado no seu cofre virtual e pode ser acessado do seu telefone, tablet ou computador", explica Robert Norton, um dos fundadores do site. "VocĂȘ tambĂ©m recebe um certificado de autenticidade e a obra Ă© monitorada para que nĂŁo seja copiada on-line."
Numa tentativa de garantir a segurança, os arquivos tambĂ©m vĂȘm com uma marca d'ĂĄgua digital que permite que sejam rastreados.
Isso tudo porque, como esperam os organizadores do site, os mĂșltiplos vĂŁo valorizar ao longo dos anos e poderĂŁo ser revendidos Ă medida que se tornarem raridades.
Nesse ponto, o site estĂĄ longe de ser um "iTunes da arte", como jĂĄ descreveu Norton. Mas, assim como a loja da Apple, recĂ©m-chegada ao paĂs, o fundador do S[edition] vem a SĂŁo Paulo nesta semana atrĂĄs de artistas brasileiros para engrossar seu time.
TambĂ©m atenta Ă indĂșstria das artes, que movimenta US$ 60 bilhĂ”es por ano, a Samsung, fabricante de tablets, estĂĄ desenvolvendo telas especiais de cristal lĂquido que sĂŁo capazes de reproduzir cores e pinceladas com exatidĂŁo.
"Ă cedo ainda para saber o impacto disso", diz Norton. "Mas com telas cada vez mais poderosas, as pessoas vĂŁo enxergar que cabe arte ali."
IMAGENS COMO DOENĂA
Querendo ou não, o S[edition] arrisca abrir as portas da distribuição infinita para obras de arte, que vão ser cada vez mais virtuais num mundo que pode vir a se satisfazer com a imagem da coisa e não a coisa em si.
Kenneth Goldsmith, fundador do UbuWeb, espĂ©cie de YouTube cult que exibe vĂdeos clĂĄssicos de artistas, vĂȘ nesse movimento um passo para que a arte deixe de ser "um antiquĂĄrio pautado sĂł pela ideia de objetos Ășnicos".
"Hå um imediatismo na internet. As pessoas gostam de imagens, que se propagam mais råpido do que uma doença", diz Sue Webster, outra artista com obras no S[edition]. "E se no lugar de uma praga, espalhåssemos só imagens?"
Silas MartĂ - Fonte: Folha de S.Paulo - 20/12/11.
O site:
http://www.seditionart.com/
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OUTRO PRESENTE DE NATAL PARA UM TEMPO SEM PRESĂPIO
Foi-se a imagem feliz e ingĂȘnua do Natal. Os nostĂĄlgicos, mas sĂł eles, se lembram do tempo em que, na cidade do interior, ao invĂ©s de esperar comida e bebida, aguardava-se a Missa do Galo. Os cĂąnticos enlevavam velhos e novos, todos contritos como convinha. Era festa sem excessos no beber ou comer, mas de louvar o nascimento do Cristo, que, em qualquer tempo, representava o altar onde depositar as esperanças de cada um. Acreditava-se no Cristo como salvador. Acreditava-se tambĂ©m no Papai Noel, singelo personagem das fantasias infantis, muitas vezes irrealizadas nos presentes aguardados na manhĂŁ seguinte, mas elementos de sonhos com cĂ©us de anjinhos de longas asas brancas. Os presentes tinham um quĂȘ de conteĂșdo espiritual, nĂŁo eram medidos por valores materiais.
Foi-se o Natal com o presépio inventado por são Francisco de Assis. Ficou o do mercado, essa poderosa entidade dita moderna. Sem aparecer, comanda a maioria das açÔes pessoais e coletivas, manipula marionetes, num trabalho de persuasão no qual também os instrumentos ficam às escondidas, para dar a impressão de cada um ter a liberdade de escolha.
Ficou, contudo, a ideia de presente, de algo dado sem paga, sem trabalho nem sacrifĂcio. Os comportamentos de fim de ano acentuaram um conceito de geração espontĂąnea, em que se pode comprar muito mais do que o disponĂvel para pagar; de adquirir agora e sĂł mais tarde pensar em pagar; de pĂŽr em recesso as cautelas necessĂĄrias na administração das finanças pessoais e coletivas; de traduzir como alegria as atitudes marcadas por um desregramento capaz talvez de oferecer aparente felicidade momentĂąnea, mas distante de objetivos mais elevados e permanentes.
O regalo natalino, caro ou barato, marca hoje o pensamento da gratuidade. A falta de comedimento nos gastos se liga Ă irrealidade de um bem sem o respectivo custo. Estimula a fantasia de um prazer breve substituir benefĂcios prolongados; ignora a incerteza do futuro em troca do ato passageiro; acima de tudo escapa da compreensĂŁo da natureza dos bens, desprezando o valor dos que se contam como aumento do patrimĂŽnio do espĂrito.
Contudo, mesmo o Natal em que nĂŁo se esquece do presente, mas nĂŁo se lembra do presĂ©pio, pode e deve ser aproveitado para a reflexĂŁo em torno da função da fĂ© no destino humano, reavivando os marcos de um caminho consentĂąneo com princĂpios e propĂłsitos adequados Ă natureza da pessoa humana, ao seu ajustamento ao meio social, Ă sua contribuição ao desenvolvimento integral, Ă prevalĂȘncia de valores espirituais sobre os materiais, enfim, Ă harmonia entre cada um e os demais em uniĂŁo para alcançar padrĂ”es superiores de espiritualidade. Isso importa aspirar a uma forma de vida apta a honrar os valores cultivados nos tempos do presĂ©pio e preservĂĄ-los para que o futuro ainda permita sonhos e esperanças - em sĂntese, reabilitar o espĂrito do Natal como elo entre o indivĂduo, a famĂlia e os ensinamentos cristĂŁos.
Ariosto da Silveira, Jornalista - Fonte: O Tempo - 22/12/11.
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