PENSANDO EM TIRADENTES
ONDE NASCEU TIRADENTES?
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http://www.absoluteastronomy.com/topics/Tiradentes
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À direita - RuÃnas. Fazenda do Pombal, onde Tiradentes nasceu, já foi da cidade de Tiradentes, mas hoje está no território de São João del Rei.
À esquerda - Na entrada de Ritápolis, uma faixa convida para a terra natal do alferes
Até então, Ritápolis era a terra natal do alferes, mas São João del Rei briga na Justiça pela naturalidade. Ação foi parar na Procuradoria Geral do Estado e falta aval do desembargador.
Quem passa por Ritápolis, uma cidade que fica a 200 km de Belo Horizonte, e lê a faixa na entrada com os dizeres "Ritápolis, terra natal de Tiradentes", tende a estender a viagem até chegar à vizinha Tiradentes. Lá, está um busto em homenagem ao filho mais famoso do municÃpio. Quem vai mais adiante, em São João del Rei, vê na avenida Tiradentes uma estátua em homenagem ao alferes e se pergunta: afinal, onde nasceu o herói nacional? Essa foi uma questão que teve que ser respondida no Tribunal de Justiça. E a resposta dada pelo juiz Hélio Martins da Costa foi que o alferes Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes, é sanjoanense. Após a decisão, o advogado representante do Instituto Histórico e Geográfico (IHG) de São João del Rei, Wainer Carvalho Ãvila, ainda recorreu à Procuradoria Geral do Estado para conseguir o registro civil tardio do herói. Para ele, o reconhecimento de que Tiradentes nasceu no municÃpio é um avanço, mas não o suficiente.
"Entendo que Tiradentes é uma pessoa sem registro, já que o batismo é uma questão religiosa e o Brasil agora é um paÃs desvinculado dessas questões." A tese foi acatada pelo procurador geral do Estado, mas, para ser colocada em prática, ainda falta que o desembargador também concorde. Caso isso não aconteça, Ãvila já adiantou que pretende levar o caso ao Supremo Tribunal Federal, em BrasÃlia. Apesar de confirmar a naturalidade sanjoanense de Tiradentes, o juiz responsável pelo caso julgou desnecessário um novo registro. Na sentença ele questiona: "Se Joaquim da Silva Xavier já tem registro, realizado dentro dos preceitos legais regentes ao tempo de seu nascimento, assinalando a sua existência jurÃdica, por que realizar o registro tardio conforme pretensão deduzida nesses autos?".
História. A disputa judicial teve inÃcio em 2005, quando o presidente do IHG, José Antônio de Ãvila Sacramento, protocolou uma ação no fórum da cidade. Descontentes com a atitude, representantes dos municÃpios de Ritápoles e Tiradentes apresentaram uma contestação ao Ministério Público, que no inÃcio do ano passado acabou acatando a tese sanjoanense. A sentença judicial saiu em julho do ano passado, já a do desembargador do Estado ainda não tem data definida. O membro do IHG de Tiradentes, Rogério Almeida, diz que Tiradentes é um herói nacional e não apenas de um municÃpio. "Não é nossa intenção fazer polêmica. Parece que a gente está esquartejando Tiradentes de novo", afirma.
Outro caso
Santa Catarina. A cidade de Laguna (SC) também requereu ser o berço da heroÃna da Revolução Farroupilha, Anita Garibaldi, através de ação em 1998. O registro civil foi concedido para a cidade.
Concorrentes
5.575 pessoas moram em Ritápolis, de acordo com Censo de 2000
78.616 pessoas são de São João del Rei, cidade que quer paternidade
5.759 pessoas moram em Tiradentes, local que leva o nome do alferes
História - Fazenda Pombal é o verdadeiro berço
Para entender melhor a disputa judicial quanto a naturalidade de Tiradentes, é preciso compreender o perÃodo histórico do nascimento do herói. Em 12 de novembro de 1746, quando nasceu, os registros eram de responsabilidade da Igreja Católica. O livro de assentamentos de batizados prova que o alferes foi registrado na capela de São Sebastião do Rio Abaixo, que pertencia a freguesia de Nossa Senhora do Pilar. Isso foi um ponto positivo para São João del Rei, já que essa igreja pertencia à cidade. O fato mais controverso da história é a posse da Fazenda do Pombal, onde o alferes nasceu.
Isso porque ela já pertenceu aos três municÃpios em diferentes perÃodos. Assim que Tiradentes e São João del Rei se tornaram vilas ficou definido que os limites territoriais entre elas seria o Rio das Mortes. Dessa forma, todas as terras localizadas ao lado direito do rio, incluindo a fazenda, passaram a pertencer ao municÃpio de Tiradentes. Mas, a delimitação foi mudada e, a partir de 1718, a fazenda passou a ser de São João del Rei. Por essa razão, o Ministério Público concluiu que, quando Tiradentes nasceu, a fazenda era sanjoanense. Na época, Ritápolis ainda não era uma cidade fazia parte de Tiradentes.
Conclusão - Livro é usado como prova
Uma das provas apresentadas pelo Instituto Histórico e Geográfico de São João del Rei foi um livro escrito em 1976, pelo historiador Eduardo Canabrava Barreiros, intitulado “As vilas del-rei e a cidadania de Tiradentesâ€. Nele, está registrado um trabalho feito pelo autor com pranchas cartográficas históricas, que o levou a concluir a naturalidade sanjoanense de Tiradentes. O parecer escrito pela Procuradoria Geral do Estado inclusive cita o fato de o livro ter sido aprovado por algumas instituições renomadas no perÃodo em que foi lançado.
Comentário. Em 1976, por exemplo, o presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros, Afonso Arinos de Melo Franco, comentou que: “Depois de atenta leitura do texto e de meditada consideração dos documentos, fiquei convencido, sem qualquer dúvida, da procedência da tese defendida pelo eminente historiador e geógrafo, ou seja, que o alferes Joaquim da Silva Xavier nasceu no ano de 1746, em território que então pertencia à vila de São João del Reiâ€. Mas o Instituto Histórico e Geográfico da cidade de Tiradentes, registrou em uma carta dirigida ao Ministério Público: “O próprio autor revela na introdução ter sido o livro encomendado pela Câmara Municipal de São João del Rei, especialmente pela vereadora Alba Lombardi, com o intuito claro de dar razão aos que defendem ter Joaquim da Silva Xavier nascido em São João del Reiâ€.
Ana Lagoa - Fonte: O Tempo - 14/04/09.
A HISTÓRIA DE JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER
http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u137.jhtm
INCONFIDÊNCIA MINEIRA
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=275
OS ANIMAIS TÊM ALMA?
"O ser humano não leva nenhuma vantagem sobre o animal, pois os dois têm de respirar para viver. (...) Como é que alguém pode ter certeza que o sopro de vida do ser humano vai para cima e que o sobre de vida do anima desce para a terra?"
BÃblia, Livro do eclesiastes.
"A alma dos animais é caracterizada por duas qualidades: a qualidade de raciocÃnio, que é obra do trabalho e da razão, e a qualidade de comandar o movimento."
Aristótelis, Da Alma.
"[A alma animal] é também uma alma, se quiserdes, dependendo isso do sentido que se der a essa palavra. É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus."
Allan Kardec, O Livro dos EspÃritos.
"Os animais não têm alma. Logo, não vão para o céu. Isso tem uma razão de ser: ninguém quer ter que lidar com bichos sujos, como guaxinins, gambás, texugos, entre outros, quando estiver em um belo piquenique com Jesus."
Dog, do site askdog.com.
Fonte: Super Interessante - Número 264.
FORMAÇÃO - INSTITUTO DE OPORTUNIDADE SOCIAL
O IOS (Instituto de Oportunidade Social), mantido pela Totvs, formou 17 mil jovens em seus programas de treinamento.
Mercado Aberto - Guilherme Barros - Fonte: Folha de S.Paulo - 18/04/09.
IOS - http://www.ios.org.br/
TEMA DO HOLIDAY ON ICE
Em sua coluna na Folha, minha amiga Barbara Gancia denunciou o erro assim que ele foi cometido: Barack Obama nunca disse de Lula, na reunião do G20, em Londres, que ele era "o cara". O que Obama disse, paternalisticamente, foi "That's my man right here!" -que, em português corrente, quer dizer "Olha aà o meu chapa!" ou "Esse aà é dos meus!". Se quisesse significar "Ele é o cara", Obama teria dito "That's the one!" ou algo assim.
Houve quem chiasse por Barbara ter pilhado o tradutor em off-side. Mas sem razão. Tenha Obama dito ou não "Ele é o cara", foi um elogio a se contar aos netos, ainda mais porque reforçado por sua exclamação seguinte, "Love this guy!" -"Adoro este cara!"-, sobre a qual não resta a menor dúvida. Em dias de minha vida, nunca soube de um presidente americano se dar a tais intimidades com um governante estrangeiro -nem Roosevelt com Getulio, em 1943, nem Nixon com Mao Tsé-tung, em 1972.
Teria sido perfeito se, ao continuar os encômios, Obama não tivesse classificado Lula de "o polÃtico mais popular da Terra", e explicado: "É por ele ser boa-pinta!". Até dona Marisa deve ter visto naquilo um exagero ou gozação, mas foi exatamente o que Obama disse: "It's because of his good looks!".
Pode haver aà uma "soupçon" de ironia ou malÃcia por Obama. Mas, bolas, nada disso obsta. A estrela de Lula é tal que, justo quando sua popularidade perigava declinar em casa, ele, como o falecido Waldick Soriano, estourou no Norte. Bateu coxa com a rainha da Inglaterra, foi chamado de pintoso por Obama -talvez a única coisa que ainda não tinham dito a seu respeito- e acaba de virar personagem de um desenho animado americano.
O que lhe falta? Ser enredo da Portela no próximo Carnaval ou tema do Holiday on Ice.
Ruy Castro (http://www.objetiva.com.br/objetiva/cs/?q=node/240) - Fonte: Folha de S.Paulo - 18/04/09.
O MURO, AÃ COMO AQUI
Saio do Brasil com a polêmica sobre o muro em torno de uma favela carioca comendo solta. Chego a Port of Spain, em Trinidad e Tobago, com a polêmica sobre o muro para esconder uma favela comendo solta. Ah, América Latina, quando se fecharão suas veias eternamente abertas, para citar o clássico de Eduardo Galeano?
O "Miami Herald" visitou o muro e reproduziu ontem frase de um dos moradores de Beetham Gardens, a favela que está sendo escondida da vista dos chefes de governo que participarão da Cúpula das Américas, a partir de sexta-feira.
"Em todo lugar a que vou, quando digo que sou de Beetham, sou estigmatizado", reclama Anthony Bailey. Troque "Beetham" por "Rocinha", "Buraco Quente" ou qualquer outra favela brasileira e seja bem-vindo ao Brasil, estando em Trinidad e Tobago. O pior de tudo é que os últimos seis anos foram de formidável crescimento econômico para toda a região, possivelmente inédito. Trinidad e Tobago, por exemplo, mal sentiu, até agora, a crise internacional, depois de ter alcançado um Ãndice asiático de crescimento em 2006 por exemplo (12%).
Se ainda assim a pobreza é tanta que é preciso escondê-la, quantos muros mais serão necessários nos anos magros ou de crescimento modesto?
Menos mal que os governantes reconhecem o tamanho do problema. Diz o rascunho do documento final da cúpula: "Continuam existindo profundas e persistentes desigualdades, especialmente na educação, nos nÃveis de renda, na saúde e no estado de nutrição, na exposição à violência e ao crime e no acesso aos serviços básicos".
Soluções? Também estão no texto, mas parciais e para 2015: "Diminuir pela metade os Ãndices de pobreza" As veias continuarão abertas -e sangrando.
Clóvis Rossi (http://www.folhapress.com.br/web/galeria/colunista.php?cd_galr=26) - Fonte: Folha de S.Paulo - 16/04/09.
LEI DO CAMINHÃO DE LIXO
Um dia peguei um taxi e fomos direto para o aeroporto. Estávamos rodando na faixa certa quando de repente um carro preto saltou do estacionamento na nossa frente.
O motorista do taxi pisou no freio, deslizou e escapou do outro carro por um triz!
O motorista do outro carro sacudiu a cabeça e começou a gritar para nós.
O motorista do taxi apenas sorriu e acenou para o cara.
E eu quero dizer que ele o fez bastante amigavelmente.
Assim eu perguntei: 'Porque você fez isto? Este cara quase arruÃna o seu carro e nos manda para o hospital!'
Foi quando o motorista do taxi me ensinou o que eu agora chamo 'A Lei do Caminhão de Lixo'.
Ele explicou que muitas pessoas são como caminhões de lixo. Andam por ai carregadas de lixo, cheias de frustrações, cheias de raiva, e de desapontamento. A medida que suas pilhas de lixo crescem, elas precisam de um lugar para descarregar, e às vezes descarregam sobre a gente. Não tome isso pessoalmente.
Apenas sorria, acene, deseje-lhes o bem, e vá em frente. Não pegue o lixo delas e espalhe sobre outras pessoas no trabalho, em casa, ou nas ruas.
O princÃpio disso é que pessoas bem sucedidas não deixam os seus caminhões de lixo estragarem o seu dia. A vida é muito curta para levantar cedo de manhã com remorso, assim... Ame as pessoas que te tratam bem. Ore pelas que não o fazem.
A vida é dez por cento o que você faz dela e noventa por cento a maneira como você a recebe!
Tenha um bom dia, livre de lixo!
"A inveja é o simbolo da Incapacidade".
(Colaboração: Mara Regina - SP)
FAVELAS E GUETOS
Os cariocas se dividem entre os favoráveis à remoção das favelas e aqueles que são contrários à medida, que periodicamente é lembrada como solução radical para o problema -socialmente, o maior do Rio de Janeiro e, em escala menor, de outras grandes cidades brasileiras.
Na passagem dos séculos 19 e 20, o Rio tinha cortiços, um deles imortalizado por AluÃsio Azevedo. E praticamente só possuÃa uma favela, no morro homônimo, que deu nome à s demais. Era um agrupamento de barracos rodeado por uma cidade. Hoje, a cidade é que está rodeada por favelas, que aparecem em todas as partes e se expandem em progressão geométrica.
Já foram feitas tentativas de remoção operadas pelo Estado, criaram-se bairros que abrigariam a população deslocada, caso da Cidade de Deus e da Vila Kennedy. Mas, para comportar os moradores da Rocinha, por exemplo, com 500 mil favelados, seria necessário construir uma cidade do tamanho de BrasÃlia em seu inÃcio, que, segundo Lúcio Costa, teria exatamente este limite de ocupação: 500 mil habitantes.
Outras tentativas de minimizar o problema não resolveram a questão. Pintar os barracos com cores berrantes ou criar elementos que lembrassem a obra de Mondrian também não deram certo -acentuaram a pobreza, ampliada pelo ridÃculo.
Para impedir a expansão das favelas, alguns técnicos falam na construção de muros, que, colocados em linha reta, formariam uma nova muralha tão grande ou maior do que a da China. Seriam guetos medievais, protegidos por uma estrutura policial que até hoje não deu para garantir a segurança da cidade.
Os entendidos lembram que os condomÃnios fechados são guetos à s avessas para proteção dos ricos. E aÃ?
Carlos Heitor Cony (http://www.carlosheitorcony.com.br/) - Fonte: Folha de S.Paulo - 16/04/09.
O MENINO ESTÃ FORA DA PAISAGEM
O menino parado no sinal de trânsito vem em minha direção e pede esmola.
Eu preferia que ele não viesse.
A miséria nos lembra que a desgraça existe e a morte também. Como quero esquecer a morte, prefiro não olhar o menino.
Mas não me contenho e fico observando os movimentos do menino na rua.
Sua paisagem é a mesma que a nossa: a esquina, os meio-fios, os postes.
Mas ele se move em outro mapa, outro diagrama. Seus pontos de referência são outros.
Como não tem nada, pode ver tudo.
Vive num grande playground, onde pode brincar com tudo, desde que "de fora".
O menino de rua só pode brincar no espaço "entre" as coisas. Ele está fora do carro, fora da loja, fora do restaurante.
A cidade é uma grande vitrine de impossibilidades.
O menino mendigo vê tudo de baixo. Está na altura dos cachorros, dos sapatos, das pernas expostas dos aleijados.
O ponto de vista do menino de rua é muito aguçado, pois ele percebe tudo que lhe possa ser útil ou perigoso.
Ele não gosta de ideias abstratas.
Seu ponto de vista é o contrário do intelectual: ele não vê o conjunto nem tira conclusões históricas - só detalhes interessam.
O conceito de tempo para ele é diferente do nosso.
Não há segunda-feira, colégio, happy hour. Os momentos não se somam, não armazenam memórias.
Só coisas "importantes": "Está na hora do português da lanchonete despejar o lixo..." ou "estão dormindo no meu caixote..."
Se pudéssemos traçar uma linha reta de cada olhar do menino mendigo, terÃamos bilhões de linhas para o lado, para baixo, para cima, para dentro, para fora, terÃamos um grande painel de imagens. E todas ao rés-do-chão: uma latinha, um riozinho na sarjeta, um palitinho de sorvete, um passarinho na árvore, uma pipa, um urubu circulando no céu.
Ele é um espectador em 360 graus.
O menino de rua é em cinemascope. O mundo é todo seu, o filme é todo seu, só que não dá para entrar na tela.
Ou seja, ele assiste a um filme "dentro" da ação. Só que não consta do elenco. Ele é um penetra; é uma espécie de turista marginal. Visto de fora, seria melhor apagá-lo. Às vezes, apagam.
Se não sentir fome ou dor, ele curte. Acha natural sair do útero da mãe e logo estar junto aos canos de descarga pedindo dinheiro. Ele se acha normal; nós é que ficamos anormais com a sua presença.
Antigamente não o vÃamos, mas ele sempre nos viu. Depois que começou o medo da violência, ele ficou mais visÃvel. Ninguém fica insensÃvel a ele. Mesmo em quem não o olha, ele nota um fremir quase imperceptÃvel à sua presença.
Ele percebe que provoca inquietação (medo, culpa, desgosto, ódio). Todos preferiam que ele não estivesse ali. Por quê? Ele não sabe.
Evitamos olhá-lo; mas ele tenta atrair nossa atenção, pois também quer ser desejado. Mas os olhares que recebe são fugidios, nervosos, de esguelha.
Vejo que o menino se aproxima de um grupo de mulheres com sacolas de lojas. Ele avança lentamente dando passos largos e batendo com uma varinha no chão.
Abre-se um vazio de luz por onde ele passa, entre as mulheres - mães e filhas. É uma maneira de pertencer, de existir naquela famÃlia ali, mesmo que "de fora", como uma curiosidade.
Assim, ele entra na famÃlia, um anti-irmãozinho que chega. As mães não têm como explicar aos filhos quem ele é, "por que" eles não são como "ele" (análise social) ou por que "ele" não é como nós (analise polÃtica).
Porém, normalmente, mães e pais evitam explicações, para não despertar uma curiosidade infantil que poderia descer até as bases da sociedade - que os pais não conhecem, mas que se lhes afigura como algo sagrado, em que não se deve mexer.
O menino de rua nos ameaça justamente pela fragilidade.
Isso enlouquece as pessoas: têm medo do que atrai. Mais tarde, ele vai crescer... e a�
O menino de rua tem mais coragem que seus lamentadores; ele não se acha sÃmbolo de nada, nem prenúncio, nem ameaça.
Está em casa, ali, na rua. Olhamos o pobrezinho parado no sinal fazendo um tristÃssimo malabarismo com três bolinhas e sentimos culpa, pena, indignação.
Então, ou damos uma esmola que nos absolva ou pensamos que um dia poderá nos assaltar.
Ele nos obriga ao rarÃssimo sentimento da solidariedade, que vai contra todos os hábitos de nossa vida egoÃsta de hoje.
E não podemos reclamar dele. É tão pequeno...
O mendigo velho, tudo bem; "Bebeu, vai ver a culpa é dele, não soube se organizar, é vagabundo". Tudo bem. Mas o mendigo menino não nos desculpa porque ele não tem piedade de si mesmo.
Todas nossas melhores recordações costumam ser da infância. Saudades da aurora da vida.
O menino de rua estraga nossas memórias. Ele estraga a aurora de nossas vidas. Por isso, tentamos ignorá-lo ou o exterminamos. Antes, todos fingiam que ele não existia.
Depois das campanhas da fome, surgiram olhares novos. Já sabemos que ele é um absurdo dentro da sociedade e que de alguma forma a culpa é nossa.
Ele tem ao menos uma utilidade: estragando nossa paisagem presente, pode melhorar nosso futuro.
O menino de rua denuncia o ridÃculo do pensamento ‘genérico-crÃtico’ - mostra-nos que uma crÃtica à injustiça tem de apontar soluções positivas.
Ele nos ensina que a crÃtica e o lamento pelas contradições (como estou fazendo agora) só servem para nos "enobrecer" e "absolver". Para ele, nossos sentimentos não valem nada.
E não valem mesmo.
Mesmo não sabendo nada, ele sabe das coisas.
Arnaldo Jabor (http://colunas.jg.globo.com/arnaldojabor/) - Fonte: O Tempo - 14/04/09.
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