PENSANDO NO TALÃO DE CHEQUE
PLAY CHECK
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http://theplaycheck.com/
Alguém ainda usa cheque? Nesse site, designers e artistas brincam com folhas de talões de cheques, criando versões divertidas, como a "Chequevara" ou a "República Checa", com a bandeira daquele país.
Dê uma olhada:
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Fonte: Folha de S.Paulo - 03/01/11.
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DESAFIOS DA PRESIDENTE
A presidente Dilma Rousseff assumiu o governo de um país promissor, que pode alimentar com realismo a ambição de se tornar nas próximas décadas uma nação rica e socialmente justa.
Contribuir de maneira decisiva para esse triunfo histórico é o grande repto que se apresenta à nova mandatária. Não bastará, para tanto, dar continuidade às políticas de seu antecessor.
Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva beneficiou-se da consolidação dos alicerces da democracia e da estabilidade econômica, sua sucessora terá de destacar-se da etapa que se conclui e lançar as bases de novo ciclo de conquistas.
Na área econômica é hora de reduzir o chamado custo Brasil, trazer a taxa de juros a patamares compatíveis com os de nações desenvolvidas e aumentar a capacidade pública e privada de investir. São indispensáveis reformas para disciplinar o caos tributário, eliminar obstáculos burocráticos e facilitar a vida das empresas.
É inadiável o esforço para reduzir a parcela do PIB consumida pelo Estado e elevar o padrão de eficiência do funcionalismo, por meio de mecanismos de cobrança e premiação por mérito.
Portos, ferrovias, rodovias e aeroportos precisam ser ampliados e modernizados. É preciso que o poder público faça a sua parte e convoque a iniciativa privada para atuar em parcerias.
Na política industrial, a pesquisa inovadora e os setores de alta tecnologia esperam por estímulos. O país não pode se contentar em ser apenas fornecedor mundial de produtos primários.
Na saúde, em vez de insuflar apelos por aumento de tributos, a presidente deve trabalhar para obter ganhos com o aperfeiçoamento da gestão. Fonte de problemas endêmicos, a precariedade do saneamento básico é inaceitável. Basta dizer que um terço da população não tem acesso a nenhuma forma de coleta de esgotos.
É na educação, contudo, em que pesem as melhorias pregressas, que mais se precisa avançar. O conhecimento é a principal ferramenta de redução de desigualdades. Dados recentes indicam que apenas 43% dos engajados no mercado de trabalho concluíram o ensino médio. E somente 11% têm diploma de nível superior. Cerca de 15% dos jovens de 15 a 17 estão fora da escola, que oferece ensino ruim, como provam as notas de jovens brasileiros em testes internacionais.
A presidente Dilma Rousseff deveria assumir metas como a garantia de que antes de 2014 todas as crianças sejam alfabetizadas até a idade de 8 anos. É preciso levar à escola todos os que têm entre 4 e 17 anos e responder à demanda por creches. Cabe ainda ao governo federal liderar um movimento de reciclagem do professorado e de melhoria de sua péssima situação salarial.
Por fim, mas não menos importante, é imperioso que o novo governo recupere o tempo perdido numa área em que o presidente Lula definitivamente falhou -a do combate à corrupção, aos maus costumes políticos e ao aparelhamento da máquina estatal. Já é tempo de promover uma regeneração ética e republicana da esfera pública.
Editorial - Fonte: Folha de S.Paulo - 01/01/11.
ANÁLISE SOCRÁTICA DOS TEMPOS ATUAIS
Do Mundo Virtual ao Espiritual
Frei Betto
Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula á tarde'.
Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei.
'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.
Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!’
Mas como fica a questão da subjetividade?
Da espiritualidade?
Da ociosidade amorosa?
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual.
Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...
A palavra hoje é 'entretenimento' ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose. O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista.
Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.
Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno...
Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
- "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"
(Colaboração: Walter Munaier)
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