É REALMENTE PARA PENSAR E REFLETIR...
Frase de um amigo nosso: "Quem pede demissão, na verdade está demitindo o chefe."
PALAVRA DA SEMANA: DILEMA
A palavra veio do grego dis, "duas", e lemma, "suposição". Em empresas, e na vida profissional, isso significa que todo problema tem solução, mas toda solução tem problemas.
Max Gehringer (Época - nr.462)
A VEZ DA EDUCAÇÃO
Há dois caminhos: a perda gradual de um processo civilizatório ou a redenção de um país pela educação pública de qualidade.
HÁ POUCO mais de um ano, iniciamos um movimento para construir um projeto de nação para a educação brasileira.
Era o início de uma aliança da sociedade civil em prol da educação pública, envolvendo os três entes federativos -Ministério da Educação (MEC), Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed) e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime)- e lideranças sociais e empresariais.
A iniciativa ganhou fôlego. E cinco metas foram estabelecidas para dar um norte e organizar os esforços, de forma que promovesse a universalização da educação básica com qualidade para todos os brasileiros, com ênfase na alfabetização de nossas crianças. Como referência para o alcance dessas metas, foi definido o ano de 2022, quando o Brasil completará 200 anos de sua independência. Só haverá uma verdadeira independência por meio de uma educação de qualidade para todos os brasileiros.
A efetivação dessa aliança ocorreu, simbolicamente, na manhã fria, mas de grande calor humano, de 6 de setembro de 2006, em frente ao museu do Ipiranga, na cidade de São Paulo. O movimento ganhou o nome de Compromisso Todos pela Educação. Surgia um novo horizonte para a educação pública em nosso país. Um compromisso de nação com as futuras gerações de brasileiros, provendo-as do bem mais importante que um cidadão deveria desejar para si, uma educação de qualidade.
O desafio que agora se configurava era como implementar o Compromisso Todos pela Educação como um projeto de nação, e não de governo.
Era preciso que o Ministério da Educação, seguindo preceitos constitucionais, se colocasse, enquanto gestor público, responsável pelo setor, como o maior articulador, mas não como o único responsável. Que associasse a liberação de recursos públicos a metas a serem cumpridas pelos Estados e municípios para melhorar a sua educação, a partir de um diagnóstico preliminar. E, principalmente, que fosse capaz de fazer com que todos os brasileiros se sentissem parte dessa iniciativa de política pública para a educação, rompendo, assim, com a cultura de projeto de governo, passando a adotar um projeto de nação.
Foi isso o que presenciamos no último dia 15 de março, no Palácio do Planalto, sob a liderança desse jovem e operante ministro Fernando Haddad, com o apoio decisivo do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele próprio deu o tom da mudança, com um pronunciamento firme e desejoso de transformar a realidade educacional em nosso país, ao dizer: "Estou aqui apenas representando uma demanda de que sinto necessidade, mas quem dará a resposta, certamente, serão vocês, e não eu".
Era o sentimento de alguém que chegou ao cargo mais importante de um país. Naquele momento, imbuído de um espírito público que já não era apenas de governante, mas de líder de uma aliança com toda a sociedade brasileira, dava o exemplo, ao solicitar a contribuição de todos os ex-ministros da Educação, independentemente de partido e de crença, em prol da educação.
O ministro Fernando Haddad, com firmeza, apresentou por quase duas horas o Plano de Desenvolvimento da Educação. Em sua fala, lançava as bases de uma nova educação, com foco no aluno, na sua aprendizagem e numa gestão escolar pautada em resultados. Isso, segundo o ministro, representava o esforço continuado de muitos anos, aproveitando o que de melhor cada experiência governamental do passado trouxe para a área.
Agora era preciso juntar forças, e não dispersá-las.
Apesar da visão sistêmica inserida no plano, a prioridade é a educação básica, por meio do decreto presidencial intitulado Programa de Metas Compromisso Todos pela Educação, e, assim, o governo federal reafirmava os princípios concretos para uma ação perene e pela certeza de que ali se iniciava um novo momento da história da educação brasileira.
O Ministério da Educação continua a fazer o seu dever de casa, com um projeto sólido para a educação pública. É preciso agora que cada brasileiro, comprometido com um projeto de nação, se engaje nessa luta que deve ser de todos.
Por fim, temos dois caminhos a seguir: a perda gradual de um processo civilizatório ou a redenção de um país verdadeiramente independente pela educação pública de qualidade para todos.
MILÚ VILLELA, 60, presidente do Faça Parte - Instituto Brasil Voluntário, é embaixadora da Boa Vontade da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e membro-fundadora do Compromisso Todos pela Educação, além de presidente do MAM (Museu de Arte Moderna) e do Instituto Itaú Cultural.
Fonte: Folha de S.Paulo - 21/03/07.
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Educação: parabéns ao governo federal
ATÉ QUE enfim apareceram boas notícias no campo da educação.
Ao lançar o Plano de Desenvolvimento da Educação (PED), o governo federal pôs o dedo na ferida: o mais urgente é melhorar a qualidade do ensino básico. Não basta que a escola ensine; é preciso que o aluno aprenda.
O PED é um plano que tem o foco correto ao propor que as crianças sejam avaliadas logo no início do ensino fundamental. É crucial saber como estão sendo alfabetizadas e fazer as correções de modo rápido e eficiente.
O plano contém medidas para manter os professores atualizados e mais bem remunerados. Isso é crucial. Ninguém pode ensinar o que não sabe.
O PED prevê recursos para melhorar os equipamentos escolares, indo desde a eletrificação de escolas até a informatização e preparação de material didático de boa qualidade.
Finalmente, o plano estabelece um sistema de reciprocidade entre as autoridades educacionais e os governantes locais: para obter os recursos adicionais do MEC (cerca de R$ 8 bilhões até 2010), os municípios terão de cumprir uma série de exigências, sendo que a principal delas é a melhoria da gestão das escolas.
Este é um ponto crucial. De nada adianta aumentar os recursos se não forem bem aplicados. O Brasil gasta bastante em educação, mas gasta mal. Com o mesmo milhão de reais pode-se educar mais crianças e com melhor qualidade.
O grande mérito do PED foi o de reconhecer a prioridade do ensino fundamental e a necessidade de avaliar bem as crianças. Chega de promoção automática, que apenas empurra os problemas para a frente. Os alunos serão testados a cada passo por meio do velho sistema de notas de 0 a 10, que funcionou bem para educar gerações e gerações.
O importante de tudo isso, é claro, é usar bem o resultado da avaliação. A cada fracasso constatado, há que se intervir imediatamente.
E, nessa tarefa, será imprescindível o envolvimento efetivo dos diretores, dos professores, dos pais e dos governantes. No caso dos professores, oxalá o governo encontre uma forma de atrelar prêmios aos que apresentarem os melhores resultados e sanções aos que preferirem a negligência.
O bom dessa noticia é que o governo se conscientizou de que temos de começar pelo início da formação escolar. Vamos torcer para que as avaliações sejam adequadamente utilizadas e que as crianças passem a ser bem alfabetizadas para que possam enfrentar com sucesso as etapas seguintes. Parabéns ao governo federal pela bela iniciativa.
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Fonte: Folha de S.Paulo - 25/03/07.
INTELIGÊNCIA BRASILEIRA
QUAL É hoje a vocação maior do pensamento brasileiro?
O caminho a evitar é o percorrido pelas ciências sociais e pelas humanidades nos países do Atlântico norte. Nas ciências sociais, a começar por economia, prevalece lá a racionalização do estabelecido: explicar o que existe de maneira a confirmar a necessidade, a naturalidade ou a superioridade das instituições estabelecidas e das soluções triunfantes. Nas disciplinas normativas -a filosofia política e a teoria jurídica-, a humanização do inevitável: a justificativa da redistribuição compensatória e da idealização do direito como meios para suavizar estruturas que não se sabe como reimaginar ou reconstruir. Nas humanidades, a fuga da vida prática: divagações e aventuras no campo da subjetividade, desligadas do enfrentamento da sociedade como ela é.
As três tendências fingem brigar entre si. Aliam-se, contudo, na submissão à realidade atual. A mensagem é sempre a mesma: aceitar o existente, cantar acorrentado. Cortam o vínculo, indispensável à razão, entre o entendimento do existente e a imaginação do possível.
No Brasil, estamos, em matéria de alta cultura, a reboque disso. A tendência racionalizadora predomina, feita, por sua vez, de três vertentes que confluíram para o mesmo fatalismo supersticioso. Um neomarxismo que perdeu confiança tanto em seus dogmas como em suas esperanças acabou como discurso para explicar por que nada muda no Brasil, a não ser para assegurar a impossibilidade da mudança. As ciências sociais americanas foram apropriadas para explicar que o Brasil precisa fazer o que lhe mandam fazer. E o velho determinismo culturalista de nossos ideólogos conservadores foi reanimado para enfeitar com folclore o receituário do conformismo e da falta de imaginação.
Já passou da hora de jogar tudo isso fora. Para compreender nossa experiência nacional, temos de executar obra de pensamento de valor universal. Identificar as estruturas, de organização e de consciência, que moldam nossa vida nacional. Reconhecer-lhes ao mesmo tempo o peso e a contingência. Expor as contradições, as anomalias, as brechas que fornecem oportunidades transformadoras. Mostrar como nos podemos organizar para diminuir o poder do passado sobre o futuro e a necessidade da crise para a mudança.
Dirão que nada disso pode acontecer no pensamento brasileiro antes de termos universidade séria e condições para o trabalho intelectual. Os renascimentos da inteligência, porém, nem sempre esperam os meios; às vezes os antecedem. É o espírito, escreveu Goethe, que faz o corpo.
ROBERTO MANGABEIRA UNGER.
Fonte: Folha de S.Paulo - 20/03/07.
APRENDER A SE DESOBEDECER
As livrarias estão repletas de livros na categoria "auto-ajuda". E eu tive a idéia para mais um. O título pode ser "Como Aprender a se Desobedecer para Alcançar Seus Objetivos e Ter Qualidade de Vida" e será sucesso de vendas, se tiver boa campanha publicitária, claro.
O autor -ou autora- precisa ter boa presença no vídeo e espontaneidade para se sair bem nas entrevistas, cativar o público e aumentar ainda mais as vendas. Ele também terá de ter disponibilidade para continuar a escrever porque, com o êxito do título, as editoras vão querer filhotes dele. "Ensine Seu Filho a Usar a Desobediência a Seu Favor", por exemplo, pode ser o segundo título do fenômeno que se transformará em série.
O parágrafo inicial pode ser assim: "Ouse se desobedecer! A vida toda você aprendeu a desobedecer aos seus pais, ao chefe, às regras de trânsito, aos prazos estabelecidos etc. Mas nunca ninguém ensinou você a desobedecer a você mesmo, a pessoa mais importante de seu universo. Então, torne a autodesobediência parte de sua vida a partir de agora e você alcançará um patamar superior". A expressão "eu vou me desobedecer agora" se transformaria em um mantra. Quem estivesse de dieta e tivesse vontade de comer além do permitido se lembraria dele, os casados iriam usá-lo como oração para escapar às tentações da carne.
As crianças, que se inspiram nos adultos, tentariam incorporar a mania e, quanto mais desobedientes fossem, mais agradáveis seriam consideradas. O problema é que elas não entenderiam a diferença entre desobedecer aos pais e professores e a si mesmo, e a vida de pais e mestres seguiria difícil. Entretanto, depois de um tempo, apesar de o livro se manter na lista dos mais vendidos, tudo continuaria igual para os leitores. É que, passado o entusiasmo inicial, o rei ficaria nu, e as pessoas perceberiam que, entre considerar boas as lições dos livros e conseguir praticá-las, há um longo caminho. Para desobedecer às vontades imediatas, a pessoa precisa ter autonomia e capacidade para se controlar. E a cultura atual valoriza mais o aqui e agora. É por isso que tem sido tão difícil para muita gente fazer dieta: é mais fácil ceder ao prazer imediato do que à promessa de satisfação futura.
Além de autonomia, para praticar a autodesobediência é preciso ser persistente, esforçado, comprometido até os ossos com tal conceito, e a tenacidade não tem sido uma qualidade popular entre nós. Aliás, tal palavra parece estar guardada a sete chaves no dicionário ultimamente, não é? Finalmente -mas só neste texto-, para se desobedecer é preciso ter maturidade para renunciar -já que rejeitar o imperativo das paixões não é simples. Por essas razões, o livro seria esquecido e suas lições, renegadas, mas só até que outro autor tivesse outra boa idéia para escrever a mesma coisa de um outro jeito. É que, no fundo, sabemos que temos sido escravos de nossos impulsos e caprichos. E esse tipo de livro faria, novamente, um grande sucesso.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
Fonte: Folha de S.Paulo - 22/03/07.