FOTO QUE POR SI SĂ FALA A VERDADE
FOTO QUE POR SI SĂ FALA A VERDADE
A realidade que vivemos hoje em dia nĂŁo nos permite ficar calados, imĂłveis diante de tanta barbaridade que a cada dia chega mais prĂłxima de cada um de nĂłs.
Organize idĂ©ias, amigos e juntos reĂșnam forças para ao menos atenuar esse quadro mundial de violĂȘncia.
(Colaboração: A.M.B.)
FRASE DA SEMANA
"Uma boa vida tem como base o sentido do que queremos para nĂłs em cada momento e daquilo que, realmente vale como principal. VocĂȘ Ă© o que se fizer ser!".
Pensador russo chamado Guerdjef.
(Colaboração: Lincoln)
JOAQUIM JOSĂ, UM BRASILEIRO
Nunca ficou clara, e provavelmente nunca ficarĂĄ, a exata importĂąncia do papel desempenhado por Joaquim JosĂ© da Silva Xavier, o Tiradentes, na InconfidĂȘncia Mineira. Nunca ficou claro se era um revolucionĂĄrio consistente ou um bobo boquirroto, que nos bordĂ©is oferecia Ă s prostitutas lugares de destaque na repĂșblica que prometia construir. No entanto, esse personagem elusivo, de biografia que nos chegou truncada, e do qual nĂŁo se conhecem nem os traços fisionĂŽmicos, ajustou-se muito bem ao papel de herĂłi supremo da nacionalidade de que o incumbiram tanto os decretos oficiais quanto o gosto popular, tanto os dirigentes de turno quanto os opositores. A nenhum outro foi reservada a honra de um feriado nacional dedicado Ă sua pessoa.
Tiradentes foi elevado a herĂłi oficial pela RepĂșblica. No perĂodo imperial, sua figura permaneceu, se nĂŁo esquecida, pelo menos obscurecida, pela boa e forte razĂŁo de ter sido adepto do regime republicano e, ainda por cima, de o movimento a que pertenceu ter pretendido atentar contra uma dinastia cujos herdeiros continuavam, apesar da independĂȘncia, no comando do paĂs. Proclamada a RepĂșblica, jĂĄ o 21 de abril seguinte, o de 1890, foi feriado. Nestes 117 anos que se seguiram, pairando por cima dos diversos golpes e revoluçÔes, ditaduras, perĂodos democrĂĄticos, governos mais Ă direita e mais Ă esquerda, o 21 de abril, dia do enforcamento de Tiradentes, em 1792, nunca deixou de ser feriado.
A primeira razĂŁo para seu triunfo pĂłstumo tem base no prĂłprio carĂĄter esquivo do personagem. Como nĂŁo se sabe direito quem ele foi, virou figura fĂĄcil de ser puxada para este ou aquele lado. O regime militar declarou-o "Patrono CĂvico da Nação Brasileira" por decreto do marechal Castello Branco de dezembro de 1965. Em 1967, o Teatro de Arena, de SĂŁo Paulo, um templo da esquerda, montou a peça Arena Conta Tiradentes, de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri. Se o Tiradentes de Castello Branco era um herĂłi para personificar os valores que o regime militar pretendia representar, o do Arena era um contestador desses mesmos valores.
A segunda razĂŁo, conforme a lĂșcida argumentação do historiador JosĂ© Murilo de Carvalho, Ă© o fato de a frustrada tentativa de insurreição de que Tiradentes acabou o sĂmbolo ter ocorrido em Minas Gerais, com desdobramentos no Rio de Janeiro, onde ele foi preso e enforcado. NĂŁo faltaram insurreiçÔes de coloração republicana, tanto no perĂodo colonial quanto no imperial. As revoluçÔes pernambucanas de 1817 e 1824 sĂŁo duas delas, outra Ă© a Farroupilha, do Rio Grande do Sul. Os cabeças do movimento que proclamou a RepĂșblica poderiam ter escolhido, como herĂłis da nação, tanto o frei Caneca dos levantes pernambucanos como o Bento Gonçalves do movimento gaĂșcho. JosĂ© Murilo de Carvalho sugere no entanto que um e outro acabaram descredenciados por ter atuado em regiĂ”es consideradas, Ă quela altura, secundĂĄrias em relação ao eixo polĂtico do paĂs. Tiradentes, ao contrĂĄrio, "era o herĂłi de uma ĂĄrea que, a partir da metade do sĂ©culo XIX, jĂĄ podia ser considerada o centro polĂtico do paĂs â Minas Gerais, Rio de Janeiro e SĂŁo Paulo".
A terceira e mais interessante razĂŁo da glorificação de Tiradentes Ă© o apelo popular da fusĂŁo, em sua pessoa, de herĂłi nacional e Ăcone religioso. Os artistas inventaram para ele um rosto inspirado naquele inventado para Jesus Cristo. Como Jesus Cristo, ele Ă© o protagonista de uma paixĂŁo. Sua caminhada, na manhĂŁ daquele 21 de abril â um sĂĄbado, como neste ano â, da cela que ocupava na Cadeia Velha, situada onde atualmente fica o PalĂĄcio Tiradentes (antiga sede da CĂąmara dos Deputados, hoje da AssemblĂ©ia Legislativa do Rio de Janeiro), atĂ© a forca, no lugar entĂŁo conhecido como Campo de SĂŁo Domingos, ecoa o trajeto do CalvĂĄrio. A esses fatores exteriores soma-se que, nos trĂȘs anos em que permaneceu preso, marcados pelas privaçÔes, pelos interrogatĂłrios, pela expectativa da morte e pela assistĂȘncia dos padres, Tiradentes deixou-se tomar pela religiosidade. Ao subir ao cadafalso, beijou os pĂ©s do carrasco. Depois rezou o credo. Era um Cristo entregando-se Ă sua sorte.*
A mistura de herĂłi cĂvico e religioso tem paralelo na Joana d'Arc dos franceses. Mas nem Joana d'Arc chegou a tanto, ou seja, a repetir o prĂłprio Cristo. Joaquim JosĂ© da Silva Xavier cumpre uma trajetĂłria que vai de um MacunaĂma dos bordĂ©is a um mĂstico que, pelo martĂrio, supera o Conselheiro ou o padre CĂcero. De permeio, Ă© um servidor da ordem (alferes do ExĂ©rcito) que passa a adepto falastrĂŁo de um movimento contestatĂłrio que vira fumaça antes de conseguir pĂŽr pĂ© na realidade. Acrescente-se que fazia um bico como hĂĄbil arrancador de dentes, ofĂcio para o qual andava com uma pequena canastra em que guardava uns tantos ferrinhos, e pronto: eis a figura de um brasileiro.
* A quem quiser saber mais recomenda-se o capĂtulo "Tiradentes, um herĂłi para a RepĂșblica", do livro A Formação das Almas, de JosĂ© Murilo de Carvalho, no qual o presente artigo Ă© fortemente baseado.
Roberto Pompeu de Toledo
Fonte: Veja - edição 2005.
GIGANTES DA ALMA
Dizem que hå na alma dos seres humanos quatro gigantes que acompanham a evolução.
TrĂȘs destes colocam obstĂĄculos, e apenas um abre as portas. Os trĂȘs gigantes criadores de problemas chamam-se: MEDO, IRA E DEVER.
MEDO é um gigante enraizado profundamente, que se alimenta da necessidade de preservar a vida ante o perigo, mas que se alia com a imaginação e cria neuroses que são capazes de paralisar completamente a vida de uma pessoa.
IRA é um gigante destrutivo, que se alimenta da reação normal de uma pessoa ante o MEDO, mas por ser normalmente abafado e recalcado acaba criando o ódio, que é uma raiva em conserva, podendo consumir uma pessoa por dentro até matå-la.
DEVER é um gigante que entulha o caminho das pessoas com muitas obrigaçÔes, podendo esmagå-las com tantas destas que acaba produzindo tédio e imobilidade.
Quem poderia abrir todas as portas é o gigante AMOR! Mas raramente alguém o utiliza, porque amar não é algo que acontece do dia para a noite, mas uma dimensão que resulta do esforço para abrir o coração e entregar ao mundo o que haja de melhor na alma de quem assim se atreva a viver.
Desejo que a cada amanhecer vocĂȘ tenha sempre o atrevimento nĂŁo apenas de viver mais um dia, e sim de viver feliz o seu dia, fazendo dele um dia cheio de dignidade, como somente as pessoas especiais sabem fazer, e para mim vocĂȘ Ă© especial.
Emilio Mira Lopez
(Colaboração: A.M.B.)
TRĂNSITO E CIDADANIA
O comportamento no trùnsito, de motoristas e de pedestres, anda deploråvel. A todo momento, cenas lamentåveis ocorrem: motoristas insultam e ameaçam outros motoristas ou pedestres e usam o carro como se fosse uma arma. Parece uma guerra. E o problema não é só nosso: recentemente, a França realizou o "dia da cortesia no trùnsito", em que manter o sangue frio em todas as circunstùncias, sobretudo nos engarrafamentos, e respeitar pedestres, crianças e ciclistas foram orientaçÔes dos "dez mandamentos da cortesia ao volante", divulgados nesse dia.
Um dos motivos desse caos Ă© que as pessoas nĂŁo entendem que o espaço que usam com seus veĂculos Ă© pĂșblico. Ao entrar em um carro, propriedade privada, a fronteira entre o pĂșblico e o privado, que jĂĄ anda tĂȘnue, parece se dissipar. Ao dirigir ou andar nas ruas, as pessoas agem como se cada uma estivesse unicamente por si: ignoram os outros ou se sentem atrapalhadas por eles. As regras e os sinais de trĂąnsito, que existem para ordenar esse espaço pĂșblico, sĂŁo desrespeitados repetidamente. HĂĄ movimento intenso no entorno da escola e o filho estĂĄ atrasado? Poucos pais vacilam na decisĂŁo de parar em local proibido ou em fila dupla. Poucos hesitam em fazer um retorno proibido para encurtar o caminho ou mesmo em dirigir em velocidade maior do que a permitida para chegar mais rĂĄpido.
AtĂ© parece que os sinais de trĂąnsito sĂŁo meros caprichos de um grupo desconhecido de pessoas. NinguĂ©m mais parece entender que as leis de trĂąnsito -aliĂĄs, como todas- existem para proteger os cidadĂŁos, e nĂŁo para agredi-los ou restringir suas vidas. Mas a questĂŁo Ă© que o direito de cada um no caso do trĂąnsito -a segurança- sĂł Ă© garantido quando ele prĂłprio respeita as leis. Pelo jeito, o carro deixou de ser um veĂculo de transporte cujo objetivo Ă© levar as pessoas de um local a outro. Virou sinĂŽnimo de poder ou de status. Uma pesquisa britĂąnica mostrou que dois em cada trĂȘs homens trocariam suas namoradas pelo carro de seus sonhos, vejam sĂł!
A idéia de cidadania ganhou tom pejorativo por causa do individualismo, e isso pode ser constatado principalmente no trùnsito. Cidadania supÔe se responsabilizar pelo coletivo e, sobretudo no trùnsito, o que vemos são atitudes de confronto e de competição. Creio que não é exagero afirmar que vivemos tempos de barbårie nessa questão: cada um por si, e vale tudo para atingir a meta pessoal.
Quando os adultos se comportam assim, ignoram tambĂ©m que colocam os mais novos em risco. SĂŁo os jovens as maiores vĂtimas de acidentes de trĂąnsito ou de brigas por desentendimentos com outros motoristas, pedestres ou motociclistas. Isso sem falar nas liçÔes de incivilidade e de grosseria que sĂŁo passadas a eles. E os velhos? Eles que nĂŁo se atrevam a dirigir ou a andar pelas ruas. Afinal, lugar de velho e de criança nĂŁo Ă© mais na rua. NĂŁo Ă© isso o que temos cultivado?
Precisamos continuamente lembrar -e praticar- que, no trĂąnsito, o respeito Ă s leis e os bons modos permitem maior qualidade de vida a todos nĂłs.
ROSELY SAYĂO Ă© psicĂłloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
(Fonte: Folha de S.Paulo - 19/04/07)