FOTOS PARA PENSAR IV
FOTOGRAFIAS QUE FIZERAM A HISTĂRIA IV
Renan olhando para um lado e José Sarney para o outro. Mensagem: eles divergem. Fato: são aliados.
ILUSĂO DE ĂTICA
SOBREVIVE em concepçÔes passadistas do jornalismo o olhar que reduz a fotografia a adorno, com função exclusivamente estética. Conforme esse anacronismo, a imagem seria para o texto o que a moldura é para a pintura: uma companhia desimportante.
Como afirma o "Manual da Redação", "a maneira mais convencional e acomodada de encarar a fotografia é tratå-la como um mero complemento da informação escrita. [...] O recurso visual do jornalismo impresso moderno deve ser entendido como uma possibilidade [...] suplementar à informação textual".
Na quarta, o Senado absolveu seu presidente, Renan Calheiros, em processo de cassação. O paĂs sabe hoje mais sobre os negĂłcios do antigo devoto collorido, depois fernando-henriquista e agora lulista que antes das revelaçÔes inauguradas com um "furo" da revista "Veja".
Mesmo sem brilho, a Folha fez um bom trabalho e cumpriu o papel jornalĂstico de fiscalizar o poder. Na essĂȘncia, fez o que deveria fazer. Em contraste, durante a crise em curso o jornal veiculou fotos que sugeriam o abandono do presidente do Congresso. Ou seja, desinformou -Renan estava longe do isolamento.
Ă compulsĂłrio, mas insuficiente, nĂŁo manipular imagens e recusar encenaçÔes ludibriantes. Como a fotografia, feito o texto, Ă© unidade informativa, ela deve retratar a realidade, e nĂŁo distorcĂȘ-la. Ao exibir Renan solitĂĄrio em meio a cadeiras vazias, a informação nem tĂŁo subliminar era que ninguĂ©m o acompanhava.
Igualmente impróprio é mostrar Renan olhando para um lado e José Sarney para o outro. Mensagem: eles divergem. Fato: são aliados.
O fotojornalismo interpretativo pode, no entanto, informar melhor que um tijolaço de escritos. Quando Lula aparenta passar a mĂŁo na cabeça de Renan, evidencia-se a bĂȘnção do Planalto.
Como na fotografia do general-presidente (1979-85) JoĂŁo Baptista Figueiredo Ă civil, mas dando a impressĂŁo de usar o quepe que era de um militar atrĂĄs dele.
MĂĄrio MagalhĂŁes Ă© o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007. O ombudsman tem mandato de um ano, renovĂĄvel por mais dois. NĂŁo pode ser demitido durante o exercĂcio da função e tem estabilidade por seis meses apĂłs deixĂĄ-la. Suas atribuiçÔes sĂŁo criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamaçÔes, e comentar, aos domingos, o noticiĂĄrio dos meios de comunicação.
Fonte: Folha de S.Paulo - 16/09/07.
PALAVRA DA SEMANA: HONESTIDADE
A palavra derivou do latim honor, "honra", que a primeira das trĂȘs palavrinhas estampadas no brasĂŁo do impĂ©rio industrial Matarazzo no sĂ©culo XX: Honor, Fides, Labor - Honra, Confiança e Trabalho. A elas o sĂ©culo XXI acrescentou mais uma, de igual importĂąncia: "Conhecimento!.
Max Gehringer - Fonte: Ăpoca - NĂșmero 487.
NĂO SE ESQUEĂA DO PRINCIPAL
"Se Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque entĂŁo amamos as coisas e usamos as pessoas?"
(Colaboração: Lima)
SENADO PARA QUĂ?
Muitos paĂses vivem sem Senado e nĂŁo sĂŁo menos felizes, ou mais infelizes, por causa disso. Israel Ă© um bom exemplo. Portugal Ă© outro. SĂŁo paĂses que adotam o chamado sistema "unicameral", o do Poder Legislativo sediado em uma Ășnica casa, a CĂąmara (ou AssemblĂ©ia) dos Deputados. HĂĄ, na teoria, argumentos prĂł e contra o unicameralismo ou o bicameralismo. No Brasil, a velhos argumentos contra a existĂȘncia do Senado, somou-se, na semana passada, um novo. Os velhos argumentos sĂŁo:
âą O Senado torna o Poder Legislativo repetitivo e lento. O processo de uma lei passar pela CĂąmara, depois ir para o Senado, depois voltar para a CĂąmara se houver modificação no Senado, e depois atĂ© talvez voltar para o Senado se houver modificação na CĂąmara, produz cansaço e exasperação. No meio do caminho, perde-se o interesse e arrisca-se comprometer a oportunidade da lei. Quando se tem em conta que, em cada casa, o projeto passa por diferentes comissĂ”es especializadas, o cansaço e a exasperação crescem. As comissĂ”es existem para peneirar as propostas, examinando-as sob diversos pontos de vista. Com isso, instala-se um processo de revisĂŁo que torna redundante o "poder revisor" que se atribui ao Senado. âą A existĂȘncia de duas casas legislativas resulta em concorrĂȘncia de uma contra a outra. Muitos sĂŁo os exemplos de rivalidade nociva entre CĂąmara e Senado. Fiquemos em um, recente: a instalação das chamadas CPIs "do apagĂŁo aĂ©reo". Como nĂŁo houve acordo para criar uma comissĂŁo mista (as vaidades sĂŁo muitas, e a tela da televisĂŁo Ă© pequena), criaram-se duas, uma no Senado e outra na CĂąmara. Resultado: duplicação de depoimentos, conclusĂ”es discordantes, desperdĂcio de energia e perda de credibilidade.
âą A especificidade do Senado dilui-se no sistema brasileiro. A especificidade do Senado Ă© representar os estados, enquanto a CĂąmara representa o povo. No Senado, os estados sĂŁo representados por igual, Ă razĂŁo de trĂȘs senadores cada um. Na CĂąmara, um estado serĂĄ tĂŁo mais representado quanto maior for sua população. Isso na teoria. Ocorre que, pela legislação brasileira, hĂĄ um nĂșmero mĂnimo (oito) e um mĂĄximo (setenta) de deputados por estado. Isso faz com que a população de estados pequenos seja super-representada e a dos grandes sub-representada. Roraima, com 400.000 habitantes e oito deputados, tem um deputado para cada 50.000 habitantes, enquanto SĂŁo Paulo, com 40 milhĂ”es de habitantes e setenta deputados, tem um para cada 570.000. A população de SĂŁo Paulo vale, na CĂąmara dos Deputados, onze vezes menos do que a de Roraima. Tal sistema existe, segundo seus formuladores, para proteger os estados menores e tornar mais equitativa, na CĂąmara, a presença das diversas unidades federativas. Ora, nĂŁo Ă© o Senado a casa da representação equitativa dos estados? Se a CĂąmara usurpou esse papel, para que o Senado?
⹠O Senado é em larga parte biÎnico. "BiÎnico" era o apelido, na ditadura, do senador nomeado, invenção do regime para não perder o controle da casa. Eram senadores sem voto. Pois mais de vinte anos depois da redemocratização continuam a existir os senadores biÎnicos, agora na pessoa do "suplente", aquele de quem ninguém ouve falar na campanha eleitoral e, quando menos se espera, lå estå, ocupando uma cadeira para a qual se votou em outro. Um caso recente é o do senador Euclydes Mello, do PTB de Alagoas. O eleito Fernando Collor saiu para dar uma volta e assumiu o primo suplente. Outro caso recente é o de Gim Argello (PTB-DF), que despontou para a vaga de Joaquim Roriz com um rico elenco de suspeitas sobre sua cabeça, mas que teve a posse assegurada pelo voto amigo do presidente Renan Calheiros. A presença dos biÎnicos deslegitimiza a casa.
âą O Senado nĂŁo cumpre deveres que lhe sĂŁo especĂficos. Cabe-lhe com exclusividade aprovar as indicaçÔes de ministros do Supremo Tribunal, embaixadores e membros das agĂȘncias reguladoras. Ă uma tarefa nobre e Ăștil, que mais nobre e Ăștil seria se fosse exercida com cuidado e competĂȘncia. NĂŁo Ă© o caso. Na aprovação da notĂłria diretoria da AgĂȘncia Nacional de Aviação Civil (Anac), o Senado comportou-se com a habitual leviandade, antes como carimbador das propostas do Executivo do que como poder verificador e equilibrador das decisĂ”es do outro.
A esses argumentos acrescentou-se, na semana passada, evidenciado em toda sua extensĂŁo, o mal do "clubismo". Por ser uma casa pequena, onde todos se conhecem bem, o Senado Ă© ambiente propĂcio Ă s cumplicidades, Ă troca de favores e Ă venda de lealdades. NĂŁo foi outra a causa da absolvição de Renan Calheiros. O clube se fechou em torno dele (ou, pelo menos, a maioria do clube), num processo de escora mĂștua: eu protejo vocĂȘ hoje e vocĂȘ me protege amanhĂŁ, eu finjo que nĂŁo vejo o que vocĂȘ fez e vocĂȘ finge que nĂŁo vĂȘ o que eu faço, e vamos todos juntos, que o barco soçobra e se um cair ao mar corremos todos o risco de lhe fazer companhia. O clube Ă© uma instituição malsĂŁ porque, em vez de ao estado e Ă nação, tende a servir a si mesmo, a suas trapaças e a suas malfeitorias.
Roberto Pompeu de Toledo - Fonte: Veja - Ediçã 2.026.
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