PENSANDO EM LITERATURA
COPA DE LITERATURA
English:
http://www.themorningnews.org/tob/
http://www.themorningnews.org/archives/the_rooster/the_2008_tournament_of_books.php
Navegando pela internet, o blogueiro Lucas Murtinho se deparou com uma idéia que, logo no primeiro acesso, fisgou sua atenção: uma disputa entre obras literárias na qual, semelhante a um campeonato de futebol, os livros - lançados sempre no ano anterior ao do perÃodo em que o campeonato está no ar - se confrontam em "jogos" apitados por um juiz (no caso, alguém com hábito frequente de leitura) que decide o vencedor da partida. A partir daÃ, as obras ganhadoras avançam de fase até que uma delas seja declarada ganhadora do "campeonato" (ou "melhor livro do ano").
A disputa, que no site que inspirou Murtinho se chama Tournament of Books e é organizada pela revista eletrônica "Morning News", ganhou logo uma versão tupiniquim pelas mãos do blogueiro, a Copa de Literatura (www.copadeliteratura.com).
"O que me fascinou e interessou no site foi justamente o seu caráter abertamente injusto. Cada jurado escolhe que critérios utilizar para tomar sua decisão, mas os critérios e o resultado da sua aplicação são expostos ao público. Uma idéia muito mais honesta do que a falsa imparcialidade dos prêmios literários tradicionais, obscuramente decididos por júris quase anônimos", afirma Murtinho, que inaugurou o seu Copa de Literatura no segundo semestre do ano passado e que hoje está em sua segunda edição.
Para começar a disputa, Murtinho conta que os livros escolhidos para a competição são selecionados pelos internautas que frequentam o site, em votação livre na qual podem ser sugeridos quaisquer autores, gêneros ou formas de linguagem, respeitando apenas que as obras devem datar do ano passado (no caso da edição deste ano, disputam livros de 2007). Em seguida, os selecionados são sorteados em chaves e inicia-se a competição.
Para analisar as obras e determinar um vencedor, o site escolhe os "árbitros" que irão apitar o jogo. Nessa escolha, Murtinho conta que os nomes escolhidos são pessoas próximas dele e que já tenham alguma intimidade com o universo da escrita.
"Normalmente chamo amigos da blogosfera, ou conhecidos de conhecidos meus da blogosfera, ou conhecidos de conhecidos de conhecidos. Enfim. Alguns jurados participaram da primeira copa, outros são novos. E a idéia é continuar assim, com alguns participantes mais ou menos fixos e outros que vêm e vão."
De posse de suas "partidas", os juÃzes lêem as duas obras e preparam um texto em que elegem um vencedor e explicam, baseando-se nos critérios que quiserem usar, o motivo de uma obra ser superior a outra.
A partir daà a competição avança para oitavas-de-final, semifinal e final - igual a um campeonato de futebol mesmo - em que, ao término, um dos livros é o campeão da disputa.
Mantendo o site no ar apenas por prazer (sem ganhar para isso), Murtinho conta que a disputa agradou as editoras e autores, tanto que normalmente recebe cópias dos livros que estão na competição.
Além disso, o criador da página diz que alguns autores já enviaram e-mails falando sobre a participação no prêmio. "Na primeira edição, alguns jurados receberam e-mails de autores agradecendo as resenhas. Acho que a maior parte percebe que o torneio foi pensado para as pessoas se divertirem", comenta Murtinho.
Fonte: O Tempo - 16/10/08.
Confira o site: http://www.copadeliteratura.com
A GRANDE DATA NO BRASIL É O DIA 15 DE OUTUBRO
A história do Brasil registra três datas de vitórias marcantes: Sete de Setembro, Treze de Maio e Quinze de Novembro. Vitórias incompletas, porque outra data ainda não é comemorada com o mesmo destaque: o Quinze de Outubro. A Independência, a Abolição, a República não foram completadas porque, para isso, o caminho seria a escola, com qualidade e igualdade.
O Brasil continua vulnerável, submisso e dependente. Os descendentes dos escravos continuam discriminados. A pobreza ainda condena milhões à escravidão do desemprego, à falta de moradia, de saúde, de renda. Em alguns aspectos (como a violência e a desigualdade), a qualidade de vida piorou depois da Abolição. A República mantém o paÃs dividido.
Não há Abolição se a educação não assegurar oportunidades para todos; nem é República um paÃs no qual a escola do filho do eleito é melhor do que a do filho do eleitor.
E a escola é, acima de tudo, o professor. Um paÃs não se completa se o professor não for a categoria mais bem preparada, mais dedicada e com os melhores salários. No Brasil, um prÃncipe, uma princesa e um marechal ficaram conhecidos por causa de grandes mudanças. Mas só os professores serão capazes de dar o salto à frente que vai realmente completar a Independência, a Abolição e a República.
Lamentavelmente, esse não é o nosso caso. Só agora conseguimos um Piso Nacional para o Salário do Professor, mesmo assim, equivalente a 10% do piso de outras categorias do setor público.
O Brasil precisa colocar o Quinze de Outubro como a data-mãe de todas as outras datas históricas. E tratar seus professores não apenas como os heróis que são, mas principalmente como os personagens centrais do paÃs, como devem ser: os construtores do futuro.
Para isso,, além de serem educadores, os professores têm um importante papel: serem também educacionistas. Além do trabalho profissional dentro de sala de aula, precisam de militância polÃtica nas ruas e nas urnas em defesa do educacionismo: um movimento que construa uma sociedade na qual o filho do trabalhador estude na mesma escola que o filho do patrão, todas com o máximo de qualidade.
A única revolução possÃvel, libertária, eficiente e igualitária, é a revolução pela educação: todos os 60 milhões de alunos, 2 milhões de professores e 200 mil escolas públicas com a mesma qualidade, não importa a cidade ou a renda da famÃlia do aluno. Todas com professores bem remunerados, dedicados e qualificados; em edifÃcios bonitos e bem equipados; com alunos estudando em horário integral.
A revolução atual não está em transferir o capital das mãos dos capitalistas para as mãos dos trabalhadores, mas em levar os filhos dos trabalhadores para a mesma escola dos filhos dos capitalistas. Por isso, essa revolução tão necessária passa pelas mãos dos professores.
Só quando o Dia do Professor for a maior de nossas datas, as outras merecerão ser plenamente comemoradas.
Cristovam Buarque, Professor (UnB) - Fonte: O Tempo - 17/10/08.
A DOLOROSA MISSÃO DOS PROFESSORES BRASILEIROS
Houve um tempo em que 15 de outubro era uma data especial no calendário dos brasileiros, pois eles manifestavam seu reconhecimento pelos professores que marcavam suas vidas ao oferecer lições sobre o mundo erudito, a cidadania e os nobres sentimentos humanos. Não era uma mobilização intensa porque o paÃs nunca conferiu a devida importância à educação, acreditando que os jovens poderiam contentar-se com a formação primária e buscar mais cedo as oportunidades para o enriquecimento rápido.
Outra parcela da população não dispunha dos recursos mÃnimos para freqüentar a escola e todo esse universo era muito distante da sua realidade miserável. Havia em todos, entretanto, a percepção de que a docência era uma ocupação digna e muitos profissionais de outras áreas assumiam as "cadeiras", nas séries mais avançadas, como uma missão para contribuir para o desenvolvimento da comunidade ou uma estratégia para conferir mais brilho à sua carreira de nÃvel superior.
Esse respeito extinguiu-se, entretanto, no final do século XX, pelos maus-tratos impostos por governantes e empresários da educação que não admitem o magnÃfico papel de quem pode ser uma liderança incontestável para todos os jovens. Os salários ridÃculos foram a ponta de lança para humilhar a categoria, mas a erosão da autoridade como educador tornou-se o principal mecanismo para deixar os mestres de joelhos diante da comunidade escolar e, principalmente, da sociedade.
As conseqüências foram nefastas porque todo o sistema educacional foi afetado pelo afastamento de professores que puderam assumir outros postos de trabalho e, sobretudo, pela perda de qualidade no processo ensino-aprendizagem. Inúmeros cursos de licenciatura foram fechados, pela baixÃssima demanda de jovens interessados em assumir a docência, mesmo sabendo que há muitas vagas não-preenchidas, especialmente no curso médio. Preferem seguir outras carreiras que lhes possibilitem disputar espaço em mercado de trabalho saturado porque não querem expor-se a agressões fÃsicas de crianças, ameaças de morte de menores infratores, determinações esdrúxulas de conselho tutelar e descompostura infundada de autoridades educacionais.
As histórias contadas por quem continua no cargo são aterradoras e os casos mais graves denunciados pela mÃdia que adverte, freqüentemente, quanto ao Ãndice de licença médica por exaustão emocional. Algumas professoras mais jovens padecem, depois, de distúrbios mentais irreversÃveis. Nada é feito, entretanto, para reverter esse quadro dramático; pelo contrário, novas atribuições têm sido dadas ao corpo docente das escolas públicas para que ele atue na recuperação de criminosos sem receber qualquer aporte teórico, material e institucional para essa missão. Ele fica, então, na berlinda para sofrer todo tipo de retaliação dos alunos rebeldes sem qualquer apoio das autoridades que dispõem dos recursos para transformar a escola num espaço mais seguro, produtivo e fraterno.
É lamentável que a principal categoria profissional de uma sociedade moderna esteja nessa condição, pois somente ela pode assegurar que a educação tenha o nÃvel necessário para a formação adequada das novas gerações. O paÃs não considera, entretanto, que isso seja realmente estratégico e continuará aplicando mal os recursos orçamentários para a educação e os jovens não absorverão as lições mÃnimas da leitura, da escrita e das operações matemáticas, resvalando para os caminhos mais indignos do universo contemporâneo.
Gilda de Castro - Fonte: O Tempo - 18/10/08.
O MÉRITO DO PROFESSOR
Mais que escolas, escolas de qualidade. Mais que professores, professores comprometidos, motivados e valorizados. É com essas premissas que o Estado de São Paulo encara a missão de dar um salto de qualidade na educação pública. Superado o desafio da inclusão devido a fundamentais polÃticas de universalização do acesso em anos anteriores, o governo do Estado enfrenta o problema do baixo desempenho de seus alunos, tendo como prioridade aperfeiçoar o sistema de educação.
Como não poderia ser diferente, o Estado mostrou todos os resultados de seus alunos, a maioria apontando para problemas de aprendizagem. O problema paulista é o de todo o Brasil, mas São Paulo preparou um plano de metas de qualidade de médio e longo prazo. Diagnosticou a situação e implantou na rede de 5 milhões de alunos programas para melhorar a qualidade das aprendizagens: nova proposta curricular, materiais de apoio, programa de alfabetização, recuperação intensiva, ampla formação continuada dos professores, elevados investimentos nas 5.500 escolas.
Mas a mais importante ação é o sério compromisso do governo José Serra com a valorização dos professores, protagonistas do sistema.
Só há melhor desempenho dos alunos com professores motivados. O Estado, após aumentar o salário-base de todos os professores, selecionar 12 mil coordenadores pedagógicos e reorganizar o sistema de supervisão, lançou projeto de remuneração por desempenho que pode resultar em até 2,9 salários mensais a mais aos professores. Trata-se de reconhecer o esforço dos professores e valorizar o compromisso com a melhoria do desempenho dos alunos.
Pela primeira vez, funcionários estaduais receberão bônus financeiro de acordo com o resultado do trabalho. Outros paÃses, como o Chile, adotaram ações semelhantes. Nos EUA, o maior sucesso ocorreu em Nova York.
No Brasil, Minas Gerais, Pernambuco e Distrito Federal começam a adotar esse tipo de incentivo. No Ceará, a cidade de Sobral tem bonificação por mérito. O modelo paulista é adaptado à nossa realidade e, por isso, acreditamos no seu sucesso.
Os cerca de 300 mil funcionários da Secretaria da Educação (professores efetivos e temporários, diretores, agentes de serviço etc.) poderão receber bônus equivalente a 2,9 salários mensais se seus alunos melhorarem a aprendizagem. As escolas terão de atingir metas ano a ano. A comparação é da escola com ela mesma. Para efeito do bônus por resultado, não há comparação entre escolas, já que cada uma tem realidade diferente.
Se as metas forem 100% alcançadas, todos os funcionários da escola receberão bônus total: 20% dos 12 salários mensais, ou seja, 2,4 salários a mais. A bonificação será equivalente ao avanço. Se a escola atingir 50% de sua meta, seus funcionários receberão 50% do bônus -1,2 salário a mais.
As escolas que superarem as metas receberão pelo esforço maior. Ao superar 20% do Ãndice, os funcionários terão acréscimo de 20% ao bônus total. Se passar 10%, 10% a mais. O teto é de 20% a mais, 2,9 salários.
É uma polÃtica de justiça e mais eqüidade, que valoriza o trabalho conjunto da equipe da escola.
A bonificação por mérito não substitui o salário, o complementa. Salário e carreira são fundamentais, mas igualmente importante é reconhecer o bom profissional. Criar incentivos para melhorar o desempenho dos estudantes é essencial. Temos escolas com igual estrutura, no mesmo bairro e com perfil de alunos semelhante, mas com resultados muito diferentes.
A secretaria já apóia de maneira especial escolas com resultados mais insuficientes. São 379 com assistência técnica diferenciada e reformas. Mas não só essas: são R$ 700 milhões em obras nas escolas, totalizando 1.200 intervenções em 2008.
Uma polÃtica efetiva de valorização dos professores requer ações articuladas. Formação inicial e continuada, melhoria de condições de trabalho e incentivos à carreira são indispensáveis. Isonomia salarial, sozinha, não resolve os problemas da educação pública brasileira. Uma polÃtica capaz de distinguir os mais dedicados e eficientes deve ser estimulada pelo gestor público. São Paulo deu seu passo, com o maior quadro de funcionários.
Mais do que uma polÃtica de governo, uma polÃtica de Estado comprometida com o futuro de crianças e jovens.
Maria Helena Guimarães de Castro, 62, professora da Unicamp (licenciada), é secretária da Educação do Estado de São Paulo. Foi secretária-executiva do Ministério da Educação (2002) e presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) de 1995 a 2002. - Fonte: Folha de S.Paulo - 15/10/08.
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