FM - Faculdade Mental

PENSE! - 20/01/2011

PENSANDO NOS PÃSSAROS

BIRDWATCHING
English:
http://ornithos.tumblr.com/
http://www2.ucsc.edu/scpbrg/
http://www.turtlebay.org/
Webcams colocam "birdwatching" na tela... CÃ¢meras mostram in loco movimentaÃ§Ã£o de aves em ninhos e locais de alimentaÃ§Ã£o...
"Birdwatching" -observaÃ§Ã£o de pÃ¡ssaros, em inglÃªs- Ã© uma atividade para turistas pacientes. Ã‰ preciso ter calma, um bom par de binÃ³culos e alguma sorte para conseguir observar um pÃ¡ssaro na natureza.
JÃ¡ quem decide praticar "birdwatching" via internet precisa Ã© de uma boa conexÃ£o banda larga e disponibilidade para procurar webcams mostrando ninhos, comedouros e outros locais onde a presenÃ§a de pÃ¡ssaros Ã© garantida.
Quem se interessa por pÃ¡ssaros brasileiros ou da AmÃ©rica do Sul encontra uma boa opÃ§Ã£o no projeto Ornithos (http://www.ornithos.net.br/site/), que traz duas cÃ¢meras no Brasil, uma em Morretes, no ParanÃ¡, outra em Ubatuba, no Itamambuca Eco Resort, alÃ©m de outra no Equador.
A versÃ£o tumblr do site (http://ornithos.tumblr.com/) Ã© uma opÃ§Ã£o para quem tem dificuldades de visualizaÃ§Ã£o das cÃ¢meras na pÃ¡gina oficial e inclui ainda uma webcam que monitora o ninho de uma espÃ©cie de beija-flor em Orange County, na CalifÃ³rnia.
Um dos pÃ¡ssaros que mais conta com cÃ¢meras na internet Ã© o falcÃ£o peregrino. A temporada de ficar no ninho jÃ¡ passou, mas no site do grupo de estudos de aves predatÃ³rias da Universidade da CalifÃ³rnia (http://www2.ucsc.edu/scpbrg/) Ã© possÃvel acompanhar a rotina dos falcÃµes nos Ãºltimos anos e ficar de olho para ver ao vivo a prÃ³xima temporada nos ninhos.
Outro pÃ¡ssaro que depende do perÃodo no ninho para ser observado de perto Ã© a Ã¡guia-americana. Nesse caso, o prÃ³prio ninho, de proporÃ§Ãµes imensas, vale uma olhada. Tente o site do Turtle Bay Exploration Park (http://www.turtlebay.org/), em Redding, na CalifÃ³rnia.
Por fim, "birdwatching" na internet tambÃ©m demanda uma certa paciÃªncia -mas tambÃ©m recompensa.
Planeta@ Letra - Fonte: Folha de S.Paulo - 13/01/11.

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O CUSTO DA IGNORÃ‚NCIA
Em meio Ã s tragÃ©dias da semana nÃ£o faltam acusaÃ§Ãµes.
Ora sÃ£o as autoridades incompetentes, ora Ã© a populaÃ§Ã£o temerÃ¡ria, ora Ã© o contingenciamento de recursos, ora sÃ£o as mudanÃ§as climÃ¡ticas.
Todo mundo tem explicaÃ§Ãµes para tudo; no entanto, nÃ£o hÃ¡ um conjunto de aÃ§Ãµes coordenadas que possam afastar o fantasma das tragÃ©dias ambientais.
HÃ¡ fatores macro, sistÃªmicos e complexos que fÃ³runs mundiais, como as convenÃ§Ãµes recentemente realizadas em Nagoia e CancÃºn, estÃ£o tentando compreender, entrar em consenso e decidir sobre protocolos globais.
Mas hÃ¡ outros locais e comportamentos sobre os quais podemos agir jÃ¡ e, com isso, evitar o pior e fazer toda a diferenÃ§a. Dentre esses fatores, destaco duas ignorÃ¢ncias: a ambiental e a polÃtica.
Somos muito pouco alfabetizados nas questÃµes ambientais. NÃ£o me refiro nem Ã ignorÃ¢ncia inofensiva como a de nÃ£o saber diferenciar uma sibipiruna de um pau-brasil.
Refiro-me Ã ignorÃ¢ncia maior e imperdoÃ¡vel da intrÃnseca interdependÃªncia entre todos os sistemas e espÃ©cies da natureza. Convencionou-se que o ser humano Ã© a espÃ©cie mais importante e a natureza deve servir Ã s suas necessidades Ã s expensas da comunidade da vida.
Portanto, hÃ¡ uma cultura de apropriaÃ§Ã£o, abuso e desprezo em relaÃ§Ã£o ao meio ambiente, que, somada Ã ignorÃ¢ncia, faz com que o principal resultado da cultura antropocÃªntrica seja ameaÃ§a constante ao meio ambiente em geral e Ã condiÃ§Ã£o humana, em particular.
NÃ£o conhecer o meio ambiente e suas dinÃ¢micas e nÃ£o se comprometer com a vida faz com que nossos aglomerados urbanos assemelhem-se a histÃ³rias de horror, palcos de tragÃ©dias sem fim e de um desÃ¢nimo inconsolÃ¡vel quanto ao "Nosso Futuro Comum" (ver RelatÃ³rio Brundtland).
Outra ignorÃ¢ncia que mata Ã© a polÃtica. A educaÃ§Ã£o polÃtica deveria fazer parte dos currÃculos escolares desde a mais tenra infÃ¢ncia.
Cidadania Ã© a condiÃ§Ã£o que define a vida em sociedade, a condiÃ§Ã£o do ser polÃtico, agente da dinÃ¢mica social. No Brasil, nÃ£o temos qualquer formaÃ§Ã£o que dÃª ao aluno os saberes mais rudimentares sobre o funcionamento em sociedade, sobre direitos ou deveres.
Somos literalmente objetos de polÃticas publicas, hipotecamos direitos aos polÃticos profissionais e ignoramos nossos deveres primÃ¡rios.
Cremos na forÃ§a do voto e paramos aÃ, quando o voto Ã© sÃ³ o passaporte para a cidadania e para a participaÃ§Ã£o polÃtica, sua verdadeira jornada. Nossas duas ignorÃ¢ncias potencializam as tragÃ©dias que nos afligem de forma crescente. Permanecemos cegos em busca de um ensaio.
Ricardo Young - Fonte: Folha de S.Paulo - 17/01/11.

CULTURA, POLÃTICA DE ESTADO
SÃ£o vÃ¡lidos, mesmo que contraditÃ³rios, os recentes debates sobre o lugar da cultura hoje.
Cabe ao MinistÃ©rio da Cultura a funÃ§Ã£o de operar polÃticas pÃºblicas enraizadas e promissoras, tornando-se inadiÃ¡vel formular, ver e rever o seu percurso, selecionar questÃµes pertinentes, absorver formas de criaÃ§Ã£o e compreensÃ£o. Talvez deva mesmo situar a sua polÃtica cultural no contraponto de aÃ§Ã£o-reflexiva e reflexÃ£o-ativa.
O modelo predominante vinculava claramente estabilidade econÃ´mica e desenvolvimento. Mas o desenvolvimento jÃ¡ nÃ£o Ã© uma empresa de alguns, e sim um empreendimento de todos. Por isso mesmo deixou de ser operaÃ§Ã£o contÃ¡bil para se transformar no esforÃ§o radical de qualificaÃ§Ã£o.
Ã‰ preciso elaborar indicadores qualificativos, capazes de reequilibrar ou atÃ© de civilizar a voracidade dos indicadores quantitativos. A cultura perde a sua forÃ§a vital toda vez que adota a economia como padrÃ£o ou referÃªncia compulsiva.
NÃ£o podemos ignorar que herdamos um pesado deficit cultural que vem de longe. A reversÃ£o desse quadro clÃnico desfavorÃ¡vel deve ser rigorosamente priorizada, o que exige a inclusÃ£o da cultura como trabalho social avanÃ§ado.
Ã‰ preciso incluir a fatura cultural no empenho de reprocessamento da fratura social. Ã‰ verdade que o Estado nÃ£o produz cultura (graÃ§as a Deus!), mas pode ter funÃ§Ã£o democratizadora no estÃmulo, na distribuiÃ§Ã£o e no consumo.
Ao Estado, consciente de ser um mediador social, igualmente voltado para a prestaÃ§Ã£o de serviÃ§os pÃºblicos, cumpre: contribuir ativamente para a desobstruÃ§Ã£o dos canais de transmissÃ£o existentes e apoiar outros novos meios; formar novas plateias, implantando e ampliando auditÃ³rios formais e informais; vitaminar a procriaÃ§Ã£o cultural, mediante a seleÃ§Ã£o criteriosa de projetos instauradores; e estabelecer um novo repertÃ³rio de endereÃ§os e nÃºcleos culturais.
Sobretudo, cumpre repensar a mÃdia eletrÃ´nica despreconceituosamente, longe dos conceitos patrimonialistas dos integristas e dos preconceitos intelectualistas das academias engessadas. PatrimÃ´nio cultural, sim; fundamentalismo, nÃ£o. IndÃºstria cultural, por que nÃ£o? Sem o esvaziamento contundente da complexidade.
Tudo isso passa pelo livro, pela leitura em campo aberto, pelas bibliotecas, pelas salas de cinema e de teatro, pelo vÃdeo, pelos cultos diversos, pela cultura do videoclipe, pelas lonas do circo, pelas quadras e pelos terreiros, pelos estÃ¡dios esportivos e assim por diante.
Passa antes pela compreensÃ£o de que cultura Ã© coisa sÃ©ria. Para comeÃ§o de conversa, cultura deve ser polÃtica de Estado, mas de Estado socialmente enraizado.
Vale lembrar algumas recomendaÃ§Ãµes, talvez redundantes: reforÃ§ar o orÃ§amento do MinC; ampliar as iniciativas interministeriais; descentralizar mais as aÃ§Ãµes do ministÃ©rio; reoxigenar os fundos de cultura; trabalhar as emendas parlamentares para ganhar mais musculatura financeira, longe do clientelismo e da propaganda enganosa; reforÃ§ar a compreensÃ£o federativa.
Isso sem esquecer de que fins e meios devem ser calibrados cuidadosamente. Ã€ cultura cabe alistar-se na frente comum do hoje e do amanhÃ£, como parte integrante do processo, e ajudar a devolver a confianÃ§a no paÃs. Ela dispÃµe de condiÃ§Ãµes potenciais.
Eduardo Portella Ã© escritor e professor titular emÃ©rito da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). - Fonte: Folha de S.Paulo - 18/01/11.
UFRJ - http://www.ufrj.br/

CAPITALISMO E URBANIZAÃ‡ÃƒO
"A crise capitalista tambÃ©m Ã© de urbanizaÃ§Ã£o"
David Harvey Ã© um geÃ³grafo britÃ¢nico reconhecido internacionalmente. Estudou a relaÃ§Ã£o entre as crises financeiras e urbanas. Em entrevista ao jornal PÃ¡gina/12, ele sustenta que a sucessÃ£o de crises no sistema Ã© alimentada, entre outras coisas, por uma febre da construÃ§Ã£o que, por sua vez, provoca crise no capitalismo em sua atual etapa hegemonizada pelas finanÃ§as. Harvey defende ainda que existe uma estreita relaÃ§Ã£o entre urbanizaÃ§Ã£o e formaÃ§Ã£o das crises. AlÃ©m dos Estados Unidos, cita como exemplo a GrÃ©cia e a Espanha. Parte da explicaÃ§Ã£o da crise nestes paÃses, defende o geÃ³grafo, estÃ¡ vinculado a pÃ©ssimos investimentos em infraestrutura.
Natalia Aruguete.
Enquanto alguns especialistas se esmeram em alegar que crise atual Ã© uma crise das hipotecas subprime ou Ã© o estouro de um capitalismo que se financeirizou demais, David Harvey prefere falar de "crises urbanas", provocadas por uma febre da construÃ§Ã£o "sem importar o quÃª". Autor de "Breve histÃ³ria do neoliberalismo", Harvey nÃ£o sÃ³ acusa a desregulaÃ§Ã£o do setor financeiro como um dos fatores que levaram ao descalabro atual, mas adverte que a supremacia do capital concentrado sobre as decisÃµes polÃticas seguirÃ¡ sendo um impedimento para sair da crise.
Em sua passagem por Buenos Aires, o geÃ³grafo britÃ¢nico conversou com o jornal PÃ¡gina/12 sobre as transformaÃ§Ãµes do mercado imobiliÃ¡rio nas Ãºltimas dÃ©cadas, a orientaÃ§Ã£o que teve o investimento em infraestrutura e a consequente "acumulaÃ§Ã£o por perda de posse". Frente a um modelo que nÃ£o Ã© sustentÃ¡vel, Harvey propÃµe pensar "um novo tipo de urbanizaÃ§Ã£o".
Reproduzimos a seguir a entrevista concedida ao PÃ¡gina/12:
Desde sua perspectiva como geÃ³grafo, que conexÃµes encontra entre urbanizaÃ§Ã£o e esta crise?
- Uma das coisas que eu gostaria de enfatizar Ã© a relaÃ§Ã£o entre urbanizaÃ§Ã£o e formaÃ§Ã£o da crise. Nas dÃ©cadas de 50 e 60, o capitalismo se estabilizou com uma forma de suburbanizaÃ§Ã£o massiva: estradas, automÃ³veis, um estilo de vida. Uma das perguntas Ã© se isso Ã© sustentÃ¡vel no longo prazo. No sul da CalifÃ³rnia e na FlÃ³rida, que sÃ£o epicentros da crise, estamos vendo que este modelo de suburbanizaÃ§Ã£o nÃ£o serve mais. Alguns querem falar da crise do subprime; eu quero falar das crises urbanas.
E o que pensa das crises urbanas?
- Na dÃ©cada de 80 se pensava que o JapÃ£o era uma potÃªncia e essa crenÃ§a sucumbiu nos anos 90 pela crise crise dos preÃ§os da terra. Desde entÃ£o, nÃ£o se recuperou mais. TambÃ©m existe uma preocupaÃ§Ã£o nos Estados Unidos de que a crise imobiliÃ¡ria impeÃ§a a recuperaÃ§Ã£o, apesar de todas as tentativas que vÃªm sendo feitas para isso. Outra questÃ£o Ã© que a forma de uso intensivo da energia exigiria muitas extensÃµes de terra, o que criaria um estilo de vida de lugares dispersos. Isso estÃ¡ estabelecendo, justamente, um novo tipo de urbanizaÃ§Ã£o. O que chama a atenÃ§Ã£o Ã© que a China estÃ¡ copiando os EUA, o que Ã© muito estÃºpido. Isso nÃ£o Ã© sustentÃ¡vel sob a situaÃ§Ã£o de crise ambiental. Existe uma alta conexÃ£o entre desenvolvimento capitalista, crise capitalista e urbanizaÃ§Ã£o.
Em que medida a transformaÃ§Ã£o do mercado imobiliÃ¡rio influiu na crise da urbanizaÃ§Ã£o?
- Onde as pessoas ricas colocaram seu dinheiro nos Ãºltimos 30 anos. AtÃ© os 80, colocar dinheiro na produÃ§Ã£o dava mais dinheiro que colocÃ¡-lo no negÃ³cio imobiliÃ¡rio. A partir dali, comeÃ§ou-se a pensar onde colocar o dinheiro para obter uma taxa de retorno mais alta. Os mercados imobiliÃ¡rios e da terra sÃ£o muito interessantes: se eu invisto, o preÃ§o sobe, como o preÃ§o sobe, mais gente investe e, entÃ£o, o preÃ§o segue suibindo. Em meados da dÃ©cada de 70, em Manhattan (Nova York), podia-se vender por 200 mil dÃ³lares um tipo de edifÃcio que agora custa 2 milhÃµes de dÃ³lares. Desde entÃ£o, houve bolhas de diferentes tipos, que tem estourado uma a uma. Os mercados financeiros enlouqueceram nos anos 90. Se observamos a participaÃ§Ã£o dos distintos setores no Produto Interno Bruto dos EUA, em 1994, o mercado acionÃ¡rio tinha uma participaÃ§Ã£o de 50% do PIB. Em 2000, subiu para 120% e comeÃ§ou a cair com a crise das empresas pontocom. Enquanto que a participaÃ§Ã£o do mercado imobiliÃ¡rio no PIB comeÃ§ou a crescer, e passou de 90 para 130% no mesmo perÃodo.
Qual sua opiniÃ£o sobre a orientaÃ§Ã£o que teve o investimento em infraestrutura nas Ãºltimas dÃ©cadas?
- O capitalismo nÃ£o pode funcionar sem sua infraestrutura tÃpica: estradas, portos, edifÃcios e fÃ¡bricas. A grande pergunta Ã© como se constrÃ³em essas infraestruturas e em que medida contribuem para a produtividade no futuro. Nos Estados Unidos, fala-se muito de pontes que vÃ£o a lugar nenhum. HÃ¡ interesses muito grandes dos lobistas da construÃ§Ã£o que querem construir nÃ£o importa o quÃª. Podem corromper governos para fazer obras que nÃ£o terÃ£o nenhuma utilidade.
Um exemplo do que descreve Ã© o que ocorreu na Espanha, com o boom da construÃ§Ã£o...
- Uma parte da explicaÃ§Ã£o da crise na GrÃ©cia e na Espanha pode ser vinculada com esses pÃ©ssimos investimentos em infraestrutura. A GrÃ©cia Ã© um caso tÃpico tambÃ©m em funÃ§Ã£o dos Jogos OlÃmpicos, que originou grandes obras de infraestrutura que agora nÃ£o sÃ£o usadas. Nos anos 50 e 60, a rede de estradas e autoestradas, nos EUA, foi muito importante para
a melhoria da produtividade. Algo similar se observa atualmente na China, com estradas, ferrovias e novas cidades, que nos prÃ³ximos anos terÃ£o um alto impacto na produtividade.
O sr. acredita que a China estÃ¡ enfrentando a crise de maneira distinta da dos Estados Unidos?
- A China tem melhores condiÃ§Ãµes que outros paÃses sobretudo porque conta com grandes reservas de divisas. Os EUA tÃªm uma grande dÃ©ficit e a China um grande superÃ¡vit. O outro problema nos EUA Ã© polÃtico.
Quais sÃ£o os fatores polÃticos que dificultam a saÃda da crise?
- Quem tenta construir obras de infraestrutura Ãºteis Ã© acusado imediatamente de "socialista", que Ã© o que estÃ¡ acontecendoi com Barack Obama. Na China isso nÃ£o importa porque as condiÃ§Ãµes polÃticas sÃ£o outras. O governo na China Ã© autoritÃ¡rio Ã© pode pÃ´r as coisas em seu lugar, como bem entende. No caso dos EUA, o Congresso estÃ¡ dominado por grupos republicanos e democratas que manejam interesses econÃ´micos e as condiÃ§Ãµes para tomar decisÃµes sÃ£o outras.
Deduz-se entÃ£o uma diferenÃ§a na relaÃ§Ã£o entre o poder polÃtico e o poder econÃ´mico nestes paÃses.
- Na China, por causa da crise americana, a resposta foi fazer grandes projetos de infraestrutura imediatamente. AlÃ©m disso, o governo centralizado da China tem enorme poder sobre os bancos. Deu a ordem: "ForneÃ§am emprÃ©stimos para governos municipais e ao setor privado que vÃ£o tocar essas obras". O governo central dos EUA nÃ£o pode fazer isso. Ele segue dizendo aos bancos: "Emprestem". E os bancos dizem: "NÃ£o". A China estÃ¡ crescendo a um ritmo de 10% depois da crise, enquanto os EUA seguem estagnados.
Quais sÃ£o as falhas institucionais que levaram a essa crise?
- Desde a dÃ©cada de 70, houve uma ideia dominante de que a resposta era privatizar. HÃ¡ muitas alternativas para que o setor pÃºblico forneÃ§a melhores serviÃ§os do que o setor privado.
O sr. acredita que esta concepÃ§Ã£o tambÃ©m penetrou o sistema financeiro?
- Nos EUA, na dÃ©cada de 30, os bancos de investimentos estavam separados dos bancos comerciais. Nos Ãºltimos anos se permitiu que eles se unissem. Ã‰ um caso de mudanÃ§a regulatÃ³ria, onde o Estado se retira do controle.
E como avalia o tipo de regulaÃ§Ãµes que comeÃ§aram a ser propostas a partir da crise?
- HÃ¡ uma teoria chamada "captura regulatÃ³ria. Ela supÃµe que as galinhas devem ser controladas pelas raposas. Se olhamos para as formas regulatÃ³rias propostas atÃ© agora, nos damos conta de que as raposas estÃ£o ganhando e isso ocorre porque elas controlam tambÃ©m o Congresso dos Estados Unidos.
- HÃ¡ diferenÃ§as entre as polÃticas impulsionadas nos EUA e na Europa?
- Sim, hÃ¡ diferenÃ§as. Um dos temas que estou estudando Ã© justamente as diferenÃ§as que existem em distintos lugares. Por exemplo, na AmÃ©rica Latina a reaÃ§Ã£o dos governos foi muito mais sensÃvel Ã crise do que o que se observa nos EUA e na Europa. Na Europa, hÃ¡ um grande conflito entre os paÃses maiores e os mais pequenos. A Alemanha, que por razÃµes histÃ³ricas tÃªm uma obsessÃ£o com o tema da inflaÃ§Ã£o, impÃµe o tema da austeridade. O triunfo de um governo conservador na Inglaterra tambÃ©m fortalece a ideia de austeridade. Por isso, nÃ£o surpreende que a Europa esteja estagnada, enquanto a China segue crescendo forte.
Que impacto tÃªm essas polÃticas de austeridade?
- A austeridade Ã© algo totalmente errÃ´neo. Em primeiro lugar, pelas diferenÃ§as de impacto entre classes sociais. Em geral, as classes mais baixas sÃ£o as mais prejudicadas. AlÃ©m disso, essas classes mais baixas, quando tÃªm dinheiro, o gastam, enquanto que as classes altas o usam para
gerar mais dinheiro e nÃ£o necessariamente para fazer coisas produtivas.
Por exemplo?
- Muitos ricos dos EUA compraram terras na AmÃ©rica Latina. Isso provocou o aumento do preÃ§o da terra. No longo prazo, devemos pensar como Ã© possÃvel viver no mundo de acordo com seus recursos. Isso nÃ£o significa austeridade, mas sim uma forma mais austera de viver, o que nÃ£o Ã© a mesma coisa.
Qual a diferenÃ§a?
- Devemos pensar no que Ã© que realmente necessitamos para ter uma boa vida. Muitas das coisas que pensamos do consumo sÃ£o uma loucura, significam desperdiÃ§ar recursos naturais e humanos. Temos que pensar como fazemos no longo prazo para que 6,8 bilhÃµes de pessoas possam viver, ter casa, saÃºde e alimento para que tenham uma vida razoÃ¡vel e feliz.
TraduÃ§Ã£o: Katarina Peixoto.
Fonte: Portal Carta Maior.
(ColaboraÃ§Ã£o: A.M.B.)
David Harvey - http://davidharvey.org/
Carta Maior - http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm