PENSANDO EM POLÍTICA E RISCO...
COMENTÁRIO SOBRE O EDITORIAL 96
Eu não defendo nenhum tucano, além da ave que não merece extinção e não tem culpa de ter tido o azar de surgir num país cujo habitat logo será destruído. Também não defendo nem sou a favor de nenhum lula, além do molusco comestível que também teve a infelicidade de se achar em águas poluídas pela ganância do homem. A oposição pregadora da ética, enquanto era conveniente, não é nenhuma santa imaculada e tampouco o são todos aqueles jurídicos ou físicos, que estavam e estão por trás da oposição. Quando o atual governo era oposição, também pregava ética e vergonha na cara e uma vez dono da situação, imediatamente jogou a ética e a vergonha na cara pelos dutos de esgoto de onde veio, ficando somente com o que interessava no momento.
Concordo que os arrogantes doutores exageraram no discurso da ética e que o povo já está cansado disso. Eu nunca ví nenhum político aparecer na televisão dizendo que é safado, ladrão, que fala muita mentira e que na primeira oportunidade vai meter a mão no dinheiro do povo. Todos, sem exceção pregam que são éticos, honestos, trabalhadores, austeros e outros sinônimos de tudo isso. Porém ao conseguirem a posição de poder, “esquecem” tudo o que disseram e todas as promessas que fizeram.
Político honesto é como mosca branca. Se você vir alguma voando em sua direção, fatalmente vai tentar abate-la, pois será tão diferente, tão fora do normal que parecerá uma ameaça ou uma portadora de mau agouro ou doença.
Não concordo com o discurso ético da oposição e muito menos com o discurso sonso do governo. Sabemos, e não é de hoje que são todos farinha podre do mesmo saco sujo. O povo não se convence mais disso. Realmente se convence o povo com ações, mesmo que elas sejam bolsas. Bolsa-família, bolsa-escola, bolsa-gás, bolsa-farinha, bolsa-bolsa, etc. Porém, apesar de ser uma ajuda, não é o suficiente para o crescimento do país. Uma família beneficiada por uma dessas bolsas, jamais fará parte do crescimento do país. Como uma família pobre ou extremamente pobre, terá acesso ao estudo, ao trabalho, ganhando quando muito 95 reais por mês? Como um adolescente, que tem direito a 15 reais por mês de participação, vai estudar se não há escola decente para tal? Como uma família dessas cuida da saúde, sem hospitais públicos, se os poucos que existem são verdadeiros matadouros, mal equipados e mal assistidos, comandados por uma classe que não têm direito a bolsa nenhuma, mas ganham um salário de fome? Como uma família dessa compra remédios e livros? Com que?
Para qualquer governo, é muito mais interessante um povo que dependa dele completamente, pois isso significa garantia de voto. Um povo que evolui, começa a pensar. Um povo que pensa, começa a ler e pesquisar. E um povo assim, começa a ter vontade própria e quer melhorar, sair da dependência. E então ele vota e quando o voto é consciente com o que se deseja, nem sempre é da forma que o político quer. É mais vantajoso mantê-los como estão. É realmente como o editorial menciona. O país é formado em sua maioria por sem-tetos, sem-terras e sem-empregos e numa irônica inversão de posições, a evolução e crescimento do país se dariam se o país tivesse em sua maioria os com-empregos, que logo seriam com-terras e conseqüentemente com-tetos. Assim teríamos as famílias, sem bolsa nenhuma e também sem fome, pois que colheriam frutos do seu próprio trabalho e então a evolução e o famigerado e tão almejado espetáculo do crescimento.
Já está mais do que provado que o brasileiro não tem medo do trabalho e não tem vergonha nem preguiça de levantar cedo e ir para o batente, independente de ter que tomar dois ou três ônibus ou andar alguns quilômetros a pé. Então o que falta é pouco e chama-se emprego. Não estou dizendo nenhuma novidade, além do que todos, todos os políticos falam antes de conseguirem ser eleitos. Trabalho, saúde e educação. E isso sim, continua igual. Estamos carentes dessas três bases.
Nada mudou meus queridos compatriotas. A oposição prega a ética, a saúde, o trabalho e a educação, e o governo esquece de tudo isso, ainda que tenha pregado a mesma coisa antes de ser eleito. Não é o Lula ou o PT, nem o Alckimin ou o PSDB ou ainda o PFL, que farão o Brasil crescer ou ser mais ético. O nosso país só vai conseguir sair dessa quando os que estiverem no comando se conscientizarem que devem dizer a verdade, só isso. Caso contrário, o Brasil será um país formado de “sem-tudos” totalmente dependentes das bolsas-qualquer coisa” do governo, sem perspectiva de evolução ou crescimento.
Eribaldo Santos
RISCOS
Rir é correr o risco de parecer tolo.
Chorar é correr o risco de parecer sentimental.
Estender a mão é correr o risco de se envolver.
Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu.
Defender seus sonhos e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas.
Amar é correr o risco de não ser correspondido.
Viver é correr o risco de morrer.
Confiar é correr o risco de se decepcionar.
Tentar é correr o risco de fracassar.
Mas devemos correr os riscos, porque o maior perigo é não arriscar nada.
Há pessoas que não correm nenhum risco, não faz nada, não têm nada e não são nada.
Elas podem até evitar sofrimentos e desilusões, mas não conseguem nada, não sentem nada, não mudam, não crescem, não amam, não vivem.
Acorrentadas por suas atitudes, elas viram escravas, privam-se de sua liberdade.
Somente a pessoa que corre riscos é livre!
Seneca - orador romano que viveu entre 55aC e 39dC.
(Colaboração: A.M.B.)
A POLÍTICA PÓS-LULA
KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online
Reeleito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará obrigatoriamente fora da cédula eleitoral de 2010. É um fato muito significativo. Lula concorreu a presidente nas últimas cinco eleições presidenciais, incluindo a que termina hoje. Perdeu as disputas de 1989, 1994 e 1998. Conquistou o Palácio do Planalto em 2002. E foi confirmado no cargo em 2006.
Como ficará o jogo político pós-Lula? O PT terá o imenso desafio de construir uma nova liderança capaz de concorrer com chance daqui a quatros anos. Na esteira dos escândalos do mensalão e do dossiegate, parece tarefa hercúlea. Pelo menos, aos olhos de hoje. Se Lula fizer um bom segundo mandato, terá para ditar o rumo do PT e até obrigar o partido a fazer aliança com outra sigla na condição de vice ou apoiador.
E o PSDB, partido que desde 1994 disputa o poder central com o PT, lançará quem em 2010? Haverá espaço no mesmo partido para José Serra, governador eleito de São Paulo, e Aécio Neves, reeleito ao governo de Minas Gerais? Surgirá uma ou duas novas agremiações política, como resultado do enxugamento do quadro partidário em curso?
A seguir, uma avaliação sobre os futuros presidenciáveis e seus desafios:
Marta Suplicy
A ex-prefeita de São Paulo deverá integrar o primeiro escalão do segundo mandato. Cotada para a pasta das Cidades, é uma aposta do PT pós-Lula. Em 2004, ela perdeu a prefeitura para Serra. Ganhará agora a chance de voltar ao topo da política.
Marta disputará a prefeitura novamente em 2008? E se Geraldo Alckmin atrapalhar os planos de Serra de apoiar a reeleição do atual prefeito, o pefelista Gilberto Kassab? Alckmin sai desta eleição maior do que entrou, independentemente da votação que obterá hoje. Fixou seu nome nacionalmente. Tem forte imagem em São Paulo. Pode ser osso duro de roer para Marta em 2008.
Há quem aposte que a ex-prefeita preferirá continuar ministra até 2010, evitando o desgaste de ter de abandonar a prefeitura no meio do mandato se a conquistá-la. Basta lembrar o tanto que ela cobrou Serra por ter feito isso.
Uma revelação petista
Antes de cair em desgraça política no início de 2006, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, era o nome de Lula para a sucessão de 2010. Revelação política, Palocci conquistou apoio empresarial e político ao conduzir com competência e habilidade a área econômica.
Será possível que outro petista repita o lado bom de sua ascensão política? Sim, mas não é fácil. Se Guido Mantega deixar a Fazenda, o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, são os petistas cotados para substituí-lo.
Gabrielli é afinado com o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, político hábil e amigo de Lula. Não é mera especulação elencar Wagner no time de herdeiros de Lula. Taí uma possibilidade de surpresa.
Pimentel tem boa relação com Aécio e deseja suceder o tucano no governo mineiro em 2010. Tentaria um atalho para a Presidência se viesse a ter sucesso na Fazenda? Esses mineiros estão sempre surpreendendo na política.
Ciro Gomes
No campo lulista, é outro nome cotado para a sucessão de 2010. O presidente gosta muito dele, um ex-ministro que se elegeu deputado federal pelo PSB do Ceará. Ciro tem força no Nordeste. Aceitaria fazer uma aliança com Aécio, como aventam alguns petistas da cúpula? Ou seria o candidato de Lula daqui a quatro anos em parceria com Marta? O PT e a petista aceitariam a vice dele? Se Lula estiver forte e bancar, sim.
Aécio x Serra
Esse é o grande duelo. Os dois tucanos, com vantagem para Serra, encabeçam a lista dos candidatos mais fortes à sucessão de Lula. Alckmin vai querer entrar nessa briga? Talvez, mas já teve a sua chance.
Serra tem feito articulações para garantir o apoio do PFL à sua candidatura em 2010. Chega até a pensar em construir num novo partido político, de centro-esquerda, para não ter de ficar brigando com Aécio no ninho tucano. O governador eleito de São Paulo é uma espécie de queridinho do establishment, sobretudo empresariado e mídia.
Serra não deverá estar na linha de frente dos ataques da oposição ao presidente. Mas sabe que, daqui a dois ou três anos, terá de vestir os trajes de anti-Lula. O caminho da conciliação é de Aécio, que já aposta numa aproximação com o PT e o PMDB para tentar ser candidato a presidente em 2010.
Para atrapalhar a vida de Serra, o governador mineiro já estimula tucanos a estimular Alckmin a ser presidente do PSDB, em substituição ao senador Tasso Jereissati, e a concorrer a prefeito de São Paulo em 2008, numa manobra para dificultar a candidatura de Kassab à reeleição.
Como reza o surrado dito popular, muita água passará debaixo da ponte até 2010, mas a sucessão de Lula já está no centro das articulações de todos os grandes partidos.
(Colaboração: José Marcius)