HOMEM DE COR
HOMEM DE COR
Quando eu nasci, era Preto;
Quando cresci, era Preto;
Quando pego sol, fico Preto
Quando sinto frio, continuo Preto
Quando estou assustado, também fico Preto.
Quando estou doente, Preto;
E, quando eu morrer, continuarei preto!
E vocĂȘ, cara Branco,
Quando nasce, vocĂȘ Ă© rosa;
Quando cresce, vocĂȘ Ă© Branco;
Quando vocĂȘ pega sol, fica Vermelho;
Quando sente frio, vocĂȘ fica roxo;
Quando vocĂȘ se assusta fica Amarelo;
Quando estĂĄ doente, fica verde;
Quando vocĂȘ morrer, vocĂȘ ficarĂĄ cinzento.
E vocĂȘ vem me chamar de Homem de Cor??!!
Autor desconhecido.
(Colaboração: Waldeyr)
BUSH SEM BUSHISMO
Ă o que se prenuncia, para alĂvio do mundo, apĂłs a sova eleitoral tomada pelo presidente americano.
Do impressionante elenco de realizaçÔes negativas do presidente George W. Bush constam:
⹠Lançou os Estados Unidos a uma guerra, no Iraque, que se converteu na segunda mais desastrosa aventura militar da história americana (depois do Vietnã), com possibilidade de virar a primeira, dependendo do desfecho que vier a ter;
âą Mentiu seguidamente ao povo americano e Ă comunidade internacional, na medida em que improvisava sucessivas justificativas para a guerra â das armas de destruição em massa do Iraque (inexistentes) ao apoio desse paĂs ao terrorismo (inexistente) e Ă instauração, ali, de um regime democrĂĄtico (impossĂvel);
âą Reabilitou, por meio de instruçÔes aos militares Ă s vezes claras, Ă s vezes ambĂguas, o uso da tortura como polĂtica de Estado, enquanto instaurava em GuantĂĄnamo um campo de concentração onde nĂŁo-pessoas sĂŁo presas sob nĂŁo-acusaçÔes e condenadas, em nĂŁo-julgamentos, a suportar uma nĂŁo-vida por um nĂŁo-prazo;
âą Conseguiu que uma polĂtica alegadamente voltada a proporcionar mais segurança ao mundo e aos EUA resultasse no contrĂĄrio, ao transformar o Iraque em sementeira de terroristas, ao fracassar na desativação da sementeira AfeganistĂŁo-PaquistĂŁo e ao proporcionar considerĂĄvel impulso ao ressentimento e ao Ăłdio no resto do mundo muçulmano;
âą Jogou na lona o prestĂgio dos EUA no mundo.
A esses fatores, todos relacionados com a guerra no Iraque, podem ser acrescentados desde o colossal dĂ©ficit de 1,5 trilhĂŁo de dĂłlares nas contas pĂșblicas, no acumulado de seis anos de bushismo, atĂ© o boicote das polĂticas internacionais de proteção ao meio ambiente, passando pelo obscurantismo religioso que inibiu o ensino do evolucionismo nas escolas e atravancou as pesquisas sobre as cĂ©lulas-tronco. Mas fiquemos com a guerra do Iraque. Ela Ă© a suprema realização do atual governo de Washington. Travaram-se principalmente em torno dela as eleiçÔes que, na semana passada, premiaram Bush com estrondosa derrota. Duas perguntas ressaltam, em relação a esse tema do Iraque. A primeira Ă©: seria diferente se outro presidente estivesse no poder?
Calou tĂŁo fundo na alma americana, e com todos os motivos do mundo, o ataque de 11 de setembro de 2001 que â caberia supor â os EUA inevitavelmente iriam em seguida Ă guerra, fosse qual fosse o ocupante da Casa Branca. Acresce que os EUA, nação guerreira, nĂŁo costumam hesitar em puxar o gatilho. O argumento da inevitabilidade de uma reação bĂ©lica ao 11 de Setembro pode valer para o AfeganistĂŁo do TalibĂŁ, que abrigava Osama bin Laden, nĂŁo para o Iraque. A guerra contra o Iraque jĂĄ era gestada, no cĂrculo Ăntimo de Bush, dominado por neoconservadores embriagados de certezas morais e de onipotĂȘncia, jĂĄ antes do 11 de Setembro. Suas razĂ”es situavam-se em algum lugar entre a necessidade de assegurar um petrĂłleo mais amigo e mais barato e um choque que poria de cabeça para baixo a geopolĂtica do Oriente MĂ©dio. As marcas da ideologia bushista estĂŁo aĂ fundamente impressas. NĂŁo dĂĄ para acreditar que outro presidente seguiria a mesma linha. Quanto ao instinto guerreiro dos EUA, o bushismo exacerbou-o a ponto de criar o conceito de "guerra preventiva" â um castigo prĂ©vio, uma absurda pena aplicada antes de cometido o delito. NĂŁo Ă© qualquer presidente que iria tĂŁo longe.
Se a guerra do Iraque Ă© uma criação tĂŁo prĂłpria, assinalada de modo inconfundĂvel pela grife do bushismo, com suas inerentes caracterĂsticas de prepotĂȘncia e auto-engano, daĂ decorre a segunda pergunta. Por que Bush contou, durante tanto tempo, com o apoio dos americanos? A resposta Ă© que eles estavam anestesiados. John le CarrĂ© considerou que atravessavam um perĂodo de doença histĂłrica. Sejamos mais condescendentes: estavam anestesiados. O 11 de Setembro pĂŽs o paĂs em estado de choque, e a primeira reação foi o refĂșgio no patriotismo. Ir contra o presidente era ir contra a nação. Os EUA enrolaram-se na bandeira, e nesse movimento envolveram tanto a oposição democrata quanto a imprensa. A oposição dissolveu-se na sopa em que o governo, aproveitando-se da situação, manipulava o patriotismo e o medo. A imprensa, tĂŁo vigilante em outros momentos decisivos, como Watergate e a Guerra do VietnĂŁ, atravessou, dĂłcil e boazinha, um de seus piores perĂodos.
Os olhos se foram abrindo aos poucos. E revelaram-se despertos de vez na eleição da semana passada, quando os republicanos de Bush perderam a maioria na CĂąmara e no Senado e a maior parte dos governos estaduais. O grande derrotado, sem remissĂŁo Ă vista, foi o bushismo. Bush vai continuar, mesmo porque tem mais dois anos de mandato, mas sem bushismo. NĂŁo mais se sustenta a ideologia que lhe revestia a PresidĂȘncia, vitimada pela prĂłpria arrogĂąncia e farisaĂsmo. Ela jĂĄ fora empurrada a um beco sem saĂda no Iraque. Recebeu agora do eleitorado a sentença de morte. NĂŁo que tudo vĂĄ mudar num passe de mĂĄgica. A herança maldita Ă© pesada e o Iraque Ă© um problema que Bush provavelmente legarĂĄ ao sucessor. Mas o ambiente no mundo jĂĄ se desanuvia.
Roberto Pompeu de Toledo
Fonte: Veja - edição 1.982.