PENSANDO NA VIOLĂNCIA
STOP THE VIOLENCE
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http://francoisrobertphotography.com/
O fotĂłgrafo suĂço Francois Robert utilizou ossos como matĂ©ria-prima para uma sĂ©rie de fotografias intitulada "Stop the Violence" (pare a violĂȘncia). Ele recria sĂmbolos ligados Ă paz e Ă guerra, como a suĂĄstica nazista, uma granada e um revĂłlver. Conhecido por seus trabalhos publicitĂĄrios, Robert tem outras sĂ©ries sociais expostas em seu site: http://francoisrobertphotography.com/.
Fonte: Folha de S.Paulo - 28/06/10.
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UNIVERSIDADE, MECENATO E MERCADO
Em reiteradas oportunidades, o reitor da Universidade de SĂŁo Paulo (USP) tem-se manifestado a favor de doaçÔes de "mecenas" para a modernização do ensino universitĂĄrio. Chegou a fazer tal declaração, eivada de significados e consequĂȘncias, em momento tenso e de greve nas universidades paulistas.
Utiliza-se como argumento central o fato de que seria impossĂvel a manutenção da universidade pĂșblica sem subvençÔes de particulares, do novo "mecenato". Pela parceria pĂșblico-privada, as universidades deslanchariam. Nenhuma repercussĂŁo negativa haveria, tem dito, como resultante desse auxĂlio desinteressado dos doadores. E tudo isso, ainda segundo advoga o reitor, deve ser pensado "sem ideologias", ainda que a manifestação tenha se dado no contexto de corte do ponto dos servidores pĂșblicos em greve -o que conspira contra a essĂȘncia desse direito.
Como seria termos um curso de ciĂȘncias sociais mantido por uma grande montadora? Ou, ainda, discutirmos as complexas relaçÔes do direito do trabalho, sob o mesmo patrocĂnio?
O ensino universitĂĄrio tem papel vital para o desenvolvimento de qualquer paĂs. Ă Ăłbvio que, para a geração desse conhecimento, hĂĄ necessidade de recursos.
No entanto, ao se recorrer ao dinheiro privado, hĂĄ evidente possibilidade de comprometimento dessa missĂŁo. Na pesquisa, subvençÔes particulares nĂŁo raro levam Ă distorção dos fins pĂșblicos. O dinheiro investido, em geral, Ă© destinado a ĂĄreas de interesse do prĂłprio setor privado, relegando a um segundo plano projetos de natureza pĂșblica. Assim, ao invĂ©s de o paĂs determinar os rumos do que se pretende, estrategicamente, pesquisar, quem o faria seriam os investidores, os tais novos mecenas, as corporaçÔes.
O ingresso do dinheiro privado nas universidades pĂșblicas ameaça tambĂ©m a liberdade de cĂĄtedra. O ato de ensinar, de forma livre e sem pressĂ”es de interesses, Ă© um dos pilares do avanço das ciĂȘncias humanas, exatas ou biomĂ©dicas.
Somente a partir da liberdade de expressĂŁo nas salas de aula Ă© possĂvel acreditar-se na viabilidade de a universidade contribuir para a construção de outra sociedade. Com a entrada de verbas de instituiçÔes privadas, gradualmente, o que se viabilizaria Ă© que aqueles que nĂŁo partilham de seus pressupostos ideolĂłgicos ficariam mais fragilizados e, com o tempo, escassos na universidade pĂșblica.
HĂĄ outra questĂŁo vital que se desconsidera: por que as universidades pĂșblicas sĂŁo, de longe, aquelas que geram conhecimento, ciĂȘncia e reflexĂŁo de ponta, e nĂŁo as infindĂĄveis escolas superiores privadas que se espalham pelo paĂs? Importante seria uma pesquisa desinteressada enfrentar livremente esse tema. Mas o reitor da USP tem acrescentado, "isento de ideologias", que a universidade pĂșblica ganharia se seguisse os passos das escolas privadas de "renome".
Portanto, a preservação da integridade da universidade pĂșblica depende, sim, do aumento de recursos pĂșblicos, bem como da remuneração digna de seus docentes e de seus funcionĂĄrios - e esse Ă© o desafio atual.
Se a proposta do reitor da USP fosse efetivada, estarĂamos mais prĂłximos de uma universidade a serviço do mercado, começando pela via do mecenato.
Ricardo Antunes, 57, Ă© professor titular de sociologia do Instituto de Filosofia e CiĂȘncias Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Marcus Orione Gonçalves Correia, 45, é professor associado da Faculdade de Direito da USP e juiz federal.
Fonte: Folha de S.Paulo - 02/07/10.
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