IDÉIAS...
PALAVRA DA SEMANA: TIME
"Somos um time" é uma expressão muito usada em empresas para fomentar o espÃrito de equipe, A palavra de origem germânica team significa "puxar" e era usada para os bois que puxavam o arado. NO século XVI, o termo foi estendido aos humanos que faziam trabalhos em conjunto. É esse segundo sentido, presumivelmente, que as empresas atuais se referem.
Max Gehringer
Fonte: Época - número 464
MENSAGEM SIMPLES
Se você já perdeu um dedo, é mais feio do que o permitido, mais baixo do que o mais baixo, não tem o suficiente ou tem excesso de insuficiências, se espera e nunca alcança, se tudo que reluz não é ouro, e a vida não está ao teu alcance; você ainda está vivo.
Millôr.
Fonte: Veja - Edição 2003.
LIDERANÇA COM COERÊNCIA
O tema "liderança" vem sendo debatido e abordado de diversas maneiras nos últimos anos.
Mas o que vem a ser liderança? A palavra liderança deriva do substantivo "lÃder", que significa: a pessoa que vai à frente para guiar ou mostrar o caminho ou que precede ou dirige qualquer ação, opinião ou movimento. O "ir à frente" pode ser visto também como a influência exercida por alguém na tomada de decisão do outro.
Os dirigentes, em muitos processos de tomada de decisão, impõem regras e normas que somente são válidas para os subordinados. Assim, a realidade de convenções e regras torna-se delimitada a grupos sociais. Dependendo do lugar em que o funcionário encontra-se na empresa, a realidade transforma-se em uma verdade modificada, pois o que é válido para alguns não é para outros.
Aprendemos desde pequenos a ler nas entrelinhas, a compreender aquilo que não foi dito e que quis ser falado. Quantas vezes em nossas vidas escutamos o ditado: "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço"? Esse ditado reflete a hipocrisia defendida por alguns, pois o cultivo de uma vida de aparências torna-se elemento importante para garantir a manutenção do poder.
O lÃder coerente é aquele que assume uma postura verdadeiramente exemplar e não usa um discurso diferente de suas ações. Por exemplo, ele não exige pontualidade de seu colaborador se não for pontual - e sim faz um banco de horas para resolver esse assunto ou toma alguma outra atitude de acordo com a sua conduta.
A coerência não é fácil de ser exercida quando não é verdadeira. A tendência é escorregar para a coerção, tornando o autoritarismo usual. Esbarramos em eternos dilemas envolvendo esse assunto nas mais diversas empresas.
Quantas vezes ouvimos reclamações sobre remunerações a serem pagas para profissionais que consigam ultrapassar as metas estipuladas, sendo essas metas impossÃveis de serem atingidas? Esse é o tipo de atitude tomada por lÃderes que tende a gerar frustração e insatisfação entre os colaboradores.
É uma mostra da hipocrisia atuando de novo, já que é mais fácil "fingir" um incentivo, que na verdade é inalcançável, do que realmente debater e procurar um objetivo real e concreto que possa vir a descortinar algum tipo de fragilidade desse lÃder.
Ser lÃder dá trabalho, pois esse é um papel constantemente testado pelo grupo. Significa, freqüentemente, estar no limite entre a autoridade e a aparência, dado que a compatibilidade entre seus atos é que irá garantir sua credibilidade. Para se manter como lÃder a pessoa tem que possuir e demonstrar atitudes coerentes com os seus dogmas, crenças e opiniões.
De outra maneira, a equipe percebe que as atitudes de quem está na liderança não são verdadeiras e autênticas. O exemplo e a coerência tornam-se importantes. Uma atitude diferenciada do discurso propicia um caminho para o "jeitinho". Constatamos isso todos os dias.
Quem nunca ouviu: "Não podemos dar desconto a ninguém, mas para o meu pai é diferente"? Em uma empresa ou organização, muitas vezes podemos observar executivos usando dois pesos, duas medidas. São rigorosos com seus subordinados, mas muito flexÃveis com tudo que envolve seus interesses pessoais. Atitudes incoerentes trazem aos membros da equipe um sentimento de desconfiança. O lÃder, antes de mais nada, tem que transmitir segurança ao seu grupo, para assegurar sua credibilidade e manter-se na posição com autoridade.
O lÃder vive em uma vitrine e deve ser sempre um modelo a ser seguido. A liderança deve ser exercida com responsabilidade, com verdade e coerência - ainda mais na crise moral que vivenciamos. Os dirigentes das empresas, as efetivas lideranças, precisam se tornar balizadores nas organizações de posturas morais e éticas.
Por Ruth Bandeira
Consultora da De Bernt Entschev
(Colaboração: Valéria)
DESPERTA BRASIL!
O CAOS AÉREO que tomou conta do Brasil na última semana é prova cabal de que os investimentos em infra-estrutura não se improvisam.
A inércia nesse campo tem um preço altÃssimo. No caso, tive notÃcias de que muitos vôos que sairiam da Europa e da América do Norte para os paÃses da América do Sul foram cancelados por uma razão muito simples: ninguém de bom senso quer voar sobre o espaço aéreo brasileiro sabendo que não pode se comunicar com os postos de controle em terra.
O mundo inteiro ficou sabendo que a morte das 154 pessoas no desastre da Gol de 29 de setembro de 2006 foi devido, em grande parte, à falta de comunicação nas zonas cegas do Brasil central. Gato escaldado tem medo de água fria...
Não bastasse a insegurança em terra devido ao crônico estado de crime e violência, vem agora a insegurança no ar. A imprensa veiculou que, nos últimos seis meses, as agências de viagem perderam 40% dos passageiros que haviam programado uma vinda do Brasil a passeio ou a negócios. A imagem do paÃs se deteriora.
No setor da infra-estrutura, optamos pela improvisação. Isso não dá certo. As montadoras produzem mais de 2 milhões de automóveis por ano, mas não temos malha viária urbana ou transporte de massa para acomodar essa invasão de veÃculos. Os operosos agricultores produzem 60 milhões de toneladas de soja, mas não temos estradas para transportá-los. O desperdÃcio é enorme. Os industriais fazem um grande esforço para alavancar as exportações, mas não contam com portos adequados. Todos querem que o Brasil cresça ao menos 5% ou 6% ao ano, mas falta energia para passar dos 4%. Tampouco temos mão-de-obra qualificada para enfrentar um ritmo mais acelerado de desenvolvimento.
Infra-estrutura não se improvisa. Nesse setor, as medidas têm de ser tomadas com muita antecedência e com base em uma boa estimativa do crescimento da demanda. As obras são demoradas. A formação de pessoal é lenta. No caso dos controladores de vôo, fala-se em um mÃnimo de dois anos, mas os que são do ramo dizem que, com menos de cinco anos, ninguém pode enfrentar a complexidade de controlar o tráfego aéreo em aeroportos de grande movimento como os de Congonhas, Guarulhos, Santos Dumont, Tom Jobim e BrasÃlia.
Além de estarmos a pé em matéria de equipamentos e pessoal, mostramos o nosso despreparo para as horas de crise. Passa-se por cima de "cláusulas pétreas" com a maior facilidade e não há equipes de reserva para garantir um mÃnimo de segurança. Desse jeito vamos ficar parados nos 3% de crescimento por muito tempo. É hora de acordar. Desperta Brasil!
ANTÔNIO ERMÃRIO DE MORAES
Fonte: Folha de S.Paulo - 08/04/2007.
A ERA DO "LIBEROU TOTAL"
Ninguém mais diz para os outros: "O que os outros vão pensar disso?" À primeira vista, cada um se diz capaz de passar ao largo da opinião alheia, imaginando-se assim cada vez mais livre. Só que a liberdade correu demais, invadiu tudo e virou dever. Não é politicamente correto confessar que nos abalamos com restos infames de autoritarismo que estão no olhar alheio. Pondo o outro de escanteio, acreditamos eliminar culpa e vergonha e, assim, ficamos mais "nós mesmos". Contudo, ser livre é também poder transgredir, de preferência ser pego em flagrante.
O pecado hoje é não ser transparente. Vivemos um "liberou total". Todos se mostram e confessam verdades, e a barreira entre o público e o Ãntimo se evaporou. Assim como expomos delitos, as vergonhas, as dores e as fraquezas são expostas. Os gordos não mais disfarçam seus pneus. A alça do sutiã não é mais escondida e a operação plástica é matraqueada. Não se cerzem mais buracos; tudo é mal e mal alinhavado e, quando não há rasgão, rasga-se.
É assim que chegamos à nova liberdade de ser, o que, para mim, que sou gorda, é o máximo. Camisetas e collants, antes só para magros, hoje vestem quantos quilos forem. Há pouco tempo, gordas só tiravam a canga na beirada da água e um gordo não tirava a camiseta.
Quanto à aparência fÃsica, libertamo-nos mesmo. Em matéria de emoção e de desejos, o caminho não foi tão fácil. Devemos expressar tudo o que sentimos, sem ligar para a dor ou o desconforto que podemos provocar? Na ânsia de sermos verdadeiros, esquecemos o outro. Não podemos mais usar esconderijos. Máscaras e disfarces são malvistos. Exibimos nossos desejos e carências, somos impulsivos e excessivos, mostrando o que antes não era exibido nem na intimidade. Casais contam qualquer deslize, de fato ou mesmo só de intenção. E dias de angústia se seguem.
A transparência é exigência da ética atual. Nem por misericórdia ou piedade salvamos nossos semelhantes das duras verdades. É proibido dissimular. Será isso liberdade? Temo que venha provocando dor e mágoa. Como se diz por aÃ, a verdade à s vezes pode ser cruel e nem sempre é necessária.
Ocorreu um terremoto nas relações de alteridade, em nome de nos libertarmos da desaprovação autoritária. Mas será que pensar e negociar, é sempre tão antiético? Para não perder o pique das palavras de ordem que venho usando, aqui vai mais uma: o preço da liberdade é a eterna vigilância. Será que a educação que estamos dando e recebendo nos treina para a necessária vigilância? Espero que sim.
Anna Veronica Mautner, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (ed. Ãgora).
(Fonte: Folha de S.Paulo - 12/04/2007)
SOBRE RANKINGS ESCOLARES
Q ual a utilidade de um ranking de escolas? Sejam fundamentadas no número de alunos que passam no vestibular ou no resultado obtido no Enem, hoje temos várias listas que destacam algumas escolas e jogam lá para o meio ou para o final da fila tantas outras. Tais listas não têm utilidade alguma e dizem muito pouco sobre o valor de uma escola ou sobre seu modo de funcionar. Mesmo assim, são usadas para avaliar a qualidade de ensino praticado.
Uma conseqüência dessas listas tem a ver com as próprias escolas. As que se situam no topo acreditam que o resultado é a prova de que estão no caminho certo e que não precisam rever seus métodos. As demais ficam pressionadas a atingir resultados melhores. Ora, o trabalho que uma escola realiza não pode ser reduzido ao êxito escolar de seus alunos avaliado dessa maneira.
É que a instituição escolar não funciona como uma empresa, que precisa ser eficiente a qualquer custo. Como estrutura social, ela tem finalidades bem mais preciosas, que só podem ser medidas uma ou duas décadas após o aluno sair de lá. Além da transmissão do saber, a escola tem de ensinar o exercÃcio da cidadania e promover a construção da autonomia.
Formar o futuro cidadão é ensinar e praticar valores coletivos e democráticos, ensinar a conviver com a diversidade, a superar preconceitos e estereótipos e, sobretudo, a usar o saber em benefÃcio de todos, e não só próprio ou de poucos. Assim, o fato de sabermos as escolas que freqüentaram os alunos de determinadas faculdades mostra apenas que algumas escolas instruem bem em relação a certas disciplinas do conhecimento e à execução de provas de avaliação. Mas e as outras atribuições?
Queremos saber algo mais sobre uma escola? Vejamos como anda a vida profissional dos alunos que lá se formaram. Será que trabalham só em busca de uma vida confortável ou querem mais do que isso? Mas não nos esqueçamos da liberdade na vida adulta: por melhor que tenha sido a formação escolar básica de uma pessoa, ao ganhar autonomia ela faz suas próprias escolhas.
O fato é que são raras as escolas de ensino fundamental e médio que têm dado conta de suas três importantes funções, e não há ranking algum que consiga ocultar esse fato. Essa questão é de todos nós, e não só de quem tem filhos em idade escolar ou trabalha em escola. Afinal, nosso futuro terá as marcas desse tipo de formação.
Rosely Sayão é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha).
(Fonte: Folha de S.Paulo - 12/04/2007)