PENSANDO EM AR PURO
FRESH AIR
English:
http://www.nationaltrust.org.uk/main/w-global/w-news/w-latest_news/w-news-national-trust-brings-a-breath-of-fresh-air-to-city-workers.htm
Dedicada a cuidar do patrimĂŽnio histĂłrico e ambiental da Inglaterra, a instituição The National Trust resolveu inovar para atrair visitantes aos parques do Reino Unido: estĂĄ distribuindo potes que, segundo ela, âcontĂȘm 0,42 gramas de ar puro e frescoâ. Promessa: segundo a instituição, inspirar o conteĂșdo do pote garante atĂ© dez minutos de bom relaxamento.
Bruna Cavalcanti - Fonte: Isto à - Edição 2106.
Mais detalhes:
http://www.nationaltrust.org.uk/main/w-global/w-news/w-latest_news/w-news-national-trust-brings-a-breath-of-fresh-air-to-city-workers.htm
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PARA REFLETIR
"Algumas pessoas nunca dirĂŁo uma mentira se souberem que a verdade pode machucar mais."
Paulo Navarro (http://www.pnc.com.br/) - Fonte: O Tempo â 22/03/10.
SERĂ A FELICIDADE NECESSĂRIA?
Felicidade Ă© uma palavra pesada. Alegria Ă© leve, mas felicidade Ă© pesada. Diante da pergunta "VocĂȘ Ă© feliz?", dois fardos sĂŁo lançados Ă s costas do inquirido. O primeiro Ă© procurar uma definição para felicidade, o que equivale a rastrear uma escala que pode ir da simples satisfação de gozar de boa saĂșde atĂ© a conquista da bem-aventurança. O segundo Ă© examinar-se, em busca de uma resposta. Nesse processo, depara-se com armadilhas. Caso se tenha ganhado um aumento no emprego no dia anterior, o mundo parecerĂĄ belo e justo; caso se esteja com dor de dente, parecerĂĄ feio e perverso. Mas a dor de dente vai passar, assim como a euforia pelo aumento de salĂĄrio, e se hĂĄ algo imprescindĂvel, na difĂcil conceituação de felicidade, Ă© o carĂĄter de permanĂȘncia. Uma resposta consequente exige colocar na balança a experiĂȘncia passada, o estado presente e a expectativa futura. DĂĄ trabalho, e a conclusĂŁo pode nĂŁo ser clara.
Os pais de hoje costumam dizer que importante Ă© que os filhos sejam felizes. Ă uma tendĂȘncia que se impĂŽs ao influxo das teses libertĂĄrias dos anos 1960.
Ă irrelevante que entrem na faculdade, que ganhem muito ou pouco dinheiro, que sejam bem-sucedidos na profissĂŁo. O que espero, eis a resposta correta, Ă© que sejam felizes. Ora, felicidade Ă© coisa grandiosa. Ă esperar, no mĂnimo, que o filho sinta prazer nas pequenas coisas da vida. Se nĂŁo for suficiente, que consiga cumprir todos os desejos e ambiçÔes que venha a abrigar. Se ainda for pouco, que atinja o enlevo mĂstico dos santos. NĂŁo dĂĄ para preencher caderno de encargos mais cruel para a pobre criança.
"Ă a felicidade necessĂĄria?" Ă© a chamada de capa da Ășltima revista New Yorker (22 de março) para um artigo que, assinado por Elizabeth Kolbert, analisa livros recentes sobre o tema. No caso, a ĂȘnfase estĂĄ nas pesquisas sobre felicidade (ou sobre "satisfação", como mais modestamente Ă s vezes sĂŁo chamadas) e no impacto que exercem, ou deveriam exercer, nas polĂticas pĂșblicas. Um dos livros analisados, de autoria do ex-presidente de Harvard Derek Bok (The Politics of Happiness: What Government Can Learn from the New Research on Well-Being), constata que nos Ășltimos 35 anos o PIB per capita dos americanos aumentou de 17 000 dĂłlares para 27 000, o tamanho mĂ©dio das casas cresceu 50% e as famĂlias que possuem computador saltaram de zero para 70% do total. No entanto, a porcentagem dos que se consideram felizes nĂŁo se moveu. ConclusĂŁo do autor, de lĂłgica irrefutĂĄvel e alcance revolucionĂĄrio: se o crescimento econĂŽmico nĂŁo contribui para aumentar a felicidade, "por que trabalhar tanto, arriscando desastres ambientais, para continuar dobrando e redobrando o PIB?".
Outro livro, de autoria de Carol Graham, da Universidade de Maryland (Happiness Around the World: The Paradox of Happy Peasants and Miserable Millionaires), informa que os nigerianos, com seus 1 400 dĂłlares de PIB per capita, atribuem-se grau de felicidade equivalente ao dos japoneses, com PIB per capita 25 vezes maior, e que os habitantes de Bangladesh se consideram duas vezes mais felizes que os da RĂșssia, quatro vezes mais ricos. Surpresa das surpresas, os afegĂŁos atribuem-se bom nĂvel de felicidade, e a felicidade Ă© maior nas ĂĄreas dominadas pelo TalibĂŁ. Os dois livros vĂŁo na mesma direção das conclusĂ”es de um relatĂłrio, tambĂ©m citado no artigo da New Yorker, preparado para o governo francĂȘs por dois detentores do Nobel de Economia, Amartya Sen e Joseph Stiglitz. Como exemplo de que PIB e felicidade nĂŁo caminham juntos, eles evocam os congestionamentos de trĂąnsito, "que podem aumentar o PIB, em decorrĂȘncia do aumento do uso da gasolina, mas nĂŁo a qualidade de vida".
Embora embaladas com nĂșmeros e linguagem cientĂfica, tais conclusĂ”es apenas repisariam o pedestre conceito de que dinheiro nĂŁo traz felicidade, nĂŁo fosse que ambicionam influir na formulação das polĂticas pĂșblicas. O propĂłsito Ă© convidar os governantes a afinar seu foco, se tĂȘm em vista o bem-estar dos governados (e podem eles ter em vista algo mais relevante?). Derek Bok, o autor do primeiro dos livros, aconselha ao governo americano programas como estender o alcance do seguro-desemprego (as pesquisas apontam a perda de emprego como mais causadora de infelicidade do que o divĂłrcio), facilitar o acesso a medicamentos contra a dor e a tratamentos da depressĂŁo e proporcionar atividades esportivas para as crianças. Bok desce ao mesmo nĂvel terra a terra da mĂŁe que trocasse o grandioso desejo de felicidade pelo de uma boa faculdade e um bom salĂĄrio para o filho.
Roberto Pompeu de Toledo - Fonte: Veja - Edição 2157.
A NORMALIDADE FICOU "NORMAL"
Quando comecei a escrever, jurei que jamais abriria um artigo com a velha tĂ©cnica: "Estou diante da pĂĄgina branca..., mas falta-me um assunto" ou "a tela vazia do computador brilha pedindo um tema, mas nada me ocorre". Jamais usei essa desculpa de articulista sem inspiração. E mantenho a promessa. SĂł que hoje nĂŁo sou eu que estou sem assunto - Ă© o Brasil. O governo nos surrupiou, entre outras coisas, o "assunto". Lula repete o "espetĂĄculo permanente" inventado por JĂąnio Quadros. E seus atos e fatos pautam o paĂs.
Ă uma forma sutil de controlar a imprensa, obrigando-a a discutir ou refutar "factoides" que nos lançam o tempo todo. Somos obrigados a discutir falsas verdades e denĂșncias vazias, em meio ao delĂrio narcisista de que o Brasil Ă© Lula, de que existimos para celebrĂĄ-lo ou odiĂĄ-lo.
Esse primitivismo paralisa os acontecimentos nacionais. Ou pior, parece acontecer muita coisa no paĂs, mas nada de real estĂĄ se concretizando, alĂ©m do Ăłbvio previsto: estouro das contas pĂșblicas, obras de pacotilha, empreguismo, ideologismo ridĂculo e terceiro-mundista. Os escĂąndalos "parecem" acontecimentos.
O PT encobre falcatruas em nome do poder, que eles chamam de "ideal socialista" ou algo assim. Tudo que acontece se coagula, coalha como uma pasta, uma "geleca", um brejo de nĂŁo-acontecimentos onde tudo boia sem rumo. Ou entĂŁo sĂŁo eventos disparatados: um dia Lula estĂĄ com o Collor; no outro, com o Hamas.
Uma visĂŁo crĂtica e racional sobre o Brasil ficou inĂștil. A maior realização desse governo foi a desmontagem da razĂŁo. Podemos decifrar, analisar, comprovar crimes ou roubos, mas nada acontece. Fica tudo boiando como rolhas na ĂĄgua. A sinistra polĂtica de alianças que topa tudo pelo poder planeja com descaso transformar-se numa espĂ©cie do PRI mexicano. Desmoralizaram o escĂąndalo, as indignaçÔes, a Ă©tica (essa palavra burguesa e antiga para eles)... Esses pelegos usurparam os melhores conceitos de uma verdadeira esquerda que pensa o Brasil dentro do mundo atual, uma esquerda que se reformou pelas crises do tempo, antes e depois da queda do muro de Berlim. Eles se obstinam em usurpar o melhor pensamento de uma genuĂna "esquerda" contemporĂąnea, em nome de uma "verdade" deformada que instituĂram.
Sinto-me um idiota (mais do que jå sou, ai de mim...) e parece que ouço as gargalhadas barbudas de velhos sindicalistas como Vaccari, Vaccareza, Vanucci: "Ahh, pode criticar... Estamos blindados, tanto quanto os companheiros Sarney ou Renan...".
As velhas categorias para explicar o Brasil morreram. Jå hå uma pós-corrupção, uma pós-direita (disfarçada de "esquerda").
Somos uma sopa onde flutuam as eternas colunas sociais, com os sorrisos e as bundas nuas, as velhas madames e as novas peruas, os crimes, as balas perdidas, as revoltas nas prisÔes.
JĂĄ vivi Ă©pocas de cores mais vivas. O prĂ©-64 era vermelho, nĂŁo sĂł pelas bandeiras do socialismo, mas pelo sangue vivo que nos animava a construir um paĂs, romanticamente. Era ilusĂŁo? Era. Mas tinha gosto de vida. A minha esquerda jĂĄ foi sincera. Hoje Ă© essa trama pelega. E a ditadura de 64, aquele verde-oliva que nos cercou como uma epidemia de vil patriotismo? Era terrĂvel? Sim. Mas nos dava o "frisson" de lutar contra o autoritarismo ou de sermos "vĂtimas" das porradas da histĂłria.
JĂĄ passei pelas drogas e desbundes da contracultura, pelos depressivos anos cinzentos post-mortem de Tancredo, passei pelos rostos amarelos e verdes do "impeachment", pelo azul da esperança do Plano Real. E hoje? Qual Ă© a cor de nosso tempo? Somos uma pasta cor de burro quando foge, uma cobra mordendo o prĂłprio rabo, um beco sem saĂda disfarçado de progresso, graças Ă vitalidade da economia que o Plano Real permitiu.
Somos tecnicamente uma "democracia", que Ă© vivida como porta aberta para oportunismos, pois a "cana" Ă© menos dura... Democracia no Brasil Ă© uma ditadura de picaretas. O povĂŁo prefere um autoritarismo populista e os intelectuais sonham com um socialismo imaginĂĄrio que resolva nosso bode "capitalista", quando justamente o injusto capitalismo seria a Ășnica bomba capaz de arrebentar nosso estamento patrimonialista de pedra. Quem quiser alguma positividade Ă© "traidor". A misĂ©ria tem de ser mantida "in vitro" para justificar teorias velhas e absolver incompetĂȘncia. A Academia cultiva a "desigualdade" como uma flor... Utopia de um lado e burrice do outro impedem a agenda de nossas reformas urgentes, essenciais para nossa modernização, que grossos barbudos chamam de "neoliberalismo".
Nos Estados Unidos, tempo Ă© dinheiro; no Brasil, a lentidĂŁo Ă© a mola mestra do atraso. O Brasil gira em volta de si mesmo.
Somos feitos de sobras do ferro-velho mental do paĂs, de oligarquias felizes e impunes, de um JudiciĂĄrio caquĂ©tico, das caras deformadas de polĂticos, das barrigas, das gravatas escrotas, da gomalina dos cabelos, das notas frias, da boçalidade dos discursos, dos superfaturamentos, tudo compondo uma torta escultura, um estafermo fabricado com detritos de vergonhas passadas, togas de desembargadores, bicheiros, cĂ©rebros encolhidos, olhos baços, depressĂ”es burguesas, hipersexualidade rasteira, doenças tropicais voltando, dengue, barriga dÂŽĂĄgua, barbeiros e chagas, cheiros de pĂąntano, ovos gorados, irresponsabilidades fiscais, assassinos protegidos no Congresso, furtos em prefeituras, municĂpios apodrecidos, decapitaçÔes, pneus queimados, ĂŽnibus em fogo.
No caos nĂŁo hĂĄ eventos. Para haver acontecimentos, tem de haver uma normalidade a ser rompida. Mas, nada acontece, pois a anormalidade ficou "normal".
Tenho a sensação de que uma coisa espantosamente óbvia e sinistra estå em gestação.
Por isso, gosto de citar a frase da bruxa do "Macbeth": "Something wicked this way comes" (Shakespeare). Tradução: "Vem merda por aĂ!..."
Nossa chance Ășnica de modernização pode virar um "chavismo cordial".
Arnaldo Jabor - Fonte: O Tempo - 23/03/10.
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